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A **paralisação do governo dos EUA está estrangulando a aviação** em um cenário de instabilidade que, desde o primeiro dia de outubro, tem gerado impactos significativos nos aeroportos por todo o país. O fechamento parcial da administração federal, motivado por uma disputa orçamentária, transformou-se rapidamente em um catalisador de caos, conforme previsões já apontadas em maio deste ano, que alertavam para a fragilidade do sistema aéreo americano frente a qualquer interrupção mínima.
Efeitos dramáticos são observados diariamente: mais de 6.000 voos registram atrasos a cada 24 horas, um número que se aproxima do dobro da média histórica para o mês de outubro, de acordo com estatísticas do Departamento de Transportes. Além disso, a Agência de Segurança no Transporte (TSA) alertou sobre o aumento dos tempos de espera nas filas de segurança e suspendeu as atualizações em tempo real sobre os postos de controle em seu aplicativo MyTSA. Aeroportos de grande porte chegaram a operar por várias horas sem qualquer controle de tráfego aéreo, elevando preocupações sobre a segurança operacional.
Paralisação do Governo dos EUA Sufoca Aviação Nacional
A raiz dos problemas na aviação nacional está na interrupção do pagamento. Com o esgotamento do orçamento federal em 1º de outubro de 2025, mais de meio milhão de funcionários foram imediatamente afastados de suas funções. Contudo, os cerca de 75.000 controladores de tráfego aéreo do país e os agentes de linha de frente da TSA são considerados funcionários essenciais. Estes, por exigência contratual, são obrigados a comparecer ao trabalho, independentemente das circunstâncias, ainda que não recebam seus salários pontualmente.
O Secretário de Transportes, Sean Duffy, tentou acalmar a situação com uma declaração na plataforma X (antigo Twitter), afirmando que os controladores que comparecessem ao trabalho seriam pagos, “apenas não no prazo”. Contudo, essa promessa não é suficiente para muitos funcionários. Johnny Jones, representante dos agentes da TSA no American Federation of Government Employees, o maior sindicato de servidores federais dos EUA e atuante desde 2002, expressou o descontentamento. Ele destacou que a principal preocupação dos trabalhadores é a incerteza sobre a duração dessa situação e por quanto tempo terão que trabalhar sem remuneração. “Você está vivendo do que conseguiu economizar, e teve talvez uma ou duas semanas de aviso”, lamentou Jones, expondo o dilema financeiro enfrentado por milhares de famílias.
A capacidade de pressão dos trabalhadores federais é bastante limitada. Um histórico doloroso demonstra essa realidade para os controladores de tráfego aéreo. Em 1981, 13.000 controladores entraram em greve para exigir melhores salários, equipe adequada e melhorias gerais na segurança. Naquela ocasião, citando uma lei de 1966 que proíbe greves de funcionários federais, o então presidente Ronald Reagan não apenas demitiu todos os grevistas, como também os proibiu de ocupar qualquer cargo federal novamente por toda a vida. Aquela ação encerrou a greve, mas ironicamente deu origem à crise de escassez de controladores de tráfego aéreo que perdura até hoje.
Diante da impossibilidade de greve, a licença médica emerge como uma das poucas ferramentas à disposição dos funcionários essenciais. De acordo com seus contratos, controladores de tráfego aéreo e agentes da TSA podem utilizar suas licenças médicas acumuladas com poucas restrições, desde que não se ausentem por mais de três dias consecutivos. Antes da paralisação, alguns controladores já utilizavam a licença médica para aliviar a carga de trabalho de suas jornadas extenuantes, que podiam exigir 10 horas por dia, seis dias por semana. Outros a usavam para lidar com o trauma causado por falhas de equipamentos que subitamente colocavam dezenas de voos comerciais em risco de colisão. Agora, o recurso é amplamente empregado para reduzir a carga de trabalhar sem a perspectiva de pagamento em um futuro próximo.
