Afundamento do Solo no Irã Ameaça Relíquias do Império Persa

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O afundamento do solo no Irã emerge como uma grave ameaça à integridade de milenares sítios arqueológicos, incluindo a capital cerimonial do antigo Império Persa, Persépolis. As estruturas de pedra esculpida e as grandiosas colunas deste Patrimônio Mundial da Unesco, que sobreviveram por 2,5 mil anos, enfrentam agora a fragilidade das planícies circundantes, que afundam a uma velocidade de dezenas de centímetros anuais.

Embora o terraço principal de Persépolis esteja solidamente edificado sobre rocha e se mova minimamente, as áreas vizinhas, compostas por sedimentos antigos, estão suscetíveis. A planície de Marvdasht, que se estende por menos de meio quilômetro de Persépolis e a até 10 metros de Naqsh-e Rostam, exibe fissuras e fragmentações crescentes, evidenciando o dramático fenômeno.

Afundamento do Solo no Irã Ameaça Relíquias do Império Persa

De acordo com Mahmud Haghshenas Haghighi, do Instituto de Fotogrametria e Geoinformação da Universidade Leibniz, a velocidade variável em que a terra está cedendo, conhecida como subsidência, é a principal causa das rachaduras e danos observados nas imediações destes tesouros históricos. Persépolis, fundada em 518 a.C. por Dario I, é um dos mais impressionantes palácios do rei dos reis, sendo descrita pela Unesco como uma das maiores riquezas arqueológicas globais.

Designada Patrimônio Mundial em 1979, Persépolis é um “testemunho único de uma das mais antigas civilizações”, destacando a “joia do conjunto aquemênida nos campos da agricultura, planejamento urbano, tecnologia de construção e arte”. Esta civilização deu origem ao vasto Império Persa, a primeira superpotência mundial que se estendeu da Líbia até a Índia.

Outros Tesouros Persas em Risco de Subsidência

Não apenas Persépolis, mas muitos dos 28 locais iranianos classificados como Patrimônio Mundial pela Unesco estão em áreas com afundamento de solo significativo. Entre eles, destacam-se Pasárgada, a capital inicial do Império Persa, e a histórica cidade de Yazd. Autoridades iranianas alertam também para riscos de subsidência em Isfahan, outro Patrimônio Mundial, onde pontes e mesquitas milenares se encontram nas bordas de zonas de afundamento. A Ferrovia Transiraniana, uma colossal obra de 1.394 km reconhecida como Patrimônio Mundial em 2021, igualmente atravessa regiões que afundam, ameaçando a estabilidade de seus trilhos e a segurança de sua operação.

Os pesquisadores Mahdi Motagh, do Centro de Geociências GFZ Helmholtz da Universidade Leibniz, e sua equipe utilizam tecnologia de radar para monitorar as alterações sutis na superfície da Terra, medindo deslocamentos de poucos milímetros. Seus estudos revelam preocupantes variações na profundidade de subsidência em Persépolis e Naqsh-e Rostam. Elementos arquitetônicos esculpidos diretamente no calcário, como em Naqsh-e Rostam, permanecem estáveis por enquanto, mas as planícies adjacentes cedem rapidamente, causando fissuras dramáticas na interface entre a rocha estável e a terra em movimento. Alguns locais já sofreram danos irreversíveis, com uma rachadura evidente que atravessa o Cubo de Zoroastro em Naqsh-e Rostam, conforme revelado pelas pesquisas.

A Raiz do Problema: Esgotamento dos Aquíferos Iranianos

A principal causa do afundamento do terreno no Irã é a exploração excessiva e insustentável das águas subterrâneas. Segundo o professor Motagh, este processo leva à compactação do solo e ao subsequente afundamento da superfície terrestre, muitas vezes de forma permanente. A seca persistente e as condições climáticas mais quentes agravam a situação, diminuindo a recarga dos aquíferos, tornando o Irã um dos países que mais rapidamente perdem suas reservas hídricas subterrâneas.

