Especialistas alertam: Robôs Humanoides ainda não estão prontos

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A empolgação com o futuro da robótica tem levado a investimentos maciços em robôs humanoides, mas cientistas e investidores da área soam o alarme. Rodney Brooks, um dos nomes mais conceituados no campo da robótica e fundador da iRobot, juntamente com outros especialistas, sugere que o mercado pode estar inflando uma bolha de investimento antes que a tecnologia esteja verdadeiramente pronta para ampla adoção.

Em um ensaio recente, Brooks expressou ceticismo em relação aos bilhões de dólares em capital de risco direcionados a empresas de robôs humanoides, como a Figure. Para ele, apesar dos vultosos recursos aplicados na indústria, esses robôs enfrentarão dificuldades intransponíveis para desenvolver a destreza necessária, ou seja, movimentos finos e coordenados com as mãos, tornando-os ineficazes para as tarefas esperadas. Esta avaliação levanta sérias questões sobre a viabilidade imediata dessas máquinas no dia a dia e reforça a cautela de diversos analistas sobre uma iminente “bolha” de investimentos no setor.

Especialistas alertam: Robôs Humanoides ainda não estão prontos

Essa perspectiva pode ser uma surpresa para alguns, especialmente para os investidores de capital de risco que estão aportando capital intensivamente no segmento. No entanto, é um sentimento compartilhado por múltiplos VCs focados em robótica e cientistas de inteligência artificial que, em conversas recentes com o veículo TechCrunch, indicaram não esperar uma adoção em larga escala de robôs humanoides em menos de “alguns anos”, e em alguns casos, “mais de uma década”. A cautela se baseia em uma análise aprofundada dos desafios técnicos e de segurança ainda presentes na evolução dessas complexas máquinas, distanciando a realidade das promessas entusiásticas de startups e desenvolvedores.

Fady Saad, sócio geral da Cybernetix Ventures – uma empresa de capital de risco especializada em robótica – e ex-cofundador da MassRobotics, expressou dúvidas sobre um mercado de massa imediato para essas invenções. Saad comentou ao TechCrunch que, além de potenciais missões espaciais para substituir astronautas humanos, ele não vislumbra uma grande demanda. “Pessoas que talvez nunca tenham visto humanoides antes, ou não têm acompanhado de perto os desenvolvimentos, ficam impressionadas com o que está acontecendo agora no setor, mas continuamos um pouco conservadores e céticos quanto aos casos de uso reais e à receita que será gerada”, afirmou Saad, reiterando a importância de se ater à funcionalidade prática e ao retorno financeiro mensurável.

A segurança representa outra grande preocupação destacada por Saad, especialmente quando humanos e robôs humanoides coexistem em um mesmo espaço. Cenários como o ambiente de uma fábrica ou outros locais industriais, onde robôs e trabalhadores interagem de perto, podem gerar incidentes. Estas preocupações se ampliam consideravelmente quando se considera a meta de muitas empresas humanoides: introduzir essas máquinas nas residências das pessoas. “Se [um robô] cair em animais de estimação ou crianças, vai machucá-los”, advertiu Saad. Ele considera esta uma grande barreira frequentemente negligenciada. Além disso, questiona-se o nível de conforto das pessoas em ter um humanoide em casa e o risco de vulnerabilidades, como ataques de hackers, que poderiam fazer o robô “enlouquecer durante a noite e começar a quebrar coisas”, apontando para falhas de cibersegurança e instabilidade comportamental.

A falta de um cronograma claro para o desenvolvimento e a implementação ampla desta tecnologia é um fator crítico para os investidores de capital de risco, cujos fundos operam com ciclos de vida e prazos estipulados para gerar retorno aos seus parceiros. Essa incerteza temporária impacta diretamente as decisões de investimento e a disposição de alocar recursos em projetos de longo prazo.

Em agosto, Sanja Fidler, vice-presidente de pesquisa de IA na Nvidia, em entrevista ao TechCrunch, reconheceu a dificuldade de precisar um cronograma para o avanço dos humanoides. Ela traçou um paralelo entre o entusiasmo atual pelo setor e a excitação inicial em torno dos carros autônomos. “Os carros autônomos, em 2017 e 2016, pareciam tangíveis, certo?”, observou Fidler na ocasião. “Mesmo assim, levou muitos anos para realmente escalar, e ainda hoje ninguém escalou totalmente para o mundo inteiro, com autonomia total. É difícil. É muito difícil entregar completamente essa tecnologia”. Essa comparação ressalta a complexidade e os obstáculos imprevistos no caminho da autonomia robótica.

Bill Dally, cientista-chefe da Nvidia, endossou os comentários de Fidler. As observações de Dally e Fidler ganham relevância especial porque a própria Nvidia tem feito investimentos substanciais no desenvolvimento da infraestrutura de software e hardware para empresas que atuam com humanoides, demonstrando um conhecimento aprofundado dos desafios técnicos e práticos. Esse apoio da Nvidia é crucial para impulsionar a inovação no setor, embora a cautela ainda prevaleça entre seus próprios executivos quanto aos prazos de concretização das promessas.

