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O Aeroporto Internacional El Dorado, em Bogotá, Colômbia, ascendeu à posição de aeroporto mais movimentado da América Latina, desbancando pela primeira vez na história seus tradicionais concorrentes de São Paulo, no Brasil, e Cidade do México, no México. Esta mudança marca um novo capítulo na dinâmica do tráfego aéreo regional, consolidando a capital colombiana como um ponto central nas rotas do continente.
Historicamente, os aeroportos da Cidade do México e de São Paulo dominavam o cenário de tráfego aéreo na América Latina e no Caribe. Tal liderança era um reflexo direto de suas posições como sedes das cidades mais populosas e das maiores economias da região. No entanto, o crescimento constante do El Dorado, situado em uma cidade com aproximadamente metade dos habitantes dessas metrópoles, impulsionou uma reconfiguração notável no ranking de movimentação de passageiros.
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De acordo com dados fornecidos pelo Conselho Internacional de Aeroportos para a América Latina e o Caribe (ACI-LAC), o ano de 2024 registrou um volume de 45.802.360 passageiros transitando pelo aeroporto de Bogotá. Este número posicionou El Dorado na primeira colocação, fato inédito desde sua inauguração em 1959, prevendo sua consolidação entre 2024 e 2025.
Em comparação, a Cidade do México, que historicamente detinha a liderança, ficou na segunda posição, com 45.359.485 passageiros no mesmo período. O Aeroporto Internacional de Guarulhos (GRU), em São Paulo, anteriormente vice-líder, desceu para o terceiro lugar no ranking regional, totalizando 43.565.746 passageiros em 2024. Apesar da queda na classificação latino-americana, Guarulhos mantém-se como o maior aeroporto do Brasil. Sua movimentação foi significativamente superior à de Congonhas, em São Paulo, que registrou 23,1 milhões de passageiros e ocupa a sétima posição, e quase o triplo do registrado em Brasília, que alcançou 15,1 milhões e está na décima colocação. Os números também indicam que Guarulhos conseguiu recuperar o patamar de tráfego aéreo pré-pandemia, registrando em 2024 um volume de passageiros praticamente igual ao de 2019, quando 43,1 milhões de pessoas transitaram pelo terminal.
A ascensão de El Dorado não se limita apenas ao fluxo de passageiros. O aeroporto de Bogotá também conquistou a liderança em outras métricas importantes, como o volume de carga aérea transportada e a movimentação total de aeronaves em todo o continente. Esse desempenho abrangente demonstra a complexidade e a abrangência do crescimento experimentado pelo terminal colombiano. Enquanto as autoridades da capital colombiana celebram os marcos alcançados, especialistas do setor de aviação avaliam o cenário, elogiando a alta competitividade, mas também levantando questionamentos sobre os desafios que El Dorado enfrenta. Com o aumento expressivo no número de passageiros e de operações, o aeroporto de Bogotá é, em alguns aspectos, considerado de porte reduzido e, ocasionalmente, apontado como burocrático, indicando áreas para futuras melhorias.
Transformação de Uma Percepção: De Pequeno a Gigante Regional
A diretora da consultoria Tourism Innovation Consulting e especialista em turismo, María Fernanda Sánchez, relembra uma realidade distinta de apenas duas décadas atrás. Segundo ela, o El Dorado era então percebido como “pequenino, como um grande casarão, pouco funcional, velho, com apenas seis ou sete portas de saída”. Naquele período, o aeroporto estava distante de se igualar a outros importantes terminais de capitais latino-americanas em termos de infraestrutura e eficiência. Hoje, Sánchez descreve uma cena totalmente diferente: “Há dezenas de portas, uma grande infraestrutura, modernidade, eficiência e tecnologia de ponta”, conforme declarado à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
A metamorfose do aeroporto El Dorado começou em 2006, quando o governo colombiano tomou a decisão de implementar um projeto ambicioso para remodelar, ampliar e modernizar progressivamente o principal portal aéreo da capital. Este esforço de infraestrutura coincidiu com uma significativa transformação na percepção internacional da Colômbia. Especialistas consultados pela BBC corroboram que esta mudança na imagem do país caminhou lado a lado com a decolagem do setor aeroportuário. A era da política de “segurança democrática” de Álvaro Uribe, que governou a Colômbia entre 2002 e 2010, é citada como um fator chave. Durante esse período, o país começou a projetar uma imagem de maior segurança, encorajando visitantes e sinalizando que era possível explorá-lo sem maiores riscos. Apesar das críticas e relatos de abusos associados às forças estatais e grupos paramilitares da época, a política de Uribe contribuiu para uma redução nos índices de violência e enfraqueceu as guerrilhas de esquerda que travavam um conflito de longa data com o Estado colombiano.
