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O corte de verbas para projetos de remoção de carbono anunciado recentemente pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos marca um ponto de virada para a política climática e o setor de tecnologia. A decisão, atribuída a uma potencial mudança na abordagem governamental, impacta diretamente as iniciativas federais destinadas à captura direta de dióxido de carbono da atmosfera (DAC), uma tecnologia que se tornou pilar dos esforços de descarbonização de grandes corporações.
Por anos, a indústria de tecnologia abraçou o desenvolvimento dessas soluções, investindo pesadamente em projetos que filtram CO2 do ar com o objetivo de mitigar os danos das emissões que aceleram o aquecimento global. Compromissos ambiciosos foram feitos por gigantes como Microsoft e Amazon, visando alcançar metas de sustentabilidade, inclusive a de se tornarem carbono negativas em suas operações. O governo anterior, liderado por Joe Biden, apoiou essas ações com bilhões de dólares federais para estabelecer centros regionais de DAC, impulsionando a pesquisa e implementação.
Corte de Verbas para Projetos de Remoção de Carbono Afeta Techs
No entanto, uma administração futura, cética em relação à gravidade das mudanças climáticas, promoveu a interrupção abrupta de importantes iniciativas. Na semana passada, o Departamento de Energia (DOE) anunciou a rescisão de aproximadamente US$ 7,5 bilhões em financiamentos para 223 projetos de energia limpa e climáticos. Documentos da agência, compartilhados com parlamentares e obtidos por veículos de comunicação, confirmam o cancelamento de subsídios para pelo menos dez centros de captura direta de ar, evidenciando uma guinada significativa na direção da política energética do país.
Essa alteração ocorre em um momento crítico, com o crescimento exponencial da inteligência artificial (IA) elevando a pegada de carbono das empresas de tecnologia. À medida que data centers mais robustos e que consomem mais energia são construídos para dar suporte a ferramentas avançadas de IA, o dilema sobre como as corporações cumprirão suas metas de sustentabilidade se aprofunda. A redução do apoio federal aos projetos de remoção de carbono nos EUA levanta dúvidas sobre a viabilidade de empresas contarem com essas soluções para compensar suas emissões crescentes.
Erin Burns, diretora executiva da organização sem fins lucrativos Carbon180, defensora da remoção de carbono, expressou que empresas como Microsoft e Amazon, já engajadas financeiramente, provavelmente cumprirão seus compromissos. Contudo, ela questiona se os investimentos continuarão focados em projetos nos Estados Unidos ou serão direcionados para outras regiões do globo, onde o ambiente político e financeiro seja mais favorável.
Um dos casos diretamente impactados é o da startup CarbonCapture, com sede na Califórnia. A empresa havia recebido um subsídio para um estudo de engenharia de uma nova usina de DAC na Louisiana. A Microsoft, em 2023, fechou um acordo com a CarbonCapture para reduzir a poluição de carbono como parte de seu objetivo de ser carbono negativa. Diante do cenário de incerteza nos EUA, a CarbonCapture comunicou no início do mês seu plano de transferir seu primeiro projeto piloto comercial, originalmente previsto para o Arizona, para Alberta, no Canadá. Adrian Corless, CEO da CarbonCapture, revelou que a decisão foi amadurecida por meses, após a percepção do desalinhamento da política estadunidense pós-eleitoral. Ele reiterou que o projeto na Louisiana não terá andamento sem o financiamento federal, o que deve atrasar a liderança do país nesse setor promissor, como destaca a Agência de Proteção Ambiental dos EUA sobre CCUS.
O impacto do corte de verbas para a remoção de carbono é heterogêneo. Embora projetos em estágio mais avançado, muitos apoiados por grandes companhias de petróleo e gás como Chevron e Occidental Petroleum (OXY), não estivessem na lista de cancelamentos divulgada pelo DOE na semana passada, a situação é mais crítica para as empresas menores de DAC. Estas últimas dependem majoritariamente do financiamento federal, carecendo do vasto capital de companhias como a Occidental. Essa subsidiária, a 1PointFive, desenvolve um mega projeto em King Ranch, Texas, que recebeu apoio do DOE durante a gestão Biden, com a Amazon firmando um acordo de compra de 250 mil toneladas métricas de remoção de carbono da 1PointFive em 2023. A Occidental, inclusive, projetou que seu negócio de remoção de carbono auxiliaria na extração de dezenas de bilhões de barris de petróleo adicionais.

Imagem: Getty Images via theverge.com
Os desafios impostos pelas mudanças na política somam-se a obstáculos intrínsecos à nascente indústria de remoção de carbono, como a necessidade de tornar a tecnologia acessível e sustentável em larga escala, dada a alta demanda energética. A CarbonCapture, por exemplo, cancelou outro projeto em Wyoming no ano passado devido a dificuldades na obtenção de eletricidade. Há um debate contínuo entre defensores do clima, com alguns céticos sobre a DAC considerarem-na uma “solução rápida” em detrimento da redução prioritária de emissões, e outros que a veem como uma ferramenta indispensável para mitigar a poluição já existente e combater as mudanças climáticas.
Os recentes cortes de financiamento foram amplamente interpretados como um movimento politicamente motivado, atingindo estados majoritariamente Democratas, onde grande parte desses projetos está localizada, em meio a disputas orçamentárias. No entanto, o Heatmap aponta que as rescisões de subsídios também afetam projetos em estados considerados republicanos, e não se limitaram à DAC, abrangendo de centros de combustível de hidrogênio a manufatura de turbinas e baterias. “É um golpe para a inovação americana em todas essas indústrias”, ressalta Burns, sublinhando a perda de uma vantagem competitiva significativa para os EUA.
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O cenário para a remoção de carbono e as tecnologias de energia limpa nos EUA se torna cada vez mais complexo com a recente decisão de cortes. Este revés levanta questionamentos cruciais sobre o futuro dos esforços de descarbonização e o papel das empresas de tecnologia. Para acompanhar outras notícias sobre política ambiental e os rumos da economia em meio a desafios climáticos, continue navegando em nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Photo: Getty Images
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