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Em um episódio de resiliência e tragédia, a história de Annette Herfkens, a sobrevivente de acidente de avião no Vietnã, destaca a capacidade humana de superação frente às circunstâncias mais adversas. Em 1992, Herfkens viu seu voo rumo a férias românticas com seu noivo transformar-se em um pesadelo, culminando em sua sobrevivência solitária após uma queda de aeronave.
Annette, uma cidadã holandesa atuando no setor financeiro em Madri, mantinha um relacionamento de longa distância com Willem, carinhosamente chamado de Pasje, um colega universitário. O casal, que planejava casamento e dividia a vida entre viagens e reencontros, decidira desfrutar de momentos de lazer no Vietnã, onde Pasje estava a trabalho. Foi durante um deslocamento em um pequeno avião que o destino os testou de maneira brutal.
Annette Herfkens: Sobrevivente de Acidente de Avião no Vietnã
Durante a aproximação do aeroporto de Nha Trang, Annette e Willem sentiram o avião iniciar uma descida abrupta e incontrolável. Em depoimento ao podcast “Lives Less Ordinary” da BBC, Herfkens relembra o desespero crescente com o som dos motores e os gritos dos passageiros. De mãos dadas com Pasje, o cenário mergulhou em completa escuridão com o impacto catastrófico. Surpreendentemente, Annette Herfkens emergiu como a única sobrevivente de um acidente que tirou a vida de todos os outros passageiros e tripulantes a bordo da aeronave. Sua luta pela vida durou oito angustiantes dias em meio à densa selva, marcada por ferimentos severos, desidratação e o luto avassalador pela perda de seu amor.
As lembranças daquela jornada começam com um namoro inusitado. Pasje, brincalhão, a desafiou a beijá-lo, o que rapidamente evoluiu para um amor verdadeiro e duradouro. A distância e as viagens internacionais eram um obstáculo constante, mas a paixão os unia. Em 1992, enquanto Willem estava no Vietnã, decidiram ter umas férias por lá. A chegada de Annette à terra natal do noivo prometia explorar seu cotidiano de trabalho antes de embarcarem na aventura turística. Contudo, Pasje já tinha planejado um voo madrugador.
O Desafio e o Temor do Pequeno Avião
Annette acordou irritada com a pressa e, ao se deparar com o pequeno avião Yak-40 de fabricação soviética, a claustrofobia instantânea gerou resistência. “Não vou entrar nele”, ela afirmou. No entanto, o apelo de Pasje – “Por favor, faça isso por nós” – a convenceu, já que a alternativa terrestre era inviável pela selva densa. Com o coração acelerado e ignorando seus instintos, Annette embarcou para um voo que prometia durar apenas 55 minutos. O desconforto era palpável; ela observava o relógio do noivo, recitando um poema alemão para se distrair.
Quando restavam apenas cinco minutos para o pouso, a aeronave despencou subitamente. O grito das pessoas encheu a cabine, e Pasje expressou seu medo, ao qual Annette, irritada, tentou tranquilizá-lo com explicações sobre a turbulência comum em aviões pequenos. Contudo, a segunda queda dos motores, ainda mais violenta, dissipou qualquer esperança. Olhos encontraram-se, mãos se apertaram, e então tudo escureceu de vez para os passageiros daquele voo.
A Verdadeira Tragédia e a Luta Imediata Pela Vida
Ao recobrar a consciência, Annette estava em meio aos sons da selva: grilos e macacos. Um peso sobre ela revelou ser um assento com um corpo sem vida, que ela empurrou para longe. Ao lado, Willem estava preso ao assento, sorrindo docemente em um semblante de morte. Chocada, Herfkens não sabe como conseguiu se arrastar, ferida, para fora dos escombros do avião, que havia atingido duas montanhas e capotado, perdendo uma asa. Suas pernas estavam fraturadas (12 fraturas no quadril), um pulmão colapsado e a mandíbula quebrada. Por não usar cinto de segurança, o impacto a arremessou debaixo do assento oposto.
Fora da fuselagem, uma vasta e exuberante vegetação se estendia. Um ferimento aberto na perna, com o osso exposto e já infestado por insetos vermelhos, tornava sua situação ainda mais dramática. Um homem vietnamita, aparentemente um importante dignitário, foi a única outra pessoa a mostrar sinais de vida e tentou tranquilizar Annette sobre a chegada do resgate. Sensível à sua nudez, ele lhe ofereceu uma calça de terno, que ela vestiu em meio a uma dor lancinante, salvando talvez suas pernas dos insetos. No entanto, ao fim do dia, o vietnamita enfraqueceu e também faleceu, deixando Annette Herfkens sozinha naquela montanha silenciosa e hostil.
Os Dias Solitários na Selva e Estratégias de Sobrevivência
A morte do vietnamita trouxe pânico à holandesa. Em vez de se entregar ao desespero, Herfkens instintivamente se concentrou na respiração, aceitando a realidade cruel de não estar mais em uma praia com Pasje. Seu foco era o presente, evitando que a mente divagasse para temores como a aparição de um tigre – um risco real na selva. Nos dois primeiros dias, a presença do cadáver do homem vietnamita a confortava, como uma estranha companhia, antes que o avjeto estado o tornasse insuportável. Voltou então sua atenção para a beleza da selva.