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Imagem: Getty via techcrunch.com

Seth Winterroth, um parceiro da Eclipse, explicou que, embora seja fácil se empolgar com cada novo avanço tecnológico ou demonstração recente, a complexidade dos humanoides é imensa. Ele acredita que ainda levará um tempo considerável para que essas máquinas atinjam todo o seu potencial. “É difícil fazer lançamentos de software para sistemas com seis graus de liberdade; com alguns desses humanoides, estamos falando de sistemas com 60 ou mais graus de liberdade”, explicou Winterroth, referindo-se à capacidade de um robô de se mover em múltiplos eixos. “Então, você precisa ter uma boa economia unitária em torno dessa solução, para ter uma margem bruta forte e construir um negócio duradouro. Eu acho que estamos muito no início”, adicionou, enfatizando que os desafios vão além da engenharia pura, abrangendo a viabilidade comercial e escalabilidade a longo prazo.

Em grande parte dos cenários, a realidade é que os robôs humanoides ainda não estão aptos para as exigências do mundo. O caso da Tesla é um exemplo notável das dificuldades que as empresas enfrentam nesse segmento. Em 2021, a Tesla anunciou a construção de seu robô humanoide, Optimus, prometendo seu lançamento para 2023. No entanto, o cronograma não foi cumprido. Em 2024, quando o robô foi apresentado no evento “We, Robot” da Tesla, foi revelado posteriormente que os robôs estavam sendo majoritariamente controlados por humanos, fora do palco, mascarando suas capacidades autônomas. A empresa, entretanto, afirma que iniciará as vendas do Optimus em 2026, projetando um futuro onde as falhas atuais teriam sido superadas. De forma semelhante, a startup de robótica Figure, que foi avaliada em US$ 3,9 bilhões em uma rodada de financiamento em setembro, também gerou ceticismo em relação ao número real de humanoides que a empresa efetivamente implantou no mercado, uma alegação que a empresa tem defendido vigorosamente, sem, contudo, convencer totalmente o mercado sobre a real maturidade de suas operações.

Essa prudência, contudo, não significa que os robôs humanoides não terão um mercado futuro ou que o trabalho nessa tecnologia não seja válido. O próprio Rodney Brooks, apesar de suas ressalvas sobre a prontidão atual, não duvida que haverá humanoides no futuro. Contudo, sua previsão diverge da imagem popular de um robô com forma estritamente humana. Ele projeta que essas máquinas provavelmente incorporarão rodas e outras características não-humanas, e sua chegada generalizada não ocorrerá antes de mais uma década, sugerindo uma evolução mais adaptada às funções práticas do que à estética antropomórfica.

No front da inovação, diversas startups estão ativamente desenvolvendo a tecnologia de destreza que Brooks considera crucial para a funcionalidade dos humanoides. Empresas como a Proception, apoiada pela Y Combinator, e a Loomia, que criou um kit para auxiliar empresas de robótica a integrar a capacidade de toque em suas máquinas, são exemplos de esforços concentrados em superar essa barreira técnica. Há também numerosas empresas de robótica humanoide começando a coletar pedidos e gerar interesse por seus modelos. A K-Scale Labs, por exemplo, recebeu mais de 100 pré-encomendas para seu robô humanoide nos primeiros cinco dias, uma surpresa até mesmo para seus fundadores, segundo o CEO Benjam Bolte em entrevista ao TechCrunch. Da mesma forma, a Hugging Face testemunhou uma forte demanda de desenvolvedores por seus dois robôs humanoides. A empresa abriu as pré-encomendas para sua versão menor, o Reachy Mini, em julho, e a resposta foi notável. Apenas cinco dias após o lançamento, a Hugging Face já havia acumulado US$ 1 milhão em vendas de seus robôs Reachy Mini, indicando um interesse latente e um nicho de mercado crescente para aplicações mais específicas e compactas, ainda que os desafios de segurança e de integração em ambientes complexos continuem exigindo avanços substanciais.

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Em suma, a realidade do desenvolvimento dos robôs humanoides é complexa e repleta de desafios técnicos e comerciais. Embora o entusiasmo seja palpável e os investimentos abundantes, especialistas clamam por cautela, indicando que a adoção massiva e segura ainda é uma promessa distante. Os obstáculos incluem desde a destreza funcional até a segurança em ambientes humanos e a viabilidade econômica, o que exige mais pesquisa e evolução. Fique por dentro de todas as inovações e debates na área de tecnologia e investimentos acompanhando nossa editoria no Hora de Começar, onde exploramos as últimas tendências e análises que moldam o futuro do nosso mundo.

Crédito da Imagem: Divulgação


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