O consumo hídrico iraniano supera as fontes naturais há décadas. Inicialmente esgotando rios e reservatórios, o país passou a drenar intensamente as reservas subterrâneas a partir dos anos 1970. Estima-se que mais de 70% dos aquíferos iranianos já tenham sido esgotados. Andrew Pearson, do Centro Internacional de Avaliação dos Recursos Aquíferos (IGRAC), enfatiza que estudos revisados por pares apontam o Irã como um dos maiores consumidores mundiais de água subterrânea, com cerca de 90% do uso concentrado na agricultura, e que o uso excessivo, intensificado pela seca, é a principal causa do esgotamento.

Afundamento do Solo no Irã Ameaça Relíquias do Império Persa - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Os impactos desta crise hídrica transcendem o patrimônio cultural. Uma análise nacional recente mostrou que aproximadamente 56 mil quilômetros quadrados de território iraniano, equivalentes a 3,5% do país, sofrem subsidência mensurável. Algumas regiões da capital, Teerã, têm registrado afundamento de cerca de 25 cm anualmente nas últimas décadas. Em Rafsanjan, no sudeste do país, vastas plantações de pistache resultam na extração de cerca de 300 milhões de metros cúbicos de água dos aquíferos anualmente. As consequências incluem danos severos à infraestrutura, com estradas, canais e tubulações que se inclinam e se entortam, gerando enormes prejuízos econômicos.

Problema Global, Consequências Locais Dramáticas

A situação do Irã, embora grave, não é isolada. Grandes metrópoles como Cidade do México, Jacarta (Indonésia) e o Vale Central da Califórnia (EUA) também enfrentaram taxas de afundamento que atingiram 100 mm por ano em algum momento. O que singulariza o caso iraniano é a amplitude e a intensidade do processo, somada ao grande número de locais históricos em perigo. O professor Pietro Teatini, da Universidade de Pádua, na Itália, alerta que, devido ao ambiente geológico iraniano, a subsidência costuma vir acompanhada de fissuras e rupturas de superfície que podem se estender por quilômetros, alcançando vários metros de profundidade, com severas implicações para estruturas e infraestrutura. A região do Oriente Médio e norte da África, incluindo Egito, Arábia Saudita, Israel e Territórios Palestinos, enfrenta problemas semelhantes, caracterizada como uma das mais estressadas hídricamente no mundo. Para a Unesco, que organiza seminários em outras nações, as circunstâncias políticas dificultam a colaboração com o Irã em ações de mitigação.

Gestão de Recursos Hídricos: Desafios e Possíveis Soluções

Especialistas da Unesco reiteram que a subsidência, uma vez ocorrida, é praticamente irreversível, como evidenciado em casos de Espanha, México, China e Indonésia. A gestão sustentável das águas subterrâneas é, portanto, vital, especialmente em regiões áridas como o Irã. Há um consenso sobre a necessidade de uma gestão integrada dos recursos hídricos, embora existam barreiras sociais e políticas consideráveis, especialmente em regiões que dependem massivamente da agricultura para subsistência.

Apesar dos obstáculos e sanções internacionais, que atrasam a implementação de programas eficazes, o Irã prometeu reduzir o consumo nacional de água em 45 bilhões de metros cúbicos por ano ao longo de sete anos, através de iniciativas como reuso, irrigação por gotejamento e melhorias no abastecimento. Entretanto, a falta de investimento e a burocracia são entraves. As experiências de outros países podem oferecer soluções. Bangkok, na Tailândia, por exemplo, registrava afundamento de 120 mm anualmente nos anos 1980. Contudo, após o governo tailandês implementar limites de bombeamento e monitoramento rigoroso, a subsidência foi drasticamente reduzida para 10-20 mm por ano em muitas áreas até os anos 2000, conforme ressaltou Andrew Pearson, demonstrando que políticas hídricas eficazes funcionam.

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Em suma, a preservação do Patrimônio Mundial no Irã depende intrinsecamente de uma gestão hídrica inovadora e sustentável. Este cenário crítico impulsiona a urgência em encontrar meios eficazes de conservar a água e, consequentemente, resguardar as valiosas relíquias do Império Persa para as futuras gerações. Para mais informações sobre questões geopolíticas e análises globais, continue explorando nossa editoria em Política.

Crédito, Getty Images


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