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Nesta segunda-feira (13/10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protagoniza um evento de relevância global ao se reunir com o Papa Leão 14 no Vaticano. Este aguardado encontro, sob o título Lula e Papa Leão 14: Temas Chave no Encontro do Vaticano, marca a primeira interação oficial entre o líder brasileiro e o novo pontífice, empossado como sucessor do Papa Francisco no último mês de maio, conforme informações apuradas pela BBC News Brasil.
A presença de Lula em Roma deve-se à sua participação no Fórum Mundial da Alimentação, um evento de suma importância promovido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que concentra líderes e especialistas na busca por soluções para a segurança alimentar global. A audiência papal está agendada para as 8h15, horário local no Vaticano, o que corresponde às 5h15 no fuso horário de Brasília. O local da reunião será o Palácio Apostólico, a residência oficial do Santo Padre, um cenário histórico e simbólico para as conversas bilaterais.
As discussões no Vaticano, um ponto crucial na agenda internacional, podem abranger uma série de questões estratégicas de interesse mútuo. As expectativas sobre os tópicos a serem abordados refletem a complexidade das relações internacionais e as pautas urgentes do cenário global. Por isso, compreender a amplitude dos debates esperados é fundamental:
Lula e Papa Leão 14: Temas Chave no Encontro do Vaticano
Fontes da diplomacia brasileira, em caráter reservado e ouvidas pela BBC News Brasil, apontaram para a possibilidade de que o presidente Lula e o Papa Leão 14 aprofundem temas como justiça social, a vital preservação do meio ambiente, a incessante defesa da paz, o fortalecimento da democracia e o impacto crescente da Inteligência Artificial (IA) na sociedade contemporânea.
Este encontro com o Papa Leão 14 representa um marco na trajetória do presidente brasileiro, que já foi recebido no Vaticano por outros três pontífices ao longo de seus três mandatos. Anteriormente, Lula teve audiências com os Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco, demonstrando uma constante linha de diálogo entre o governo brasileiro e a Santa Sé. A última visita do presidente brasileiro a Roma ocorreu em abril deste ano, quando compareceu ao velório do Papa Francisco, falecido em 21 de abril, aos 88 anos de idade.
A expectativa é que o Papa Leão 14 receba o presidente Lula acompanhado da primeira-dama, Janja, em uma audiência inicial a portas fechadas, reservada para conversas mais confidenciais. Após essa primeira etapa, prevê-se uma reunião ampliada, que contará com a presença de outros representantes do Vaticano, além da delegação brasileira, que deve incluir o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Justiça Social e Combate à Pobreza: Uma Pauta Urgente
O tema da justiça social e do combate à pobreza emerge como um dos pilares centrais das potenciais discussões entre o presidente Lula e o pontífice. Recentemente, o Papa Leão 14 divulgou a “Dilexi Te” (Eu Te Amei, em português), sua primeira Exortação Apostólica – um documento oficial da Igreja destinado a oferecer ensinamentos sobre uma determinada questão. A publicação denunciou abertamente as desigualdades nas estruturas econômicas e a chaga da fome que afeta milhões em todo o mundo. Combater a fome e promover sistemas alimentares justos é uma prioridade global, destacada por organismos internacionais.
De nacionalidade americana, naturalizado peruano, o atual Papa tem um vasto conhecimento da realidade latino-americana, tendo residido no Peru por mais de duas décadas, de 1985 até 2023, antes de assumir sua atual função. Na “Dilexi Te”, ele clama por uma profunda mudança de mentalidade em relação aos marginalizados e tece severas críticas à desigualdade do sistema econômico global, além de condenar veementemente uma “cultura que descarta os outros”. “Não devemos baixar a guarda diante da pobreza. Preocupam-nos, de modo particular, as graves condições em que vivem muitíssimas pessoas, devido à escassez de alimentos e água potável. Todos os dias morrem milhares de pessoas por causas relacionadas com a desnutrição”, declarou o Papa no documento.
