Adaptação de ‘Frankenstein’ por Guillermo del Toro é aclamada no Festival de Veneza

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A aguardada versão de Guillermo del Toro para o clássico “Frankenstein” emergiu como um dos principais destaques do corrente Festival de Cinema de Veneza. A ambiciosa produção, que retrata a intrincada relação entre um cientista genial e sua criação monstruosa, foi recebida com entusiásticos 13 minutos de aplausos de pé por parte do público presente na 82ª edição do festival, conforme relatos da agência de notícias Associated Press (AP).

A concretização deste projeto de longa data resultou de um diálogo anterior entre Del Toro e o chefe da Netflix, Ted Sarandos. Em uma reunião anos atrás, Sarandos inquiriu o renomado diretor sobre filmes que ainda figuravam em sua lista de desejos e projetos não realizados. A resposta de Del Toro incluiu os nomes de “Pinóquio” e “Frankenstein”. Com o endosso de Sarandos, que indicou o financiamento por parte da gigante do streaming, ambos os projetos foram autorizados. O primeiro filme, a aclamada interpretação sombria de “Pinóquio”, uma fantasia de Del Toro, foi lançada em 2022, preparando o terreno para a масштаб da sua nova empreitada.

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Ao abordar o desenvolvimento de “Frankenstein”, o cineasta mexicano alertou à equipe sobre a magnitude do trabalho, afirmando que seria uma produção “grande”. Sua previsão mostrou-se acertada, e o filme de Del Toro já é considerado um dos pontos altos do evento cinematográfico. A obra representa um anseio do diretor que o acompanha por várias décadas. Del Toro compartilhou com a imprensa durante o festival que o projeto é “uma espécie de sonho, ou mais do que isso, uma religião para mim desde criança”, destacando a profunda conexão pessoal que possui com a narrativa e seus temas centrais.

A fascinação de Guillermo del Toro pela história de “Frankenstein” é amplamente atribuída à marcante performance de Boris Karloff na adaptação cinematográfica de 1931, que teve um impacto significativo em sua formação artística. A razão para a longa espera até que sua própria versão pudesse ser concretizada reside na busca por condições ideais de produção. Segundo o diretor, ele sempre esperou que o filme fosse “feito nas condições certas, criativamente, em termos de atingir o escopo necessário, para torná-lo diferente, para fazê-lo em uma escala que permitisse reconstruir o mundo inteiro”. Esse cuidado meticuloso demonstra o compromisso de Del Toro em entregar uma obra que fizesse jus à sua visão e à riqueza do material original.

Agora, com o processo de produção concluído e o lançamento iminente do filme, o diretor brincou sobre seu estado emocional, referindo-se a uma sensação de “depressão pós-parto”, expressando o impacto emocional profundo que a conclusão de um projeto de tal magnitude acarreta. Essa fase de espera para a recepção pública reflete a intensidade de seu envolvimento pessoal.

A aguardada estreia de “Frankenstein” nos cinemas brasileiros está marcada para o mês de outubro, proporcionando ao público uma experiência em telona da grandiosidade que Del Toro promete. Pouco tempo depois, em novembro, o filme estará disponível no catálogo da Netflix para espectadores em todo o mundo. Essas datas marcam a culminância de anos de dedicação e um dos projetos mais ambiciosos do aclamado cineasta.

Legado de uma Criatura Literária

Desde que Mary Shelley concebeu o romance “Frankenstein” em 1818, a narrativa do cientista Victor Frankenstein e sua criação monstruosa se tornou um marco na literatura, inspirando centenas de adaptações ao longo dos séculos. Filmes, séries de televisão, peças teatrais e histórias em quadrinhos reimaginaram a figura icônica, mas a versão de Del Toro promete uma nova perspectiva sobre a saga, conforme o seu desejo de “reconstruir o mundo inteiro” para a história.