No dia 6 de outubro, o Secretário Sean Duffy realizou uma coletiva de imprensa no setor de retirada de bagagens do Aeroporto de Newark para abordar a questão da equipe. “Estamos rastreando as chamadas de licença médica”, disse ele, reconhecendo um “ligeiro aumento em certas áreas, e estamos gerenciando isso”. Contudo, mesmo um “ligeiro aumento” pode gerar impactos em cascata por todo o país, evidenciando a fragilidade do sistema.
A dimensão da crise de pessoal tornou-se alarmante. No mesmo dia 6 de outubro, onze grandes instalações de controle de tráfego aéreo anunciaram que os níveis de pessoal haviam caído a ponto de não conseguirem lidar com segurança com o volume de tráfego planejado. No Aeroporto Hollywood Burbank, por exemplo, não havia controladores de tráfego aéreo em serviço por quase seis horas, forçando os pilotos em fase de decolagem ou pouso a coordenar-se entre si por uma frequência de rádio compartilhada, uma situação de risco elevada.

Imagem: Brendan Smialowski/AFP via theverge.com
Desde então, as deficiências de pessoal têm afetado metade das instalações de rota do país, um terço das instalações de chegada e partida, e operações de torre nos aeroportos de Austin, Chicago O’Hare, Denver, Phoenix e Reagan. Na sexta-feira, 10 de outubro, que marcou o início do feriado de Columbus Day, mais de 7.700 voos foram atrasados em todo o país, representando quase um em cada cinco voos programados, conforme dados da FlightAware.
Em entrevista à Fox Business, Duffy chegou a ameaçar demitir um pequeno subconjunto de controladores que não comparecessem ao trabalho, os “problem children”, como ele os denominou. Em resposta, a National Air Traffic Controllers Association (NATCA), o sindicato que representa a maioria dos controladores de tráfego aéreo dos EUA, advertiu seus membros para não se engajarem em “atividades coordenadas que afetem negativamente a capacidade do NAS [sistema de espaço aéreo nacional]”. Contudo, esta não é uma atividade coordenada; são indivíduos usando as ferramentas que possuem para proteger-se contra exploração desnecessária, argumentam muitos.
O impacto na segurança aeroportuária é mais difícil de quantificar com precisão. Desde 9 de outubro, a TSA começou a publicar dados diários sobre o tempo de espera no X, algo inédito para a agência. No entanto, a falta de registros históricos precisos impede contextualizar esses números adequadamente. O que se sabe é que milhares de funcionários da TSA têm ligado para avisar que estão doentes, muito mais do que o normal, simplesmente porque não podem se dar ao luxo de trabalhar sem remuneração.
A paralisação atual deverá durar no mínimo 19 dias, já que o Congresso não tem previsão de retorno do recesso antes de 19 de outubro. A interrupção governamental anterior, durante a primeira administração Trump, estendeu-se por 35 dias, sendo a mais longa da história dos EUA. Até que a atual crise chegue ao fim, a situação para os viajantes — e para os trabalhadores essenciais que mantêm a América voando — continuará a se deteriorar. “As pessoas não podem vir trabalhar se não estão recebendo dinheiro. Creches não aceitam promissórias, mercearias não aceitam promissórias, postos de gasolina não aceitam promissórias”, enfatizou Johnny Jones. “Se isso durar 30, 40 dias, o aeroporto será uma cidade fantasma.”
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Em suma, a atual paralisação do governo americano representa um desafio sem precedentes para o setor da aviação, evidenciando a dependência do sistema de serviços públicos bem remunerados e pontuais. A incerteza quanto ao futuro próximo mantém em suspense milhões de viajantes e a força de trabalho vital para a mobilidade do país. Para ficar por dentro de outros desenvolvimentos e análises sobre questões políticas e econômicas, continue acompanhando nossa editoria de Política.
Crédito da imagem: Photo by Brendan Smialowski / AFP via Getty Images
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