Para Gerson Leite de Moraes, teólogo e historiador, além de professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, a experiência de vida e a vivência do pontífice na América Latina, combinadas com uma certa “familiaridade ideológica”, naturalmente aproximam o Papa Leão 14 do presidente Lula. “O PT foi, de alguma forma, influenciado pelos movimentos sociais que estavam presentes na Igreja Católica brasileira no final dos anos 70 e começo dos 80, entre eles a teologia da libertação”, contextualiza Moraes, ressaltando que o mesmo movimento encontrou grande ressonância em diversos países latino-americanos, incluindo o Peru, o que gera uma intersecção histórica e ideológica relevante entre os dois líderes.
Paz, Democracia e Desafios da Inteligência Artificial
Outra área de interesse primordial, tanto para o Vaticano quanto para o governo brasileiro, são os esforços em prol da paz mundial. Desde o início de seu pontificado, o Papa Leão 14 tem enfatizado de forma consistente a defesa da paz, convertendo-a em uma bandeira central de sua atuação. O tema dominou seu discurso inaugural, proferido perante uma grande multidão na Praça de São Pedro logo após sua eleição: “A humanidade precisa de Cristo como ponte para ser alcançada por Deus e por seu amor. Nos ajudem, e ajudem uns aos outros, a construir pontes com diálogo, com encontros. Todos juntos, em um só povo, sempre em paz”, declarou.
Desde então, o pontífice tem se manifestado repetidamente pelo fim de diversos conflitos globais, abordando situações críticas como as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, bem como outras disputas regionais, como aquela entre Índia e Paquistão na região da Caxemira. Diante desse histórico, membros da diplomacia brasileira e observadores do Vaticano consideram provável que discussões aprofundadas sobre a promoção da paz figurem proeminentemente no encontro com o presidente Lula. Filipe Domingues, vaticanista, diretor do Lay Centre e professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, ambas em Roma, aponta que, apesar de o Brasil não ter participação direta em muitos desses conflitos, suas posições frequentemente se alinham às da Santa Sé, especialmente em relação à guerra em Gaza. “O Lula fez uma defesa forte do multilateralismo nas Nações Unidas e a Santa Sé também defende isso de forma muito clara”, comenta o especialista, rememorando a fala do presidente brasileiro na Assembleia Geral da ONU em setembro.
De forma similar, a defesa da democracia desponta como um tema de particular interesse tanto para o Vaticano quanto para o governo brasileiro. O teólogo Gerson Leite de Moraes observa que o Vaticano tem reconhecido, por meio de comunicados e declarações de suas autoridades, uma crise generalizada nas democracias ao redor do mundo. Nesse contexto, ele avalia: “E o Brasil é uma democracia forte que tem punido aqueles que atentaram contra a democracia.” Uma fonte diplomática ouvida em caráter reservado esclareceu que, embora não se espere a menção de eventos políticos específicos, uma conversa de caráter geral sobre o tema pode compor a pauta. Conforme a mesma fonte, espera-se igualmente que haja alguma alusão às discussões sobre a regulamentação das redes sociais e, sobretudo, sobre a Inteligência Artificial (IA), tópicos que têm sido alvo de crescente atenção por parte da Igreja Católica recentemente.

Imagem: bbc.com
Em junho, o Papa Leão 14 enfatizou, em uma mensagem, a urgência de uma “governança global” para as novas tecnologias. Ele afirmou categoricamente que a rápida evolução tecnológica não pode substituir “o discernimento moral” humano nem a riqueza das interações e relações humanas. “A humanidade está numa encruzilhada, enfrentando o imenso potencial gerado pela revolução digital impulsionada pela Inteligência Artificial. O impacto desta revolução é de longo alcance, transformando áreas como educação, trabalho, arte, saúde, governança, forças armadas e comunicação”, detalhou o papa no texto divulgado pelo Vaticano, sublinhando a necessidade de uma abordagem ética e responsável para essas inovações.