Um marco adicional foi o acordo de paz histórico assinado em 2016 entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o governo, o que impactou ainda mais positivamente a percepção internacional sobre a nação. Sánchez comenta que, até aquele momento, a Colômbia para muitos era associada principalmente a Cartagena, uma cidade caribenha, que muitas vezes era vista como quase dissociada de um país frequentemente rotulado como violento e inseguro. Desde então, com exceção da paralisação imposta pela pandemia de Covid-19, o número de turistas estrangeiros na Colômbia tem crescido constantemente, atingindo um recorde de 6,7 milhões de visitantes em 2024. A vasta maioria desses viajantes utiliza o reformado e ampliado Aeroporto El Dorado como porta de entrada no país. Combinando esta renovação de infraestrutura com uma localização geograficamente vantajosa, o El Dorado conseguiu suplantar alguns dos aeroportos mais estabelecidos e competitivos do continente.
Vantagem Geográfica e Eficiência para Companhias Aéreas
A localização estratégica de Bogotá no mapa desempenha um papel fundamental em sua nova proeminência. Ao comparar sua posição com a de São Paulo e Cidade do México em relação a destinos globais populares entre cidadãos latino-americanos — como Madri, na Espanha; Miami e Nova York, nos Estados Unidos; ou Londres — percebe-se que Bogotá está em um ponto privilegiado. Aberta para o Oceano Atlântico, próxima ao Caribe e situada perto da linha do Equador, a capital colombiana detém uma posição de portal ideal para a América do Sul.
Andrés Santamaría, diretor do Instituto Distrital de Turismo da Prefeitura de Bogotá, reforça essa perspectiva ao salientar a conveniência de sua localização. Ele afirma que diversos dos principais destinos nas Américas Central, do Sul e até mesmo Miami, nos Estados Unidos, estão a aproximadamente três horas e meia de voo, ou menos, de Bogotá. Essa centralidade reduz significativamente os tempos de deslocamento, tornando a cidade um ponto de conexão atraente para viajantes e companhias aéreas.
As empresas aéreas também encontram uma vantagem considerável na altitude elevada de Bogotá. A capital colombiana está a mais de 2.600 metros acima do nível do mar, posicionando-a como a terceira capital mais alta do continente, atrás apenas de Quito, no Equador, a 2.800 metros, e La Paz, a capital administrativa da Bolívia, a 3.600 metros. Em aeroportos localizados em grandes altitudes, as aeronaves podem economizar tempo e combustível durante os procedimentos de decolagem e aterrissagem. O ar menos denso nessas altitudes permite que os aviões atinjam a altura necessária com maior eficiência, conforme explicam Sánchez e Santamaría. Essa economia operacional, em termos de tempo e consumo de combustível, pode refletir-se diretamente em passagens aéreas com preços mais competitivos para os consumidores, o que constitui um diferencial para as companhias. Dada a combinação dessas condições favoráveis, não é surpresa, como pontua María Fernanda Sánchez, que companhias aéreas de prestígio, como a Emirates Airlines, tenham estabelecido voos diários entre Bogotá, Miami e Dubai, e que um número significativo de companhias com acordos de codeshare escolha El Dorado como um de seus principais pontos de escala.

Imagem: bbc.com
Bogotá: um Hub para Negócios e Turismo em Ascensão
O crescimento robusto do fluxo de passageiros tem evidenciado às autoridades de Bogotá um enorme potencial para explorar o turismo e os negócios, áreas que, segundo suas projeções, podem elevar ainda mais os números do Aeroporto El Dorado. Cidadãos de Bogotá acostumados a viajar manifestam surpresa diante do intenso boom turístico que sua capital e a Colômbia de forma geral vivenciam. Antes, muitos consideravam sua cidade como a “capital feia da América Latina” e observavam outras cidades colombianas, como Medellín e Cartagena, ganharem destaque como destinos mais atraentes para o público internacional.
Andrés Santamaría ressalta a magnitude dessa oportunidade: “Dos mais de 45 milhões de passageiros que passam anualmente por El Dorado, cerca de seis milhões são cidadãos estrangeiros em trânsito”. Ele vê essa massa de viajantes como uma chance singular para Bogotá: “É algo que muitas cidades fazem ao redor do mundo: atrair passageiros para que fiquem por mais tempo e que, no futuro, pensem em Bogotá como destino turístico.” Para aproveitar essa oportunidade, diversas empresas e instituições estão coordenando esforços com um propósito comum. A Avianca, companhia aérea colombiana e uma das mais antigas do mundo, que tem em Bogotá seu principal hub, mantém uma estratégia chamada “stopover”. Essa iniciativa permite que passageiros em trânsito troquem sua passagem sem custos para uma parada de até 24 horas na cidade. Este tipo de programa é um incentivo direto para que os viajantes explorem Bogotá antes de continuar suas jornadas.
Empresas dos setores de turismo, transporte, hotelaria, juntamente com as autoridades locais, trabalham em conjunto para amplificar a visibilidade da cidade como um destino atraente. O foco recai em sua gastronomia rica e sua cultura vibrante, tanto para viajantes de longa quanto de curta permanência. Essas estratégias também são meticulosamente desenhadas para capturar o grande volume de passageiros que viajam a negócios. Bogotá tem investido significativamente, há tempos, no turismo de reuniões, sendo palco para uma variedade de congressos, simpósios, cursos e encontros corporativos, conforme observado por Sánchez. A cidade tem impressionado pela quantidade de eventos que acolhe, em grande parte devido à infraestrutura e à conectividade oferecidas pelo aeroporto.
