📚 Continue Lendo
Mais artigos do nosso blog
O reconhecimento do Estado Palestino por diversas nações europeias, notavelmente Reino Unido e França, durante um evento crucial na Organização das Nações Unidas (ONU), marca um ponto de inflexão na prolongada disputa entre israelenses e palestinos. Esta ação diplomática sublinha uma crescente divergência global e coloca em evidência a complexidade da geopolítica regional.
O anúncio da França foi feito na segunda-feira, 22 de setembro, em Nova York, durante uma conferência da ONU focada na Questão Palestina e na viabilidade da Solução de Dois Estados. O evento foi deliberadamente boicotado tanto por Israel quanto pelos Estados Unidos, sinalizando a profunda polarização em torno do tema. A decisão francesa é percebida como um movimento estratégico audacioso, indicando que as principais nações europeias acreditam que a escalada do conflito em Gaza demanda uma resposta sem precedentes.
Reconhecimento Estado Palestino por Europa Divide Potências
Em um pronunciamento veemente, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que “o direito deve prevalecer sobre a força”, ecoando a condenação global tanto a Israel quanto ao Hamas pelas atrocidades em Gaza. Esta medida, desenvolvida em conjunto com o Reino Unido e com o respaldo diplomático da Arábia Saudita, visa reacender a esperança na solução de dois Estados como um caminho tangível para a paz, um consenso que vinha sendo fragilizado pela prolongação do conflito. Países como Canadá e Austrália também se somaram a esse reconhecimento, amplificando o coro diplomático.
A formulação de paz internacional, que defende a coexistência de dois Estados independentes, é há décadas considerada pelas potências europeias como a única rota sustentável para um futuro seguro para ambos os povos na região. O secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou essa perspectiva durante a conferência, alertando que a alternativa seria um “Estado único”, com a inevitável dominação israelense e a “subjugação” dos palestinos, cenário que perpetuaria o ciclo de violência e injustiça. Sobre a gravidade da situação humanitária, Guterres foi taxativo: “Nada pode justificar o castigo coletivo, a fome ou qualquer forma de limpeza étnica”, demonstrando a urgência do apelo por uma solução pacífica e justa para a questão palestina. Para entender mais sobre a evolução desta complexa questão, você pode consultar informações detalhadas da Divisão de Assuntos Palestinos da ONU.
A reação de Israel a este avanço diplomático foi de intensa fúria, com ameaças explícitas de retaliação. Para o governo israelense, o movimento internacional em direção ao reconhecimento de um Estado palestino, somado à conferência da ONU, configura uma recompensa inaceitável ao Hamas após o ataque de 7 de outubro de 2023, que incluiu sequestros de reféns. Em meio à tensão, alguns membros do gabinete israelense têm defendido a anexação de vastas porções da Cisjordânia já ocupada, o que aniquilaria qualquer possibilidade de um Estado palestino com fronteiras viáveis no futuro. A coalizão que sustenta o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu inclui elementos de extrema-direita cujo projeto declarado é a expulsão dos palestinos e a construção de novos assentamentos judaicos, eliminando de vez a solução de dois Estados da pauta diplomática.
Contrastando fortemente com a abordagem europeia, a administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manteve um inabalável apoio a Israel. Os EUA rejeitaram a iniciativa europeia de **reconhecimento do Estado Palestino** e aplicaram sanções diplomáticas contra o presidente da Autoridade Palestina (PA), Mahmoud Abbas. Ele foi impedido de comparecer presencialmente à conferência da ONU em Nova York e teve de fazer sua participação por videoconferência, sublinhando a tensão nas relações. Esta conferência sobre a Palestina e a subsequente resposta do governo Trump expõem uma das mais profundas fissuras nas estratégias diplomáticas entre Washington e seus tradicionais aliados europeus sobre como avançar em direção a uma solução para o conflito no Oriente Médio.
Diante da alarmante realidade no terreno, os países europeus argumentam que têm poucas alternativas senão agir. A Faixa de Gaza está sendo palco da mobilização de uma terceira divisão do Exército de Israel, com dezenas de palestinos perdendo a vida diariamente, enquanto o Hamas ainda retém aproximadamente 50 reféns, muitos dos quais já falecidos. Simultaneamente, a Cisjordânia testemunha a contínua expansão de assentamentos israelenses e o aumento da violência de colonos contra palestinos. Estes eventos ocorrem quase dois anos após os ataques de 7 de outubro de 2023, sem que a pressão militar israelense tenha mostrado qualquer indício de que levará à rendição desejada do Hamas, ou à libertação dos reféns de forma decisiva.
