Interesse em Astrologia Global Cresce em Meio a Conflitos e Incertezas Mundiais

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A crença na influência dos astros sobre a vida terrestre tem experimentado um renovado interesse, especialmente em períodos de turbulência e conflitos globais. Enquanto a prática da astrologia é um fenômeno de longa data em nações como China e Índia, há indícios de que sua aplicação para compreender – e até mesmo predizer – a política e os eventos mundiais está ganhando tração no Ocidente, conforme a incerteza molda o cenário internacional. Muitas pessoas consideram o horóscopo como um divertimento inofensivo ou uma fonte de conforto, mas para uma parcela significativa, a posição dos corpos celestes no momento do nascimento de alguém realmente determina traços de personalidade, o curso da vida e as interações sociais. Em alguns contextos, como na Índia, a consulta a astrólogos é levada a sério por figuras políticas para avaliar suas chances em eleições.

Atualmente, essa busca por compreensão astrológica de fenômenos geopolíticos está cada vez mais evidente. Plataformas como o TikTok são inundadas com conteúdo, principalmente dos Estados Unidos, onde astrólogos compartilham leituras sobre política global. Frequentemente, eles se sentam diante de mapas astrais, os quais, segundo a crença, representam as posições do Sol, da Lua e das estrelas nos momentos da fundação de países como Estados Unidos, Irã e nações europeias.

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Crescimento do Interesse em Tempos de Crise

Dados do Google Trends corroboram essa tendência de busca por sentido em meio ao caos. Nos últimos cinco anos, picos nas pesquisas pelos termos “astrologia” e “guerra” foram notados. Tais picos coincidiram com momentos críticos como o início da pandemia de COVID-19 em fevereiro de 2020, o deflagrar da guerra entre Rússia e Ucrânia em fevereiro de 2022, o conflito entre Índia e Paquistão pela Caxemira em maio e os ataques dos Estados Unidos contra o Irã no final de junho. Em todas essas ocorrências, a Índia e os Estados Unidos destacaram-se consistentemente como regiões de grande interesse nas buscas.

Um exemplo notável da busca pessoal por orientação astrológica durante um conflito veio de uma mulher iraniana que reside em Londres. Em junho, ao saber dos bombardeios que atingiram Teerã, ela prontamente procurou uma astróloga para buscar clareza sobre o futuro de ambos os países. Sua irmã, que estava no Irã, agiu de maneira semelhante, mostrando como, em momentos de grande ansiedade, a astrologia pode emergir como um recurso para indivíduos em busca de respostas e conforto.

Mesmo previsões que se revelam imprecisas não parecem diminuir o engajamento do público com este tipo de conteúdo. Em um caso específico, um astrólogo postou um vídeo afirmando que Donald Trump tinha “uma linha descendente de Urano no Irã, o que representa relações voláteis”, um dia após ataques dos EUA contra o Irã. Outro influenciador previu retaliação iraniana em datas específicas, que não se concretizaram, mas o interesse perdurou.

Vozes Críticas e Questões Éticas na Astrologia Geopolítica

Apesar do apelo, especialistas alertam para os perigos de depender da astrologia para entender questões geopolíticas complexas. Galen Watts, professor da Universidade de Waterloo, no Canadá, especialista em sociologia cultural e religião, categoriza o uso da astrologia para decifrar “grandes dilemas geopolíticos” como uma “má ideia”. Ele ressalta que, “quase por definição”, não há evidências que comprovem sua eficácia, questionando sua validade como ferramenta analítica.

Do lado dos profissionais da área, a preocupação também é manifestada. Aliza Kelly, astróloga baseada em Nova York, embora contente com o crescente interesse em seu campo, expressa preocupação com a ética de parte do conteúdo que circula nas mídias sociais. Ela argumenta que vídeos de curta duração, como os de 90 segundos que preveem eventos tão graves quanto um ataque nuclear ou a Terceira Guerra Mundial, “provavelmente não são a forma mais ética de disseminar essa informação”. Para Kelly, tais vídeos conseguem chamar a atenção devido ao seu caráter sensacionalista, alertando que “é um jogo perigoso quando sua reputação depende de fazer previsões realmente ousadas”. Ela frisa que não pratica esse tipo de astrologia alarmista.

