Ativismo Trans e Ajuda Mútua: A Força do Punk Rock

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O cenário do ativismo trans e a ajuda mútua no punk rock encontra uma força vital em bandas como a Ekko Astral, um trio que transcende a definição tradicional de “banda trans”, apesar de contar com a vocalista Jael Holzman, uma mulher trans, e abordar frequentemente temáticas relacionadas à identidade trans. A base de fãs do grupo se expandiu significativamente através de plataformas online, em comunidades como o antigo Twitter, hoje conhecido como X, dedicadas à comunidade trans.

Apesar da identidade de sua vocalista e do teor de algumas letras, a Ekko Astral se posiciona como uma banda que confronta as trivialidades da vida cotidiana, fornecendo hinos de empoderamento que visam capacitar seu público a superar desafios. Suas composições são caracterizadas por serem breves, diretas e agressivas, uma sonoridade que o próprio grupo descreve como “mascara mosh pit”. Seu álbum de estreia, “pink balloons”, possui uma duração de pouco menos de 36 minutos, exemplificando essa abordagem concisa.

Ativismo Trans e Ajuda Mútua: A Força do Punk Rock

Para a Ekko Astral, a missão vai além da música; é um projeto político intrínseco. Jael Holzman enfatiza a importância de se manifestar sobre diversas questões, especialmente os direitos trans. Ela destaca que a magia acontece ao canalizar a energia presente nas interações online para o mundo físico, unindo pessoas que lutam por essas causas através da ajuda mútua, independentemente do tamanho da audiência. O objetivo é que essa força de coletividade crie um impacto tangível.

A banda também está empenhada em restabelecer espaços seguros em um ambiente digital que se torna cada vez menos acolhedor para a comunidade queer. Holzman, que atuou como jornalista focada em política e clima em Washington, DC, desde 2017, possui um conhecimento aprofundado sobre o poder das narrativas midiáticas. Inspirada por grandes artistas que se manifestaram em questões políticas relevantes, ela decidiu usar suas conexões na indústria musical para dar um novo impulso à luta pelos direitos trans, transformando essa experiência online em iniciativas físicas.

Essa energia culminou em maio de 2025 com o Liberation Weekend, o maior festival de música liderado por pessoas trans em Washington, DC. Durante dois dias, mais de 30 artistas, incluindo nomes como Speedy Ortiz, Ted Leo, Bartees Strange, The Ophelias e a própria Ekko Astral, se apresentaram na capital americana. O evento conseguiu arrecadar mais de US$ 30.000 para o Gender Liberation Movement, uma organização sem fins lucrativos que promove a autonomia corporal, a autodeterminação, o coletivismo e a realização individual. O impacto, entretanto, superou a arrecadação monetária.

Em um episódio significativo, quando legisladores republicanos tentaram usar um projeto de lei orçamentário para proibir a cobertura de cuidados de afirmação de gênero pelo Medicaid, Holzman e outros artistas aproveitaram as conexões estabelecidas durante o festival para organizar campanhas de pressão nas redes sociais. Essas ações visaram aumentar a conscientização sobre os cortes propostos, influenciando os legisladores a empregar medidas processuais para combater a proposta republicana, em vez de ceder. Esta capacidade de mobilização em prol da defesa de direitos é uma característica essencial do movimento.

Com os fundos obtidos no Liberation Weekend, o Gender Liberation Movement também organizou protestos em frente à Suprema Corte após a decisão no caso United States v. Skrmetti, que validou uma lei do Tennessee proibindo o acesso a cuidados de afirmação de gênero para menores. Essas manifestações ganharam visibilidade internacional, mantendo a questão sob os holofotes da mídia global, reforçando a importância do ativismo contínuo. Em ações como essas, fica evidente o princípio de ajuda mútua em sua forma mais ampla, demonstrando como coletivos se organizam para suporte e advocacia.

No outono, a Ekko Astral retomará seu trabalho itinerante pelo país, focando diretamente na ajuda mútua para pessoas trans. Jael Holzman aponta que a comunidade trans passa um tempo desproporcional online, o que a torna “hiperconversacional”. Essa interação online facilitou a criação de novas comunidades musicais trans nos últimos cinco a sete anos, e esse conhecimento adquirido em turnês está sendo agora aproveitado para construir iniciativas ainda maiores. A ideia central é utilizar as plataformas das bandas em turnê para levantar fundos, por exemplo, solicitando pequenas doações para cobrir despesas médicas na mesa de merchandising.

Para artistas trans, Holzman observa que a consciência sobre a fragilidade do acesso a cuidados de saúde essenciais é particularmente aguda. Somando-se a isso a realidade de muitos artistas que não têm acesso a planos de saúde através de empregos formais, forma-se um grupo propício a usar ferramentas como a ajuda mútua para suprir as lacunas deixadas por governos e corporações. Este ethos de ajuda mútua, ou “mutual aid”, e a criação de sistemas de apoio nas brechas da sociedade, é um traço enraizado em uma rica tradição musical: os espaços DIY (Do It Yourself).

