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As doações Big Tech a organizações sem fins lucrativos ligadas a Donald Trump emergem como um ponto de controvérsia e escrutínio crescente, levantando questões sobre a intersecção entre o poder corporativo e a influência política. Essa tendência não apenas alimenta projetos de estimação do ex-presidente, mas também sugere uma estratégia calculada por parte das gigantes tecnológicas para navegar em um ambiente regulatório complexo e, por vezes, hostil, sob uma administração com viés anti-Big Tech.
O foco das atenções se voltou recentemente para a “America250”, uma entidade sem fins lucrativos criada pelo Congresso com a missão de coordenar as celebrações do 250º aniversário da Declaração de Independência no próximo ano. Originalmente notada em um evento de criptomoedas, a organização passou a captar recursos ativamente, ostentando agora em sua fachada os logotipos de corporações influentes como Netflix, Amazon MGM Studios, Disney, Paramount, Sony e Universal Studios. A presença dessas companhias é particularmente notável, pois várias delas estão envolvidas em processos de fusão que dependem diretamente da aprovação da administração Trump.
Doações Big Tech para Entidades de Trump Ampliam Influência
A situação ganhou maior relevância quando associada à notícia do acordo judicial de US$ 24,5 milhões da YouTube em um processo movido em meados de 2021 por Trump e seus aliados “MAGA”. Em um cenário político diferente, as chances de vitória de Trump no mérito da acusação de violação da Primeira Emenda seriam incertas, já que a YouTube, como empresa privada, tem liberdade para moderar o conteúdo em sua plataforma. No entanto, o retorno de Trump à presidência coloca a empresa e sua controladora, Google, em uma posição de vulnerabilidade regulatória.
A Google, considerada monopolista em duas áreas — busca e tecnologia de anúncios —, herda dois processos antitruste do Departamento de Justiça sob a administração Trump. Embora tenha sido poupada da obrigatoriedade de vender seu navegador Chrome até o momento, a empresa está em fase de julgamento de “remédios”, que determinará se será forçada a ceder sua plataforma de ad tech. Diante deste panorama, o setor tecnológico parece adotar a tática conhecida nos círculos de Trump: assegurar a simpatia do ex-presidente é um meio de evitar medidas adversas.
Essa inclinação para obter a aprovação de Trump se manifesta em como a administração favorece aqueles que parecem dispostos a alinhar-se com seus interesses, inclusive buscando retaliação contra supostos inimigos na mídia, tecnologia e política. Exemplos incluem ações regulatórias que afetaram personalidades da mídia e investigações por parte de procuradores-gerais que atuaram a pedido de Trump. A ameaça regulatória constante para a Big Tech, mesmo após eventuais acordos ou julgamentos, permanece como uma “arma na mesa”, conforme um lobista republicano do setor tecnológico.
Uma questão crucial que surge é se Trump prioriza lealistas sem grandes fortunas ou indivíduos e empresas capazes de realizar pagamentos substanciais, especialmente quando esses recursos podem ser direcionados para seus projetos pessoais. Casos anteriores de acordos com Twitter e Meta, que totalizaram US$ 10 milhões e US$ 25 milhões, respectivamente, foram destinados à construção de sua biblioteca presidencial. O advogado John P. Coale, envolvido nestes processos e no caso YouTube, confirmou que Trump direcionou o montante para a criação de um novo salão de festas de 900 lugares na Casa Branca.
De fato, os relatos indicam que o fundo para o salão de festas da Casa Branca poderia se tornar a “próxima America250”: outro mecanismo onde empresas de tecnologia podem injetar milhões de dólares para financiar projetos do ex-presidente. Em agosto, a Casa Branca visava levantar US$ 200 milhões de doadores privados para a construção do salão, e em pouco mais de dois meses, já estaria próximo desse objetivo. Apenas o acordo da YouTube de US$ 24,5 milhões representa cerca de 11% do custo estimado do salão, que Trump afirma ter sido inspirado pelo salão de seu campo de golfe na Escócia.