A observação das milhares de folhas, das gotas de água sobre elas e da forma como a luz se refletia se tornou um escape e uma fonte de força. “Era uma beleza. Eu me deixei absorver por ela,” conta. Para sobreviver, porém, precisava de um plano. A espuma de isolamento do avião forneceu a matéria-prima para criar sete tigelinhas improvisadas. Rastejando com os cotovelos, ignorando a dor de suas pernas e quadris feridos, ela moldou os recipientes. Uma capa de chuva, encontrada na bolsa de uma jovem, também se tornou essencial. Quando a chuva torrencial veio, Annette não só encheu suas tigelinhas, como conseguiu tomar um grande gole d’água, celebrando a conquista: “Que incrível estar viva e bem nessas circunstâncias.” Para dados mais amplos sobre a segurança aérea e índices de sobrevivência em acidentes, o setor global de aviação, representado por entidades como a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), divulga anualmente relatórios detalhados que ilustram a baixa probabilidade de incidentes fatais na aviação comercial, apesar da brutalidade de casos isolados como o de Annette, conforme destacado em seus comunicados de imprensa.
O Luto Suspendedo e a Persistência Pela Vida
A dor da perda de Pasje foi imensa, mas Annette percebeu que ceder ao choro e à tristeza seria fatal. Seu anel de dez euros, inchado por picadas de insetos em sua mão, era o único elo com o amor que perderia. “Não pense em Pasje” tornou-se seu mantra. Ela direcionou seus pensamentos para a família, imaginando o conforto dos chuveiros e a fartura de água que possuíam. Sentia-se amada e esperava que estivessem a procurando.
No entanto, a fome e os ferimentos debilitavam-na rapidamente. No sexto dia, em um estado de quase alucinação, Annette experimentou uma “morte linda e feliz”, observando as cores da selva e sentindo uma onda de amor. Foi nesse momento que, à distância, avistou um homem vestido de laranja. Lutando para sair de seu estado alterado, gritou por ajuda, e a dor voltou, lembrando-a de sua existência. O homem não reagiu e sumiu, levando Annette a acreditar que fora uma miragem. No entanto, na manhã seguinte, ele reapareceu, e, após uma explosão de raiva de Annette que o fez desaparecer novamente, no oitavo dia, oito homens com sacos de cadáveres surgiram no horizonte.
O Resgate e o Retorno À Civilização
Os socorristas, movidos pela missão, apresentaram uma lista de passageiros. Annette confirmou seu nome. Um gole d’água, oferecido de uma garrafa, e o transporte em uma lona amarrada entre dois postes marcaram o início de seu retorno. Paradotéricamente, Annette sentiu pânico pela segunda vez; ela não queria deixar seu “estado de espírito bonito”, seu porto seguro de aceitação, onde a morte de Pasje estava em suspenso. Os resgatistas, compreendendo seu temor, tiraram seus sapatos em respeito à sua dor ao transportá-la, um gesto de carinho que a fez priorizar o conforto deles e lhes agradecer.
No acampamento montado na selva, a dor intensa retornou. Na barraca, enquanto chovia, um novo medo tomou conta: a solidão. Implorou aos homens para não a deixarem sozinha. Em Cidade de Ho Chi Minh, a holandesa se reencontrou com um colega, Jaime, e os irmãos de Pasje, aos quais sentiu o dever de relatar que o irmão morrera com um sorriso no rosto, sem sofrimento. O reencontro com a mãe, no hospital, quase a levou à morte por causa de um pulmão colapsado.
O Recomeço: Ganhando uma Nova Vida Após a Perda
Enquanto a família planejava um funeral conjunto para ela e Pasje em Leiden, Annette reapareceu. Os obituários haviam sido publicados, e uma pilha de cartas de condolências aguardava em casa, surpreendentemente impulsionando sua autoestima. Todos a davam como morta, exceto Jaime, que se recusara a acreditar na fatalidade. Na Holanda, ela iniciou um longo processo de reconstrução. O maxilar foi reparado, o pulmão tratado e os quadris necessitavam de repouso. No Vietnã, os médicos trabalharam intensamente na gangrena de suas pernas, algo que, na Holanda, provavelmente teria resultado em amputação, fato pelo qual Annette Herfkens se sente profundamente grata.
O funeral de Pasje foi descrito por Annette como um “casamento com um caixão”. Amigos do casal, que estariam em sua própria cerimônia de casamento, testemunharam os discursos e músicas emocionantes antes que o caixão fosse levado ao túmulo, com Annette andando logo atrás. O retorno à vida cotidiana, sem seu noivo, transformou a selva em um lugar seguro e o mundo real em um espaço assustador. O luto foi inevitável, e ela lamenta a vida que Pasje não pôde ter, os filhos que desejavam e os momentos perdidos. Muitos amigos se casavam naquele período, exacerbando sua dor.
Em determinado momento, Annette decidiu que nunca se casaria novamente. No entanto, um amigo a convenceu de que havia uma pessoa digna de ocupar o lugar de Pasje: Jaime, o colega que persistiu na fé em sua vida no Vietnã. Eles se casaram e tiveram dois filhos. Anos depois, o diagnóstico de autismo do filho Max a remeteu às lições da selva: aceitar o que se tem, em vez de se obcecar pelo que falta, revela a beleza. Assim, ela abraçou o diagnóstico do filho, vendo-o como uma fonte pura e incondicional de amor, sem expectativas, diferente do amor que sente por sua filha. A incrível jornada de Annette Herfkens permanece um testemunho notável da resiliência humana e da descoberta da beleza e do amor nos momentos mais sombrios da vida.
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Crédito, Arquivo pessoal

Imagem: bbc.com
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