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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmou categoricamente, em entrevista exclusiva, que irá impor o veto presidencial a uma eventual proposta de anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A declaração foi feita no contexto de uma movimentação intensa no Congresso Nacional visando aprovar um projeto de lei que concederia tal benefício.
A conversa ocorreu na manhã da última quarta-feira, 17 de setembro de 2025, nas dependências do Palácio da Alvorada, com jornalistas da BBC News Brasil e BBC News. A firme posição do presidente Lula ressalta a tensão política em torno do futuro legal do ex-chefe do Executivo.
Lula reitera veto a anistia de Bolsonaro: “Pode ficar certo”
Durante a entrevista, o mandatário brasileiro foi direto ao afirmar sua posição: “Se viesse pra eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria. Pode ficar certo que eu vetaria.” A afirmação surge em um momento crucial, onde aliados bolsonaristas na Câmara dos Deputados exercem pressão sobre o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que a proposta seja votada em regime de urgência, acelerando seu trâmite.
Apesar de sua posição pessoal, Lula procurou modular a responsabilidade sobre o tema, sugerindo que a iniciativa para a anistia deve partir do Legislativo. “O presidente da República não se mete numa coisa do Congresso Nacional. Se os partidos políticos entenderem que é preciso dar anistia e votar a anistia, isso é um problema do Congresso”, declarou.
Implicações Legais e o Julgamento de Bolsonaro
A discussão sobre a anistia a Jair Bolsonaro é profundamente impactada pela condenação recente do ex-presidente. Em 11 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) impôs a Bolsonaro uma pena de 27 anos de prisão por sua suposta participação na tentativa de golpe de Estado, que teria ocorrido entre os anos de 2021 e 2023. A defesa de Bolsonaro, por sua vez, continua a negar seu envolvimento nos eventos e insiste em sua inocência.
Desde o início de agosto, o ex-presidente cumpre prisão domiciliar, uma medida imposta pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, devido ao descumprimento de medidas cautelares anteriormente estabelecidas. Contudo, como o caso ainda está sujeito a recursos, a definição exata do local ou regime de cumprimento de pena ainda não foi estabelecida.
Ainda que o veto de Lula se concretize, o texto pode não ter seu fim imediato, pois o Congresso detém a prerrogativa de derrubar um veto presidencial. Além disso, ministros do Supremo Tribunal Federal, durante o julgamento de Bolsonaro, já indicaram que anistias ou indultos para crimes de tentativa de golpe podem ser considerados inconstitucionais, sinalizando que o tema poderia novamente ser levado à instância superior do Judiciário. Mais informações sobre os processos e a atuação do STF podem ser consultadas em seu portal oficial.
Críticas de Lula à “PEC da Blindagem”
Na mesma entrevista à BBC, Lula expressou sua forte desaprovação à aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) na Câmara dos Deputados que dificulta a abertura de investigações criminais contra parlamentares. Conhecida pelos seus detratores como “PEC da blindagem”, a medida foi aprovada por maioria significativa, contando inclusive com o apoio de parte da bancada do Partido dos Trabalhadores.
O presidente foi enfático em sua oposição: “Se eu fosse deputado, eu votaria contra. Se eu fosse presidente do meu partido, orientaria para votar contra. Aliás, eu votaria para fechar questão e votar contra.” Ele ainda ponderou que “a maior blindagem que as pessoas precisam é ter um comportamento sem cometer nenhum ilícito na vida”, criticando a natureza da proposta.

Imagem: bbc.com
Cenário Internacional: A Relação com Donald Trump e Geopolítica
Às vésperas de sua viagem a Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU, o presidente Lula abordou temas de política externa, com destaque para a relação Brasil-Estados Unidos, em especial, a figura do ex-presidente Donald Trump. Lula criticou as tarifas impostas por Trump ao Brasil, classificando-as como “eminentemente políticas”, e não comerciais, ressaltando o superávit de US$ 410 bilhões que os EUA obtiveram em comércio com o Brasil nos últimos 15 anos.
Lula confirmou não ter tentado contato direto com Trump porque, segundo ele, o republicano “nunca quis conversar”. Contudo, ressaltou sua disposição de cumprimentá-lo em Nova York por consideração à civilidade, enfatizando que não há problema pessoal com Trump. Apesar de ter associado Trump ao fascismo em 2024, Lula não se arrepende, alegando que “o comportamento dele é muito ruim para a democracia” e que apoia “pessoas antidemocráticas no mundo inteiro”.
O presidente brasileiro reforçou a ideia de que as relações entre chefes de Estado não devem ser pautadas por afinidade ideológica, mas pelos interesses de seus respectivos povos. Ele criticou a postura unilateral de Trump, que comunicou tarifas via portal, sem contato direto com o governo brasileiro, e mencionou que o Brasil acionou a OMC e a Seção 301, preparando-se para a reciprocidade. Lula também pontuou que, “se o presidente Trump tivesse feito aqui no Brasil o que ele fez no Capitólio, ele também teria sido julgado”, defendendo a isonomia da Justiça brasileira.
Em uma perspectiva mais ampla sobre política global, Lula defendeu uma reforma da Organização das Nações Unidas (ONU), para que a instituição reflita a “geografia mundial do século XXI”, dando maior representatividade a países como Brasil, México, Índia, Alemanha, Japão e nações africanas. Para Lula, a ONU atual não tem força para intervir em conflitos globais por falta de representatividade e por os próprios membros permanentes não a respeitarem. Ele reiterou a condenação brasileira à ocupação da Ucrânia pela Rússia, mas afirmou que a compra de petróleo russo é uma necessidade econômica, não um financiamento de guerra. Ainda, sobre Gaza, o presidente declarou que não se trata de uma guerra, mas de um “genocídio”, defendendo a criação de dois Estados para coexistência pacífica.
Meio Ambiente e Eleições 2026
Ao abordar a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) no Brasil, Lula destacou o desejo de levar o mundo a “conhecer a Amazônia” de perto, rebatendo críticos sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Apesar da pressão de cientistas e ambientalistas, o presidente defendeu a pesquisa na região, citando a Petrobras como uma empresa com tecnologia segura em águas profundas e reiterando que, embora o fim dos combustíveis fósseis seja inevitável, “este momento não chegou”. Ele sublinhou que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com grande potencial eólico, solar e de biomassa, liderando a transição energética.
Questionado sobre sua possível candidatura à reeleição em 2026, Lula afirmou que a decisão ainda não foi tomada, dependendo de fatores como sua saúde, a avaliação de seu partido e a “conveniência política”. Ele listou realizações de seu governo em pouco mais de um ano e meio, como a erradicação da fome (que havia voltado a níveis críticos), o crescimento econômico acima da média mundial, o aumento da massa salarial e o menor índice de desemprego histórico, fatores que pesarão em sua decisão. Quanto a enfrentar Bolsonaro nas urnas, o presidente declarou não ter receio, lembrando que o venceu mesmo com o ex-mandatário utilizando todos os recursos da máquina pública para impedir sua vitória.
Nesta extensa entrevista, o presidente Lula cobriu desde questões políticas internas cruciais até debates internacionais e ambientais, reiterando a posição de sua gestão em face de grandes desafios. Para aprofundar-se em outras notícias sobre o cenário político brasileiro, convidamos você a explorar mais conteúdo em nossa editoria de Política e continuar acompanhando os desdobramentos dos próximos eventos.
Crédito: Paulo Koba/BBC
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