📚 Continue Lendo
Mais artigos do nosso blog
A projeção de Mercator, um dos mapas-múndi mais reconhecidos e amplamente utilizados, tem sido objeto de debate devido às suas características inerentes de representação. Criada no século XVI, esta projeção cartográfica influenciou a percepção global por séculos, mas também gerou discussões sobre a precisão da representação de tamanhos e proporções das massas de terra.
A representação visual da projeção de Mercator mostra a Europa e a América do Norte com dimensões desproporcionalmente grandes em relação à África. Esta característica é um ponto central nas discussões sobre a adequação desta projeção para a criação de mapas do mundo contemporâneos.
Origem e Propósito da Projeção de Mercator
A projeção de Mercator foi desenvolvida em 1569 pelo cartógrafo flamengo Gerardus Mercator (nascido Gerhard Kremer). Seu objetivo principal era auxiliar a navegação marítima. Naquela época, as viagens oceânicas de longa distância eram complexas, e os navegadores precisavam de mapas que lhes permitissem traçar rotas de forma eficiente.
A principal inovação da projeção de Mercator reside na sua capacidade de representar linhas de rumo constante, conhecidas como loxodromias, como linhas retas. Isso significa que um navio que mantivesse um curso constante em relação ao norte verdadeiro seguiria uma linha reta no mapa de Mercator. Esta característica era de imensa utilidade para os navegadores, simplificando o planejamento e a execução de rotas em alto-mar.
Para alcançar essa propriedade de conformidade, ou seja, a preservação dos ângulos e das formas locais, a projeção de Mercator utiliza um sistema de coordenadas onde os meridianos (linhas de longitude) são representados como linhas verticais paralelas e os paralelos (linhas de latitude) são representados como linhas horizontais paralelas. A distância entre os paralelos aumenta progressivamente à medida que se afastam do Equador, compensando a convergência natural dos meridianos em direção aos polos.
As Distorções da Projeção
Embora a projeção de Mercator seja excelente para a navegação, ela apresenta uma desvantagem significativa: a distorção das áreas. Para manter a conformidade, a projeção sacrifica a precisão das áreas das massas de terra, especialmente aquelas localizadas em latitudes mais elevadas, ou seja, mais distantes do Equador.
Regiões próximas aos polos, como a Groenlândia, o Canadá e a Rússia, aparecem significativamente maiores do que são na realidade. Por exemplo, a Groenlândia, que tem uma área de aproximadamente 2,16 milhões de quilômetros quadrados, é frequentemente retratada em mapas de Mercator com um tamanho comparável ao da África, que possui cerca de 30,37 milhões de quilômetros quadrados. Isso significa que a Groenlândia é, na verdade, cerca de 14 vezes menor que a África, uma proporção que não é evidente na projeção de Mercator.
Da mesma forma, o Alasca, com cerca de 1,72 milhões de quilômetros quadrados, pode parecer maior que o Brasil (8,51 milhões de quilômetros quadrados) ou a Índia (3,28 milhões de quilômetros quadrados) em alguns mapas de Mercator, quando na realidade é consideravelmente menor.
Em contraste, as massas de terra localizadas perto do Equador, como a África e a América do Sul, são representadas com tamanhos proporcionalmente menores em relação à sua área real. Esta distorção de área pode influenciar a percepção da escala global e da importância relativa de diferentes regiões do mundo.
A Perspectiva Africana e a Busca por Alternativas
A percepção de que a África é menor do que sua dimensão real tem sido um ponto central nas discussões sobre a projeção de Mercator. O continente africano é vasto, com uma área que supera a soma das áreas da China, Índia, Estados Unidos e grande parte da Europa Ocidental. No entanto, em muitos mapas baseados na projeção de Mercator, a África parece ser de tamanho comparável à Groenlândia, o que não reflete a realidade geográfica.
Esta representação tem levado a movimentos e discussões em países africanos e em outras partes do mundo sobre a necessidade de adotar projeções cartográficas que ofereçam uma representação mais precisa das áreas. A preocupação não se limita apenas à precisão geográfica, mas também à forma como a representação visual pode influenciar a compreensão global da distribuição de terras e populações.
A busca por alternativas visa promover uma visão mais equitativa e precisa do mundo, onde o tamanho real dos continentes seja respeitado. A adoção de projeções que preservem a área pode contribuir para uma compreensão mais informada da geografia global e das relações entre as nações.
Outras Projeções Cartográficas
Em resposta às distorções da projeção de Mercator, diversas outras projeções cartográficas foram desenvolvidas ao longo do tempo, cada uma com suas próprias características e compromissos entre as propriedades que podem ser preservadas (área, forma, distância, direção).
Projeção de Gall-Peters
Uma das alternativas mais notáveis é a projeção de Gall-Peters, também conhecida como projeção de Peters. Esta projeção é uma projeção de área equivalente, o que significa que ela preserva as proporções corretas das áreas das massas de terra. Desenvolvida por James Gall em 1855 e popularizada por Arno Peters na década de 1970, a projeção de Gall-Peters distorce as formas dos continentes, esticando-os verticalmente perto do Equador e achatando-os horizontalmente em latitudes mais altas. No entanto, ela oferece uma representação mais precisa do tamanho relativo dos continentes, mostrando a África e a América do Sul em suas verdadeiras proporções em relação a outras massas de terra.
A adoção da projeção de Gall-Peters por algumas organizações e instituições educacionais reflete um esforço para corrigir a percepção de tamanho que a projeção de Mercator pode gerar.
Projeção de Robinson
Outra projeção amplamente utilizada é a projeção de Robinson, criada em 1963 por Arthur H. Robinson. Esta é uma projeção de compromisso, o que significa que ela não preserva perfeitamente nenhuma das propriedades (área, forma, distância ou direção), mas tenta minimizar as distorções em todas elas. A projeção de Robinson é frequentemente elogiada por sua estética visual e por apresentar um equilíbrio razoável entre as distorções, sendo adotada por muitas publicações e atlas como uma representação padrão do mundo.
Projeção de Winkel Tripel
A projeção de Winkel Tripel, desenvolvida por Oswald Winkel em 1921, é outra projeção de compromisso que busca minimizar três tipos de distorção: área, direção e distância. Ela é considerada uma das melhores projeções de compromisso e foi adotada pela National Geographic Society em 1998 como sua projeção padrão para mapas-múndi, substituindo a projeção de Robinson. A Winkel Tripel oferece uma representação visualmente agradável e com distorções gerais menores em comparação com outras projeções.
A Evolução da Cartografia e a Representação Global
A escolha de uma projeção cartográfica depende do propósito do mapa. Para navegação marítima, a projeção de Mercator continua a ser uma ferramenta valiosa. No entanto, para a representação geral do mundo e para fins educacionais, onde a compreensão das proporções reais das massas de terra é crucial, outras projeções são consideradas mais adequadas.
A discussão sobre a projeção de Mercator e a busca por alternativas reflete uma evolução na cartografia e na compreensão da importância da representação visual. A forma como o mundo é retratado em mapas pode influenciar a percepção geográfica, cultural e política. A adoção de projeções que ofereçam uma representação mais precisa das áreas é um passo em direção a uma compreensão mais informada e equitativa do planeta e de suas diversas regiões.
A tecnologia moderna e os sistemas de informação geográfica (SIG) permitem que os usuários escolham e alternem entre diferentes projeções com facilidade, adaptando a visualização do mapa às necessidades específicas. Este avanço tecnológico facilita a exploração de diversas representações do mundo, promovendo uma compreensão mais completa das complexidades da geografia terrestre.
Para seguir a cobertura, veja também africanos.
Recomendo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados