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A demanda energética da IA para centros de dados, conforme projeções, pode estar excessivamente inflacionada, correndo o risco de vincular os Estados Unidos a projetos de combustíveis fósseis dispendiosos e desnecessários, resultando em poluição. Essa é a preocupação central que emerge de análises recentes, apontando para uma possível “bolha de IA” impulsionando o consumo elétrico de forma insustentável.
As empresas de tecnologia já elevam significativamente o consumo de eletricidade para o treinamento e operação de novos modelos de inteligência artificial. Com a competição acirrada, a demanda por energia dispara, forçando as concessionárias a mobilizar recursos para a construção de novas usinas e dutos de gás. No entanto, esses planos de reestruturação do sistema energético norte-americano podem se basear em expectativas especulativas, onde o dinheiro de investidores ansiosos, temerosos de perder a “onda”, mas com o risco de desenvolver ferramentas de IA que não prosperem, cria uma instabilidade nas previsões de necessidade energética.
A incerteza deste cenário é preocupante, considerando os custos que os cidadãos poderiam enfrentar em termos de contas de luz mais elevadas e maior poluição, alerta um relatório recente. A transição energética dos EUA para fontes mais limpas e acessíveis, embora lenta, tem progredido, e essa evolução pode ser ameaçada se empresas de tecnologia e concessionárias não exigirem mais transparência e optarem por energias renováveis como a solar e a eólica.
Impacto da Demanda Energética da IA na Rede dos EUA
“Enquanto o boom da IA oferece oportunidades empolgantes, existem muitos riscos em não abordar as necessidades energéticas com uma resposta deliberada e informada que leve em conta os impactos a longo prazo”, afirmou Kelly Poole, autora principal do relatório divulgado este mês pelo grupo de defesa dos acionistas As You Sow e pela organização ambiental Sierra Club, em uma coletiva de imprensa.
Crescimento Acelerado de Projetos de Gás Natural
A capacidade de geração a gás do país poderia crescer em quase um terço caso todos os novos projetos propostos entre janeiro de 2023 e janeiro de 2025 – período de aquecimento da indústria de IA generativa – se concretizassem. A quantidade de nova capacidade de gás proposta por concessionárias e desenvolvedores independentes disparou em 70% nesse intervalo, impulsionada majoritariamente pela crescente demanda de eletricidade dos centros de dados.
Antes do boom da IA generativa, a demanda por eletricidade nos EUA havia se mantido praticamente estável por mais de uma década, graças aos avanços em eficiência energética. Contudo, os novos centros de dados, aprimorados para IA, consomem muito mais energia. Um rack de computadores em um centro de dados convencional pode utilizar de 6 a 8 quilowatts de potência, o equivalente ao consumo de três residências norte-americanas, explicou Dan Thompson, analista de pesquisa principal na S&P Global, durante a coletiva. A inteligência artificial, por outro lado, requer chips de computador mais potentes para executar tarefas complexas. A potência necessária para um rack de alta densidade voltado para IA equivale ao consumo de cerca de 80 a 100 residências, ou mais de 100 quilowatts, segundo Thompson. “Essencialmente, o que você está observando é a implantação de uma quantidade de energia equivalente à de uma pequena cidade”, complementou ele.
Esse panorama importa porque as redes elétricas funcionam como um precário equilíbrio. Se a oferta de energia não acompanhar o aumento da demanda, os consumidores podem enfrentar contas de serviços públicos mais elevadas e potenciais interrupções no fornecimento. Por outro lado, o excesso de construção de nova capacidade corre o risco de criar ativos “encalhados” pelos quais as concessionárias e seus clientes arcam, independentemente de serem realmente necessários no longo prazo. Por isso, uma previsão precisa da demanda futura é tão crucial.
