Sal Khan Otimista: IA Não Destruirá a Educação

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O CEO da Khan Academy, Sal Khan, está otimista que a inteligência artificial não destruirá a educação, mas sim a transformará, segundo uma entrevista concedida a Hank Green, cofundador da Complexly e apresentador convidado do podcast Decoder, veiculado em 8 de setembro de 2025. Khan detalhou como a tecnologia, em particular a inteligência artificial, pode impulsionar um aprendizado mais personalizado e de alta qualidade, desmistificando o temor de que a IA substituirá a experiência humana no ensino. A conversa aprofundou as mudanças na Khan Academy e o futuro do aprendizado online com o advento de ferramentas avançadas.

A entrevista ocorreu com Hank Green atuando como anfitrião, substituindo Nilay Patel que estava de licença parental. Green, conhecido por canais educativos como SciShow e Crash Course, buscou entender de Khan, um “colega” na comunidade de educação online, as implicações da IA na esfera educacional. A dupla abordou desde a história da Khan Academy até a integração da IA e os desafios no setor de ensino, que ainda lida com modelos tradicionais e incentivos desassociados.

Sal Khan Otimista: IA Não Destruirá a Educação

A Khan Academy, embora fundada oficialmente em 2008, teve suas raízes nos primeiros vídeos educacionais que Sal Khan publicou no YouTube em 2006. Ao longo de quase duas décadas, Khan testemunhou o crescimento exponencial do ecossistema de vídeos online e da indústria de educação digital. Sua missão principal, desde sempre, é “fornecer educação de classe mundial gratuita para qualquer pessoa, em qualquer lugar”. Isso engloba ideias de personalização e aprendizado por domínio, onde os alunos podem praticar e receber feedback de forma extensiva. A maior parte dos recursos da Khan Academy hoje é direcionada à sua plataforma de software gratuita, suportada por filantropia.

A Evolução da Khan Academy: Do Vídeo à Instituição Global

Atualmente, a Khan Academy alcança mais de 180 milhões de usuários registrados em mais de 50 idiomas. No entanto, um movimento estratégico nos últimos sete anos foi a parceria com distritos escolares. Embora mantendo a oferta direta ao consumidor, Khan percebeu a necessidade de colaborar com sistemas educacionais formais para causar um impacto mais amplo. Estudos de eficácia demonstram que apenas 18 horas de prática por ano na plataforma podem acelerar o aprendizado dos alunos em 30 a 50%. A expansão para essa “disputa de terreno” com os distritos, embora desafiadora devido à burocracia e exigências de integração e treinamento, tem superado as expectativas de Khan.

Khan aspirou transformar a Khan Academy em uma “instituição de aprendizagem global” – com a mesma reputação de instituições renomadas como Oxford ou Harvard, mas com a capacidade de escala. Quinze anos atrás, a organização era conhecida pelo conteúdo. Hoje, possui uma vasta equipe de engenharia de software que constrói todo o ecossistema ao redor desse conteúdo, incluindo prática e painéis de dados. Com a IA cada vez mais capaz de criar conteúdo, o foco se volta para a construção de sistemas que elevam tanto o “teto” (o que se pode alcançar na escola) quanto o “piso” (o acesso à educação fora da escola), através de software, IA e até sistemas de credenciais e conexão entre alunos.

O Poder do Modelo Sem Fins Lucrativos

Sal Khan fez uma escolha explícita por um modelo sem fins lucrativos nos estágios iniciais. Apesar de propostas de capital de risco em 2007-2008, Khan priorizou o retorno psicológico e um “sonho grandioso” de criar uma nova fundação para o conhecimento global. Ele argumenta que o modelo sem fins lucrativos oferece vantagens cruciais: uma missão clara, a capacidade de atrair talentos motivados por propósito (não apenas ganhos financeiros), o suporte filantrópico e uma vasta rede de voluntários que ajudam a traduzir o conteúdo em 50 idiomas.

Apesar de alguns estereótipos sobre a agilidade das organizações sem fins lucrativos, Khan afirma que a Khan Academy atua com a mesma rapidez e eficiência de qualquer empresa de tecnologia do Vale do Silício. Ele contrasta o modelo com os Cursos Online Abertos Massivos (MOOCs) da mesma época que, ao optarem por estruturas com fins lucrativos, viram sua visão se reduzir de democratizar o ensino superior para ofertas de certificação pós-graduação mais nichadas. Para Khan, a manutenção do sonho vivo e o foco na missão são inestimáveis.

Schoolhouse.world: Inovação e Controvérsia

Paralelo à Khan Academy, existe a Schoolhouse.world, uma organização irmã sem fins lucrativos fundada para promover o aprendizado peer-to-peer. Lançada durante a pandemia, a plataforma conecta estudantes que precisam de ajuda com voluntários que atuam como tutores gratuitos. Um elemento chave é o processo de certificação: alunos gravam um vídeo enquanto resolvem um teste da Khan Academy, explicando seu raciocínio. O vídeo é revisado por colegas para garantir integridade. Universidades como MIT, Columbia, Caltech, Yale e Brown aceitam essas certificações para admissão, conforme ilustrado pela história de uma jovem do Afeganistão que ingressou no MIT através desse programa.