Para o mundo corporativo, Bogotá se estabeleceu como um ponto de encontro estratégico: “Se preciso fazer uma reunião com meus executivos, o ponto para todos na América Latina é Bogotá. Existem voos de toda a região e de aeroportos importantes da Europa e dos Estados Unidos,” explica a especialista. Essa centralidade facilita a logística de encontros multinacionais. Analistas da indústria observam uma simbiose entre o crescimento do aeroporto de Bogotá e o desenvolvimento da própria cidade. Há uma crença de que um impulsiona o outro em um ciclo virtuoso. Se essa coordenação for implementada com sucesso e eficiência, Andrés Santamaría estima que poderia gerar um adicional de 700 mil a 1 milhão de passageiros por ano no futuro próximo, consolidando ainda mais a posição de Bogotá no cenário global.
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Desafios: Concorrência, Burocracia e Limites de Infraestrutura
Apesar do cenário de ascensão, o futuro de El Dorado não está isento de desafios. Uma coisa é a intenção de manter a liderança; outra, é a realidade de uma concorrência acirrada e limitações intrínsecas. Diversas capitais latino-americanas estão investindo em seus aeroportos e disputam os céus do continente. Um fator relevante para a ascensão de Bogotá foi a entrada em operação de um novo concorrente. Além do tradicional aeroporto Benito Juárez, a Cidade do México inaugurou em 2022 o Aeroporto Internacional Felipe Ángeles. A própria prefeitura de Bogotá reconhece que este novo terminal foi um elemento fundamental para a redução do número de passageiros no principal aeroporto da capital mexicana e, consequentemente, para o crescimento do El Dorado no ranking latino-americano.
Em outra frente, Lima, no Peru, está prestes a inaugurar um novo aeroporto em maio de 2025. Esse empreendimento possui uma localização estratégica particularmente privilegiada para voos que se conectam ao Canadá e à Argentina, especialmente aqueles operados por aviões de fuselagem estreita. Além disso, a capital peruana está mais próxima de países asiáticos como a China, uma potência que vem intensificando suas relações de investimento e cooperação com a América do Sul nas últimas décadas, o que pode direcionar um fluxo considerável para seu novo terminal. A necessidade de modernização e ampliação do El Dorado é, de fato, o ponto que levanta as maiores dúvidas sobre a capacidade de manutenção de sua liderança a curto e médio prazo. “Hoje, ele consegue atender o grande número de passageiros, mas precisará ser ampliado para continuar crescendo”, explica Santamaría. Ele afirma que “é evidente” e que já existem planos de ampliação previstos para 2027.
Com seus dois terminais, El Dorado compete diretamente com os dois terminais do aeroporto Benito Juárez, na Cidade do México, mais o recém-inaugurado aeroporto Felipe Ángeles, e os três terminais de Guarulhos. “Nós cresceríamos muito com a ampliação do aeroporto, mas cumprir com este objetivo a tempo é um desafio”, admite Santamaría. Ele reconhece que “a Colômbia e Bogotá não esperavam ter esta percepção turística que se observa agora,” o que demanda um ritmo de adaptação acelerado. Outras preocupações igualmente importantes surgem no horizonte. A primeira delas é a persistente burocracia, um aspecto que, de acordo com observadores, permeia a maioria das instituições estatais colombianas. Passageiros e analistas frequentemente se queixam do tempo prolongado de espera nos balcões de imigração. Em horários de pico, a experiência da viagem pode ser significativamente impactada por estas demoras.
Maria Fernanda Sánchez descreve o cenário: “O boom de Bogotá e seu aeroporto ficou fora de controle na imigração. Existem ocasiões em que as pessoas ficam três horas paradas, esperando por um carimbo. Isso não pode acontecer.” Apesar da crítica, ela reconhece os avanços tecnológicos implementados, como a instalação de portas de reconhecimento biométrico, que têm o potencial de aumentar a eficiência. “Por fim, existe a segurança”, acrescenta Sánchez. Ela observa que a percepção de segurança é muito distinta das décadas anteriores, mas que percebe “uma preocupação crescente, devido a casos como o recente assassinato do senador Miguel Uribe Turbay (1986-2025), ocorrido na cidade”. Os próximos meses serão cruciais para determinar se esses desafios em termos de infraestrutura, burocracia e segurança poderão comprometer o dinamismo de Bogotá como um centro turístico e aeroportuário. À medida que os números e rankings forem atualizados, a verdadeira resiliência da capital colombiana será testada. Por enquanto, autoridades e empresas do setor trabalham ativamente para maximizar esse boom, na expectativa de que ele seja muito mais do que uma moda passageira, consolidando-se como uma nova realidade para a Colômbia no cenário global da aviação.
Com informações de BBC News Brasil
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