Moraes detalha provas de golpe contra Bolsonaro no STF

noticias
Artigos Relacionados

📚 Continue Lendo

Mais artigos do nosso blog

O ministro Alexandre de Moraes detalha provas de golpe contra Bolsonaro no STF, marcando a retomada do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete acusados. Em sessão ocorrida nesta terça-feira (09/09/2025), o magistrado do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou seu voto com veemência, rejeitando as questões preliminares levantadas pelas defesas. Em sua fala, Moraes foi enfático ao afirmar: “Não há dúvida de que houve tentativa de golpe”, solidificando sua posição inicial sobre o caso.

De acordo com o ministro, a partir de julho de 2021, o grupo de réus supostamente deu início a planos estratégicos para se perpetuar no poder. Essa suposta articulação configura, conforme a análise do relator, uma organização criminosa que agiu de forma contínua e organizada, com divisão de tarefas, praticando atos contra o Estado Democrático de Direito até 8 de janeiro de 2023.

Moraes detalha provas de golpe contra Bolsonaro no STF

Para fundamentar sua análise, Alexandre de Moraes citou documentos específicos e uma live do ex-presidente Jair Bolsonaro que, em sua interpretação, constituem evidências claras da tentativa de golpe de Estado. As provas destacadas pelo ministro são categorizadas da seguinte forma:

1. Anotações Estratégicas: A Agenda de Augusto Heleno

A primeira evidência apresentada pelo ministro Moraes foi a agenda do general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, apreendida pela Polícia Federal. Moraes chegou a exibir imagens do documento no telão do plenário durante a leitura de seu voto. A denúncia aponta que a agenda continha mensagens sobre “o planejamento prévio da organização criminosa de fabricar um discurso contrário às urnas eletrônicas”. Apesar da ausência de datas explícitas, as anotações registram comentários que colocariam em xeque a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro.

Entre os apontamentos, destacam-se a intitulação de uma página como “Reu [reunião] Diretrizes Estratégicas”, que listava ações como “Fazer um mapa com o levantamento das áreas onde o Pres [presidente] possui aliados confiáveis” e “Buscar relacionar os órgãos de imprensa que podem ser usados como meios de divulgação de ações de governo. Utilizar com mais frequência a EBC”. Outras diretrizes anotadas incluíam recomendações para “Não fazer qualquer referência a homossexuais, negros, maricas, etc. Evitar comentários desairosos e generalistas sobre o povo brasileiro. Ao contrário, exaltar as qualidades do povo: lutador, guerreiro, alegre, otimista.” e “Estabelecer um discurso sobre urnas eletrônicas e votações. É válido continuar a criticar a urna eletrônica.”

Há ainda referências na agenda a um “dossiê sobre o mecanismo das fraudes” e a menção a “dia 30 out”, que faria alusão à data do segundo turno das eleições de 2022. A defesa de Augusto Heleno, por sua vez, sustenta que as provas no processo não demonstram a culpa do general ou seu protagonismo na alegada trama. Os advogados afirmaram que as anotações eram pessoais e “nunca” foram compartilhadas. Criticam também a Polícia Federal pela forma de apresentação das páginas, alegando que a PF criou uma narrativa a partir de páginas que estavam isoladas e sobre assuntos diversos.

Contrariando a defesa, o ministro Moraes classificou a agenda como contendo “diretrizes estratégicas” feitas pelo réu, listando ações a serem implementadas pela “organização criminosa”, inclusive sobre “desinformação sobre urnas eletrônicas para descredibilizar o sistema eletrônico eleitoral brasileiro”. O ministro expressou sua incredulidade, afirmando que “não é razoável achar normal um general do Exército, general quatro estrelas, ministro do GSI, ter uma agenda com anotações golpistas, ter uma agenda preparando a execução de atos para deslegitimar as eleições, para deslegitimar o Poder Judiciário e para se perpetuar no poder”. Finalizou sua ponderação dizendo: “Eu não consigo entender como alguém pode achar normal numa democracia em pleno século 21, uma agenda golpista”.

2. As Anotações do Ex-Presidente da Abin: Alexandre Ramagem

Um segundo conjunto de provas apresentado por Moraes consistiu em anotações de autoria de Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal. O ministro indicou que esses registros evidenciam um planejamento e uma intenção de atacar as urnas e o sistema eleitoral, por apresentarem “tópicos e argumentos contrários ao sistema eletrônico [de votação] e imputando fraudes à Justiça Eleitoral”. Conforme a argumentação de Moraes, esses mesmos temas foram posteriormente abordados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em uma live.