Recentemente, a Schoolhouse lançou a plataforma “Dialogues”, onde jovens com pontos de vista opostos discutem temas sensíveis como imigração, Israel-Palestina e controle de armas. Após a conversa, eles avaliam se o outro lado os ouviu e se ambos podem representar os pontos de vista opostos. Embora tenha gerado certa controvérsia, com críticos alegando que seria “outra coisa para fraudar” nas admissões ou “ação afirmativa para crianças chatas”, Khan defende que a iniciativa é um ato de coragem dos estudantes em buscar um diálogo construtivo em uma era de “bolhas sociais”.

IA na Educação: Medos e Potencialidades

A decisão de Sal Khan de abraçar a inteligência artificial veio muito antes do lançamento do ChatGPT. No verão de 2022, ele foi contatado por Sam Altman e Greg Brockman da OpenAI, que apresentaram o GPT-4 (seis meses antes da introdução pública do ChatGPT). Khan ficou impressionado ao ver a capacidade do modelo de se comunicar em diversos idiomas e atuar como tutor socrático, mesmo com falhas iniciais em lógica matemática e ocorrências de “alucinações”.

Sua equipe, sob NDA, expressou temores sobre fraude, segurança e privacidade, mas Khan estava convicto. Ele argumentou que a IA se tornaria tão poderosa e se desenvolveria tão rapidamente que seria irresponsável para a Khan Academy, com sua missão educacional, não explorá-la. A percepção de Khan foi que, se não fossem eles a desenvolver ferramentas de IA focadas no benefício dos alunos, outros o fariam sem a mesma preocupação ética. O lançamento “acidental” do ChatGPT, uma interface de bate-papo em um modelo já existente (GPT-3.5), mostrou o imenso potencial de democratização da tecnologia e reforçou sua visão.

Como a Khan Academy Integra a IA: O Khanmigo

Para tornar a inteligência artificial útil para o aprendizado, a Khan Academy desenvolveu o Khanmigo. Os modelos são aprimorados com prompts cuidadosos para atuar de forma socrática, incentivando o aluno em vez de dar respostas diretas. A transparência e a supervisão são fundamentais, com ferramentas para professores e pais monitorarem as interações dos alunos. As “alucinações” são mitigadas ancorando o modelo em conteúdo didático comprovadamente bom da própria Khan Academy ou em bases de dados de vetores que selecionam informações relevantes.

Para aprimorar a matemática, a IA faz chamadas internas para outras IAs para executar cálculos e prever possíveis erros dos alunos. As novas versões do Khanmigo, com testes-piloto no outono, serão mais proativas, funcionando como um assistente que incentiva, verifica o progresso e oferece gamificação para manter os alunos engajados. Embora um professor humano seja insubstituível, um tutor de IA pode ser a “melhor ferramenta disponível” quando a interação humana direta não é viável.

A preocupação de Sal Khan é que a IA não substitua os professores, mas os ajude. Ele traça um paralelo com a chegada dos livros didáticos 150 a 200 anos atrás, que inicialmente causaram temor de substituição de professores, mas se tornaram ferramentas indispensáveis. A IA, da mesma forma, será uma ferramenta para professores, permitindo que eles formem conexões mais profundas, personalizem as lições e sirvam como assistentes, aumentando o “teto” da qualidade da educação e o “piso” de acesso para todos, inclusive para aqueles sem acesso direto a professores ou cursos avançados.

Os Incentivos Peculiares da Educação

Khan classifica os incentivos no setor educacional como “estranhos” devido à desconexão entre o beneficiário (o aluno), o tomador de decisão (o distrito escolar, ou professor) e o pagador (o contribuinte). Assim como na saúde, a sociedade valoriza o acesso universal à educação de qualidade, independentemente da condição financeira. Contudo, essa estrutura incentiva a burocracia, a rigidez e a adesão a contratos e listas de fornecedores estaduais, muitas vezes sem considerar a real eficácia pedagógica. Khan destaca que muitas decisões são tomadas “de cima para baixo”, enquanto a Khan Academy cresceu “de baixo para cima”, colocando o aluno como o primeiro cliente.

Sobre a questão dos LLMs (Large Language Models) serem treinados com conteúdo produzido por criadores como ele e Hank Green, Sal Khan adota uma postura pragmática. Embora veja valor em uma compensação, ele argumenta que, em um mundo sem essa opção, prefere que seu conteúdo seja usado para treinar modelos de IA, que por sua vez podem gerar conhecimento útil e diagramas. Ele tende a ver a IA como um “sábio superdotado” que aprende a criar estilos e associações a partir de um vasto material, em vez de um mero roubo de propriedade intelectual, deixando, contudo, o veredito para os tribunais. Ele visualiza um futuro onde a IA pode gerar conteúdo educacional de alta qualidade, mantendo o conteúdo humano original como “documentos primários” com seu próprio valor.

Em suma, a visão de Sal Khan sobre a inteligência artificial na educação é de uma força transformadora que, se guiada por princípios éticos e missão educacional, pode complementar e potencializar o ensino. Sua perspectiva otimista e sua abordagem estratégica na Khan Academy demonstram um compromisso em alavancar o que há de mais moderno na tecnologia para aprimorar o aprendizado e o acesso à educação para milhões de pessoas globalmente. Para mais detalhes sobre as tecnologias que estão moldando nosso futuro e aprofundar suas perspectivas, continue explorando nossas análises completas.

Crédito da imagem: The Verge / Foto: Photo by Rachel Murray / Getty Images


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