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O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, classificou os recentes ataques aéreos realizados pelos Estados Unidos no mar do Caribe contra supostos barcos de tráfico de drogas como um “ato de tirania”. A declaração foi feita em entrevista exclusiva à BBC, onde o chefe de Estado colombiano expressou profunda preocupação com a letalidade das operações norte-americanas e exigiu o devido processo criminal em caso de mortes de cidadãos colombianos.
A contundente crítica de Petro veio à tona enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, justificava as ofensivas, que teriam resultado na morte de 17 pessoas desde seu início no mês corrente. Trump argumenta que essas ações são fundamentais para conter a chegada de fentanil e outras substâncias narcóticas ilegais aos Estados Unidos, ressaltando a urgência no combate ao tráfico.
Ataques EUA no Caribe: Petro Taxa Ação de ‘Tirania’
Apesar da postura norte-americana, especialistas em direito internacional e diversos legisladores questionam abertamente se os métodos empregados nos **ataques dos EUA no Caribe** não estariam em clara violação às leis internacionais de direitos humanos. Petro, por sua vez, foi incisivo ao inquirir a necessidade de lançar mísseis, quando uma simples abordagem e prisão da tripulação seriam possíveis. “Isso é o que se chamaria de assassinato”, afirmou o presidente colombiano à emissora britânica.
Durante a entrevista, concedida à BBC na quarta-feira, 24 de setembro, o mandatário colombiano reiterou que o enfrentamento a lanchas supostamente envolvidas em atividades ilícitas não deveria gerar “nenhum número de mortes”. Ele fez um paralelo com a longa trajetória de cooperação entre a Colômbia e agências americanas, além de outras organizações internacionais, em apreensões marítimas de cocaína, enfatizando que em todas essas operações anteriores, “ninguém jamais morreu antes”. Segundo Petro, a utilização de força excessiva, “se você usar qualquer coisa além de uma pistola”, infringe o princípio fundamental da proporcionalidade da força.
Os ataques aéreos, conduzidos em águas internacionais, têm seu foco principal na Venezuela, conforme informações divulgadas pelo governo Trump. Contudo, os EUA forneceram poucos detalhes sobre os alvos exatos e as identidades dos indivíduos falecidos. Há, inclusive, controvérsias em torno das alegações norte-americanas de que membros da facção criminosa Tren de Aragua estariam presentes no primeiro barco atingido. As lacunas e as disputas sobre a veracidade dessas informações acendem ainda mais os debates sobre a legalidade e a ética das operações.
Em Washington, membros democratas do parlamento intensificaram a cobrança por explicações à Casa Branca sobre a fundamentação legal desses ataques. De maneira contundente, especialistas da Organização das Nações Unidas já se pronunciaram, classificando as ações como “execuções extrajudiciais”, elevando a gravidade da questão ao patamar internacional. O Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) atua para assegurar o respeito às normas do direito internacional e a proteção dos direitos humanos em todas as circunstâncias, sendo um referencial na avaliação de tais conflitos, como pode ser aprofundado em debates sobre o direito internacional.
Questionada acerca das declarações de Petro, a Casa Branca defendeu a postura de seu líder, afirmando que Trump está “preparado para usar todos os elementos do poder americano para impedir que as drogas inundem nosso país e levar os responsáveis à Justiça”. Essa réplica sublinha a intransigência dos EUA na sua política de combate às drogas, mesmo diante das severas críticas internacionais e das acusações de violação de direitos humanos.
A entrevista de Gustavo Petro, conduzida em Nova York durante uma cúpula anual de alto nível das Nações Unidas, também serviu de plataforma para que o presidente colombiano expressasse suas acusações de que o governo Trump tem “humilhado seu povo”. Petro enfatizou que as nações sul-americanas, como a sua, não se “curvariam ao rei”, evidenciando uma postura de desafio frente à hegemonia política americana na região.
Desde que retornou ao cargo em janeiro, o presidente Trump intensificou a retórica e as políticas comerciais direcionadas à América Latina. Uma das medidas mais visíveis tem sido a implementação de uma massiva operação de deportação de indivíduos que, segundo o governo norte-americano, teriam atravessado ilegalmente a fronteira sul dos EUA. Além disso, Trump designou diversas organizações de tráfico de drogas e grupos criminosos atuantes no México e em outras regiões da América Latina como organizações terroristas.
Entre os grupos diretamente visados pela administração Trump, além do Tren de Aragua, encontra-se o Cartel dos Sóis. Os EUA alegam que essa organização é liderada pelo próprio presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e por outras figuras de alto escalão do governo venezuelano, muitos dos quais oriundos de serviços militares ou de inteligência do país. Paralelamente a essas ações políticas e retóricas, os militares dos EUA procederam a um reforço de suas forças no sul do Caribe nos últimos dois meses, enviando navios de guerra, além de milhares de fuzileiros navais e marinheiros, numa clara demonstração de poder militar na região.
As fricções entre Gustavo Petro e Donald Trump não são novidade, tendo o presidente colombiano se confrontado com o líder americano em diversas ocasiões anteriores. Quando questionado se sua postura atual poderia isolar ainda mais a Colômbia no cenário internacional, Petro defendeu que, na realidade, seria Trump quem estaria promovendo o isolamento dos EUA com sua política externa. Petro relembrou que Trump o insultou em uma campanha presidencial passada, chegando a chamá-lo de “terrorista”, o que acentua a historicidade e a profundidade dos atritos políticos entre os dois líderes.
Este panorama demonstra a complexidade das relações internacionais e as nuances do combate ao narcotráfico em um contexto geopolítico tenso. Para continuar aprofundando-se nos desdobramentos dessa e de outras notícias que moldam o cenário global e suas repercussões, explore nossa editoria de Política.
Crédito, Reuters

Imagem: bbc.com
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