Roubo da Mona Lisa: Como crime de 1911 a tornou global

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No coração de Paris, a icônica Mona Lisa, obra-prima de Leonardo Da Vinci, detém hoje o título de pintura mais famosa do mundo. Entretanto, sua ascensão a essa notoriedade não se deu por mérito puramente artístico inicial, mas sim em grande parte por um incidente marcante em sua história: o roubo da Mona Lisa ocorrido há mais de um século, em 1911. Este evento, que paradoxalmente cimentou seu status global, ressurge na memória em meio a novos desafios de segurança em instituições culturais.

Recentemente, no dia 19 de outubro, o Museu do Louvre vivenciou outro episódio audacioso, com o furto de joias da coroa francesa de “valor inestimável”. A ação criminosa, que durou cerca de sete minutos em plena luz do dia, pouco depois da abertura do museu, expôs vulnerabilidades na segurança do local. Quatro indivíduos utilizaram um elevador mecânico para acessar a Galerie d’Apollon (Galeria de Apolo) através de uma varanda próxima ao rio Sena. Eles cortaram vidros com um cortador alimentado por bateria, ameaçaram guardas e subtraíram peças que estavam em duas vitrines. A rapidez e a destreza do delito, contudo, são reminiscentes de um caso histórico ainda mais famoso que mudaria o destino de uma das obras de arte mais reverenciadas.

Autoridades francesas agora empreendem uma corrida contra o tempo para recuperar as joias antes que sejam desmanteladas e comercializadas, repetindo um padrão de urgência visto há décadas. Foi justamente em um contexto de segurança menos rigorosa que, em agosto de 1911, o

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se desenrolou no mesmo Louvre, transformando um delito cultural em um catalisador de fama para o enigmático retrato de Da Vinci.

A ousadia do roubo de 1911 contrasta com a sofisticação da recente operação. Naquele ano, o incidente ocorreu em uma segunda-feira, 21 de agosto, um dia em que o museu permanecia fechado ao público. O perpetrador, Vincenzo Peruggia, um ex-funcionário do Louvre, conseguiu adentrar e subtrair a célebre Mona Lisa com uma preparação surpreendentemente mínima. A ausência do quadro, contudo, só foi percebida no dia seguinte, mergulhando o museu e o mundo em um escândalo de proporções internacionais. Como consequência imediata, o Louvre fechou suas portas por uma semana em meio à repercussão.

A investigação policial que se seguiu enfrentou inúmeras pistas falsas. Artistas proeminentes da vanguarda parisiense da época, como o poeta Guillaume Apollinaire e o pintor espanhol Pablo Picasso, chegaram a ser detidos e interrogados como suspeitos por uma semana, embora mais tarde fossem liberados e se provassem inocentes do roubo da Mona Lisa. A saga do desaparecimento da Mona Lisa manteve o mundo em suspense por mais de dois anos, tornando o incidente um marco na história da criminalidade artística.

O desfecho do mistério só veio em 10 de dezembro de 1913, quando Peruggia foi finalmente capturado. A prisão ocorreu em Florença, na Itália, no momento em que ele tentava entregar a pintura ao negociante de antiguidades Alfredo Geri. Esse ato de recuperação marcou um ponto de virada, transformando um delito notório em um triunfo internacional para a polícia e para o mundo da arte, reafirmando o valor da obra. De acordo com o historiador da arte americano Noah Charney, especialista no tema e autor do livro “Os Roubos da Mona Lisa”, esse foi o primeiro delito envolvendo a obra a mobilizar a imprensa global de forma tão intensa. Para compreender melhor o fascínio e as complexas narrativas em torno do mito da Mona Lisa, pode-se aprofundar a leitura em publicações renomadas sobre a história da arte, como reportagens especiais que discutem “A loucura do mito Mona Lisa” em veículos de comunicação com credibilidade, por exemplo, o artigo A loucura do mito Mona Lisa no jornal O Estado de S. Paulo.

A popularidade avassaladora da Mona Lisa é tão difundida que se tende a presumir que ela já era a “pintura mais famosa do mundo” antes do crime de Peruggia. No entanto, historiadores e críticos de arte, como Darian Leader, autor de “Roubando a Mona Lisa: o que a arte não nos deixa ver”, concordam que foi justamente o roubo da Mona Lisa que a catapultou para a celebridade global. A extensa e contínua cobertura midiática durante seus dois anos de desaparecimento, alimentou a curiosidade popular de forma sem precedentes, transformando-a em um ícone reconhecível para milhões de pessoas que, até então, nem sequer sabiam de sua existência. A imagem da Dama do Louvre passou a adornar noticiários cinematográficos, cartões-postais, embalagens de chocolate e campanhas publicitárias, conferindo-lhe um status similar ao das estrelas de cinema e cantores populares da época.

