Al Gore Se Surpreende com Ascensão da Liderança Climática da China

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Al Gore, figura proeminente na discussão global sobre meio ambiente e ex-vice-presidente dos Estados Unidos, revela sua surpresa com a atual liderança climática da China. Ele declara que não teria previsto um cenário onde a nação asiática emerge como a principal força na transição energética global há 25 anos. Durante sua campanha presidencial nos EUA, Al Gore defendia uma plataforma de ação climática ambiciosa, com os Estados Unidos naturalmente posicionados para liderar uma transformação ambiental global.

A ironia dos acontecimentos desde então não escapa ao político americano. Questionado sobre a ascensão da China ao posto de maior protagonista na transição energética, Gore admite que, “olhando da perspectiva de 25 anos atrás, eu teria que dizer que não, não veria este como o resultado mais provável.” Este desfecho teria parecido quase “fantástico” para o então candidato que aspirava a guiar a política climática americana diretamente do Salão Oval.

Essa guinada no protagonismo climático é tema central de seu nono relatório anual, elaborado em parceria com Lila Preston, da Generation Investment Management, uma firma de investimento focada em sustentabilidade. A avaliação abrangente detalha tanto os preocupantes revés nas políticas climáticas dos EUA quanto a notável ascensão da China, denominada por eles como o “primeiro eletroestado” do mundo. Assim, o ponto de virada na geopolítica ambiental ressalta:

Al Gore Se Surpreende com Ascensão da Liderança Climática da China

O relatório examina profundamente as tendências de sustentabilidade observadas nos últimos anos, ponderando o impacto das mudanças de administração nos EUA na percepção global de sua confiabilidade como líder em desafios globais de longo prazo.

Para Gore, o fundamental não é lamentar a proeminência chinesa, mas celebrar que “alguém está agindo” enquanto expressa frustração pela forma como os EUA cederam seu papel. O planeta, segundo ele, “não se importa com qual país lidera a carga rumo à sustentabilidade, desde que alguém o faça.” A maior preocupação reside no custo de oportunidade: o sentimento de que a inovação e influência americanas poderiam acelerar o progresso global, caso o país não estivesse desmantelando suas próprias políticas climáticas.

Dinâmicas da Transição Energética Global e Retrocessos Americanos

Ao abordar a volatilidade política dos EUA, Gore destaca uma dualidade: “Existe uma grande roda girando na direção certa, e há algumas rodas menores dentro da grande roda girando na direção oposta.” Ele aponta um progresso mundial significativo; há uma década, na época do Acordo de Paris, 55% dos investimentos em energia iam para combustíveis fósseis e apenas 45% para a transição energética. Atualmente, esses números se inverteram, com 65% do financiamento destinado a energias renováveis e somente 35% para fósseis, uma tendência em aceleração. Embora os Estados Unidos tenham desempenhado um papel crucial, as mudanças partidárias têm resultado em um movimento inconsistente, o que é lamentável, pois a liderança sustentada dos EUA seria imensamente benéfica para o mundo. Apesar dos “passos negativos” de certas administrações, Gore crê que a transição global é imparável, embora o ritmo americano possa ser mais lento.

Lila Preston ressalta a magnitude do desafio energético imposto pelo avanço tecnológico. Ela menciona que o aumento massivo da demanda por energia, com cerca de 65% vindo dos EUA, representa um “choque para o sistema”. Atualmente, o uso de energia por data centers corresponde a 2% do total global, mas a expectativa é que esse número pelo menos dobre até 2030. No entanto, ela e Gore acreditam que energias renováveis, armazenamento e, a longo prazo, a energia geotérmica, podem suprir essa demanda. Há também o potencial das aplicações de IA em setores como energia, transporte e agricultura para reduzir as emissões globais em 6% a 10% anualmente até 2035. Contudo, Preston alerta para a “pegada hídrica” significativa, estimada em um trilhão de galões anualmente até 2027, demandando uma abordagem holística para essa “enorme mudança de plataforma”.

A Ascensão da China como ‘Primeiro Eletroestado’

Questionado sobre o cenário inimaginável de 25 anos atrás, onde a China se tornaria o “primeiro eletroestado” do mundo, enquanto os EUA abandonavam a corrida pela liderança em tecnologia limpa, Gore reiterou sua surpresa. Contudo, ele sempre se impressionou com a disposição da liderança chinesa em ouvir atentamente sua comunidade científica. O relato sobre a China hoje é mais claro: diante de secas recordes que reduziram sua capacidade hidrelétrica, alguns líderes regionais se preocuparam com possíveis demissões, levando à construção de usinas de carvão que, no entanto, operam com 50% ou menos de sua capacidade.

Enquanto isso, a expansão da energia solar na China é assombrosa, com o país atingindo sua meta solar seis anos antes do previsto. Este ano, por vários meses, a China tem inaugurado o equivalente a três novas usinas nucleares de um gigawatt em capacidade solar *por dia*. No início deste ano, Pequim anunciou que não deseja mais ser avaliada por métricas de intensidade de carbono, mas sim por “reduções reais” de emissões. Para Gore, esse é um “sinal claro”, pois “eles nunca se submetem a um padrão que não acreditam que possam alcançar e exceder”. Esta constatação corrobora dados de outras instituições globais, que alertam para a urgência de uma transição energética acelerada, conforme amplamente detalhado em relatórios como os do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), principal organismo internacional para avaliar as alterações climáticas.

