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O anúncio do aumento da taxa do visto H-1B pelo governo do então presidente Donald Trump gerou apreensão generalizada no setor de tecnologia dos Estados Unidos, com fundadores de startups e especialistas criticando a medida como uma “tarifa de talento” que ameaça a inovação. A proposta eleva significativamente a tarifa de solicitação do visto, que é crucial para a contratação de profissionais estrangeiros altamente qualificados em áreas como TI e engenharia, passando de uma faixa de US$ 2.000 a US$ 5.000 para um custo fixo de US$ 100.000 por pedido. Essa alteração entrou em vigor pouco antes da disponibilização de uma nova leva de vistos em março.
Amr Awadallah, fundador da startup de inteligência artificial Vectara, expressou uma mistura de descrença e desânimo. Para ele, o novo valor é inviável para muitas empresas emergentes, excluindo-as da possibilidade de contratar talentos internacionais essenciais. A política migratória foi um pilar da campanha de Trump em 2016, quando o ex-presidente frequentemente acusava empresas de usar o programa H-1B para substituir trabalhadores americanos por mão de obra mais barata do exterior.
Trump Aumenta Taxa H-1B para $100 Mil: Impacto em Startups
Críticos do aumento da taxa argumentam que o visto H-1B foi fundamental para atrair mentes brilhantes que, posteriormente, fundaram ou lideraram companhias multimilionárias, citando nomes como Sundar Pichai (Google), Satya Nadella (Microsoft) e Elon Musk. O visto, historicamente, apresentava maior acessibilidade em comparação ao visto O-1, destinado a indivíduos com habilidades extraordinárias, e um processo de obtenção mais rápido do que um green card permanente.
Repercussões na Competitividade e Inovação
Awadallah ressaltou o impacto negativo da nova taxa na competitividade e capacidade de inovação de startups menores em comparação com as “hyperscales” ou grandes corporações de tecnologia. Enquanto as gigantes do setor podem arcar mais facilmente com esses custos elevados, as startups sentirão a pressão. Para o fundador da Vectara, a exclusão dessas empresas do pool de talentos globais terá consequências “muito, muito negativas a longo prazo” para a inovação. Mais de 700.000 pessoas vivem nos EUA com um visto H-1B, e estas trouxeram mais de 500.000 dependentes, incluindo cônjuges (que podem trabalhar) e filhos, segundo a fwd.us, um grupo de advocacia em imigração e justiça criminal. Cidadãos indianos são os maiores beneficiários do visto, seguidos pelos chineses e outros, conforme o U.S. Citizenship and Immigration Services (USCIS).
Anualmente, apenas 85.000 novos vistos H-1B são concedidos, com 20.000 vagas reservadas para recém-formados em universidades dos EUA. Devido à alta demanda que excede a oferta, os vistos são alocados por meio de uma loteria realizada em março. Empresas de tecnologia têm pressionado por anos para aumentar os limites anuais de concessão dos vistos H-1B.
Perspectivas Conflitantes sobre o Visto H-1B
Embora alguns críticos afirmem que o H-1B permite que empresas substituam trabalhadores americanos por funcionários estrangeiros com salários mais baixos, outros argumentam que o programa explora os próprios trabalhadores estrangeiros. Como o visto H-1B está atrelado ao empregador, a mudança de emprego é dificultada e a perda do posto de trabalho pode resultar em deportação. Por outro lado, defensores do aumento da taxa do visto sugeriram que isso poderia, paradoxalmente, eliminar a loteria, já que os custos elevados levariam as empresas a limitar suas aplicações.
A marketplace de negócios DesignRush, que forneceu dados para a TechCrunch, apontou que dos 85.000 novos vistos H-1B emitidos anualmente, aproximadamente 55.000 são para cargos relacionados à computação. Anteriormente, o custo total para contratar esses trabalhadores variava entre US$ 200 milhões e US$ 400 milhões por ano para a indústria de tecnologia. Com a nova taxa, o custo anual para o setor de tecnologia na contratação de trabalhadores H-1B passaria a alarmantes US$ 5,5 bilhões. Além disso, as mudanças propostas incluem um aumento no salário mínimo que os empregadores devem pagar aos portadores do visto H-1B, uma medida destinada a prevenir a subvalorização dos salários dos trabalhadores americanos.
Incertezas Legais e o Impacto Imediato
Ainda pairam diversas dúvidas sobre a aplicação da nova política. Sophie Alcorn, uma advogada de imigração especializada em startups, questionou se os US$ 100.000 seriam reembolsados em caso de negação do pedido. Dada a implementação imediata da elevação da taxa, também é incerto se as petições de visto que já estavam em análise seriam afetadas. “Isso nos força a pausar, esperançosamente de forma temporária, inúmeras petições H-1B para fundadores aspirantes. Estamos aguardando mais orientações”, afirmou Alcorn.