Projeções Especulativas e Superestimadas
Apesar do alto consumo de energia pela IA, as projeções futuras tornam-se incertas. Especuladores estão saturando o mercado, buscando construir e vender centros de dados, aponta o relatório. Tentando antecipar longos prazos de conexão à rede elétrica, alguns solicitam energia antes mesmo de ter capital ou clientes garantidos para concluir o projeto. Pode haver também dupla ou tripla contagem (ou mais) nas projeções de demanda energética da IA, devido a desenvolvedores abordando várias concessionárias para obter diversas cotações.
No sudeste dos EUA, um polo importante para centros de dados, as concessionárias projetam um crescimento da demanda até quatro vezes maior em comparação com análises independentes das tendências da indústria, de acordo com um relatório divulgado no início deste ano pelo Institute for Energy Economics and Financial Analysis (IEEFA). Nacionalmente, as concessionárias preparam-se para um crescimento da demanda 50% maior do que o esperado pela própria indústria de tecnologia, afirma um relatório distinto de dezembro de 2024. As próprias concessionárias reconheceram este risco em recentes chamadas de resultados. “Projetos propostos que buscam se conectar à rede podem ser superestimados em três a cinco vezes o que realmente pode se concretizar”, declarou Jim Burke, CEO da Vistra Energy, do Texas, em uma teleconferência de resultados do primeiro trimestre deste ano.
Imagem: Getty Images via theverge.com
Contrariedade de Prioridades Ambientais e Econômicas
Apesar da incerteza sobre a demanda futura, as empresas de utilidade pública continuam a construir novas usinas e gasodutos para atender a essa projeção. A construção de nova infraestrutura representa, afinal, uma das formas mais lucrativas de aumentar os lucros das concessionárias. Além disso, a administração do ex-presidente Donald Trump – cuja campanha foi impulsionada por contribuições de petróleo e gás – incentiva a dependência de combustíveis fósseis. Na Louisiana, por exemplo, a concessionária local Entergy propôs a construção de três novas usinas a gás para abastecer um novo e gigantesco centro de dados da Meta. Estima-se que este centro de dados consuma eletricidade equivalente a 1,5 milhão de residências e gere 100 milhões de toneladas de emissões de carbono ao longo de 15 anos.
Este cenário contrasta fortemente com o objetivo da administração Biden de tornar a rede elétrica 100% livre de poluição de carbono até 2035. A única maneira de combater as mudanças climáticas é eliminar a poluição causadora do aquecimento do planeta proveniente dos combustíveis fósseis. A construção acelerada de nova infraestrutura de gás move claramente o país na direção oposta a esses esforços ambientais.
Soluções para um Crescimento Sustentável
Existem soluções para minimizar todos esses riscos, apontam o As You Sow e o Sierra Club em seu relatório. As concessionárias podem exigir que os desenvolvedores divulguem a quantas outras empresas de energia eles apresentaram suas propostas de centros de dados e o estágio de finalização dos projetos. Ao firmar contratos, podem também exigir acordos de serviço de longo prazo, aumentar depósitos não reembolsáveis e elevar as taxas para cancelamento de projetos.
As empresas de tecnologia também desempenham um papel crucial, aprimorando a eficiência energética de suas tecnologias e investindo em energias renováveis. Por anos, gigantes como Amazon, Meta e Google estiveram entre os maiores compradores corporativos de energia renovável. Firmar acordos de longo prazo para construir novas fazendas solares e eólicas pode ter um impacto ainda maior agora, neutralizando o retrocesso da administração Trump nos incentivos financeiros para energias renováveis, caso as empresas estejam dispostas a priorizar seus próprios objetivos de sustentabilidade tanto quanto suas ambições em IA. Organizações como As You Sow são ativas na defesa de políticas mais transparentes e responsáveis em relação ao investimento corporativo em energia.
Este debate crucial sobre a demanda energética da IA e seus impactos destaca a necessidade de um planejamento cuidadoso e de uma avaliação transparente dos dados para garantir um futuro energético sustentável e econômico para os EUA. Continue acompanhando as notícias de economia para mais análises aprofundadas sobre como a inovação e o meio ambiente moldam nosso futuro.
Crédito da Imagem: Getty Images
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