Na atual adaptação, o papel do Dr. Victor Frankenstein é desempenhado por Oscar Isaac, enquanto Jacob Elordi interpreta a criatura monstruosa a quem Victor dá vida. Elordi, segundo descrições, surge irreconhecível no papel, evidenciando uma transformação física significativa para a caracterização do personagem. Oscar Isaac compartilhou sua experiência no projeto, lembrando as palavras de Guillermo del Toro: “Estou criando este banquete para você, você só precisa aparecer e comer”. Isaac descreveu a vivência como uma “fusão” e uma profunda conexão com Del Toro, sentindo que atingiu um “auge” criativo em apenas dois anos de envolvimento direto.

Originalmente, o papel da criatura seria de Andrew Garfield, mas o ator teve que se desvincular do projeto devido a conflitos de agenda decorrentes da greve de atores de Hollywood. Foi nesse contexto que Jacob Elordi assumiu o papel com um prazo bastante apertado. Elordi relembrou: “Guillermo me procurou com o processo bem adiantado; eu tinha cerca de três semanas antes de começar a filmar.” Apesar da pressão inicial, ele abraçou o desafio, observando que “parecia uma tarefa monumental, mas, como Oscar disse, o banquete estava lá e todos já estavam comendo quando cheguei, então tive só que puxar uma cadeira. Foi um sonho que se tornou realidade”.

O elenco de peso conta ainda com a participação de Christoph Waltz e Mia Goth. Esta última interpreta Elizabeth, a personagem que se casa com Frankenstein. Contudo, a dinâmica de Elizabeth se destaca à medida que ela desenvolve uma notável gentileza e empatia para com a criatura, contrastando com a relação mais distante e ambivalente de seu marido com a mesma.

Estrutura Narrativa e Recepção Inicial

O filme de Del Toro é concebido em uma estrutura dividida em três partes distintas: um prelúdio seguido por duas versões dos eventos principais. A narrativa se desdobra do ponto de vista de Victor Frankenstein e de sua própria criação, permitindo uma exploração multifacetada dos eventos. Essa abordagem singular proporciona ao público uma compreensão mais profunda tanto da infância de Frankenstein e dos fatores que o levaram ao desenvolvimento de seu projeto ousado quanto, crucialmente, da perspectiva da criatura, ressaltando o quão maltratada ela foi por seu criador.

Adaptação de ‘Frankenstein’ por Guillermo del Toro é aclamada no Festival de Veneza - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Com uma duração que se aproxima das duas horas e meia (totalizando 149 minutos), a obra concede espaço amplo para o desenvolvimento dos personagens e para que suas histórias ganhem complexidade. As primeiras críticas apontam que a duração é justificável, enriquecendo a experiência cinematográfica. Pete Hammond, da publicação Deadline, opinou que o filme “quase merece a duração que tem”, elogiando o “universo criado por del Toro” como “irresistível” e ressaltando um “retorno à grande produção cinematográfica de Hollywood tão pronunciado, que deve ser difícil de contê-lo”. Hammond complementou: “Quando você solta um cineasta do porte de del Toro no laboratório, por que encurtar o filme?”

Apesar da recepção predominantemente favorável, algumas avaliações foram mais ponderadas. Geoffrey McNab, crítico do The Independent, sugeriu que a obra era “só espetáculo e pouca substância”, e acrescentou que, “apesar de toda a maestria formal de Del Toro, este Frankenstein carece, em última análise, da energia necessária para realmente lhe dar vida”. Em contrapartida, David Rooney, do Hollywood Reporter, expressou um entusiasmo maior, descrevendo o filme como “um dos melhores trabalhos de Del Toro” e “uma narrativa em escala épica, de beleza, sentimento e arte incomuns”. Jane Crowther, da Total Film, concedeu quatro estrelas à produção, avaliando-a como “Magistralmente elaborada e com temática pertinente, Frankenstein, de Guillermo del Toro, é uma adaptação elegante, embora não tão ousada, com potencial para premiações.”

