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As polêmicas declarações sobre Trump Declarar o Fim de 7 Guerras em seu Discurso na ONU marcaram a presença do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 23 de setembro, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Em sua primeira participação desde 2020, Trump reiterou ter finalizado múltiplos conflitos bélicos, parte de um histórico que ele tem consistentemente destacado para se posicionar como um mediador de paz global. A BBC Verify, uma equipe especializada em checagem de fatos, empreendeu um exame detalhado das afirmações de Trump e do real alcance de sua influência no encerramento dessas hostilidades. Previamente, em 18 de agosto, durante um discurso na Casa Branca, ele havia reivindicado ter “acabado com seis guerras”, número que, no dia subsequente, já havia escalado para “sete guerras”, um posicionamento que persiste mesmo enquanto enfrenta pressões de líderes europeus para intermediar um cessar-fogo na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A relevância dessas afirmações impulsiona o debate sobre as contribuições diplomáticas do ex-presidente no cenário internacional e a veracidade de suas conquistas de pacificação.
A tática de Donald Trump em sublinhar seu currículo em negociações de paz não é novidade, vindo à tona em contextos políticos estratégicos. As afirmações do ex-presidente em setembro, na ONU, impulsionaram seu governo a sugerir que ele merecia o Prêmio Nobel da Paz, com base na lista de “guerras” supostamente encerradas. No entanto, o termo “fim de guerra” levanta uma série de questionamentos por parte dos analistas. A investigação da BBC Verify indicou que diversos desses “acordos de paz” tiveram duração limitada, ou emergiram de tensões históricas que eclodiram em confrontos breves. Ademais, Trump utilizou frequentemente a palavra “cessar-fogo” em sua plataforma Truth Social ao descrever essas mediações, uma contradição à sua declaração inicial de ter concretizado “todos esses acordos sem sequer mencionar a palavra ‘cessar-fogo'”.
Trump Declara Fim de 7 Guerras em Discurso na ONU
A minuciosa análise conduzida pela equipe BBC Verify abordou individualmente os sete conflitos e cenários de tensão que Donald Trump apontou como finalizados. Em cada instância, as opiniões de especialistas e as informações fornecidas por fontes oficiais divergem sobre a efetiva participação do ex-presidente e a durabilidade dos acordos alcançados. Veja a seguir a descrição e a avaliação de cada situação:
Israel e Irã: Uma Pausa Após 12 Dias de Conflito
Entre os episódios destacados por Donald Trump, figurou o conflito de 12 dias entre Israel e Irã, iniciado em 13 de junho, com ataques israelenses a alvos iranianos. Trump confirmou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o havia informado antes do início das ações. A atuação norte-americana incluiu ataques a instalações nucleares iranianas, medida que foi amplamente interpretada como um esforço para uma rápida desescalada. Em 23 de junho, Trump comunicou em suas plataformas um cessar-fogo progressivo. Contudo, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, declarou uma “vitória decisiva” para seu país ao final do confronto, sem aludir a um cessar-fogo. Michael O’Hanlon, pesquisador da Brookings Institution, avaliou que o resultado foi mais um “cessar-fogo na prática do que o fim da guerra”, concedendo a Trump “algum crédito” pela relevância estratégica do enfraquecimento iraniano com o suporte dos EUA.
Paquistão e Índia: Mediação Americana em Tensão Fronteiriça
As relações tensas entre Paquistão e Índia, ambos detentores de armas nucleares, intensificaram-se em maio, após um ataque na Caxemira, sob administração indiana. Passados quatro dias de conflito, Trump anunciou um acordo para um “CESSAR-FOGO TOTAL E IMEDIATO”, atribuindo o êxito a “uma longa noite de negociações mediadas pelos Estados Unidos”. O Paquistão elogiou o papel de Trump, chegando a recomendar seu nome para o Prêmio Nobel da Paz. Em contraste, a Índia minimizou o envolvimento norte-americano. Vikram Misri, o secretário de Relações Exteriores da Índia, declarou que as negociações para a interrupção das operações militares foram realizadas “diretamente entre a Índia e o Paquistão, por meio dos canais existentes estabelecidos entre os dois exércitos”, sinalizando uma perspectiva divergente sobre a efetiva intervenção dos EUA.
Ruanda e República Democrática do Congo: Dificuldade em Sustentar a Paz
As antigas hostilidades entre Ruanda e a República Democrática do Congo (RDC) ganharam fôlego com a conquista de um território rico em minerais, na RDC, pelo grupo rebelde M23. Em junho, foi assinado um acordo de paz em Washington, impulsionado por Trump, visando estimular o comércio bilateral e dos dois países com os EUA, além de garantir o “respeito ao cessar-fogo” firmado em agosto de 2024. Contudo, Margaret MacMillan, professora de história da Universidade de Oxford, ressaltou: “Ainda há combates entre o Congo e Ruanda – então, esse cessar-fogo nunca foi realmente mantido.” As partes continuam a trocar acusações de violação do cessar-fogo, e o grupo M23, que Reino Unido e EUA ligam a Ruanda, ameaçou retirar-se das negociações, sublinhando a instabilidade do acordo.
