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Em um movimento que desafia a lógica usual dos lançamentos de mercado, o empresário e renomado investidor Chamath Palihapitiya alertou investidores de varejo a evitarem sua nova SPAC (Special Purpose Acquisition Company). Denominada American Exceptionalism, a companhia fez sua estreia no mercado público nesta terça-feira, visando captar US$ 345 milhões. O objetivo declarado é adquirir startups inovadoras nas áreas de energia, inteligência artificial (IA), criptoativos/DeFi ou defesa, transformando-as em entidades de capital aberto.
Contrariando a expectativa de incentivar a participação, Palihapitiya direcionou seu aconselhamento principalmente aos investidores individuais. Embora uma parcela mínima, pouco acima de 1%, tenha sido destinada para negociação no mercado de varejo, impressionantes 98,7% das ações já foram negociadas diretamente com grandes instituições, selecionadas previamente. Este modelo reforça o foco institucional do veículo, tal como articulado pelo próprio Palihapitiya em postagens públicas.
Chamath Palihapitiya Alerta: Evitem Minha Nova SPAC
A justificação de Palihapitiya para seu conselho é clara: ele afirma que esses veículos financeiros não são adequados para a maioria dos investidores de varejo. “Nós a projetamos desta forma, quase inteiramente respaldada por instituições, porque, como aprendi, esses veículos não são ideais para a maioria dos investidores de varejo”, explicou o executivo. Segundo ele, as SPACs são voltadas para quem pode suportar a volatilidade, integrar a aquisição em um portfólio mais amplo e dispor de capital de longo prazo para apoiar a empresa.
A postura do “Rei das SPACs”, como Palihapitiya foi apelidado no passado, é notoriamente incomum, dado que lançar uma oferta pública e, ao mesmo tempo, desencorajar a compra das ações não é praxe. Ele inclusive emitiu um aviso de “cuidado do comprador” a qualquer investidor de varejo que, apesar de sua recomendação, insista em adquirir os papéis. “Para quem no mercado de varejo ainda escolher ignorar meu conselho de evitar SPACs, por favor, revise cuidadosamente nossas divulgações e tome uma decisão totalmente informada”, declarou.
O Histórico de um “Rei das SPACs” e o Risco para o Varejo
A razão por trás dessas advertências ganha contexto com a trajetória do próprio Palihapitiya no universo das SPACs. Ele foi um dos grandes responsáveis pelo crescimento explosivo dessas companhias entre 2019 e 2021. Sua primeira SPAC, a Social Capital Hedosophia Holdings (IPOA), angariou US$ 600 milhões e levou a Virgin Galactic à bolsa em 2019, inaugurando a era em que as SPACs foram vistas como um atalho para se tornar público, especialmente durante o pico das avaliações de capital de risco.
Contudo, a realidade mostrou que, embora as SPACs pudessem ser altamente lucrativas para seus patrocinadores — como o próprio Palihapitiya — e, por vezes, para as startups adquiridas, raramente se mostravam um bom negócio para os investidores em geral. A efetividade desses veículos para acionistas, especialmente os de varejo, tornou-se objeto de ceticismo e crítica, como evidenciado por um estudo publicado no Yale Journal on Regulation, que apontou o fraco desempenho das SPACs no período pós-fusão para os acionistas ao longo dos anos. De fato, é crucial observar que, como documentado por várias análises financeiras, empresas de aquisição de propósito específico (SPACs) frequentemente entregam retornos modestos aos acionistas no período pós-fusão, um padrão que se mantém há anos.
Até mesmo grandes instituições financeiras como o Goldman Sachs impuseram, por três anos, uma proibição interna à sua participação em SPACs. Após levantar essa restrição em junho, e com o retorno do interesse da firma por esses instrumentos, Palihapitiya publicou uma enquete na rede social X perguntando: “Devo lançar uma SPAC?”. Dos quase 58 mil votantes, uma maioria esmagadora (71%) votou “não”. O ceticismo público se justificava: um levantamento da Marketwatch, também em junho, revelou que o histórico da maioria das SPACs de Palihapitiya era “abismal”, com muitas desvalorizadas em mais de 90% desde suas datas de lançamento.

Imagem: Getty via techcrunch.com
A Nova Estrutura da American Exceptionalism e o Olhar para o Futuro
Mesmo com o histórico problemático, Palihapitiya ainda defende que as SPACs podem ser benéficas para as startups, seus funcionários e os VCs (venture capitalists) investidores iniciais. Segundo ele, a decisão de retornar agora se deve ao “desequilíbrio entre mercados privados e públicos, que apenas se ampliou”, mencionando um número ainda maior de unicórnios em 2025 do que em 2019. Isso, conforme sua argumentação, deixa funcionários com patrimônio em “papel” difícil de converter em liquidez, enquanto os investidores iniciais enfrentam desafios para reinvestir capital em novas startups. No entanto, o próprio Palihapitiya reconhece que a jornada nem sempre foi um mar de rosas, justificando assim sua cautela para com o investidor de varejo.
Em uma tentativa de endereçar algumas das piores críticas — que as SPACs enriqueciam seus patrocinadores em detrimento de todos os outros —, Palihapitiya afirma ter estruturado a American Exceptionalism de maneira diferente. Ele explica que as parcelas de ações dos patrocinadores só serão concedidas após o preço das ações atingir aumentos de 50%, 75% e 100%. “Se o negócio for um fracasso, ninguém ganha. Se for um vencedor, todos nós ganharemos – juntos”, escreveu, buscando alinhar os interesses de todos os envolvidos de forma mais equitativa.
A pergunta que permanece para 2025 é: dada toda a experiência acumulada, uma startup deveria optar por se tornar pública via SPAC, seja a de Palihapitiya ou qualquer outra? O histórico, mesmo com as recentes reestruturações de incentivos, sugere que talvez não seja a melhor via para quem busca um bom desempenho de ações no longo prazo, exigindo uma análise cuidadosa dos riscos e potenciais retornos. As inovações nas estruturas tentam mitigar riscos, mas a volatilidade inerente e a dificuldade de previsibilidade seguem sendo um desafio.
O caso de Chamath Palihapitiya e seu conselho incomum destaca a complexidade e os riscos inerentes aos veículos de investimento como as SPACs, mesmo com as tentativas de reestruturação. Compreender esses mecanismos é vital para tomar decisões informadas no mercado financeiro. Para aprofundar seu conhecimento em finanças e investimentos, explore mais artigos em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: TechCrunch
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