Filme ‘Uma Batalha Após a Outra’ e o Desafio da Bilheteria

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O filme ‘Uma Batalha Após a Outra’, dirigido por Paul Thomas Anderson, desponta como um dos trabalhos cinematográficos mais louvados do ano pelos críticos. As análises enaltecem a obra como uma experiência eletrizante e ‘extremamente divertida’, afastando-a do rótulo de filme ‘obrigatório’ que muitos clássicos do cinema arte recebem. Pelo contrário, o consenso indica uma narrativa repleta de ação e momentos de grande prazer para o espectador, transformando a ida ao cinema em uma verdadeira montanha-russa emocional, conforme apontado por críticos.

Personalidades da crítica cinematográfica, como Max Weiss da Baltimore Magazine e Nick Bradshaw da Sight & Sound, não pouparam elogios, classificando o longa como uma ‘viagem incrível’ e destacando o impossível prazer em sua diversão. A expectativa era de que, com tal acolhimento crítico e um elenco estelar composto por Leonardo DiCaprio, Sean Penn e Benicio del Toro, o sucesso de bilheteria seria inevitável. Contudo, a realidade no circuito exibidor apresentou um cenário distinto, transformando a obra em um paradoxo da indústria cinematográfica.

Filme ‘Uma Batalha Após a Outra’ e o Desafio da Bilheteria

Relatos da revista Variety indicaram que o Filme ‘Uma Batalha Após a Outra’ figura entre as recentes produções voltadas ao público adulto que não atingiram a performance comercial esperada, lado a lado com títulos como O Bom Bandido e Coração de Lutador. Apesar de ter alcançado uma arrecadação global de US$ 140 milhões, um valor que pareceria substancial para um projeto original e com quase três horas de duração, o custo elevado de produção, estimado em US$ 130 milhões pela Warner Bros, coloca a produção em um patamar delicado. Algumas fontes sugerem que o orçamento poderia exceder esse valor em mais de US$ 10 milhões. Somados os gastos com marketing, as projeções da Variety indicam um possível prejuízo de aproximadamente US$ 100 milhões.

Mesmo com o lançamento oficial em finais de setembro e a permanência em cartaz por quatro fins de semana, os números totais da bilheteria, conforme o site Box Office Mojo, alcançaram US$ 162 milhões até o momento da análise. Para defensores de filmes autorais nas salas de cinema, esse desempenho é, à primeira vista, desencorajador e confuso. A questão central emerge: se nem uma ‘montanha-russa’ protagonizada por Leonardo DiCaprio consegue atrair as multidões, qual tipo de cinema tem esse poder na era pós-pandemia?

A resposta imediata e, por vezes, sombria, aponta para uma concentração do público em franquias de grande escala, sucessos de bilheteria comprovados e filmes de terror, que continuam a atrair multidões aos cinemas em um cenário onde o streaming oferece uma vasta gama de opções. Essa realidade, entretanto, não narra a história completa da obra de Paul Thomas Anderson. Alguns especialistas do setor oferecem uma perspectiva mais otimista sobre a situação de ‘Uma Batalha Após a Outra’.

Charles Gant, editor da Screen International, argumenta que o filme está se saindo ‘fenomenalmente bem’ sob certas óticas. Segundo Gant, o público demonstra grande apreço, resultando em um boca a boca extremamente positivo. O longa também se encaixa perfeitamente na experiência de exibição em formatos de tela grande, consolidando seu valor artístico. Sua arrecadação já supera em quase o dobro o sucesso anterior de Anderson, com expectativas de crescimento contínuo.

É crucial considerar que ‘Uma Batalha Após a Outra’ terá uma longevidade expressiva. Apesar de não atingir os números estrondosos de filmes como os da franquia Vingadores, é esperado um incremento significativo de receita após as indicações e premiações do Oscar. Sendo uma obra aclamada, ela tende a perdurar no tempo, gerando lucros com relançamentos, contratos de streaming e transmissões televisivas. Este panorama indica que, embora não seja uma ‘mina de ouro’ instantânea para a Warner Bros, a classificação de ‘fracasso chocante’ talvez seja precipitada.

O cerne da questão reside na essência de Anderson como um cineasta autoral. Embora os críticos possam ter vendido ‘Uma Batalha Após a Outra’ como uma ‘ação-comédia’, sua verdadeira natureza é a de um filme de arte. Seus ritmos frenéticos, trilha sonora intensa, personagens complexos, conteúdo político denso e uma excêntrica mescla de seriedade e ironia são marcas de um roteirista-diretor focado em suas próprias ambições criativas, por vezes, desafiando a lógica comercial de produções de grande orçamento.

Mesmo com críticas excelentes e o burburinho positivo do público, a natureza desafiadora do filme de Anderson o coloca distante do perfil de um sucesso de bilheteria casual para uma noite de sexta-feira. O ponto crucial de sua ‘decepção’ financeira é o seu custo astronômico de produção. “O alto custo da produção torna difícil alcançar a lucratividade, isso eu admito”, reforçou Charles Gant, em seu apontamento para o panorama econômico do longa.

Para contextualizar, o maior sucesso financeiro de Anderson, Sangue Negro, de 2007, arrecadou US$ 76,9 milhões. Em contrapartida, Vício Inerente, também inspirado em Thomas Pynchon, fez apenas US$ 14,5 milhões em 2014. Dessa forma, para a Warner Bros, apostar um cheque de um volume tão grande, mesmo antes dos custos de marketing, sempre foi um risco considerável. Surge então a indagação: o que levou o estúdio a considerar essa uma aposta que valeria a pena correr?

Filme ‘Uma Batalha Após a Outra’ e o Desafio da Bilheteria - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Aparentemente, alguns filmes possuem um valor que transcende a lucratividade imediata das planilhas de contabilidade. “É o tipo de filme que os executivos apontam quando são criticados por não fazerem mais ‘filmes de verdade'”, observa John Bleasdale, autor de The Magic Hours: The Films and Hidden Life of Terrence Malick. Tais produções servem como um ímã para talentos renomados da indústria, o que muitas vezes é considerado mais crucial do que o dinheiro em si. Mesmo que os executivos da Warner nutrissem a esperança de um estrondo de bilheteria, é vital para o estúdio manter a reputação de um ambiente acolhedor para projetos prestigiados de cineastas aclamados. É o caso de Christopher Nolan, que colaborou com a Warner por quase duas décadas até que desavenças sobre a distribuição de Tenet, em 2020, o levassem para a Universal, onde realizou Oppenheimer, um dos grandes sucessos de 2023.

Essa estratégia explica o empenho da Warner em firmar contrato com diretores como Ryan Coogler (de Pantera Negra e Creed), que produziu Pecadores (2025) com o estúdio, alcançando um notável sucesso. Desse ponto de vista, qualquer projeto que atraia talentos desse calibre pode ser interpretado como um bom investimento a longo prazo. Um exemplo clássico é a frase atribuída a Charles Bluhdorn, então presidente da Paramount, sobre Cinzas no Paraíso, de Terrence Malick: “Eu não me importo se nunca ganharmos um dólar com isso. Eu quero que você continue fazendo filmes com a gente.”

Evidentemente, essa abordagem de longo prazo só é sustentável se outras produções do estúdio forem lucrativas. A Warner conta com um catálogo promissor para 2025, incluindo títulos como Pecadores, Um Filme Minecraft, Premonição 6: Laços de Sangue, F1, Super-Homem, A Hora do Mal e Invocação do Mal 4. Dessa forma, se Filme ‘Uma Batalha Após a Outra’ não tem sido um estouro de arrecadação, ele fortaleceu a reputação da Warner como um lar para cineastas autorais, solidificou a parceria com Paul Thomas Anderson e produziu um filme de alta estima, considerado forte candidato na temporada de premiações.

Lucas Shaw, em episódio do podcast The Town, resume a situação como uma “decisão óbvia”, dada a performance geral da Warner no ano. Ele destaca que o estúdio possui um filme de um grande diretor contemporâneo, com críticas excelentes, e, somado a Pecadores, dois fortes concorrentes ao Oscar. A possibilidade de Paul Thomas Anderson finalmente conquistar uma estatueta pode ser vista como uma vitória, com outros sucessos cobrindo o investimento. “Você dirige um estúdio de filmes, precisa estar disposto a dar saltos grandes,” comenta Shaw, exemplificando a mentalidade da indústria.

Essa narrativa da indústria hollywoodiana remete à série de comédia da Apple TV, O Estúdio, que satiriza o anseio por reconhecimento em detrimento do lucro. Há uma citação memorável de Catherine O’Hara na série: “O trabalho te deixa estressada, em pânico, miserável. Mas quando tudo dá certo e você faz um bom filme, ele é bom para sempre.” Se ainda existem executivos dispostos a investir mais de US$ 130 milhões para realizar um “bom filme”, é algo a ser celebrado. E, sob essa luz, ‘Uma Batalha Após a Outra’ pode não ter sido um risco tão grande. Afinal, fracassar com um filme autoral de um mestre como Paul Thomas Anderson ainda é “ter um filme de Paul Thomas Anderson” — algo a se orgulhar, ao contrário de apostas em animações ou super-heróis que naufragam, como Smurfs ou Flash. Neste sentido, pode ser a aposta mais segura que um executivo pode fazer, garantindo prestígio e reconhecimento artístico ao lado da aspiração de sucesso financeiro.

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Crédito da imagem, Warner Bros


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