Tailândia e Camboja: Ameaças Tarifárias Como Estratégia Diplomática
Donald Trump também intercedeu nas hostilidades entre Tailândia e Camboja. Em 26 de julho, o então presidente anunciou ter contatado o primeiro-ministro interino tailandês para solicitar o fim da guerra e um cessar-fogo. Dias depois, ambos os países concordaram com um “cessar-fogo imediato e incondicional”, após um período de menos de uma semana de combates na fronteira. As negociações de paz foram conduzidas pela Malásia. Entretanto, Trump intensificou a pressão ao ameaçar suspender conversas sobre a redução de tarifas dos EUA, caso Tailândia e Camboja não cessassem o conflito. Considerando a significativa dependência das exportações para os EUA, essa tática provou ser decisiva. Um acordo foi finalizado em 7 de agosto, com o objetivo de aliviar as tensões fronteiriças.

Imagem: bbc.com
Armênia e Azerbaijão: Um Acordo Concreto no Salão Oval
Em agosto, a Casa Branca foi o cenário de um acordo de paz mediado por Donald Trump entre Armênia e Azerbaijão. Os líderes de ambos os países sugeriram que Trump deveria ser agraciado com o Prêmio Nobel da Paz por sua iniciativa. Michael O’Hanlon, da Brookings Institution, endossou os méritos do ex-presidente, afirmando: “Acho que ele merece crédito por isso – a cerimônia de assinatura no Salão Oval pode ter levado as partes à paz.” As duas nações mantinham um conflito de cerca de 40 anos pela disputa de Nagorno-Karabakh. Em setembro de 2023, uma grave onda de combates culminou com a tomada do enclave pelo Azerbaijão, onde muitos armênios étnicos viviam. Posteriormente, um acordo diplomático foi alcançado em março, buscando pôr fim a essa prolongada contenda. Este caso demonstra um envolvimento direto e com resultados visíveis da administração Trump na busca pela pacificação.
Egito e Etiópia: Tensões Hídricas, Não Conflito Armado
A situação entre Egito e Etiópia foi verificada pela BBC Verify como diferente dos demais cenários, visto que não havia uma “guerra” em curso para ser finalizada. Contudo, as tensões eram elevadas e persistiam há anos, focadas na construção da Grande Represa do Renascimento Etíope (GERD), recém-concluída. O Egito manifesta preocupação com o impacto da represa no fluxo de água do rio Nilo para seu território. Em 29 de junho, após 12 anos de impasses, o ministro das Relações Exteriores do Egito declarou o estancamento das negociações. Trump interveio afirmando: “Se eu fosse o Egito, iria querer a água do Nilo”, e prometeu uma rápida solução pelos EUA. Enquanto o Egito acolheu as palavras do ex-presidente, autoridades etíopes consideraram que tais declarações poderiam agravar a tensão. Nenhuma concordância formal foi selada entre os países, evidenciando que a alegação de “fim de guerra” não se aplicava aqui.
Sérvia e Kosovo: A Mediação Econômica de 2020
Em 27 de junho de 2020, Donald Trump reivindicou ter impedido uma escalada de hostilidades entre Sérvia e Kosovo, declarando: “Eu disse que, se eles entrassem em conflito, não haveria comércio com os Estados Unidos”. Esta assertiva reitera sua estratégia de empregar pressões econômicas como meio de influenciar resoluções. A rivalidade entre Sérvia e Kosovo, herança das guerras dos Balcãs dos anos 1990, continua latente. Contudo, Margaret MacMillan apontou: “A Sérvia e Kosovo não estão lutando nem atirando um no outro, então não há uma guerra para encerrar”. A Casa Branca, embora mencionando os esforços diplomáticos de Trump em seu primeiro mandato, que levaram à assinatura de acordos para normalizar relações econômicas entre os dois países em 2020, ressaltou que, na ocasião, eles não estavam em conflito armado. Isso questiona a exatidão das declarações de Trump sobre ter “encerrado” uma guerra inexistente.
As repetidas afirmações de Donald Trump de ter promovido o fim de sete guerras estão sob intenso escrutínio. A análise da BBC Verify, juntamente com pareceres de outros especialistas, aponta que, embora a diplomacia norte-americana tenha de fato atuado em vários processos de mediação e na formação de acordos, nem todas as situações podem ser classificadas como “guerras” encerradas de forma definitiva ou como soluções duradouras para os conflitos. A complexidade intrínseca às relações geopolíticas e as diferentes interpretações do termo “fim de guerra” mantêm o debate aceso sobre a verdadeira extensão das conquistas de Donald Trump. Para um aprofundamento contínuo em tópicos de relevância global e na dinâmica de líderes internacionais, recomendamos explorar o site da Assembleia Geral das Nações Unidas e acompanhar as discussões que pautam o cenário mundial. Para mais análises e atualizações sobre a política global, convidamos você a permanecer conectado com nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP via Getty Images
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