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A recente política de imigração do governo dos Estados Unidos, focada no Visto H-1B Trump, está provocando uma significativa incerteza no setor de tecnologia, impulsionando a Europa a emergir como um destino atrativo para talentos especializados. Enquanto gigantes da tecnologia americana, como Amazon, Google e Microsoft, enfrentam o desafio de realocar seus profissionais, empresas e até governos europeus veem na situação uma oportunidade única para reforçar seus próprios ecossistemas tecnológicos.
Na semana passada, uma medida imposta pelo governo Trump introduziu uma nova taxa anual de US$ 100.000 sobre todos os vistos H-1B. Esses vistos são cruciais para a entrada de dezenas de milhares de trabalhadores qualificados no vibrante setor de tecnologia dos EUA. A repercussão foi imediata: as corporações americanas dedicaram o fim de semana a providenciar o retorno de seus atuais portadores do visto H-1B que estavam no exterior e a cancelar planos de viagem futuros, temendo a aplicação da nova cobrança.
Visto H-1B Trump: Europa Atrai Talentos Tech Americanos
Em contraste, o continente europeu capitalizou a situação, montando uma estratégia agressiva para seduzir os profissionais desiludidos. Ações coordenadas de recrutamento em plataformas como LinkedIn e X (antigo Twitter) demonstram a urgência e o interesse europeu em absorver esse valioso capital humano, buscando transformar o “caos” americano em uma oportunidade de crescimento regional.
Oportunidade Europeia para Profissionais Tech
Líderes de startups europeias de destaque não perderam tempo em sinalizar as novas oportunidades. Barney Hussey-Yeo, fundador da Cleo, uma “fintech” britânica avaliada em bilhões (unicórnio), expressou publicamente no LinkedIn a posição de sua empresa: “A nova taxa do H-1B de US$ 100 mil deixou talentos incríveis em aberto. Se você se enquadra nisso, queremos ajudar.” Hussey-Yeo reconheceu o desafio de “desarraigar a vida”, mas ressaltou que “as melhores oportunidades às vezes vêm de mudanças inesperadas”, anunciando mais de 100 vagas disponíveis no escritório da Cleo em Londres.
Victor Riparbelli, cofundador e CEO da Synthesia, uma startup de inteligência artificial de vídeo com sede em Londres e também um unicórnio, ecoou sentimentos semelhantes na plataforma. Ele postou que “os vistos H-1B estão causando muita incerteza” e incentivou os profissionais a não precisarem de um visto americano para conseguir “um emprego tipo Silicon Valley” na Europa.
O apelo europeu não se limita apenas aos “unicórnios” da tecnologia. Ross McNairn, CEO da Wordsmith, uma empresa escocesa de IA jurídica, também está recrutando ativamente. Ele afirmou: “Se o seu H-1B parece um pouco arriscado, nós patrocinamos vistos para engenheiros que desejam tentar uma temporada no Reino Unido!” A busca por talentos se estende por empresas de tecnologia menores, como Definely, Exo Labs e Verto, que usaram suas redes sociais para atrair profissionais. Muitos oferecem salários competitivos, cobrem custos de visto e de realocação e, mais importante, prometem menos incerteza do que a situação atual nos Estados Unidos.
Até mesmo o governo britânico enxerga a conjuntura como uma vantagem estratégica. O cenário de “caos do visto H-1B” tem servido de incentivo para uma campanha já existente no Reino Unido para abolir taxas de visto para talentos globais de alto nível, fortalecendo a atratividade do país para profissionais qualificados.
Respostas do Governo Americano e o Cenário para Startups
Oficiais do governo dos EUA tentaram mitigar parte do receio gerado pela nova taxa. Eles asseguraram que a cobrança de US$ 100.000 não será aplicada a renovações de visto nem a detentores de vistos H-1B já existentes. Além disso, informaram que os trabalhadores já incluídos no programa podem viajar normalmente sem a preocupação de uma taxa de reentrada. O governo também mencionou a possibilidade de isenções para certas indústrias, com o setor médico – que, ao lado das universidades de pesquisa e do mundo tech, é vital para os vistos H-1B – sendo um dos primeiros grupos a receber sugestões de isenção de taxa.

Imagem: The Verge via theverge.com
Apesar das garantias, a hesitação por parte das empresas em confiar nas palavras da administração atual é notável. Companhias correram para garantir que seus trabalhadores estivessem de volta aos EUA até a data-limite de 21 de setembro, imposta pelo governo, e continuam a aconselhar seus funcionários a cancelarem planos de viagem e permanecerem no país. Esta desconfiança é agravada por uma série de ações da administração nos últimos meses, que alienaram trabalhadores estrangeiros e tornaram os EUA um destino menos atraente. Exemplos incluem a revogação de milhares de vistos de estudante, prisões de sul-coreanos em uma fábrica da LG e a imposição de proibições generalizadas a cidadãos de países inteiros.
O impacto dessas políticas no setor tecnológico americano é bem compreendido. Garry Tan, CEO e presidente da incubadora de tecnologia Y Combinator, comentou que, embora as grandes empresas de tecnologia sejam capazes de “suportar a tempestade”, as startups enfrentarão sérias dificuldades. Segundo Tan, “equipes iniciantes não conseguem arcar com esse imposto”, criticando a decisão de “dizer aos construtores para construir em outro lugar no meio de uma corrida armamentista da IA”. Ele concluiu que as alterações nos vistos representam “um enorme presente para todos os centros tecnológicos estrangeiros”.
Impacto Ampliado e Perspectivas Futuras
A relação entre Trump e a indústria de tecnologia raramente foi harmoniosa, o que sugere que as reclamações do setor podem não influenciá-lo significativamente. As revisões da política de vistos podem ser interpretadas como uma ferramenta, tanto de “vara” quanto de “cenoura”, para manter a Big Tech sob controle. É improvável que o governo atual se importe com o descontentamento do setor, especialmente se a reforma oferece meios para que ele exerça sua influência. Executivos talvez precisem se desdobrar ainda mais para manter-se em sintonia com a administração.
As mudanças nas regras do Visto H-1B demonstram o impacto direto da política governamental no mercado global de talentos e na competitividade de economias avançadas, no dia 24 de setembro de 2025. A forma como essa dinâmica se desenvolverá continuará a ser um ponto de observação crucial. Para entender melhor as interconexões entre políticas migratórias e seu impacto econômico global, explore outras análises em nossa editoria de Economia. Acompanhe a Hora de Começar para se manter informado sobre as notícias que moldam o futuro do mercado de trabalho e da tecnologia.
Image: The Verge
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