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A preparação para a Copa do Mundo 2026, que será sediada majoritariamente nos Estados Unidos, com jogos adicionais no Canadá e no México, está levantando diversas preocupações que podem comprometer a experiência dos torcedores internacionais. Apesar das declarações otimistas do presidente da Fifa, Gianni Infantino, sobre “o mundo ser bem-vindo”, questões como os preços exorbitantes dos ingressos, os complicados processos de visto e as crescentes apreensões sobre segurança nos EUA vêm gerando incertezas significativas para o megaevento esportivo.
Enquanto os ingressos começam a ser vendidos e os planos de viagem são delineados, as críticas se acumulam, colocando em dúvida a real capacidade do país-sede principal de ser tão acolhedor quanto a Fifa promete. A nação norte-americana atravessa um período de divisões, marcado por episódios de violência política e por uma postura mais rígida em relação à imigração, segundo o que é analisado pela BBC Sport.
Copa do Mundo 2026: Preços, Vistos e Segurança em Xeque
O foco das apreensões está em três pilares principais: a precificação dos ingressos, os trâmites para obtenção de vistos de entrada e o cenário de segurança. Cada um desses aspectos tem o potencial de afastar uma parcela considerável de fãs de futebol que sonham em acompanhar de perto o maior torneio de futebol do planeta, fazendo questionar se a promessa da Fifa de ser a “maior e melhor Copa do Mundo” poderá ser cumprida.
Custos Elevados dos Ingressos Causam Insatisfação
Em outubro, o primeiro lote de ingressos para a Copa do Mundo de 2026 foi liberado para venda, atraindo mais de 4,5 milhões de inscrições para o sorteio. Contudo, a estratégia de preços da Fifa gerou instantaneamente críticas acentuadas. Embora uma lista completa e formal de preços não tenha sido divulgada, torcedores que obtiveram o direito de compra após longas filas digitais reportaram os valores online.
Os ingressos gerais para o jogo de abertura nos Estados Unidos, divididos em quatro categorias, estão sendo vendidos entre US$ 560 e US$ 2.235 (cerca de R$ 3 mil a R$ 11,9 mil). Para efeitos de comparação, na última Copa do Mundo no Catar, as entradas para o jogo de abertura variavam de US$ 55 a US$ 618 (aproximadamente R$ 294 a R$ 3,3 mil). A final da edição de 2026 terá seu ingresso mais barato custando US$ 2.030 (cerca de R$ 10,8 mil) e o mais caro atingindo US$ 6 mil (cerca de R$ 32,1 mil). Ingressos VIP, que ainda serão disponibilizados, são esperados para terem preços ainda mais elevados. Apenas uma proporção mínima de assentos, especificamente para jogos iniciais em locais de menor prestígio, é oferecida por US$ 60 (cerca de R$ 320), conforme os mapas dos estádios.
O portal The Athletic também reportou que a Fifa planeja aplicar taxas de 15% tanto para o comprador quanto para o vendedor em ingressos revendidos através de sua plataforma oficial. A BBC não obteve resposta da Fifa sobre essas questões até a publicação da reportagem original.
Thomas Concannon, chefe da Embaixada dos Torcedores da Inglaterra da Associação de Apoiadores de Futebol, expressou seu repúdio: “Estes preços são espantosos – US$ 2.030 pelo ingresso mais barato da final é inaceitável”. Ele estima que um torcedor que acompanhe todos os jogos, do primeiro ao último, utilizando os ingressos da categoria 4, poderá desembolsar no mínimo US$ 3.180 (aproximadamente R$ 17 mil), mais que o dobro do custo total no Catar. Concannon concluiu que, ao somar custos de viagem e hospedagem, esta será “a Copa do Mundo mais cara que já vimos para os torcedores que irão assistir aos jogos”.
A Fifa, ademais, adota um sistema de preços “dinâmicos”, o que implica que os valores dos ingressos para jogos de grande procura podem sofrer aumentos consideráveis durante os últimos períodos de venda. Este sistema pode beneficiar os norte-americanos ao, indiretamente, desencorajar torcedores estrangeiros. Scott Friedman, fundador do portal Ticket Talk Network, descreve o modelo como de oferta e demanda, visando maximizar a receita da Fifa. Ele explica que os cidadãos americanos podem ter a vantagem de comprar ingressos de revenda mais baratos para jogos de menor demanda pouco antes da partida. “As pessoas realmente não podem viajar do exterior para isso”, afirmou Friedman. “O sistema não é justo para o resto do mundo e certamente poderá eliminar pessoas de outros países, devido aos preços.”