O conceito do DIY, que floresceu na cena punk rock dos Estados Unidos no final da década de 1970, permitiu que bandas ignoradas por grandes gravadoras criassem seus próprios espaços de apresentação em locais não convencionais. Esse ambiente se tornou um refúgio para uma ampla gama de grupos, incluindo anarquistas, pessoas da classe trabalhadora, pessoas de cor e membros da comunidade queer, que encontraram na estética punk rock e DIY uma forma de expressão e pertencimento. Nesse contexto, a ausência de burocracia das gravadoras tradicionais permitiu um desenvolvimento mais orgânico da criatividade.

Nesses espaços DIY, a guitarrista e compositora queer Nicolle Maroulis descobriu sua paixão pela música aos 14 anos, fortemente influenciada por essa filosofia. Posteriormente, Maroulis lançou seu próprio projeto, Hit Like a Girl, com o primeiro disco em 2017. Atualmente, ela personifica o espírito DIY ao atuar como musicista contratada, fotógrafa, gerente de turnê e vendedora de merchandising na indústria musical. Além disso, Maroulis lidera a organização sem fins lucrativos No More Dysphoria, que arrecada fundos em turnês para facilitar o acesso de pessoas trans a cuidados de afirmação de gênero.

O projeto de Maroulis começou modestamente, vendendo 20 camisetas artesanais em shows onde conhecia os artistas. Essa iniciativa abriu portas para o No More Dysphoria participar de concertos cada vez maiores. Com a propagação da notícia boca a boca, mais bandas se envolveram, chegando a exibir bandeiras da organização em videoclipes ou em seus palcos durante turnês. Atualmente, o projeto é uma organização sem fins lucrativos oficial 501(c)(3), continuando a expandir seu alcance e a fornecer acesso a cuidados que salvam vidas, mesmo diante dos desafios impostos pelos algoritmos da internet que muitas vezes tentam obscurecer o conteúdo trans.

Maroulis ressalta as dificuldades atuais de conexão online devido à forma como o conteúdo trans é muitas vezes “enterrado” ou dificultado de ser encontrado. Ela menciona que plataformas como o Instagram já bloquearam a capacidade de jovens pesquisarem conteúdo LGBTQ+ por meses, e o X (anteriormente Twitter) enfrentou acusações de despriorizar certas palavras associadas à comunidade queer. Apesar desses obstáculos, ela enfatiza a importância de persistir nesses esforços, buscando sempre novas formas de alcançar e apoiar a comunidade.

Mesmo que as plataformas online continuem a se fragmentar e a se degradar, como observado nas políticas de Elon Musk no X que, por vezes, permitem abusos contra pessoas trans, o conhecimento e os recursos compartilhados durante as turnês não param de circular. Pelo contrário, Maroulis argumenta que o intercâmbio de informações e recursos cara a cara, em shows e encontros, cria uma conexão humana que vídeos ou posts online não conseguem replicar. A venda de camisetas e a arrecadação de fundos são apenas parte de um esforço maior, onde as turnês se tornam espaços vitais para o suporte à comunidade.

Bandas têm aproveitado a energia gerada por iniciativas como o Liberation Weekend, reafirmando o papel unificador da música, especialmente em regiões conservadoras do país que não são frequentemente incluídas em turnês. Tilley Komorny, guitarrista da banda Home Is Where, cresceu na costa nordeste da Flórida, uma área com uma reputação hostil em relação a pessoas trans. Aos 15 anos, ao se envolver na cena DIY local, Komorny percebeu o potencial da música para gerar ajuda concreta em sua comunidade. Ela começou a organizar festivais de música locais liderados por pessoas trans para ajudar a custear cirurgias e mudanças de nome de amigos. Durante a pandemia de COVID-19, esses festivais foram adaptados para o formato online.

A percepção de ter alcançado um número ainda maior de pessoas online levou Komorny a creditar a comunidade virtual por impulsionar a Home Is Where e conectá-la a mais recursos, facilitando a organização de apoio para pessoas trans em suas turnês. As conexões feitas durante esse período foram cruciais para a banda, que se prepara para sua maior turnê até o momento, vislumbrando a oportunidade de impactar um público sem precedentes. A banda, agora, trabalha em colaboração com a Campaign for Southern Equality, destinando parte da arrecadação de cada venda de ingresso para o fundo de relocação trans da organização.

Komorny descreve essa prática como uma forma acessível de responsabilidade social que qualquer banda pode adotar. Um dos principais aprendizados do Liberation Weekend para a Home Is Where foi a importância de priorizar fornecedores locais para vender seus produtos nos shows da próxima turnê. Embora isso possa exigir um planejamento mais detalhado antes do início das apresentações, a potencial exposição do público a organizações menores, que oferecem recursos disponíveis em suas próprias comunidades, compensa o esforço. Para Komorny, agora é o momento de converter a energia gerada online em ações e organizações concretas.

Para finalizar, a interação entre fãs engajados em um show e a possibilidade de descobrir um leque de iniciativas e recursos culturais durante o evento representa um cenário ideal para o engajamento e a solidariedade, uma proposta contundente do ativismo trans e da ajuda mútua no cenário do punk rock contemporâneo. O impacto vai muito além da música, forjando uma comunidade de apoio e ação social.

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Crédito da imagem: Sydney Bauer


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