Trump Propõe Cidades EUA como Campos de Treinamento Militar

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Em uma declaração que ecoou amplamente no cenário político, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou a intenção de converter cidades americanas em campos de treinamento militar para as Forças Armadas do país. A afirmação, proferida durante um discurso para centenas de líderes militares, ocorreu na terça-feira, dia 30 de setembro, onde o republicano também identificou os “distúrbios civis” como um “inimigo interno” a ser combatido.

O pronunciamento de Trump, considerado incomum por sua natureza, reuniu militares de alta patente provenientes de diversas regiões do globo. Nele, o ex-presidente assegurou que a situação interna “não sairá do controle quando vocês [militares] estiverem envolvidos”, consolidando sua visão sobre o uso de forças militares para controle de cenários domésticos. Essa postura reflete o envio prévio de tropas da Guarda Nacional para áreas como Washington D.C., Los Angeles e Portland, justificando a medida para repressão de crimes e intensificação da fiscalização imigratória.

Trump Propõe Cidades EUA como Campos de Treinamento Militar

No decorrer de seu discurso para a liderança militar, o ex-presidente Donald Trump reiterou críticas veementes a cidades majoritariamente governadas pelo Partido Democrata, incluindo metrópoles como San Francisco, Chicago, Nova York e Los Angeles. Indicando a manutenção de sua política de empregar as forças militares na aplicação da lei, Trump declarou: “São lugares muito inseguros e vamos resolvê-los um por um”. Ele ainda sugeriu que esta tarefa seria “uma parte importante para algumas das pessoas nesta sala”. A retórica de Trump é consistentemente marcada por abordagens robustas à segurança interna, muitas vezes confrontando políticas de oposição.

O conceito de “inimigo interno” foi amplamente abordado por Trump, que descreveu a situação como uma “guerra interna”. Ele enfatizou que o controle do território físico das nossas fronteiras é vital para a segurança nacional. “Não podemos deixar essas pessoas entrarem”, acrescentou, em clara alusão à questão migratória e, implicitamente, a elementos internos que ele considera subversivos ou disruptivos. Essa narrativa reforça a linha dura que caracterizou sua administração em temas de imigração e ordem pública.

Mudanças Culturais e Padrões Físicos no Pentágono

Na mesma ocasião, Pete Hegseth, o Secretário de Defesa dos EUA, complementou as declarações de Trump com anúncios significativos. Hegseth declarou o término da cultura “woke” no Pentágono e a implementação de novos padrões de aptidão física “de nível masculino” para oficiais. Segundo o dicionário americano Merriam-Webster, o termo “woke” é frequentemente utilizado de forma pejorativa para descrever pessoas politicamente liberais em pautas de justiça racial e social, especialmente quando consideradas insensatas ou extremistas. A cultura “woke”, para alguns, representa consciência social e racial, desafiando normas históricas opressoras; para outros, é uma descrição de indivíduos hipócritas que buscam impor suas ideias progressistas.

As reformas propostas por Hegseth visam promover um “ethos guerreiro” aprimorado no Pentágono. Ele afirmou que a nova diretriz de aptidão física, baseada no “mais alto padrão masculino” exigido dos combatentes, mesmo que neutra em termos de gênero em teoria, poderia, na prática, excluir algumas mulheres do serviço militar ativo em determinadas funções. “Os padrões devem ser uniformes, neutros em termos de gênero e elevados”, ressaltou o Secretário à audiência.

Além dos padrões físicos, Hegseth prometeu o fim da “era das aparências pouco profissionais”, o que incluiria a revogação de exceções para uso de barba, e o término de procedimentos de denúncias anônimas. Ele ainda mencionou a demissão de comandantes seniores, justificando suas ações como “instinto” para remover militares que, em sua avaliação, não se distanciavam das políticas de administrações anteriores. Hegseth indicou que “mais mudanças de liderança serão feitas”, sinalizando uma profunda reestruturação na cúpula militar.

Donald Trump, em seu discurso, ecoou e reforçou a visão de Hegseth sobre a cultura militar americana. Ele concentrou-se na importância de treinamentos, lideranças fortes e em “consertar décadas de decadência”, mencionando especificamente programas de inclusão e diversidade. O ex-presidente argumentou que os oficiais estão sendo desestabilizados por “distrações relacionadas às mudanças climáticas”, “lixo ‘woke'” e o receio de serem classificados como líderes “tóxicos”. As mudanças propostas, tanto por Trump quanto por Hegseth, sugerem uma guinada conservadora e tradicionalista na orientação das Forças Armadas dos EUA.