Meio Ambiente e o Legado para a COP30
A temática ambiental e as mudanças climáticas constituem um ponto crucial na agenda global, e a reunião entre o presidente Lula e o Papa Leão 14 deve tocar nessa questão. O pontífice já foi formalmente convidado pelo governo brasileiro a participar da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá na cidade de Belém, Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. O convite foi articulado pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, durante um evento recente realizado no próprio Vaticano.
O Papa Leão 14 presidiu a abertura de uma conferência climática significativa em Castel Gandolfo, na Itália, um evento que celebrou o aniversário da “Laudato Si'”, a icônica encíclica ambientalista do Papa Francisco. Sua presença e atuação nessa ocasião solidificaram as expectativas de que ele dará continuidade ao legado de seu antecessor na fervorosa luta pela preservação do meio ambiente e no combate aos efeitos das mudanças climáticas. “A questão climática interessa tanto a Lula quanto ao papa. E o próprio debate que vai ocorrer na COP no Brasil é importante para a Igreja Católica”, analisa Gerson Leite de Moraes.
Ainda que o pontífice não tenha formalmente respondido ao convite brasileiro para a COP30, o governo brasileiro recebeu indicações de que a agenda papal para o mês de novembro se encontra bastante sobrecarregada, dado o número expressivo de compromissos internacionais. De toda forma, o vaticanista Filipe Domingues sugere que Lula aproveitará a oportunidade para reiterar o convite e para discutir pormenores relacionados à COP30 e a outros temas prementes da agenda ambiental internacional.
A Questão da Liberdade Religiosa e o Panorama Católico no Brasil
O teólogo e padre Dayvid da Silva, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), indica que o Vaticano poderá ter interesse em revisitar o tema da liberdade religiosa. Ele contextualiza que as “questões dos direitos da Igreja Católica e da liberdade religiosa foram reconhecidas no acordo Brasil-Santa Sé, do dia 11 de fevereiro de 2010, quando o presidente Lula cumpria o seu segundo mandato, e o papa era Bento 16”, mostrando a pertinência histórica desse tópico na relação bilateral.
No que tange à realidade dos católicos no Brasil, dados do Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam uma mudança demográfica significativa. No ano 2000, os católicos representavam 74% da população brasileira, número que diminuiu para 65% dez anos mais tarde. Diante desse cenário, diversos estudiosos e membros da Igreja no Brasil expressaram preocupação com a possível queda do interesse pela vida religiosa e uma potencial perda da relevância do catolicismo no país. Contudo, um diplomata, que se pronunciou sob condição de reserva à reportagem, afirmou que não há a expectativa de que este assunto seja abordado diretamente entre Lula e o Papa Leão 14. “Esse é um tema que é mais tratado pela CNBB”, disse a fonte, referindo-se à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tradicionalmente lida com as questões internas da Igreja no país.
Ainda assim, o teólogo Gerson Leite de Moraes aponta que, mesmo com pesquisas recentes indicando uma diminuição na influência da Igreja Católica e no número de fiéis que participam ativamente de cerimônias religiosas, o legado do Papa Francisco tem sido interpretado como um “reavivamento” para a Santa Sé. “Muita gente entende que os posicionamentos de Francisco serviram para estancar a queda de fiéis na Igreja Católica”, complementa o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sugerindo um renovado engajamento com os ensinamentos da Igreja, que pode impactar também a conversa entre os líderes.
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O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Papa Leão 14 no Vaticano é um momento de significativa importância para as relações diplomáticas e para o debate de pautas cruciais que afetam a humanidade, desde a justiça social e a preservação ambiental até os dilemas da paz e da tecnologia. A complexidade dos temas indica a profundidade do diálogo que se estabelece, repercutindo tanto no Brasil quanto na esfera global. Para mais informações e análises aprofundadas sobre política e temas relevantes, continue acompanhando nossa editoria e mantenha-se informado.
Crédito: EPA/Shutterstock; Reuters
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