📚 Continue Lendo
Mais artigos do nosso blog
O jogo Consume Me, uma criação autobiográfica em formato de video game, oferece uma perspectiva crua e humorística sobre as memórias da juventude, com foco em distúrbios alimentares e na incessante cultura da dieta. Desenvolvido por Jenny Jiao Hsia e AP Thomson, este jogo de quebra-cabeça com tom sombrio e absurdo mergulha os jogadores nas experiências da adolescência da própria Hsia, transformando a batalha diária com a comida e a autoimagem em uma narrativa interativa e profundamente pessoal.
A data de publicação desta análise por Nicole Carpenter é 4 de outubro de 2025, às 13h UTC, ressaltando a relevância duradoura do tema abordado. Diferente de muitos jogos que usam a alimentação como fonte de força, o **Jogo Consume Me** subverte essa expectativa, retratando a comida como um elemento de controle e, por vezes, de medo. Este é o cerne de sua brilhante execução: traduzir a intrínseca contagem de calorias e a obsessão por números que permeiam os distúrbios alimentares em uma mecânica de jogo envolvente e instigante.
No universo de Consume Me, a matemática da cultura da dieta é onipresente. O game conceitua a ingestão e a queima calórica através de “mordidas” – uma representação gamificada das calorias. O jogador, controlando uma personagem chamada Jenny (inspirada na própria desenvolvedora Hsia), precisa gerenciar cuidadosamente sua alimentação, dispor “blocos” de comida como tomates, couve e massa no prato, semelhante ao famoso Tetris. A meta é selecionar e organizar essas peças para garantir saciedade, mas sem ultrapassar um limite autoimposto de mordidas.
Jogo Consume Me: Uma Jornada Honesta sobre Distúrbios Alimentares
Esta mecânica estratégica, que seria comum em outros jogos de gerenciamento, é aqui pervertida pela influência do comer transtornado e controlado. Ao contrário de um “croque madame” deslumbrante de Final Fantasy XV, que confere bônus de ataque, ou um repolho de Skyrim que restaura um ponto de saúde, em Consume Me a comida é reduzida a meros números. Sua função não é mais o poder, mas sim o objeto de um controle rígido e, muitas vezes, irracional. Hsia introduz a dieta de Jenny — um relato direto de sua adolescência — como um dos muitos objetivos absorventes que supostamente levariam a uma “vida perfeita”.
A história de Jenny se inicia com críticas de sua mãe em relação ao seu peso, impulsionando a jornada da dieta. Esta dieta, que gradualmente se revela como um distúrbio alimentar, torna-se um pilar central ao longo de vários anos da vida de Jenny, permeando seus relacionamentos, amizades e até mesmo a fase de admissão na faculdade. O sucesso de Consume Me reside em como as miniaturas de dieta e outras interações não são apenas elementos interativos aleatórios, mas são intrinsecamente ligadas e projetadas para servir à narrativa, imergindo o jogador na mente calculista de alguém com um distúrbio alimentar.
Os desafios do jogo não se limitam apenas à contagem de “mordidas”. As decisões tomadas têm um impacto direto no dia a dia de Jenny. Se ela excede seu limite de mordidas no almoço, por exemplo, é forçada a gastar seu tempo livre se exercitando, o que a leva a uma encruzilhada: negligenciar os estudos ou o relacionamento com seu namorado. Por outro lado, se Jenny come muito pouco, ela pode acabar tendo compulsões alimentares com salgadinhos antes de dormir, muitas vezes desfazendo qualquer déficit de “mordidas” que havia estabelecido. É uma representação nítida da realidade inatingível enfrentada por muitas adolescentes, onde as expectativas se empilham como blocos intermináveis de Tetris.
O game se desenrola através de dias e semanas da vida de Jenny, exigindo que o jogador otimize cada decisão em diversas miniaturas. Cada mini-jogo aprimora as habilidades de Jenny ou marca um item em uma lista de tarefas, mas sempre à custa de um tempo precioso e limitado. Cada escolha, até mesmo ficar acordada até tarde, parece ter consequências drásticas. Por exemplo, a leitura é um mini-jogo onde o jogador deve manter os olhos de Jenny focados no livro, enquanto sua mente é invadida por pensamentos aleatórios sobre seu cachorro, namorado ou sua própria imagem corporal.
O exercício é retratado como uma tarefa onde se precisa coordenar os braços de Jenny para as posições corretas. Essas miniaturas são intencionalmente caóticas, remetendo aos micro-jogos frenéticos de WarioWare e espelhando a ansiedade constante que paira sobre a vida da protagonista. Falhar nos objetivos de Jenny significa ter que reiniciar um dia ou até mesmo uma semana inteira, forçando o jogador a adotar uma estratégia ansiosa, uma forma eficaz de comunicar a mentalidade exata da personagem adolescente, refletindo com precisão a psique da protagonista juvenil. Para um entendimento mais aprofundado sobre condições de saúde mental, incluindo transtornos alimentares, consultar fontes de alta autoridade como a Organização Mundial da Saúde (OMS) pode ser muito esclarecedor.

Imagem: Hexecutable via theverge.com
Com o passar dos anos no jogo Consume Me, os objetivos de Jenny evoluem sutilmente, frequentemente ditados por uma versão dismórfica de si mesma com quem ela dialoga no espelho. No entanto, a dieta permanece uma constante irredutível ao longo de toda a experiência jogável. Essa persistência é crucial, pois demonstra que os distúrbios alimentares raramente são apenas sobre comida ou imagem; eles também representam a ilusão de controle sobre a própria vida através do corpo. Mesmo quando outras prioridades surgem, a contagem de “mordidas” é sempre presente. Até que, repentinamente, deixa de ser.
A narrativa de Consume Me conclui com um salto temporal de dez anos, evitando uma resolução explícita para o distúrbio alimentar de Jenny. No entanto, é implícito que algo transformador ocorreu nessa década, possivelmente ligada a uma marcante experiência religiosa no final do jogo. O fato é que a comida já não domina a vida de Jenny; uma salsicha não é mais visualizada como três blocos com 200 “mordidas”, é simplesmente uma salsicha. Embora ainda pense sobre comida, imagem e dieta, esses temas deixaram de ser a força motriz subjacente de sua existência. O jogo demonstra coragem ao não buscar um final fácil, aceitando a complexidade e a desordem da vida real.
O jogo Consume Me, disponível atualmente na plataforma Steam, destaca-se por sua capacidade de ser um relato confiançudo e sem receios dos aspectos mais difíceis da vida. Ele é um excelente exemplo de como os video games podem ser veículos poderosos para narrativas pessoais profundas e importantes, abrindo espaço para conversas significativas sobre saúde mental e percepção corporal.
Confira também: crédito imobiliário
O título serve como um convite à reflexão e uma oportunidade para jogadores e críticos de games se aprofundarem em temas que frequentemente são negligenciados. Continue explorando análises aprofundadas sobre lançamentos, tendências e impactos do universo dos games em nossa editoria de Análises para não perder nada do que acontece no cenário da cultura digital e entretenimento.
Imagem: Hexecutable
Recomendo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados