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Os cérebros dos superidosos têm intrigado pesquisadores em todo o mundo, com suas características únicas que desafiam a expectativa comum de declínio cognitivo associado ao envelhecimento. Na Universidade Northwestern, em Chicago, cientistas dedicam anos de estudo a indivíduos que, mesmo na oitava ou nona década de vida, exibem memória comparável à de pessoas significativamente mais jovens.
Uma das pioneiras nessas descobertas é a neuropisóloga Tamar Gefen, do Programa de Superenvelhecimento da Universidade Northwestern. Gefen recorda-se do cérebro de uma de suas “superidosas” como uma estrutura “linda”, elogiando o hipocampo – área crucial para a memória – com seus neurônios grandes e saudáveis. Essa observação foi um dos pontos de partida para compreender como a capacidade de memória pode ser preservada de forma extraordinária na velhice, mesmo diante de experiências de vida traumáticas como as vividas por sobreviventes do Holocausto.
Cérebros dos Superidosos: Desvendando o Segredo da Memória
Com 25 anos de dedicação, o programa de Superenvelhecimento da Northwestern estabeleceu profundas conexões entre pesquisadores e participantes. Molly Mather, professora assistente de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da instituição, ressalta a confiança mútua desenvolvida, culminando na decisão de muitos superidosos de doar seus cérebros para estudos post-mortem. Essa generosidade é fundamental para o avanço da ciência, permitindo investigações que se estendem por décadas após o falecimento dos doadores.
O conceito de “superidosos” teve suas raízes no Centro de Pesquisa da Doença de Alzheimer da Universidade Northwestern. O pontapé inicial foi dado por uma autópsia cerebral em meados dos anos 1990, de uma mulher de 81 anos que havia surpreendido pela ausência de declínio funcional e pontuações de memória equiparáveis às de pessoas com 50 anos. A rara detecção de um único emaranhado neurofibrilar no córtex entorrinal, área vital para a consolidação da memória, contrastou com a expectativa para a idade, sugerindo que o envelhecimento não implica obrigatoriamente perda significativa de memória. Essa percepção impulsionou a criação do programa no ano 2000.
Os emaranhados neurofibrilares, nós formados pela proteína tau, estão frequentemente associados ao declínio cognitivo e ao Alzheimer. O cérebro inicial dos superidosos mostrou a surpreendente quase ausência desses emaranhados, levantando a hipótese de um “segredo” na sua ausência. No entanto, descobertas posteriores em outros superidosos revelaram a presença de emaranhados tão numerosos quanto em indivíduos com diagnóstico póstumo de Alzheimer, evidenciando uma complexidade maior e a necessidade de investigar a resiliência cerebral.
Quem São os Indivíduos Classificados como Superidosos?
Os cientistas do Programa de Superenvelhecimento da Universidade Northwestern definem “superidosos” como pessoas de 80 anos ou mais que conseguem pontuações em testes de memorização de palavras iguais às de indivíduos 20 a 30 anos mais jovens. Um dos instrumentos mais utilizados para essa avaliação é o Teste de Aprendizagem Verbal de Rey. A escolha da memória episódica como marcador principal se dá porque essa é a capacidade que mais tipicamente se deteriora com o envelhecimento médio, tornando a excepcionalidade dos superidosos ainda mais notável.
O rigor do critério para classificação é notório: ter uma memória equivalente à de alguém pelo menos três décadas mais jovem. Esses resultados assombram até mesmo os pesquisadores. Mather relata sua surpresa ao ver nonagenários recordarem vasta informação nova, enquanto pacientes de 50 ou 60 anos demonstram dificuldade em testes mais simples. Essa discrepância ilustra a ampla gama de trajetórias possíveis no processo de envelhecimento, desafiando a premissa de que o declínio cognitivo é um destino inevitável.
Para esses pesquisadores, o estudo dos superidosos representa uma mudança de paradigma. Em vez de focar nas patologias e nas causas dos sintomas, a atenção se volta para o que permanece intacto e funcional no cérebro. Trata-se não apenas da ausência de doença, mas da identificação dos mecanismos que permitem ao cérebro operar em um patamar tão elevado, buscando maneiras de aplicar esse conhecimento para o benefício de uma população mais ampla. Para mais informações sobre a saúde cognitiva e envelhecimento, consulte o National Institute on Aging, uma fonte externa de alta autoridade.
Particularidades nos Cérebros de Superidosos
A equipe da Universidade Northwestern conseguiu identificar que os superidosos exibem um fenótipo neuropsicológico e neurobiológico distintivo. Uma das principais revelações é que os cérebros desses indivíduos se assemelham mais aos de pessoas nas faixas dos 50 e 60 anos, indicando uma preservação significativa do volume cortical – a camada externa do cérebro vital para o pensamento consciente e funções como memória e linguagem.