Obstáculos e Atrasos nos Processos de Vistos
Os desafios relacionados à obtenção de vistos para entrar nos Estados Unidos representam outra considerável barreira para a Copa do Mundo de 2026. Embora a candidatura tenha sido aprovada durante a gestão do presidente Donald Trump, com a garantia de que “todos os atletas qualificados, autoridades e torcedores de todos os países do mundo conseguirão entrar nos Estados Unidos, sem discriminação”, a realidade se mostra mais complexa. Cidadãos de 42 territórios, incluindo Reino Unido e União Europeia, podem viajar sem visto graças ao programa de dispensa, necessitando apenas de uma solicitação eletrônica, geralmente processada em até 72 horas.

Imagem: bbc.com
No entanto, torcedores da maioria dos países, notavelmente da Ásia, África e América do Sul – regiões com muitos países já classificados ou prestes a se classificar –, precisam solicitar vistos. Ao contrário da Rússia (2018) e do Catar (2022), que implementaram procedimentos de visto acelerados para o Mundial, os EUA não adotaram medidas similares. Os solicitantes de visto são inseridos na mesma fila dos demais visitantes e devem passar por pelo menos uma entrevista presencial em uma Embaixada ou consulado. O governo ampliou os poderes das autoridades para investigar mídias sociais e declarações políticas dos requerentes.
Em alguns países, o tempo médio de espera para uma entrevista inicial para visto de turista pode ultrapassar um ano. Na Colômbia, por exemplo, que já está qualificada para a Copa de 2026, o período de espera é de até 15 meses. Em resposta, o Departamento de Estado americano anunciou em outubro que aumentará o número de funcionários em certas Embaixadas para agilizar o processamento, sem detalhar os países ou a quantidade de reforço.
Travis Murphy, ex-diplomata e fundador da Jetr Global Sports, que auxilia atletas estrangeiros em vistos americanos, destacou que “o processo de obtenção de visto nos Estados Unidos não é claro, nem eficiente, há décadas”. Ele complementa que, embora a regulamentação não tenha mudado drasticamente, “o rigor com que algumas das regras são seguidas é o que realmente [importa] aqui”. Murphy expressou a preocupação de que o país possa se colocar em uma posição onde eventos futuros sejam retirados devido à forma como a questão do visto é gerenciada. Para informações oficiais sobre o processo de solicitação de vistos para os Estados Unidos, você pode consultar o site do Departamento de Estado dos EUA.
Cenário de Segurança Geração Dúvidas Cruciais
Além dos desafios financeiros e burocráticos, a segurança nos Estados Unidos para a Copa do Mundo 2026 figura como uma grande preocupação. O país testemunhou diversos assassinatos políticos em 2025 e cerca de 500 ataques a tiros em 2024. As ações do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE), que aumentaram as deportações sob ordens governamentais, e o destacamento da Guarda Nacional para cidades comandadas por democratas, como Los Angeles – que receberá oito partidas do Mundial –, desencadearam protestos e elevaram a desconfiança pública. Há relatos de que Donald Trump chegou a ameaçar remover partidas de cidades que considerasse “inseguras”.
Daniel Byman, diretor do Programa de Estratégias de Guerra, Ameaças Irregulares e Terrorismo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (um think tank norte-americano), enfatiza as “divisões consideráveis nos Estados Unidos” e o forte sentimento de “ira” no país. Ele observa que “houve um desmantelamento muito grande de várias agências governamentais”, incluindo cortes no Departamento de Segurança Doméstica e no FBI, resultando em perda de pessoal e conhecimento institucional. Byman também ressalta a notória “facilidade de acesso a armas de fogo” nos EUA, algo raro na maioria das nações, o que ele considera um risco adicional para a segurança do público.
A combinação de fatores internos de segurança, com eventos recentes de violência e uma polarização política acentuada, levanta questionamentos pertinentes sobre a capacidade de assegurar um ambiente completamente seguro e acolhedor para a afluência global de torcedores na Copa do Mundo de 2026, como prometido pela Fifa.
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Em suma, a grandiosidade prometida para a Copa do Mundo de 2026 nos Estados Unidos, Canadá e México enfrenta sérios obstáculos em termos de acessibilidade e segurança para os torcedores globais. As elevadas taxas de ingressos, a complexidade na obtenção de vistos e um cenário doméstico volátil nos EUA representam desafios significativos que a Fifa e as nações anfitriãs precisarão endereçar para garantir que o torneio seja verdadeiramente um evento para o “mundo todo”. Fique por dentro de todas as novidades e análises aprofundadas sobre o mundo do esporte e eventos internacionais acompanhando nossa editoria de Esporte.
Crédito, Getty Images
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