A Astrologia como Ferramenta de Análise Pessoal e Política

Mesmo com as preocupações éticas, Kelly percebeu um aumento tangível no uso dos astros para explicar eventos políticos. Essa percepção surgiu na noite da eleição americana de 2016, quando Donald Trump venceu Hillary Clinton. Em uma festa, Kelly observou a mudança do cenário político e a reação das pessoas ao seu redor. Convidados começaram a questioná-la sobre “o que estava acontecendo”, “o que esperar” e até mesmo sobre “o mapa de Hillary” e “o de Trump”. Essa experiência foi um ponto de virada para ela, mostrando como as pessoas buscavam uma “outra perspectiva” astrológica para entender um evento político e geopolítico de grande impacto.

A pandemia de COVID-19 representou outro catalisador para essa busca astrológica. Cassie Leventhal foi uma das pessoas que recorreu à astrologia nesse período de incertezas sem precedentes, na esperança de encontrar sinais sobre novos surtos. Seus pais enfrentavam o câncer, e Leventhal buscou orientação planetária para complementar os conselhos das autoridades de saúde, determinando quando deveria alertá-los a serem ainda mais vigilantes. Leventhal também aplicou a astrologia para compreender a política americana, chegando a analisar o mapa astral de Trump, que, segundo ela, carece de planetas em signos de terra e tem a lua em Sagitário, explicando suas emoções intensas e impulsivas.

Astrologia: Entre o Espiritual e o Cultural

Galen Watts sugere que a astrologia pode ser tecnicamente considerada espiritual, ou até mesmo religiosa. Ele explica que “as pessoas que consultam um horóscopo partem da premissa de que existe um tipo de ordem cósmica abrangente, que de certa forma tem implicações importantes para suas próprias vidas”. No entanto, a forma como a astrologia é praticada e interpretada varia globalmente. Na Índia, ela é levada muito a sério, com o “casamento por horóscopo” sendo uma prática comum para avaliar a compatibilidade de um casal, podendo determinar a aprovação familiar.

No Ocidente, por outro lado, a astrologia é utilizada de forma mais aberta à interpretação individual. Watts observa que as pessoas no Ocidente que consultam signos astrológicos tendem a fazê-lo de maneira “não dogmática, bastante flexível”. Elas leem horóscopos e decidem o nível de seriedade com que os levam, considerando-os uma forma de orientação sem a obrigação de segui-los rigidamente. Essa adaptabilidade talvez explique sua crescente popularidade em um contexto de ceticismo científico, mas também de busca por personalização.

A Busca por Respostas Simples em um Mundo Complexo

Apesar das manchetes sugerirem um aumento drástico na popularidade da astrologia no Ocidente, dados do Pew Center nos Estados Unidos mostram uma estabilidade. Tanto em 2017 quanto em 2024, cerca de 27% dos americanos afirmaram acreditar em astrologia. Essa percepção de crescimento, segundo Watts, não se deve a um salto nos números de crentes, mas a uma mudança na abertura da sociedade e da mídia para discutir o tema.

Antes, religião e espiritualidade eram consideradas tópicos não adequados para uma conversa educada, especialmente na imprensa. A eleição de Trump em 2016, contudo, trouxe “mudanças radicais no cenário geopolítico” que, de certa forma, “abriram” o diálogo. As pessoas se sentem mais à vontade para abordar e discutir a consulta de leituras astrológicas publicamente.

Para Watts, a astrologia pode oferecer diversão, conforto e uma forma de direção em um mundo onde até mesmo os especialistas encontram dificuldade em compreender a complexidade dos eventos globais. O apelo, ele conclui, é instintivo. “Nós estamos cercados de problemas que não têm soluções fáceis, e isso vai criar um tipo de desejo instintivo para respostas simples”, afirma. Contudo, o professor adverte que utilizar a astrologia para decifrar as diversas crises pode levar a uma fragmentação ainda maior de um mundo já polarizado, sugerindo uma busca por simplicidade que talvez complique ainda mais a compreensão coletiva.

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Embora a crença em si possa permanecer estável, a maneira como a astrologia é discutida, aplicada e popularizada nas plataformas digitais e em tempos de crise demonstra uma evolução cultural em sua aceitação e relevância percebida para um número crescente de pessoas no contexto global atual. A incerteza geopolítica e as rápidas mudanças sociais parecem continuar a impulsionar essa curiosidade e busca por algo que ofereça sentido ou controle em um mundo que muitas vezes parece estar fora de controle.


Fonte: BBC News Brasil

Interesse em Astrologia Global Cresce em Meio a Conflitos e Incertezas Mundiais - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com


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