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A **intoxicação por metanol** transformou dramaticamente a vida de Calum Macdonald, um jovem britânico de 23 anos que perdeu completamente a visão após ingerir a substância durante uma viagem pelo Laos. A experiência de Macdonald, que hoje vive na cegueira, serve como um alerta contundente sobre os perigos ocultos em drinques consumidos em destinos turísticos. Seu caso integra uma série de incidentes trágicos que culminaram na morte de diversas pessoas no Sudeste Asiático.
Em novembro do ano passado, ao chegar à fronteira com o Vietnã após uma viagem de ônibus noturna partindo de Vang Vieng, um conhecido ponto turístico laosiano, Calum se deparou com a impossibilidade de ler os documentos de imigração. A visão de tudo o que ele via resumia-se a uma “luz ofuscante e caleidoscópica”. No dia anterior, Calum e seus amigos haviam desfrutado de doses gratuitas de uísque e vodca, servidas em um albergue, as quais ele misturou com refrigerantes.
## Alerta: Jovem fica cego após intoxicação por metanol no Laos
Inicialmente, Macdonald e seus companheiros atribuíram o estranho sintoma a uma provável intoxicação alimentar, associando a luz que via à mera sensibilidade. No entanto, ao alcançarem seu destino no Vietnã, a gravidade da situação tornou-se inegável. Calum descreve o momento alarmante em que, no quarto de hotel, questionou a ausência de luzes para os amigos, que confirmaram estarem todas acesas. O impacto da ingestão do metanol culminou em sua cegueira permanente.
Calum Macdonald é uma das muitas vítimas de um surto de envenenamento em massa por metanol que atingiu Vang Vieng em novembro. Este surto resultou na morte de seis pessoas, incluindo duas jovens dinamarquesas que ele havia conhecido em festas na cidade. Todos estavam hospedados no Nana Backpacker Hostel, o mesmo local onde Calum consumiu as bebidas contaminadas. Sua jornada, de uma simples suspeita de indigestão a uma realidade de perda de visão total, expõe a insidiosidade desse tipo de intoxicação.
Diante da perda e da grave sequela que sofreu, Calum, com 23 anos, agora dedica seus esforços a uma campanha vital em parceria com as famílias de outros três cidadãos britânicos que perderam a vida em decorrência de envenenamento por metanol na Ásia. O grupo exige que o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido intensifique seus avisos e alertas sobre os riscos que turistas enfrentam ao reservar pacotes de férias ou viajar por regiões onde a intoxicação por metanol é uma preocupação recorrente. A falta de conhecimento sobre os perigos reais leva muitos viajantes a situações de risco extremo.
A trágica história de Simone White reforça a urgência desses alertas. No dia seguinte à partida de Calum de Vang Vieng, Simone também consumiu as bebidas gratuitas oferecidas no mesmo albergue. Poucas horas antes do incidente fatal, a jovem enviou uma mensagem de texto à sua mãe, expressando que estava vivendo as “melhores férias” de sua vida. A felicidade momentânea logo foi substituída pelo desespero quando Simone foi internada em um hospital, e sua mãe, Sue, recebeu a notícia de seu estado grave, posteriormente entrando em coma.
Sue agiu de imediato, comprando uma passagem aérea. Contudo, antes mesmo de decolar, uma ligação urgente no meio da noite informou-a que Simone necessitava de uma cirurgia cerebral emergencial, ou não sobreviveria. A mãe fez a dolorosa viagem com a perspectiva do pior. Aos 28 anos, Simone White não resistiu e faleceu no hospital, vítima de intoxicação por metanol. Para Sue, a dor é incomensurável: “É muito difícil aceitar o que aconteceu. Nada vai trazer Simone de volta”, desabafa. Seu testemunho é um dos muitos que sublinham o impacto devastador da falta de regulamentação e fiscalização sobre bebidas alcoólicas em certos destinos.
O metanol é um álcool diferente do etanol, encontrado em bebidas seguras para consumo. Presente em produtos como combustíveis, solventes de limpeza e anticongelantes, o metanol se torna perigosíssimo ao ser ingerido, pois o corpo o metaboliza em substâncias tóxicas, causando danos irreparáveis. Bebidas alcoólicas mal fabricadas, frequentemente comercializadas de forma barata, podem ser contaminadas com metanol, resultando em fatalidades.