Fundadores do Vale do Silício justificam a busca global por talentos pela escassez de profissionais técnicos nos EUA, especialmente em áreas de ponta como engenharia de inteligência artificial. Brian Sathianathan, cofundador e CTO da empresa de IA Iterate, relatou o papel vital que o visto H-1B desempenhou em seu sucesso anterior. Sua startup de sucesso anterior, que foi vendida, contava com seu cofundador e chefe de engenharia por meio de vistos H-1B. Segundo ele, com as taxas atuais, tal trajetória não teria sido possível. Outros fundadores alertam que a alta taxa envia uma mensagem de que o talento estrangeiro pode não ser bem-vindo nos EUA, impactando severamente a competitividade.

Imagem: Getty via techcrunch.com
A Contribuição de Imigrantes para a Inovação e Perspectivas Futuras
Hemant Mohapatra, parceiro na Lightspeed Venture Partners com sede na Índia e ex-portador de H-1B por cerca de 15 anos, expressou preocupação de que barreiras financeiras para vistos de trabalhadores tecnológicos poderiam criar uma lacuna de inovação no ecossistema de startups dos EUA. Ele destaca que uma parcela significativa dos “unicórnios” e “decacorns” – empresas avaliadas em bilhões e dezenas de bilhões de dólares, respectivamente – foram fundadas por imigrantes. Mohapatra lembrou que, frequentemente, pessoas que chegam aos EUA com um visto H-1B acabam fundando suas próprias empresas no país, e seus filhos, por vezes, seguem o mesmo caminho.
Jeffrey Wang, cofundador da empresa de IA Exa.ai, cuja empresa já teve alguns funcionários com vistos H-1B obtidos de empregadores anteriores, ecoou essa preocupação. Ele comentou que seus próprios pais imigraram para os EUA como beneficiários do visto H-1B, e que as notícias o deixaram entristecido pela perspectiva de que pessoas como seus pais não conseguiriam mais vir para a América. Embora o governo Trump justificasse as mudanças nos vistos como uma forma de proteger os interesses nacionais, Wang argumenta que atrair os melhores talentos para os EUA, na verdade, contribui para a segurança da nação. Ele pontua que, como uma nação de imigrantes, quase todas as grandes conquistas científicas e de engenharia nos EUA contaram com a participação de imigrantes. Você pode saber mais sobre políticas de visto H-1B no site oficial da USCIS, a agência de Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA.
Estratégias de Adaptação e o Cenário Global
Em meio a esse cenário, startups americanas buscam alternativas, com algumas defendendo a criação de exceções para empresas emergentes – possibilidade que a administração Trump já havia sugerido em casos de “interesse nacional”. A consultoria de vistos Cesium registrou um aumento superior a 50% na procura por vistos O-1 por fundadores em estágio inicial (embora cônjuges não possam trabalhar com este visto) e por vistos EB-1A por empresas em estágio mais avançado, permitindo o trabalho de cônjuges e geralmente concedido a profissionais no topo de suas carreiras. Enquanto isso, a Native Teams, empresa de folha de pagamento que trabalha com mais de 3.000 empresas em 85 países, notou um aumento de 50% em empresas americanas que exploram opções de contratação global sem visto, como trabalho remoto internacional. Jack Thorogood, CEO da Native Teams, estima que a contratação de um profissional com visto H-1B agora equivale a até 20 contratações remotas em outros países, levando à possível decisão de startups americanas de terceirizar ou manter talentos no exterior.
Thorogood argumenta que contratar talentos no exterior não seria mais caro. Mercados como Canadá, Alemanha e Reino Unido já se consolidam como centros de tecnologia e destinos atraentes para empresas que buscam estabelecer escritórios internacionais. Oliver Kent-Braham, CEO e cofundador da Marshmallow (empresa unicórnio com sede no Reino Unido), sugeriu que, se os EUA estão elevando barreiras, nações como o Reino Unido deveriam se adaptar para atrair os talentos globais. Daniel Wigdor, fundador de IA e professor da Universidade de Toronto, no Canadá, ecoou essa visão, afirmando que a mudança na taxa do visto H-1B não é um passo positivo para os EUA. Ele concluiu que, em vez de competir pelos melhores talentos do mundo, os EUA estão testando quanto as empresas estão dispostas a pagar para importá-los, o que, embora possa agradar internamente, corre o risco de minar a dominância tecnológica global do país.
O aumento da taxa do visto H-1B representa um dilema complexo para o ecossistema de inovação dos EUA, gerando debates intensos sobre a capacidade do país de atrair e reter os talentos necessários para manter sua liderança tecnológica. Compreender essas políticas e seus impactos é essencial para empreendedores e para o futuro da indústria. Explore mais sobre notícias e análises políticas no Valor Trabalhista, mantendo-se atualizado sobre as decisões que afetam o mercado de trabalho e a economia.
Image Credits: Alexander Spatari
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