Repercussões Políticas e Estratégicas das Declarações

As declarações geraram forte reação entre a oposição democrata. Tammy Duckworth, senadora de Illinois e veterana militar, expressou à BBC sua profunda preocupação com o impacto das declarações de Hegseth no futuro das Forças Armadas dos EUA. “Os comentários dele hoje vão afetar todos os tipos de recrutamento, não apenas de mulheres. Não conheço pessoas que queiram servir em um Exército que está sendo usado de teatro político”, declarou Duckworth. Ela acusou Hegseth de tentar afastar mulheres e pessoas não brancas das Forças Armadas, qualificando suas declarações como discriminatórias, especialmente vindo de “um homem que não está qualificado para o próprio cargo”.

J.B. Pritzker, governador de Illinois e membro do Partido Democrata, criticou publicamente o ex-presidente Donald Trump, acusando-o de empregar tropas militares e o Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) para “invadir e perturbar” cidades americanas. Através de uma publicação na rede social X, Pritzker afirmou: “Nossas tropas e nossa nação merecem mais do que você agindo como um tirano mesquinho”.

Trump Propõe Cidades EUA como Campos de Treinamento Militar - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

O evento, sediado na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico, na Virgínia, uma extensa instalação de 55 mil acres, contou com segurança rigorosíssima. A reunião representou um encontro raro de tantos oficiais seniores em um único local, com generais e almirantes de diversas partes do mundo presentes. O silêncio da plateia de oficiais durante os comentários de Trump e Hegseth foi notado, com muitos fazendo anotações. Hegseth foi aplaudido com o estalar de botas ao subir e descer do palco, enquanto Trump, ao assumir o microfone, brincou: “Nunca entrei em uma sala tão silenciosa antes”. Ele prosseguiu, afirmando: “Juntos, estamos reavivando o espírito guerreiro. E esse é o espírito que venceu e construiu esta nação”.

Em outra polêmica decisão de sua administração, Trump aplaudiu a renomeação do Departamento de Defesa para Departamento de Guerra, alegando que o novo título para o Pentágono era “bastante popular”, mesmo entre seus críticos. Segundo ele, esta mudança contribuiu para um suposto forte aumento nos números de recrutamento militar. “É uma reafirmação histórica de nosso propósito, nossa identidade e nosso orgulho”, declarou Trump.

Em seu discurso, o ex-presidente americano também salientou feitos das Forças Armadas e de seu segundo mandato. Ele afirmou ter “resolvido” sete guerras e expressou esperança por uma oitava, condicionada à aceitação por parte do Hamas da proposta de Gaza apresentada em conjunto com Israel. Essas declarações ilustram a complexidade e a abrangência dos temas abordados no evento, desde a segurança interna e imigração até as políticas externas e a reestruturação militar.

O Contexto Inusitado da Reunião de Líderes Militares

A magnitude e o formato do encontro na Base de Quantico não passaram despercebidos. J.D. Vance, então vice-presidente dos EUA, acusou a imprensa de transformar a reunião em uma “grande notícia”, afirmando que encontros de generais com o Secretário de Defesa não eram “particularmente incomuns”. Contudo, outros observadores discordaram veementemente. Giuseppe Cavo Dragone, almirante italiano e presidente do Comitê Militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), expressou à agência de notícias Associated Press (AP): “Em meus 49 anos de serviço, nunca vi isso antes”. Mark Cancian, do Center for Strategic and International Studies (CSIS), disse à Reuters que era “inexplicável por que isso não foi feito virtualmente, evitando que oficiais seniores percam tanto tempo em viagens”.

Anteriormente, ao explicar o propósito da reunião à emissora americana NBC News, Trump havia sugerido que seria um exercício para gerar “esprit de corps”, visando motivar suas tropas. Participaram do evento oficiais vindos de bases militares na Europa, Coreia do Sul e Oriente Médio, muitos dos quais chegaram horas antes e foram acomodados no auditório por área de atuação (Exército, Corpo de Fuzileiros Navais, Marinha, Força Aérea e Força Espacial), facilmente identificáveis pelos seus uniformes. Alguns desses militares exibiam medalhas de campanha, evidenciando seu serviço no Afeganistão, Iraque ou na “guerra ao terror” pós-11 de setembro de 2001. A reportagem teve a contribuição adicional de Ana Faguy, no Capitólio.

As polêmicas declarações sobre o uso de cidades americanas como campos de treinamento e as reformas no Pentágono reforçam a abordagem militarizada e culturalmente conservadora da gestão de Donald Trump. O embate entre a visão tradicionalista da segurança nacional e as preocupações com diversidade e direitos civis continua a pautar o debate político. Para mais análises e atualizações sobre a política dos EUA e outros temas globais, continue acompanhando nossa cobertura em Valor Trabalhista – Política.

Crédito, AFP via Getty Images


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