Protestos no Nepal: Geração Z impulsiona renúncia do Premiê

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O Nepal viveu um cenário de turbulência política intensa que resultou na renúncia do Primeiro-Ministro KP Sharma Oli nesta terça-feira, 9 de setembro de 2025. A decisão de Oli veio em resposta à massiva indignação pública e a uma onda de protestos generalizados que se alastraram pelo país, marcados por confrontos violentos e denúncias de corrupção, bem como uma polêmica proibição de redes sociais.

A escalada dos acontecimentos foi desencadeada após a morte de dezenove manifestantes anticorrupção em confrontos com a polícia na segunda-feira, 8 de setembro. Relatos de mais três mortes foram registrados no dia seguinte, intensificando a pressão sobre o governo. As manifestações, amplamente mobilizadas por jovens identificados como membros da Geração Z — os primeiros nativos digitais nascidos entre 1995 e 2010 —, tomaram as ruas da capital, Katmandu, e de outras grandes cidades.

Protestos no Nepal: Geração Z impulsiona renúncia do Premiê

O gabinete informou que a saída do Primeiro-Ministro KP Sharma Oli visava abrir caminho para uma solução constitucional em meio aos protestos. Apesar de ter revogado a proibição das redes sociais na noite de segunda-feira, a indignação pública, alimentada pela corrupção e pela percepção de uma tentativa de cerceamento da liberdade de expressão, já havia atingido um ponto crítico. Nos embates com as forças policiais, que recorreram ao uso de gás lacrimogêneo, canhões de água e projéteis para dispersar os manifestantes que tentavam escalar os muros do parlamento e outros edifícios oficiais, aproximadamente duzentas pessoas teriam ficado feridas.

A Proibição das Redes Sociais: Estopim da Insurreição

A decisão governamental de proibir vinte e seis plataformas de redes sociais na semana anterior, incluindo aplicativos como WhatsApp, Instagram e Facebook, serviu como catalisador imediato para a explosão de fúria popular. As redes sociais são um elemento crucial na vida do Nepal, com uma das maiores taxas de uso per capita no sul da Ásia. O governo justificou a medida como uma forma de combater notícias falsas, discurso de ódio e fraudes online. Contudo, críticos imediatamente acusaram o governo de tentar suprimir uma crescente campanha anticorrupção. Embora a proibição tenha sido rapidamente revogada, a atitude governamental exacerbou uma insatisfação mais profunda com as autoridades nepalenses.

O Ministro das Comunicações, Prithvi Subba, confirmou à BBC, em plena segunda-feira, o uso de força pela polícia, incluindo canhões de água, cassetetes e balas de borracha, na tentativa de conter a multidão. Mesmo assim, parte dos manifestantes conseguiu ultrapassar o perímetro do prédio do parlamento em Katmandu, levando as autoridades a impor um toque de recolher em torno de edificações governamentais essenciais e a reforçar a segurança na região.

A Geração Z no Epicentro da Mudança

Diferentemente de movimentos anteriores, os **protestos no Nepal** atuais foram singularmente moldados e impulsionados pela Geração Z. A mobilização se deu majoritariamente pelas plataformas digitais, com o surgimento de diversos coletivos que organizavam e divulgavam atualizações online. Embora sem uma liderança centralizada, a participação juvenil foi massiva, incluindo estudantes universitários de cidades como Katmandu, Pokhara e Itahari, alguns dos quais foram convidados a comparecer usando uniforme e carregando livros. Até mesmo crianças em idade escolar foram vistas nas marchas, evidenciando o amplo engajamento intergeracional.

As demandas dos manifestantes em Katmandu são diretas: o fim das práticas corruptas no país e a plena liberdade de expressão — diretamente relacionada à remoção da proibição das redes sociais, que já foi efetuada. Para jovens como Binu KC, estudante de 19 anos, “a corrupção é o problema central. Os líderes prometem durante as eleições, mas nunca cumprem, sendo a causa de muitos de nossos desafios.” Ela ainda destacou como a restrição das redes sociais afetou seus estudos, limitando o acesso a aulas e materiais online.

Subhana Budhathoki, criadora de conteúdo, resumiu o sentimento: “A Geração Z não vai parar. Este protesto transcende as redes sociais; é sobre silenciar nossas vozes, e não vamos permitir que isso aconteça.” Um dos lemas marcantes dos protestos foi o uso de “nepo baby” e “nepo kids”, termos que ganharam notoriedade nas redes sociais após a viralização de vídeos que contrastavam o estilo de vida luxuoso de políticos e suas famílias (com roupas de grife, viagens internacionais e carros de luxo) com a realidade enfrentada pela juventude nepalesa, marcada por desemprego e migração forçada. Esses slogans simbolizam a profunda frustração com a desigualdade social no país.

Protestos no Nepal: Geração Z impulsiona renúncia do Premiê - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Cenário de Crise e Implicações Futuras

Os protestos persistiram, e nesta terça-feira foram registrados atos de vandalismo e incêndios contra residências de políticos, incluindo a casa do ex-primeiro-ministro Sher Bahadur Deuba, líder do Partido do Congresso Nepalês, e a residência de KP Sharma Oli em Balakot, Baktapur. Vídeos circulando nas redes sociais documentaram os danos. Dentro do parlamento, janelas foram quebradas e mensagens antigoverno foram pichadas nas paredes, enquanto centenas de manifestantes dançavam e proferiam palavras de ordem, muitos exibindo a bandeira do Nepal.

Em meio ao caos, cerca de novecentos detentos conseguiram escapar de duas prisões localizadas em distritos ocidentais do Nepal. O sistema de saúde também foi impactado; médicos de hospitais locais relataram à BBC Nepal terem tratado ferimentos causados por armas de fogo e balas de borracha, enquanto multidões se aglomeravam nos hospitais. A polícia também confirmou que vários agentes foram feridos, e o número de vítimas poderia aumentar.

O chefe do Exército do Nepal, na noite de terça-feira, emitiu um comunicado acusando os manifestantes de se aproveitarem da crise para saquear, danificar e incendiar propriedades públicas e privadas. O comunicado enfatizou que, se os **protestos no Nepal** continuarem, “todas as instituições de segurança, incluindo o Exército do Nepal, estão comprometidas em assumir o controle da situação”.

Após a renúncia de Oli, que assumiu o cargo pela quarta vez em julho de 2024 com o apoio do Partido do Congresso Nepalês, outros três políticos de alto escalão também anunciaram suas saídas. O cenário político pós-renúncia é de incerteza, sem um sucessor claro ou alguém aparente no comando, com relatos de ministros buscando refúgio junto às forças de segurança. Enquanto os manifestantes demandam responsabilização e reformas na governança, analistas alertam que, sem um envolvimento significativo do governo, os protestos têm o potencial de escalar ainda mais, especialmente com a adesão crescente de estudantes e grupos da sociedade civil.

A escalada de violência e o banimento temporário das redes sociais no Nepal trouxeram à tona a importância da liberdade de imprensa e de expressão para a democracia. Para entender mais sobre a situação global da imprensa, consulte dados recentes de organizações como a Repórteres Sem Fronteiras.

Os eventos recentes no Nepal evidenciam o poder de mobilização da juventude e as consequências da insatisfação popular com a corrupção e a limitação das liberdades. Para continuar acompanhando o desenrolar desta crise e outras notícias relevantes, convidamos você a explorar nossas últimas análises e coberturas na editoria de Política.

Crédito, Getty Images


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