No retorno da obra, o fascínio não diminuiu. Multidões passaram a acorrer ao Louvre apenas para contemplar o espaço vazio que ela havia deixado na parede, uma evidência palpável do poder da ausência. Embora o museu abrigasse outras obras de imensa importância, como a estátua Vênus de Milo, a pintura “Liberdade Guiando o Povo” de Eugène Delacroix e o quadro “A Balsa de Medusa” de Théodore Géricault, nenhuma delas alcançou o nível de fama e mistério singular que a Mona Lisa conquistou após seu retorno. O incidente não se limitou ao cenário criminal; tornou-se assunto de Estado e gerou discussões acaloradas na mídia francesa, com jornais da época chegando a “inventar” histórias sobre a musa de Da Vinci para manter o interesse, incluindo romances fantasiosos sobre Leonardo Da Vinci se apaixonando pela modelo, conforme Jerome Coignard em “Uma mulher desaparece”.

Roubo da Mona Lisa: Como crime de 1911 a tornou global - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Apesar da aura de grandiosidade que cercava o ato do ladrão, a verdade é que o roubo da Mona Lisa não demandou um planejamento espetacular. O museu do Louvre, naquela época, possuía um sistema de segurança precário e um número reduzido de guardas. Paradoxalmente, o próprio Peruggia, que havia trabalhado no Louvre em 1910, instalando inclusive a porta de vidro que protegia o retrato, tinha conhecimento íntimo dessas falhas e da maneira como a pintura estava fixada. Ele ainda possuía o uniforme branco dos empregados do museu, facilitando sua movimentação. O historiador Noah Charney salienta que “Todos estes conhecimentos se juntaram quando ele teve uma oportunidade”, destacando a conjunção de fatores que possibilitaram a execução do furto.

Após sua captura, Vincenzo Peruggia tentou justificar seus atos com alegações de patriotismo, argumentando erroneamente que a pintura havia sido subtraída da Itália por Napoleão Bonaparte e que ele estaria apenas a repatriando. No entanto, a Mona Lisa foi adquirida legalmente pelo Rei Francisco I da França no século XVI, por uma quantia considerável. Outro argumento de Peruggia incluía um sentimento de racismo por parte de colegas franceses por sua origem italiana. Apesar de suas declarações, Charney aponta que uma lista de colecionadores americanos de arte, encontrada em posse de Peruggia, sugere que suas intenções eram mais pragmáticas e visavam o lucro da venda da obra.

Até hoje, as reais motivações de Peruggia para o roubo da Mona Lisa permanecem um mistério, obscurecidas pelas suas próprias contradições e pelas circunstâncias do tempo. A pequena dimensão da obra (53 por 77 centímetros) também contribuiu para sua escolha. A ironia do destino fez com que Peruggia, o homem que tornou a Mona Lisa universalmente famosa, fosse rapidamente esquecido após sua prisão, especialmente com o advento da Primeira Guerra Mundial em 1914, que monopolizou as atenções globais. No entanto, sua imagem sobrevive para alguns como a de alguém “extravagante e adorável, que se apaixonou por uma obra de arte e que não a danificou”, conforme Charney. Desde o seu retorno triunfante em 1913, a obra continua a atrair milhões de visitantes, que, por vezes, priorizam a experiência de dizer que “a viram” em detrimento da contemplação calma, um fato lamentado pelo escritor Jerome Coignard em “Uma mulher desaparece”.

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O roubo da Mona Lisa não foi apenas um crime contra o patrimônio cultural, mas um divisor de águas que redefiniu a percepção pública de uma obra de arte, solidificando seu status de ícone global. Sua história é um fascinante estudo sobre arte, fama e segurança de museus. Continue acompanhando nossas análises aprofundadas sobre eventos que moldam o mundo da cultura e da arte. Para mais artigos sobre o impacto da celebridade e dos acontecimentos históricos na cultura popular, visite nossa seção de Celebridade.

Crédito: Getty Images


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