Pesquisas apontam que os superidosos mantêm volumes corticais semelhantes aos de adultos neurotípicos até 30 anos mais jovens. Um achado particularmente intrigante foi na região do giro cingulado anterior, onde a espessura cortical nos superidosos supera até mesmo a de participantes neurotípicos de 50 e 60 anos. Essa parte do cérebro é crucial para processos de motivação, tomada de decisões, emoções e interação social.
Ao nível microscópico, uma descoberta fascinante envolve os neurônios de Von Economo, também conhecidos como neurônios em fuso. Os cérebros de superidosos possuem uma quantidade notavelmente maior dessas células nervosas, não apenas comparado a seus pares de idade, mas também a pessoas bem mais jovens. Acredita-se que esses neurônios desempenham um papel central em interações sociais e no desenvolvimento de comportamentos sociais complexos. Embora haja uma observação de que os superidosos frequentemente demonstram interesse em manter relações sociais robustas, a questão da causalidade – se ter mais desses neurônios os torna mais sociáveis, ou se a sociabilidade contribui para o aumento dessas células – permanece em aberto.

Imagem: bbc.com
Outra constatação é o tamanho maior dos neurônios entorrinais nos superidosos, localizados no córtex entorrinal e cruciais para a memória. Além disso, a nível celular, seus cérebros manifestam menos alterações típicas da doença de Alzheimer, como emaranhados de proteínas tau. Mesmo aqueles que apresentam tais emaranhados exibem uma notável resiliência, sugerindo que existe um mecanismo celular ainda não totalmente compreendido que permite a manutenção de suas funções cognitivas, mesmo com as alterações.
Esquadrão de Limpeza e Preservação Colinérgica
Ainda na investigação dos cérebros dos superidosos, foi detectada uma menor atividade inflamatória da microglia na substância branca. A microglia atua como um “esquadrão de limpeza” do cérebro, ativada em resposta a infecções ou danos. Em superidosos, há evidências de que esse sistema opere de forma mais eficaz, limpando eficientemente os resíduos sem gerar inflamação excessiva, que poderia prejudicar os neurônios e contribuir para doenças neurodegenerativas.
Adicionalmente, os pesquisadores observaram uma inervação colinérgica mais preservada. Os neurônios colinérgicos são responsáveis pela transmissão de sinais importantes para o córtex cerebral e outras regiões, desempenhando um papel vital em processos cognitivos, memória e no funcionamento do sistema nervoso autônomo.
Estilo de Vida e A Busca por uma ‘Fórmula Mágica’
Ralph Rehbock, nascido em 1934 e voluntário no estudo, expressa orgulho em ser um superidoso, gostando de quebra-cabeças e tempo em família. Ele enfatiza a importância de compartilhar sua história, incluindo sua fuga da Alemanha nazista. Desde o início, o programa envolveu 290 superidosos, e 77 cérebros foram analisados post-mortem. Atualmente, 133 participantes estão ativos na pesquisa.
Um aspecto marcante dos superidosos é a diversidade de seus estilos de vida, conforme relatado por Martin Wilson. Eles não constituem um grupo homogêneo de entusiastas por corrida ou abstêmios. Alguns seguem à risca todas as recomendações de saúde, enquanto outros mantêm hábitos considerados menos saudáveis, como fumar, beber ou evitar exercícios. Médicamente, eles não são necessariamente mais saudáveis que outros de sua idade, e as pesquisas não excluem indivíduos com limitações físicas.
Os cientistas ainda não conseguiram identificar uma fórmula simples para atingir o envelhecimento cognitivo excepcional. Molly Mather adverte que a ciência ainda não pode prescrever ações específicas que garantam um resultado positivo. Ela sugere que, embora hábitos saudáveis sejam correlacionados com a saúde física e cerebral, não segui-los à risca não elimina a possibilidade de um envelhecimento bem-sucedido. A chave é incorporar recomendações de saúde de forma que faça sentido individualmente, pois “não existe uma fórmula simples”, e a interação entre biologia, genética e outros fatores é complexa, como observa Gefen. Dra. Weintraub acrescenta que reduzir riscos de saúde é crucial, pois medidas como alimentação adequada e sono melhoram a saúde geral do cérebro.
A pesquisadora Mather enfatiza que não se deve culpar as pessoas pelo desenvolvimento de doenças, pois são problemas complexos e sistêmicos. Sandra Weintraub, outra líder da pesquisa, esclarece que não existe um “cérebro superidoso típico” no sentido morfológico uniforme; alguns podem estar livres de danos, enquanto outros exibem proteínas anormais. O que os diferencia é a notável memória e perspectiva de vida. A mensagem principal da pesquisa é a importância de reduzir os riscos à saúde, aumentando as chances de um envelhecimento cognitivo excepcional.
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Em suma, os superidosos nos ensinam que o caminho para uma memória extraordinária na velhice é multifacetado, combinando características neurobiológicas únicas, resiliência cerebral e, em muitos casos, fatores de estilo de vida ainda a serem completamente desvendados. Continue acompanhando a seção de Análises em nosso portal para mais informações sobre as fronteiras da ciência e saúde.
Crédito da imagem: Universidad de Northwestern
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