📚 Continue Lendo
Mais artigos do nosso blog
Desde o início de 2025, a **Ucrânia intensifica ataques a refinarias russas**, adotando essa tática como uma das principais estratégias militares no conflito. Essa série de investidas tem provocado não apenas a paralisação parcial ou total de importantes instalações de processamento de petróleo, mas também um crescente desabastecimento de combustível e a elevação dos preços em diversas regiões da Rússia, como evidenciado por uma investigação aprofundada da BBC Verify em colaboração com o serviço russo da BBC. Os ataques direcionados a estas usinas, muitas delas localizadas profundamente no território russo, registram uma elevação marcante em frequência e eficácia, principalmente nos meses de agosto e setembro, conforme apurado por meio de reportagens da imprensa russa e análises de imagens verificadas.
A análise da atuação ucraniana revela um aumento considerável nas ações ofensivas contra o setor petrolífero russo. Segundo os dados levantados, ao menos 21 das 38 principais refinarias de petróleo do país – unidades essenciais que convertem o petróleo bruto em combustíveis como gasolina e diesel – foram alvo de ataques desde janeiro deste ano. Este número representa um incremento de 48% nas incursões bem-sucedidas quando comparado a todo o ano de 2024, destacando a evolução da capacidade ucraniana em atingir pontos estratégicos do adversário. Os resultados dessa campanha são palpáveis para a população russa, com a circulação de vídeos que mostram longas filas nos postos de combustíveis e relatos de gestores que preferem suspender as operações a fim de aguardar a resolução da “crise”.
Ucrânia intensifica ataques a refinarias russas, causa escassez
O serviço de segurança da Ucrânia (SBU) optou por não emitir comentários quando questionado pela BBC a respeito das investidas. Contudo, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy já havia enfatizado, em um discurso proferido em setembro, que fragilizar a indústria petrolífera russa constitui uma tática crucial para forçar o Kremlin à mesa de negociações. “As sanções mais eficazes, aquelas que geram resultados mais rápidos, são os incêndios nas refinarias de petróleo, nos terminais e nos depósitos de petróleo da Rússia”, declarou Zelenskyy, reiterando o objetivo de “restringir significativamente a indústria petrolífera da Rússia”, com a finalidade de “limitar consideravelmente a guerra”. A campanha de ataques com drones alcançou um pico recorde em agosto, quando 14 refinarias foram atingidas, seguida por 8 instalações em setembro. Este acréscimo de ações se deu após um breve período de calma que coincidiu com uma intensa rodada diplomática, durante a qual o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, teria tentado mediar um acordo de cessar-fogo entre Kiev e Moscou.
Atingindo Alvos Estratégicos no Interior Russo
A estratégia ucraniana se expandiu para instalações localizadas em regiões mais remotas da Rússia. Um exemplo notável foi o ataque duplo e bem-sucedido do SBU contra a refinaria de petróleo Gazprom Neftekhim Salavat, na região de Bashkortostão, no final de setembro. Imagens de satélite confirmam a emissão de colunas de fumaça da instalação após o bombardeio, que se encontra a mais de 1.100 quilômetros da fronteira com a Ucrânia. A capacidade de atingir alvos tão distantes sublinha a sofisticação crescente das operações com drones. Além disso, Kiev tem direcionado suas ações para algumas das usinas mais lucrativas e críticas da Rússia. Uma refinaria perto de Volgogrado, por exemplo, foi atingida seis vezes em 2025, com um dos ataques em agosto forçando a interrupção das operações por um mês. A extensa usina de Ryazan, nas proximidades de Moscou, com uma capacidade produtiva de 340 mil barris diários, sofreu cinco ataques desde o início do ano.
Vladimir Milov, ex-vice-ministro de Energia de Vladimir Putin e atual opositor político no exílio, em análise para a BBC Verify, observa que os alvos ucranianos parecem concentrar-se em dois tipos de instalações: as grandes refinarias vitais para o abastecimento civil e aquelas situadas mais próximas à fronteira, usadas para prover combustível às tropas em combate na Ucrânia. O Estado-Maior ucraniano já havia indicado que as refinarias de Samara e Saratov são empregadas nas operações logísticas militares russas. Ambas as regiões foram palco de ataques com drones nas semanas recentes, resultando na paralisação de duas das três usinas localizadas na região de Samara.
O Crescimento de uma Campanha Prioritária
Justin Crump, ex-oficial do exército britânico e diretor executivo da consultoria de riscos Sibylline, relatou à BBC Verify que a Ucrânia há tempos ataca as indústrias de petróleo e gás da Rússia. Contudo, ele enfatizou que a recente escalada de investidas sugere que os serviços militares e de segurança ucranianos elegeram essa tática como sua “campanha principal”. “É evidente que esta campanha recebeu um investimento significativo e está alicerçada em uma avaliação de inteligência sobre o que pode causar maior dano à Rússia”, asseverou Crump, ressaltando o planejamento estratégico por trás dessas operações.
