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Documentos recentes consultados pela BBC detalham um arranjo exclusivo que possibilita ao Príncipe Andrew residir em uma extensa propriedade real de 30 cômodos localizada em Windsor, na região interior da Inglaterra. O irmão mais novo do rei Charles III, que recentemente se viu novamente no centro de controversas acusações, beneficiou-se de termos financeiros peculiares para ocupar a Royal Lodge, uma mansão com um contrato de locação de 75 anos.
Ao invés de realizar pagamentos de aluguel anuais convencionais, o Príncipe Andrew efetuou vultuosos montantes adiantados no passado. Tais pagamentos, incluindo os destinados à reforma da residência, totalizaram aproximadamente 8 milhões de libras esterlinas, o equivalente a cerca de R$ 57 milhões na cotação atual. Este método de pagamento o isentou de futuras obrigações de aluguel ao longo da duração do contrato, que permanecerá válido até o ano de 2078.
Acordo da Royal Lodge com Príncipe Andrew Detalhado
As novas informações sobre os termos da moradia do Príncipe Andrew vêm à tona em um momento de renovada atenção sobre seu nome. Isso ocorre após a publicação das memórias de Virginia Giuffre, sua principal acusadora em casos de abuso sexual, cujas alegações ressurgiram. O livro foi divulgado esta semana, passados quase seis meses do suicídio de Giuffre. Em suas memórias, ela narra ter mantido relações sexuais com o príncipe Andrew em três ocasiões distintas, uma delas na presença de Jeffrey Epstein, o milionário americano acusado de tráfico sexual, que cometeu suicídio na prisão em 2019 antes de ser julgado. Andrew havia chegado a um acordo financeiro com Giuffre em 2022, sempre negando as acusações de conduta imprópria.
Nos últimos dias, a maneira como o príncipe financia seu estilo de vida tem gerado novos questionamentos, especialmente porque ele não desempenha mais nenhuma função oficial como membro atuante da família real britânica. Tendo renunciado a títulos como o de Duque de York na semana anterior às novas revelações, ele havia assinado o contrato de locação da Royal Lodge em 2003 com a Crown Estate, a corporação independente responsável pela administração de imóveis da família real.
Termos e Obrigações do Contrato da Royal Lodge
A Royal Lodge, listada como um patrimônio tombado no Reino Unido, é mais do que uma simples residência, compreendendo uma casa para jardineiros, uma capela privativa e acomodações com sistema de segurança próprio. O valor do aluguel pago pelo Príncipe Andrew é descrito pelo termo “peppercorn”, um jargão inglês para contratos de longo prazo em que um valor simbólico, como uma única libra esterlina anual, é pago. No caso específico do príncipe, sequer esse montante mínimo era devido.
A divulgação desses termos adiciona uma camada de complexidade às relações da família real, já frequentemente alvo de controvérsias envolvendo o Príncipe Andrew. Além do aspecto financeiro do aluguel, o documento de locação estabelece obrigações claras de manutenção para Andrew. Ele deve garantir que o exterior da Royal Lodge seja conservado em perfeitas condições a cada cinco anos, e que o interior seja repintado e decorado a cada sete anos, englobando atividades como pintura, papel de parede e polimento. Além disso, o príncipe deve zelar pela ordem e manutenção dos vastos jardins e terrenos paisagísticos, e permitir que a Crown Estate inspecione regularmente a propriedade para assegurar o cumprimento integral dos termos do contrato.
Outros detalhes peculiares no contrato incluem restrições como a proibição de pouso de helicópteros no local e a expressa não permissão para jogos de azar na propriedade. Para aprofundar-se sobre a administração dos bens da realeza, consulte o site oficial do governo britânico sobre a Crown Estate: The Crown Estate.
Financiamento e Desafios Financeiros do Príncipe
Relatos do National Audit Office (NAO), um órgão de auditoria independente britânico, esclarecem a magnitude dos pagamentos adiantados. Eles indicam que o príncipe desembolsou 5 milhões de libras (R$ 35 milhões) em reparos, mais 2,5 milhões de libras (R$ 18 milhões) pela opção de rescisão do contrato de aluguel futuro, e um adicional de 1 milhão de libras (R$ 7,2 milhões) como “prêmio” para a Crown Estate. Isso levanta questões sobre como Andrew conseguiu angariar mais de 8 milhões de libras (R$ 57 milhões) em 2003 para assegurar um aluguel de características vitalícias. Esse arranjo financeiro de pagamentos antecipados, de fato, oferece a explicação de como ele pode manter-se na residência sem os encargos mensais de aluguel.
O acordo foi fundamentado em uma estimativa hipotética de aluguel de 260 mil libras anuais (R$ 1,8 milhão). Contudo, a própria Crown Estate reconheceu que seria desafiador locar a propriedade comercialmente para indivíduos fora da família real, dada as estritas restrições de segurança que envolvem uma propriedade situada nos domínios de Windsor. A auditoria do NAO destacou que os custos das reformas, na realidade, superaram as estimativas iniciais, custando a Andrew mais de 7,5 milhões de libras (R$ 53 milhões) em vez dos 5 milhões (R$ 36 milhões) previstos inicialmente no acordo.
Precedentes e Posicionamento Oficial
Historicamente, há precedentes para tais acordos com a Crown Estate. Em 1998, o Príncipe Edward, também irmão do Rei Charles III e de Andrew, firmou um contrato de 50 anos para alugar a residência real Bagshot Park. Edward investiu aproximadamente 580 mil libras (R$ 4,1 milhões) em reformas, montante que subsequentemente escalou para cerca de 1,4 milhão de libras (R$ 10 milhões). No entanto, seu pagamento inicial foi inferior ao de Andrew, e Edward ainda precisa arcar com um aluguel anual de cerca de 90 mil libras (R$ 645 mil), valor que foi ajustado ao longo do tempo conforme a inflação no Reino Unido.
Imagem: bbc.com
É um conhecimento amplamente difundido que a família real britânica deseja que o Príncipe Andrew deixe uma residência tão opulenta. Contudo, é também reconhecido que ele detém um contrato de locação robusto e independente, o que limita as ações para forçar sua saída. Há mais de duas décadas, quando o Príncipe Andrew era uma figura com menor perfil controverso, o arranjo da Royal Lodge era considerado economicamente mais vantajoso para o contribuinte britânico do que uma concessão pura e simples, onde ele moraria sem compensação comercial.
Naquela época, a propriedade, outrora lar da Rainha Mãe, mãe de Elizabeth II, encontrava-se em estado de degradação e necessitava urgentemente de modernização. Fazer com que o príncipe Andrew arcasse com as obras foi visto como uma estratégia para evitar a despesa pública. Devido aos imperativos de segurança inerentes à sua localização na propriedade real de Windsor, a Crown Estate demonstrou interesse em um inquilino da realeza, pois a comercialização no mercado aberto seria complexa. Um relatório do NAO confirmou que o acordo alinhava-se com a obrigação da Crown Estate de oferecer “boa relação custo-benefício” e havia representado um bom investimento na época.
No último ano, o Rei Charles III suspendeu todo o suporte financeiro ao seu irmão. Consequentemente, não há clareza pública sobre como Andrew agora cobre os custos de segurança e a dispendiosa manutenção da Royal Lodge. Até 2019, quando deixou de ser um membro ativo da realeza, ele recebia uma quantia anual do Sovereign Grant, o fundo público para despesas oficiais da monarquia britânica. O valor específico não foi revelado, e não se sabe se ele passou a receber dinheiro de sua falecida mãe, a rainha Elizabeth II, ou se posteriormente recebe apoio financeiro de seu irmão, o rei Charles, por meio de fundos privados.
O Futuro da Royal Lodge e as Demandas de Transparência
O acordo que o permitiu pagar adiantado em vez de arcar com aluguel mensal, juntamente com sua obrigação de realizar substanciais reparos, ajuda a explicar sua aparente relutância em abandonar a Royal Lodge, que ele compartilha com sua ex-esposa, Sarah Ferguson. Uma das cláusulas do contrato previa que, caso ele deixasse a residência antes do término do prazo, teria direito a reaver uma porção do dinheiro pago antecipadamente, com esse valor diminuindo gradualmente ao longo do tempo. Esta garantia expiraria completamente após 25 anos. Quanto mais tempo ele permanecesse no local, menos receberia de volta em caso de desistência do contrato.
Com mais de 22 anos já transcorridos desde a assinatura do contrato, o valor a ser reembolsado tem se reduzido de forma contínua. Pela taxa atual, ele teria direito a cerca de 186 mil libras (aproximadamente R$ 1,3 milhão) por cada ano remanescente até 2028. O contrato de locação está previsto para terminar em junho de 2078, um prazo que certamente extrapola a expectativa de vida do príncipe. Notavelmente, o acordo também inclui uma provisão que permitiria a sua ex-esposa e suas filhas, as princesas Beatrice e Eugenie, continuarem a residir na propriedade.
Nesta terça-feira, o governo britânico comunicou que cabe ao NAO decidir se irá reexaminar ou não os contratos de locação do Príncipe Andrew. A parlamentar Meg Hillier, que preside o comitê do Tesouro da Câmara dos Comuns, ressaltou a necessidade de “respostas” para assegurar que o dinheiro dos contribuintes não seja mal utilizado. Quando questionada sobre os termos da moradia do Príncipe Andrew, Rachel Reeves, ministra das Finanças britânica, declarou não ter conhecimento detalhado, mas afirmou que as pessoas devem “pagar suas despesas e sua justa parte”.
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As complexidades financeiras e os detalhes do acordo do Príncipe Andrew com a Crown Estate continuam a ser um tópico de intensa discussão no Reino Unido. Para mais notícias e análises sobre a família real e assuntos políticos, continue acompanhando nossa editoria de Política.
Crédito: Shutterstock
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