Filas do SUS: Padilha detalha planos e ações para reduzir espera

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O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), manifesta insatisfação e promete intensa mobilização para enfrentar o grave problema das filas do SUS. O desafio central é a morosidade no agendamento de consultas especializadas, exames e cirurgias no Sistema Único de Saúde, que atinge patamares recordes em 2024, conforme dados oficiais e levantamentos independentes.

Durante uma entrevista exclusiva à BBC News Brasil concedida em Londres, Reino Unido, o ministro confirmou a magnitude do obstáculo. Segundo ele, pesquisas de opinião pública realizadas pelo governo indicam que a espera por atendimentos especializados é a principal reclamação da população atualmente. A partir dessa premissa, o foco principal de sua gestão é o programa recém-criado, “Agora Tem Especialistas”, idealizado pelo governo federal sob a presidência de Lula e aprovado pelo Congresso, visando precisamente mitigar essa demanda crescente e reduzir os tempos de espera.

Filas do SUS: Padilha detalha planos e ações para reduzir espera

Alexandre Padilha, médico infectologista e veterano do Partido dos Trabalhadores (PT), retorna ao comando da pasta da Saúde desde março, após atuar no Ministério das Relações Institucionais. Anteriormente, no governo de Dilma Rousseff, ele esteve à frente do programa Mais Médicos, uma iniciativa que mais tarde gerou controvérsia, resultando na revogação do visto americano de sua esposa e filha durante o governo de Donald Trump.

Abordando as sanções impostas à sua família, o ministro Padilha destacou sua indignação com o “ataque” à sua filha de 10 anos, questionando a ameaça que ela poderia representar aos Estados Unidos. Ele ressaltou que, apesar de possíveis restrições à sua circulação no território americano, as ideias e o papel do Brasil na saúde global não podem ser limitados. Em suas palavras, “Se os Estados Unidos não querem que eu vá lá, eles podem até restringir a minha circulação dentro dos Estados Unidos, mas não conseguem restringir as ideias e o papel que o Brasil e o ministro da Saúde têm.” As restrições o impediram de participar presencialmente de eventos internacionais importantes, como a Assembleia Geral da OPAS, mas o Brasil conseguiu garantir sua participação virtual e reforçar sua voz diplomática, com impactos ainda maiores, segundo ele.

Na visita ao Reino Unido, Padilha destacou a relevância da parceria renovada entre o Ministério da Saúde brasileiro e o Serviço Nacional de Saúde (NHS) britânico. Embora o Brasil compartilhe seu conhecimento sobre os agentes comunitários de saúde e equipes de atenção primária, o país busca aprender com o NHS em áreas como saúde digital e a experiência dos hospitais digitais, expandindo a telessaúde. O foco também se volta para parcerias na produção e acesso a medicamentos, impulsionado pela regulamentação do novo marco legal para pesquisa clínica no Brasil, que visa acelerar estudos de avaliação de medicações e vacinas. A colaboração internacional também reforça a defesa global da vacina, da ciência e da saúde como um direito universal, em um contexto de ataques de movimentos de extrema direita.

Por outro lado, o Brasil possui contribuições únicas para o cenário global da saúde. O sucesso da implementação de agentes comunitários de saúde no Reino Unido, inspirado por um médico inglês que atuou em Pernambuco, é um exemplo notável. Além disso, o SUS se destaca na reorganização de cuidados para o transtorno do espectro do autismo, com testes diagnósticos a partir dos 16 meses de vida na atenção primária. A diversidade populacional do Brasil, que combina doenças tropicais com enfermidades do Hemisfério Norte, oferece um vasto campo de aprendizado para outros países no manejo de condições de saúde. O país também assume uma liderança ativa em agendas internacionais, como a organização da COP 30, onde, pela primeira vez, haverá um dia dedicado à saúde para debater a adaptação de sistemas de saúde às mudanças climáticas, consolidado no que está sendo chamado de “Plano Belém”.