Lauren Feiner, especialista que acompanhou os julgamentos antitruste da Google, salienta que o acordo de US$ 22 milhões – referência anterior ao valor antes de ser arredondado para US$ 24.5 milhões – seria uma barganha do ponto de vista da Google, considerando a ameaça existencial que os processos antitruste representam. Contudo, mesmo que tais acordos não garantam a total imunidade contra futuros inquisidores “MAGA” do antitruste, no curto prazo, a situação beneficia a todos: Trump ganha um luxuoso salão, e a YouTube obtém um benefício fiscal considerável.
Regulamentação e a Indústria Tecnológica
As ramificações desses casos antitruste para a Google são extensas. O processo de busca online toca o cerne do negócio da empresa e capta a maior parte da atenção, especialmente em meio à evolução para a inteligência artificial. Por outro lado, o caso da tecnologia de anúncios, embora mais técnico, também é vital, evidenciando como a Google usou seu domínio em diferentes fatias de mercado para sustentar seu monopólio. Ambas as áreas são cruciais para a geração de receita e influenciam diretamente como os usuários acessam informações e como a internet aberta é monetizada, impactando publishers e o próprio financiamento do jornalismo.

Imagem: Cath Virginia/The via theverge.com
É digno de nota que a abordagem do Departamento de Justiça dos EUA em relação aos casos da Google manteve uma notável consistência, independentemente das mudanças entre as administrações Trump e Biden. Apesar de ajustes menores nas propostas de “remédios” no caso de busca e a agitação na divisão antitruste que levou à demissão de altos funcionários, a equipe litigante principal e os argumentos nos processos permaneceram largamente os mesmos, demonstrando uma continuidade jurídica que transcende as trocas de poder. Você pode entender mais sobre o funcionamento do Departamento de Justiça em justice.gov.
Contudo, as ameaças de novas investigações antitruste do Departamento de Justiça ou da Comissão Federal de Comércio (FTC) contra as gigantes da tecnologia persistem. Trump demonstrou ser influenciável por relacionamentos pessoais com CEOs, como em sua reunião com Mark Zuckerberg antes de um julgamento do FTC contra a Meta, ou seu momento de reconsideração sobre uma potencial quebra da Nvidia após dialogar com Jensen Huang. Essas interações pessoais adicionam uma camada imprevisível ao ambiente regulatório, levantando questões sobre a estabilidade das políticas antitruste futuras.
Um aspecto muitas vezes subestimado na cobertura é o fato de que a Google já perdeu a fase de responsabilidade nos processos antitruste. Atualmente, a discussão não é se a empresa cometeu ilícitos, mas sim qual será o custo para seu modelo de negócios. Executivos da Google, embora orgulhosos de seus produtos, confrontam uma realidade na qual o juiz já determinou que esses mesmos produtos foram utilizados de maneiras que prejudicaram a concorrência e os publishers.
O julgamento trouxe à tona a visão de CEOs de outras companhias, que testemunharam tanto contra as práticas anticompetitivas da Google quanto, no caso da OpenAI, manifestando interesse em adquirir partes da empresa, como o navegador Chrome. No entanto, o entusiasmo para comprar ferramentas de ad tech da Google parece menor em comparação com o apetite por Chrome, possivelmente devido à importância fundamental de Chrome para o futuro da internet e à estagnação percebida no crescimento de formatos de publicidade na web aberta. Ainda assim, a aquisição de qualquer parte da Google é um ativo valioso, dadas sua expertise em engenharia e a qualidade de seus produtos, levantando o questionamento sobre quem moldará a próxima geração de serviços essenciais na web.
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Em suma, a relação entre as grandes empresas de tecnologia e a esfera política de Donald Trump revela um cenário de trocas complexas e estratégias de influência. As doações a organizações ligadas a Trump, aliadas a processos judiciais e desafios regulatórios, indicam um esforço da Big Tech para mitigar riscos em um ambiente onde o poder político pode ditar o futuro de seus modelos de negócios. Acompanhe mais análises aprofundadas sobre política e tecnologia em nossa editoria de Política para ficar por dentro dos próximos desenvolvimentos.
Imagem via @gamestop no X.
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