Desafios e Controvérsias: da IA aos Minerais

No que concerne às políticas dos EUA, Gore manifesta preocupação. Ele critica a proposta da EPA de encerrar a exigência de que milhares de usinas de carvão e refinarias relatem suas emissões de gases de efeito estufa. Para ele, isso é parte da “aparente intenção de fazer a crise desaparecer, fazendo desaparecer toda a informação que descreve a crise”. No entanto, há notícias mais amenizadoras: os parceiros da Generation Investment Management foram alguns dos principais financiadores da Climate TRACE, que monitora em tempo real as emissões atmosféricas de carbono.

Graças à Climate TRACE, 99% das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo são agora medidas, abrangendo os 660 milhões maiores locais de emissão pontual. Isso inclui todos os sites significativos nos EUA. A frase “você só pode gerenciar o que você mede” é um pilar da estratégia. Preston adiciona que a Climate TRACE está colaborando com o setor privado em iniciativas de visibilidade da cadeia de suprimentos. Empresas como Altana, do portfólio da Generation, já se uniram à plataforma para oferecer avaliação em tempo real dos riscos e oportunidades da cadeia.

A discussão também aborda o Projeto Stargate de US$ 500 bilhões, anunciado pelo ex-presidente Donald Trump em janeiro, para construir enormes data centers de IA, começando no Texas. A preocupação é como o desenvolvimento ambicioso da IA pode ameaçar os objetivos climáticos. Gore ressalta que muitos dos maiores construtores de novas capacidades de IA estão reconhecendo as grandes vantagens de custo da energia solar combinada com baterias. Empresas de tecnologia também se esforçam para alinhar sua demanda por IA com metas de sustentabilidade, mesmo que o uso de eletricidade por data centers aumente.

Al Gore Se Surpreende com Ascensão da Liderança Climática da China - Imagem do artigo original

Imagem: Getty via techcrunch.com

Outro ponto crítico é a questão da justiça ambiental. Um relatório indicou que a xAI de Elon Musk estava operando turbinas a gás sem permissão por mais de um ano em seu data center em Memphis, numa comunidade majoritariamente negra (97%) que já enfrenta problemas de qualidade do ar e tem um risco de câncer cinco vezes maior do que a média nacional. Gore descreve isso como uma “grande preocupação” e “injustiça ambiental”. Ele critica o lobby da indústria de combustíveis fósseis, que “usa seu poder político e econômico para capturar o controle do processo de formulação de políticas em muitas jurisdições”. Ele cita o caso de uma lei aprovada no Tennessee que impede comunidades de interferir em infraestruturas de combustíveis fósseis após um bloqueio bem-sucedido de um gasoduto na região.

A expansão da indústria de plásticos também é destacada por Gore, sendo o terceiro maior mercado petroquímico da indústria fóssil. Ele afirma que o lobby dessa indústria frustrou negociações globais para limitar a quantidade de partículas plásticas que o mundo absorve. Por outro lado, ele observa que o mundo está reagindo, e comunidades como Memphis “estão dizendo: ‘Espere um minuto, não vamos aceitar todo esse fardo injusto aqui'”.

A busca por metais preciosos para a indústria de tecnologia é um tópico que se soma ao debate. Diante de ameaças de tarifas, a necessidade de minerais críticos cresceu. Gore enfatiza que esses materiais “precisam ser minerados de forma responsável e sustentável, e podem ser”. É crucial eliminar “práticas abusivas e nocivas”. No entanto, ele compara os volumes: o impacto da mineração desses metais é ínfimo perto dos danos causados pela extração de combustíveis fósseis diariamente. Preston menciona inovações em modelagem avançada e IA para prospecção, reduzindo o impacto em paisagens e comunidades locais. Há “muito progresso nos últimos três a quatro anos”, especialmente após os “alarmes globais” sobre a necessidade de maior sustentabilidade.

Mesmo o boom da indústria espacial é examinado. Gore pondera as emissões de carbono geradas pelo lançamento de foguetes. Sua visão é que a utilidade da observação da Terra a partir do espaço “excede o dano dos lançamentos espaciais por uma boa margem”, justificando a pegada de carbono.

Otimismo Cauteloso de Al Gore

Ao concluir, Al Gore reitera seu otimismo impulsionado pelo “avanço constante e até acelerado de todas as soluções de que precisamos”. Elas continuam a se tornar mais baratas, e a capacidade da indústria de combustíveis fósseis de resistir a essa transição diminui continuamente. Para ele, “esta transição é imparável”.

Contudo, a questão persistente é se essa transição ocorrerá a tempo de evitar “pontos de inflexão negativos”. Ele exemplifica com um “relatório impressionante” recente de que a ressurgência de águas frias ao longo da costa oeste da América do Sul, a Corrente de Humboldt – vital para a cadeia alimentar marinha – “não ocorreu este ano pela primeira vez”. Ele lembra a Lei de Dornbusch: “as coisas demoram mais para acontecer do que você pensa, e depois acontecem mais rápido do que você pensou que poderiam”. Acredita que esse ponto foi atingido, exigindo uma aceleração na mudança, já que a humanidade dispõe de tecnologias, modelos de implantação, economia favorável e apoio da opinião pública. A tarefa é, portanto, acelerar o declínio da capacidade de resistência das indústrias poluidoras.

O futuro da energia global está sendo redefinido por forças dinâmicas e complexas, onde a China assume um papel cada vez mais central na descarbonização. Para aprofundar a compreensão sobre os desafios e oportunidades no campo das políticas energéticas e ambientais, continue acompanhando as análises e notícias detalhadas em nossa editoria de Análises.

Crédito da imagem: TechCrunch event


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