Estrangeiros frequentemente demonstram surpresa e orgulho em relação ao SUS, conforme relato do ministro. Ele enfatiza que nenhum outro país com mais de 100 milhões de habitantes assumiu o desafio de ter um sistema universal e público de saúde. O Brasil é elogiado por programas icônicos, como o de HIV/Aids, que, combinado com a saúde da família, permitiu alcançar a eliminação da transmissão vertical do HIV (da gestante para o bebê), tornando-o o maior país a atingir tal feito via sistema público nacional de saúde. Padilha ressalta que, apesar dos elogios e conquistas, o SUS ainda possui desafios significativos e pontos a serem aprimorados, defendendo a importância de fortalecer o sistema, e não de denegri-lo ou desmantelá-lo.

Sobre a crise do metanol, o ministro qualificou o evento como um crime que ameaçou a saúde pública, e cuja investigação está sob responsabilidade das forças de segurança estaduais. A Polícia Federal e o governo federal se envolveram devido à desconfiança de que o crime poderia se espalhar para outros estados. Os casos confirmados estão concentrados em São Paulo e Paraná, embora outros três estados tenham notificado suspeitas, que não foram confirmadas. O Ministério da Saúde agiu rapidamente para identificar os casos de intoxicação e garantiu o abastecimento de antídotos. Mesmo com a dificuldade de comercialização internacional de um dos antídotos, o fomepizol, o Brasil o adquiriu em uma semana, em parceria com a Organização Panamericana da Saúde (Opas). Ele se somou ao etanol farmacêutico, que já era garantido, e está sendo distribuído aos centros de referência. Padilha enfatizou que o caso demonstra a necessidade de a indústria de bebidas e comerciantes de reforçar orientações para identificação de produtos adulterados, além de fortalecer os mecanismos de vigilância. Segundo ele, o guia de vigilância já existente no Brasil indicava o etanol farmacêutico como primeira opção, e foi necessário um aumento extraordinário na compra do produto, já que a média de intoxicações por metanol era de cerca de 20 casos anuais em todo o Brasil, mas concentraram-se em apenas um estado em dois meses, evidenciando uma situação anormal. Assegurando o estoque estratégico de ambos os antídotos, o Ministério da Saúde visa garantir maior preparo para futuros desafios. Uma fonte autorizada sobre diretrizes de saúde pública pode ser consultada no site da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Em relação às restrições de visto impostas pelos EUA, o ministro explicou que as barreiras não afetam a capacidade do Brasil de projetar sua influência no cenário global. A impossibilidade de participar presencialmente na Assembleia Geral da OPAS e nas reuniões bilaterais na ONU em Nova York levou à busca por encontros em outros locais e por participação remota, ampliando, segundo ele, a repercussão de sua fala. Aproveitando a situação, o Brasil intensificou parcerias estratégicas com potências como Reino Unido, China e Índia, diversificando fornecedores e reduzindo a dependência externa. O país preside a coalizão de saúde do G20, a área de parcerias estratégicas dos BRICS e o Mercosul, o que abre oportunidades para avançar em acordos e fortalecer a produção e o acesso a medicamentos, vacinas e tecnologias para a população brasileira.

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Imagem: bbc.com

Padilha demonstrou indignação pelas sanções americanas, em especial pelo impacto na sua família. Mencionando a história de seu pai, exilado durante a ditadura militar e acolhido pelos EUA, o ministro considerou paradoxal um país que acolheu uma vítima da ditadura ter tantas restrições à liberdade. Sua filha de dez anos sentiu a privação de não poder visitar a prima nos EUA. Apesar dos desafios, o ministro percebe que as sanções foram baseadas em informações falsas sobre a postura do Judiciário brasileiro e sobre uma suposta intervenção do presidente Lula em outro poder. Ele acredita que o próprio governo americano está começando a compreender que barreiras prejudicam sua economia. A defesa da soberania do Brasil e a postura negocial abrem portas para uma eventual reversão das sanções, inclusive com a possibilidade de os EUA reconsiderarem tarifas abusivas.

A justificativa para a restrição de seu visto – sua relação com a criação do programa Mais Médicos, em 2013 – é contestada pelo ministro, que afirma não fazer sentido. Ele argumenta que dezenas de países, inclusive de direita alinhados a Trump, realizaram parcerias similares com médicos cubanos sem sofrer sanções. Padilha considera o episódio um “ataque específico à política do Brasil”, uma tentativa de influenciar a política nacional e de chantagear parlamentares. Ele defende a continuidade do Mais Médicos, enfatizando sua importância desde o início. Atualmente, o programa, que dobrou o número de participantes no atual governo Lula, é quase integralmente composto por jovens brasileiros formados no país, o que elimina a necessidade de atrair profissionais de outros países.

Desconsiderando a associação da medicina brasileira com a direita ou com o bolsonarismo, Padilha elogiou a maioria dos profissionais de saúde que, durante a pandemia, defendeu a vida e a vacinação com compromisso, sendo verdadeiros heróis. Ele destaca o diálogo positivo com associações médicas, inclusive para combater a multiplicação desordenada de cursos de Medicina, muitos abertos por via judicial em governos anteriores. Para elevar a qualidade da formação, o governo implementará um exame nacional de avaliação para estudantes de Medicina, que ocorrerá no quarto e no sexto ano do curso, além de aprovar novas diretrizes clínicas.

As longas filas do SUS, que atingiram recordes em 2024, são um problema histórico agravado pela pandemia de covid-19. O ministro explica que a paralisação de hospitais, centros de diagnóstico e consultas especializadas, prolongada pela “irresponsabilidade criminosa” do governo anterior, gerou um represamento colossal de procedimentos. Mesmo com o SUS realizando um número recorde de cirurgias eletivas (mais de 14 milhões em 2024), não foi suficiente para normalizar o tempo de espera. Com o programa “Agora Tem Especialistas”, o governo espera ter dados nacionais consolidados e mais precisos sobre o tempo real de espera. Padilha garantiu que já há uma mobilização para implementar um terceiro turno de atendimento e trabalhos aos sábados e domingos para cirurgias e exames. Além disso, a medida provisória do programa permite a contratação de médicos e especialistas para apoiar municípios e estados, a operacionalização de unidades móveis para exames especializados e novas parcerias público-privadas, permitindo que hospitais e planos de saúde quitem dívidas com a União por meio de atendimentos no SUS. Embora seja uma “batalha permanente”, alguns hospitais federais já registraram reduções de até 85% no tempo de espera, com o programa Agora Tem Especialistas propondo um estado de urgência em saúde pública para o próximo ano visando ainda mais celeridade.

Com cinco anos desde o início da pandemia de covid-19 em 2025, Padilha afirma categoricamente que o Brasil está mais preparado para lidar com futuras crises sanitárias, impulsionado pela experiência vivenciada. No entanto, ressalta que “muitas feridas ainda não cicatrizaram”, mencionando o negacionismo como uma “luta permanente”. Sua missão como ministro, além de implementar o “Agora Tem Especialistas” e reduzir o tempo de espera, é derrotar o negacionismo na saúde. O governo busca criar um novo marco legal e uma estrutura institucional que seja resiliente a futuros “aventuras da morte”, como o governo Bolsonaro. A expectativa é de que a proposta seja enviada ao Congresso para estabelecer uma lei que prepare o país para pandemias, com planejamento, definição de normas técnicas e ação em emergências de saúde pública, incluindo as geradas por mudanças climáticas.

No que tange aos medicamentos de alto custo, que podem atingir R$ 10 milhões por dose, Padilha vê um desafio comum. Ele menciona casos de judicialização que obrigam o SUS a financiar produtos sem eficácia comprovada, porém, reitera que, quando há comprovação, o sistema incorpora esses medicamentos. Como exemplo, cita a incorporação de um medicamento que custava entre R$ 11 e R$ 12 milhões por dose, com a criação de um novo mecanismo de compra chamado “compartilhamento de risco”, onde o pagamento é escalonado conforme a evolução do paciente. A estratégia é buscar novos mecanismos de compra, parcerias internacionais – como com o NHS inglês – e estimular a concorrência na produção nacional, sempre pautado por evidências científicas e a comprovação de eficácia, visando acessibilidade para a população.

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A discussão sobre a otimização das filas do SUS e a melhoria contínua da saúde pública brasileira é complexa e multifacetada, envolvendo não apenas programas internos, mas também parcerias internacionais e adaptação a desafios emergentes como as pandemias e o alto custo de medicamentos. A gestão de Alexandre Padilha demonstra um esforço concentrado em reduzir os tempos de espera, enquanto reestrutura e fortalece o Sistema Único de Saúde diante de obstáculos históricos e recentes. Para mais informações e análises sobre o cenário político e de saúde no Brasil, continue acompanhando as atualizações em nossa editoria de Política.

Crédito, José Cruz/Agência Brasil


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