A estratégia concebida pelo presidente francês, Emmanuel Macron, visa justamente oferecer uma via diplomática consistente. O primeiro objetivo é um cessar-fogo funcional em Gaza, que traga um alívio imediato. Em seguida, busca-se um acordo de longo prazo que contemple a solução de dois Estados – um para os israelenses e outro para os palestinos. Os líderes europeus defendem que a atual estratégia israelense se provou ineficaz, gerando apenas um custo humano exorbitante para a população civil e aumentando os riscos para os reféns remanescentes em poder do Hamas.

Imagem: bbc.com
A relevância da conferência da ONU foi amplificada por sua condução pela Arábia Saudita, em colaboração com a Liga Árabe. Para a França, esta configuração demonstra o potencial de sua diplomacia em exercer influência até mesmo sobre o Hamas. Isso se evidencia no apelo de importantes países árabes presentes na conferência para que o grupo militante depusesse as armas e as entregasse à Autoridade Palestina, além de reiterar que seus membros não deveriam assumir posições de liderança na futura administração palestina. Macron crê que a continuidade deste processo diplomático pode oferecer incentivos substanciais para Israel e, crucialmente, manter viva a possibilidade de normalização das relações com a Arábia Saudita – um objetivo há muito almejado tanto por Netanyahu quanto por Trump.
Recordando os passados coloniais de suas respectivas nações no Oriente Médio, tanto Emmanuel Macron (França) quanto Keir Starmer (Reino Unido) fizeram menção a esse legado. Eles lembraram que, após a retirada do Reino Unido da Palestina histórica em 1948, a comunidade internacional formalizou o reconhecimento do Estado de Israel. Agora, argumentam, é imperativo que se reconheça o direito inalienável e igual dos palestinos de estabelecerem seu próprio Estado independente, em busca de justiça e equidade.
Ainda que o presidente Macron tenha buscado assumir uma posição de liderança global para guiar a região para fora do “pesadelo” em Gaza – expressão cunhada pelo secretário-geral da ONU – e construir um futuro de coexistência, a realidade do poder bruto aponta para outra direção. A ausência da liderança dos Estados Unidos no esforço diplomático impede que se aplique a pressão significativa que apenas Washington tem a capacidade de exercer sobre todas as partes envolvidas. O governo Trump reforça sua rejeição à abordagem europeia de reconhecer o Estado da Palestina, o que, de certa forma, enfraquece a iniciativa.
Após seu discurso na Assembleia Geral da ONU na terça-feira, o presidente Trump reuniu-se com importantes líderes de países árabes e muçulmanos para debater o conflito em Gaza. Trump declarou que a reunião englobou “todos os grandes atores, exceto Israel, mas esse será o próximo”, em clara alusão a um futuro encontro com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na Casa Branca. Entre os participantes estavam líderes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, nações que outrora mediaram negociações entre Israel e Hamas, mas que se recusaram a se engajar novamente após ataques israelenses a líderes do Hamas em seu território, no início de setembro. Por sua vez, os palestinos, apesar de aprovarem o gesto de reconhecimento pelos países europeus, têm plena consciência de que a verdadeira viabilidade de um Estado palestino permanece intrinsecamente ligada ao apoio e engajamento da atual superpotência global, os Estados Unidos.
O reconhecimento do Estado Palestino pela Europa é um movimento de grande peso simbólico e diplomático, marcando uma fase crucial na busca por paz no Oriente Médio. Enquanto a Europa se move para uma abordagem mais assertiva, a postura dos EUA reafirma que Washington continua a ser o pilar fundamental para qualquer resolução duradoura. Para ficar atualizado sobre outros desdobramentos na arena global e suas implicações, continue acompanhando nossa editoria de Política e não perca nenhuma análise relevante sobre os acontecimentos internacionais.
CRÉDITO DA IMAGEM: EPALegenda da foto, O presidente da França, Emmanuel Macron, durante o evento
Recomendo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados