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A cineasta brasileira Barbara Marques foi detida em 16 de setembro nos Estados Unidos por agentes do Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA (ICE) durante sua primeira entrevista para o pedido de residência permanente, conhecido como “green card”. O incidente ocorreu no centro de Los Angeles, Califórnia, apenas alguns meses após seu casamento com o cidadão americano Tucker May.
A situação de Marques ocorre em um período de política imigratória rigorosa nos EUA, especialmente sob a administração do então presidente Donald Trump, cuja gestão priorizou a detenção e deportação de imigrantes indocumentados, mesmo aqueles sem histórico criminal. O marido da cineasta, Tucker May, já expressava preocupação com a rapidez do processo, suspeitando de possíveis “armadilhas” devido à intensificação das medidas anti-imigração.
Cineasta Brasileira Presa nos EUA em Processo de Green Card
Conforme o relato de Tucker May à BBC News Brasil, a entrevista inicial para o green card, na qual Barbara Marques e ele estavam acompanhados de sua advogada, transcorreu aparentemente sem problemas. Ao final do procedimento, a advogada indagou se havia mais alguma pendência. Um funcionário da imigração respondeu que era necessária apenas uma cópia do passaporte de Barbara, mas que a máquina da sala estava com defeito. Marques foi então solicitada a acompanhá-lo a outra sala para providenciar o documento.
No trajeto, a brasileira foi detida por agentes do ICE e não retornou à sala onde seu marido e advogada a esperavam. Quinze minutos depois, Tucker May foi informado por um agente sobre a prisão de sua esposa. A justificativa para a detenção, segundo os agentes, foi a ausência de Barbara em uma audiência de regularização de visto ocorrida em 2019, que teria resultado em uma ordem de deportação.
Detenção e Alegação de Violação de Direitos
De acordo com Marcelo Gondim, advogado de Barbara Marques, a cineasta entrou nos EUA em 2018 com um visto de turista. Próximo ao vencimento, ela solicitou uma extensão. Gondim alega que Barbara não foi devidamente notificada da negativa de sua extensão nem da data da audiência, provavelmente em virtude de uma mudança de endereço. O advogado ressalta que Barbara Marques não possui antecedentes criminais e que o procedimento padrão para tais casos seria interromper o pedido de green card e conceder um prazo de 30 dias para resolver a questão pendente, e não uma detenção imediata.
Barbara Marques, 38 anos, é natural de Vitória, Espírito Santo. Formada em cinema pela Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, ela construiu uma carreira como atriz e produtora antes de dirigir filmes como “Dias de Cosme e Damião” (2016), “Cartaxo” (2020) e “PRETAS” (2021).
A legislação americana estabelece que a permanência no país sem autorização constitui uma violação civil, não um crime. Em cenários de visto negado, o Departamento de Segurança Interna pode iniciar um processo de deportação com multa, mas não pode apresentar acusações criminais. No entanto, a política migratória da administração Trump resultou na detenção e deportação massiva de pessoas indocumentadas, visando prender cerca de 3 mil imigrantes por dia, sob o argumento de que a imigração impacta índices de segurança e acesso a serviços públicos. Críticos da administração afirmam que o ICE tem violado direitos constitucionais dos imigrantes. A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) moveu uma ação judicial coletiva em 23 de setembro, alegando que o governo está negando o devido processo legal e realizando prisões arbitrárias.
Imagem: bbc.com
O Relato Chocante da Detenção
Após a prisão, Tucker May conseguiu encontrar Barbara em outra área do prédio e falar com ela através de uma parede de vidro. Ele a descreveu em estado de choque, algemada nas mãos e nos pés, e chorando intensamente. Barbara relatou a ele que, ao ser algemada, se desesperou, e um agente “riu da cara dela e tirou uma selfie com ela chorando”, conforme a descrição de Tucker. Ele lamentou a falta de humanidade, sugerindo um prazer na crueldade por parte dos agentes.
Inicialmente, Barbara Marques foi levada para o centro de detenção de Adelanto, no leste de Los Angeles. No mesmo dia da detenção, seu advogado entrou com um pedido de habeas corpus e uma ordem de restrição temporária de emergência para que ela permanecesse na Califórnia. No entanto, uma juíza só foi acionada para o caso no domingo, 28 de setembro. Gondim também encaminhou a Barbara um pedido de acesso ao processo para tentar reabrir a ordem de deportação, mas as autoridades estariam limitando seu acesso aos documentos.
Tucker May notou a demora na entrega de documentos legais, contrastando com a rapidez com que suas cartas pessoais chegavam à esposa, indicando que a correspondência de apoio jurídico pode ser intencionalmente atrasada. Ele conseguiu conversar com a esposa algumas vezes por telefone. Em 27 de setembro, Barbara havia sido transferida para Arkansas, e posteriormente para Louisiana, ficando, segundo Tucker, completamente aterrorizada. Ela relatou ter ficado mais de 12 horas sem comida e, quando recebeu, era pão com queijo, caracterizando uma “combinação de tratamento desumano, de desrespeito ao Estado de direito e do aparente prazer que esses agentes do ICE parecem sentir ao atormentar as pessoas que deveriam estar sob seus cuidados.”
O Itamaraty confirmou ter conhecimento do caso de Barbara Marques e informou que está prestando assistência consular à brasileira. A BBC News Brasil tentou contato com o ICE, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem original. A comunidade brasileira em Pasadena, Califórnia, onde Barbara residia, manifestou consternação com a notícia. Christopher de Barros, brasileiro que mora na região, expressou choque e horror ao saber das condições da detenção da cineasta, que buscava nos EUA realizar seu sonho de trabalhar com cinema.
Este caso complexo da cineasta Barbara Marques ilumina os desafios e as tensões que muitos imigrantes enfrentam sob rigorosas políticas de imigração. Para mais notícias e análises sobre questões políticas e sociais, explore a editoria de Política em nosso portal.
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