Para o ministro do STF, existe uma “convergência total” entre o conteúdo da live de Bolsonaro, os documentos de Ramagem e as anotações encontradas no diário de Augusto Heleno. Essa correlação, segundo Moraes, demonstram a intenção e o planejamento conjunto de descredibilizar o sistema eleitoral. A defesa de Ramagem alegou que as anotações seriam para uso pessoal, mas Moraes considerou a alegação “não razoável”. Ele destacou que as provas continham tópicos dirigidos ao ex-presidente Bolsonaro na terceira pessoa e que as informações nos documentos eram idênticas às mencionadas por Bolsonaro em sua live, reforçando o envolvimento de Ramagem no planejamento dos ataques.

Moraes detalha provas de golpe contra Bolsonaro no STF - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

3. Diálogos Explícitos: Ramagem e Bolsonaro

Alexandre de Moraes incluiu em sua argumentação a leitura de diálogos interceptados pela Polícia Federal entre o ex-diretor da Abin e deputado federal Alexandre Ramagem e o ex-presidente Jair Bolsonaro. As mensagens chocaram o plenário, levando o ministro a compará-las: “Isso não é uma mensagem de um delinquente do PCC para outro, isso é uma mensagem do diretor da Abin para o presidente da República”, salientou.

Um trecho específico da conversa revelada por Moraes dizia: “Na realidade, a urna já se encontra em total descrédito perante a população. Deve-se enaltecer essa questão já consolidada. A prova da vulnerabilidade já foi feita em 2018 antes das eleições. Resta somente trazê-la novamente e constantemente. Deve-se dar continuidade àqueles argumentos. Essas questões devem ser massificadas. A credibilidade da urna já se esvaiu, assim como a reputação de ministros do Supremo Tribunal Federal”. Este diálogo foi apontado como prova direta da coordenação e disseminação de informações para descredibilizar as instituições democráticas.

4. Transcrições de Áudios: Planos de Execução

O ministro também apresentou a transcrição de áudios de conversas entre o general da reserva Mario Fernandes e o tenente-coronel Mauro Cid com um grupo de elite do Exército, os “kids pretos”. Esses áudios foram identificados como evidências da articulação das operações batizadas de “Punhal Verde e Amarelo” e “Copa 2022”, que, segundo as investigações, envolviam monitoramento, prisão ilegal e até uma possível execução de figuras políticas, incluindo Alexandre de Moraes, Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) e Geraldo Alckmin.

Moraes afirmou que havia “excesso de provas” da existência e da tentativa de executar um plano para assassinar as três autoridades, conforme reportado por Leandro Prazeres de Brasília. O ministro reiterou: “Esse planejamento é fartamente comprovado nos autos. Como cheguei a comentar com a ministra Cármen (Lúcia), há excesso de provas”.

As investigações indicaram que o plano “Punhal Verde e Amarelo” visava monitorar, prender e matar autoridades, a ser executado por militares de forças de elite. Partes do plano chegaram a ser impressas dentro do Palácio do Planalto, detalhando que Moraes seria morto por armas de fogo e Lula, por envenenamento. Moraes destacou a gravidade da situação, afirmando: “Isso não foi impresso numa gruta, escondido numa sala de terroristas. Isso foi impresso na sede do governo brasileiro, no mesmo momento em que lá se encontrava o presidente Jair Messias Bolsonaro. O planejamento é tão bem detalhado que há chances de êxito, efeitos colaterais e (menções) à necessidade de utilização de armas pesadíssimas”. As defesas dos réus negam qualquer envolvimento nos planos. O ministro concluiu sua análise sobre este ponto afirmando que a sociedade não pode “normalizar” a elaboração de planos para matar autoridades.

A apresentação minuciosa dessas provas por Alexandre de Moraes lança luz sobre os bastidores da investigação da tentativa de golpe de Estado, conectando figuras importantes do cenário político-militar brasileiro. Para acompanhar os desdobramentos deste e de outros temas que impactam o cenário político nacional, explore mais artigos em nossa editoria de Política.

Crédito: Getty Images


Links Externos

🔗 Links Úteis

Recursos externos recomendados