O Sudeste Asiático é uma região particularmente afetada por esse problema, onde centenas de pessoas são envenenadas a cada ano, conforme dados da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras. Os sintomas iniciais da intoxicação podem ser traiçoeiros, assemelhando-se aos de uma ressaca comum: tontura, cansaço, dor de cabeça e náusea. Essa semelhança dificulta o reconhecimento imediato do envenenamento, perdendo-se tempo valioso para o tratamento. No entanto, após 12 a 48 horas, manifestam-se problemas mais graves, como convulsões, visão turva e, nos casos mais severos, cegueira total e coma, podendo ser fatal. Alarmantemente, apenas 30 mililitros de metanol podem ser suficientes para ceifar uma vida humana. Se diagnosticado e tratado com diálise entre 10 e 30 horas após o consumo, as chances de recuperação são significativamente maiores.
A lista de vítimas de envenenamento por metanol não para nos casos de Calum e Simone. Kirsty McKie, de 38 anos, perdeu a vida em 2022 em Bali, Indonésia, local onde morava e trabalhava há oito anos. Diferente dos outros casos, Kirsty não consumiu doses gratuitas; ela bebia em casa com uma amiga antes de sair. Sua amiga, Sonia Taylor, que também ingeriu o álcool contaminado e sobreviveu, recorda que ambas sentiram uma ressaca incomumente forte. “Não tínhamos ideia”, relata Sonia, ainda perplexa com o fato de ter sobrevivido enquanto sua amiga não. A imprevisibilidade da dose letal de metanol e suas consequências chocam.
Em outra ilha indonésia, Sumatra, Cheznye Emmons também foi vítima, morrendo após consumir um gin que, posteriormente, revelou-se contendo uma quantidade alarmante: 66 mil vezes o limite legal de metanol. Sua mãe, Pamela, relatou à BBC as últimas e angustiantes palavras de Cheznye para seu namorado, já no hospital: “Estou com muito, muito medo.” O impacto emocional dessas despedidas em um cenário tão brutal e evitável é profundo.
Diante das experiências pessoais e da crescente onda de tragédias, o conselho de Calum Macdonald aos turistas é claro: evitem bebidas destiladas ou gratuitas. Ele sugere que optem pelas “muitas cervejas saborosas” disponíveis no Sudeste Asiático, garantindo uma experiência segura e prazerosa. A percepção de Calum sobre sua própria cegueira mudou drasticamente ao tomar conhecimento da morte das duas jovens dinamarquesas que havia encontrado no Laos. Inicialmente, ele sentia que sua vida não tinha mais propósito, mas a tragédia alheia trouxe-lhe uma nova perspectiva.
Hoje, Calum está aprendendo a usar uma bengala e aguarda ansiosamente a chegada de um cão-guia, vislumbrando um futuro de maior independência. A dimensão das mortes fez com que ele compreendesse a sorte de ter sobrevivido, apesar das duras consequências, e cultivou uma profunda gratidão. Movido por um senso de responsabilidade, Calum Macdonald está determinado a utilizar sua história para evitar que outras pessoas enfrentem o mesmo drama e tragédia. Sua luta, e a das famílias das vítimas, visa a alertar e proteger futuros viajantes de um perigo tão silencioso quanto mortal.
A intoxicação por metanol em viagens pelo Sudeste Asiático é um perigo real e, como as histórias de Calum, Simone, Kirsty e Cheznye demonstram, pode ter consequências fatais. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) tem consistentemente alertado sobre surtos de envenenamento por álcool contaminado. A conscientização e a cautela são as principais ferramentas de proteção para os turistas que exploram essas belas regiões.
A luta contra a intoxicação por metanol e a conscientização de viajantes permanece essencial. Para aprofundar-se em temas que impactam a segurança e bem-estar de comunidades globais, explore outras notícias e artigos em nossa editoria. Mantenha-se informado sobre outros temas relevantes em nossa seção de análises.
Crédito da imagem: Oli Constable/BBC News
Imagem: bbc.com
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