A Visão de Del Toro: Humanizando o Monstruoso

Guillermo del Toro, aos 60 anos, é reconhecido como um dos diretores mais queridos e respeitados de sua geração, amplamente estimado na indústria cinematográfica por sua paixão pelo cinema e sua ambição ilimitada quanto ao que a sétima arte pode alcançar. Sua predileção por histórias que envolvem monstros e criaturas fantásticas o tornou uma figura proeminente em Hollywood. Seus trabalhos notáveis incluem “O Labirinto do Fauno”, “Círculo de Fogo” e “A Forma da Água”, este último premiado com os Oscars de Melhor Filme e Melhor Diretor em 2018.

A profunda afeição de Del Toro por figuras consideradas “monstros” é uma marca registrada de sua obra. Ele tem a notável capacidade de humanizá-los, suscitando a simpatia do público por personagens que, tradicionalmente, são percebidos como vilões. No contexto de “Frankenstein”, Del Toro revela sua intenção específica: “Eu queria que a criatura nascesse de novo. Muitas das interpretações são como vítimas de acidentes, e eu queria beleza”. Essa abordagem visa redefinir a percepção da criatura, conferindo-lhe uma dimensão mais complexa e uma estética distinta da habitual.

A minúcia e a visão artística de Del Toro se estenderam a cada etapa da produção de “Frankenstein”, com uma atenção primorosa a figurinos e cenários. Ele deu preferência explícita a construções físicas e realistas, minimizando o uso de computação gráfica (CGI, da sigla em inglês para “computer generated imagery”). Christoph Waltz, um dos atores do elenco, fez uma brincadeira durante a coletiva de imprensa, comentando provocativamente: “CGI é para perdedores”, gerando risadas. Del Toro corroborou essa linha de pensamento, acrescentando que filmar em cenários concretos e táteis frequentemente resulta em performances mais autênticas por parte dos atores, em comparação com as tomadas realizadas em frente a telas verdes. O cineasta traça uma distinção clara entre CGI e o trabalho manual artesanal, comparando a primeira a “colírio para os olhos” e o segundo a “proteína para os olhos” — uma analogia que ele frequentemente emprega para enfatizar que seus filmes transcendem o espetáculo visual, oferecendo igualmente uma substância narrativa e emocional profunda. Contudo, Del Toro ressaltou que, naturalmente, utiliza efeitos digitais quando sua aplicação é estritamente indispensável.

Embora a premissa de um ser inteligente criado que eventualmente opera sob seus próprios termos possa evocar comparações contemporâneas, Guillermo del Toro esclarece que seu filme “não pretende ser uma metáfora” para a inteligência artificial, conforme algumas sugestões críticas. Em vez disso, o diretor refletiu sobre os temas fundamentais que permeiam a obra. Ele observou: “Vivemos em uma época de terror e intimidação, e a resposta, da qual a arte faz parte, é o amor.”

A questão central da novela original, desde seu início, questiona “o que é ser humano?”. Para Del Toro, “não há tarefa mais urgente do que permanecer humano em uma época em que tudo caminha para uma compreensão bipolar da nossa humanidade. E isso não é verdade, é inteiramente artificial.” O cineasta expandiu sua análise, afirmando: “A característica multicromática de um ser humano é poder ser preto, branco, cinza e todos os tons intermediários. O filme tenta mostrar personagens imperfeitos e o direito que temos de permanecer imperfeitos”. Essa profunda reflexão sublinha o intento do diretor em explorar as complexidades da condição humana através de uma narrativa atemporal, resistindo a simplificações e polarizações, enquanto celebra as nuances e falhas que nos definem.

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A nova interpretação de Del Toro para a história de Mary Shelley não só demonstra sua mestria técnica e criativa, mas também reitera seu compromisso com narrativas que exploram a essência da humanidade e a beleza na imperfeição, temas que ressoam profundamente em seu corpo de trabalho.

Com informações de BBC News Brasil


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