Apesar da clara intensificação, quantificar o impacto exato desses ataques na produção de gasolina e diesel na Rússia apresenta desafios. O governo russo classificou as estatísticas sobre a produção de gasolina como secretas em maio de 2024, coincidindo com uma série prévia de ataques às refinarias. Contudo, a análise da BBC Verify conseguiu identificar que, pelo menos, 10 refinarias de petróleo foram forçadas a suspender total ou parcialmente suas operações desde agosto de 2025. Complementarmente, a agência de notícias Reuters divulgou que, em determinados períodos, a produção nacional registrou quedas de até um quinto do volume habitual.
Consequências para a População Russa e Reações Oficiais
Há crescentes indícios de que as investidas contra as refinarias estão afetando a vida cotidiana dos cidadãos em algumas partes da Rússia. Vídeos autenticados pela BBC Verify revelam longas filas em postos de combustível no Extremo Oriente russo e na rodovia que conecta São Petersburgo a Moscou. Além disso, as autoridades nomeadas pelo Kremlin implementaram um racionamento de gasolina na Crimeia, região anexada. No caso de pequenos postos de gasolina independentes na Sibéria, muitos proprietários relataram à mídia russa terem sido forçados a encerrar suas atividades devido aos contínuos problemas no fornecimento de combustível. Um gerente da região de Novosibirsk chegou a comparar a situação atual com a hiperinflação vivida pela Rússia no período pós-soviético. “Na minha opinião, não tivemos uma crise como esta desde 1993-1994”, afirmou à Preecedent TV, um veículo de imprensa local. “Muitos postos de combustível já suspenderam suas operações. Talvez seja melhor esperar a crise passar do que operar com prejuízo.”

Imagem: bbc.com
Embora a Rússia historicamente registre aumentos de preços de combustível em períodos de viagens de verão e manutenção de refinarias, os ataques com drones estão agravando substancialmente o problema. Os preços da gasolina no varejo tiveram um salto, enquanto os valores no atacado – referentes ao custo para os varejistas – ascenderam ainda mais rapidamente, com uma elevação de 40% desde janeiro de 2025. A mídia nacional, sujeita a rigoroso controle governamental, insinuou que as ações com drones são um fator determinante na escassez. O jornal econômico Kommersant, por sua vez, atribuiu o déficit aos “fechamentos imprevistos de refinarias”. Entretanto, boa parte da população civil russa, incluindo moradores de Moscou e da região de Krasnodar, parece, em grande parte, alheia ou não diretamente afetada pela escassez percebida em outras áreas do país, com alguns entrevistados pela BBC declarando não ter conhecimento da situação.
As autoridades russas insistem que a situação permanece sob controle. Em uma recente coletiva de imprensa, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que “o governo está tomando as medidas necessárias” para mitigar a escassez. No entanto, o vice-primeiro-ministro, Alexander Novak, anunciou a prorrogação de uma proibição parcial das exportações de gasolina até o final de 2025. Milov avalia que esta suspensão de exportações é relativamente pequena e “não salvará o mercado interno”. A magnitude do impacto financeiro dessas investidas na capacidade de Moscou de financiar o conflito na Ucrânia ainda não é clara. A grande maioria das exportações petrolíferas da Rússia consiste em petróleo bruto não refinado, um segmento que não parece ter sido afetado pelas operações. Contudo, uma análise da Bloomberg, do final de setembro, revelou que as exportações de petróleo bruto, embora menos lucrativas que as de gasolina e diesel, atingiram um recorde histórico.
Crump pondera que o impacto dos ataques ucranianos poderia ser ampliado caso o Ocidente implementasse “medidas adicionais”, como novas sanções às exportações de petróleo. Todavia, ele reitera que os ataques atuais já estão corroendo a capacidade de Moscou de manter e sustentar sua guerra contra a Ucrânia. Para uma visão mais ampla sobre os desafios do mercado de energia em meio a tensões geopolíticas, consulte a Reuters.
Confira também: crédito imobiliário
Em suma, a intensificação dos ataques ucranianos contra refinarias russas emergiu como um ponto crucial na dinâmica da guerra, impactando diretamente o abastecimento de combustível e a estabilidade econômica interna da Rússia. Enquanto Moscou minimiza a crise e adota medidas parciais, a efetividade e as consequências a longo prazo dessa estratégia ainda estão sendo observadas. Continue acompanhando a nossa editoria de Política para se manter atualizado sobre os desdobramentos deste conflito global.
Crédito da foto: Reuters.
Recomendo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados