Aliança Apple e Google se fortalece após decisão judicial

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A recente decisão do Juiz Amit Mehta no caso antitruste da Google consolidou de forma significativa a Aliança Apple e Google, assegurando a continuidade de pagamentos anuais que, em bilhões de dólares, estabelecem a gigante de tecnologia como o motor de busca padrão em dispositivos Apple. Esta deliberação sublinha o impacto crucial da relação financeira entre as duas companhias mais influentes do Vale do Silício, com ramificações profundas para o mercado de busca e, mais recentemente, para o setor de inteligência artificial.

No centro deste acordo de longa data está Eddy Cue, o vice-presidente sênior da Apple, responsável pela divisão de serviços da empresa. Sua atuação é fundamental para proteger os rendimentos expressivos provenientes do pacto com a Google. Cue chegou a afirmar, durante o julgamento antitruste da Google, que dedicou “muitas noites sem dormir pensando nisso”, evidenciando a magnitude financeira e estratégica que os pagamentos representam para a receita da Apple.

A boa notícia para Cue e para os acionistas da Apple é que seu depoimento parece ter exercido influência direta sobre o Juiz Amit Mehta. O magistrado, em sua decisão divulgada esta semana, autorizou que os pagamentos da Google à Apple e a outras entidades para manter seu status como motor de busca padrão possam prosseguir. As considerações de Cue em tribunal – de que seria insensato penalizar a Apple restringindo a capacidade da Google de pagar pela condição de padrão, e que o surgimento de companhias de inteligência artificial já estava remodelando o mercado de buscas – ecoaram na sentença de Mehta. Para contextualizar, eis a essência da decisão:

Aliança Apple e Google se fortalece após decisão judicial

Com o intuito de minimizar a importância do acordo entre Apple e Google, Cue foi além, mencionando uma queda inédita nas buscas pela Google no Safari, o que, temporariamente, provocou uma diminuição no valor das ações da Google. Estas declarações táticas visavam demonstrar a complexidade do cenário e a aparente fragilidade do acordo, mesmo que sua importância real para ambas as companhias seja inquestionável.

Em sua deliberação, o Juiz Mehta reconheceu que os pagamentos pelo status de busca padrão continuam a moldar o mercado de serviços de busca em favor da Google. Contudo, o juiz argumentou que proibir esses acordos teria consequências desastrosas para os recebedores desses valores. Entre os efeitos citados, estava a possibilidade de redução de produtos e inovações por parte da Apple, uma das corporações mais valiosas do mundo. Estima-se que os pagamentos da Google à Apple representem cerca de 15% do lucro anual da fabricante do iPhone, reforçando a dependência financeira.

Para justificar sua posição, Mehta citou o avanço de empresas de inteligência artificial generativa, como OpenAI e Perplexity, como prova da emergência de concorrência no mercado de buscas. “A quantidade de dinheiro fluindo para este espaço, e a rapidez com que chegou, é surpreendente”, escreveu o juiz. Segundo ele, essa nova realidade dá esperança de que a Google não será capaz de superar financeiramente os concorrentes apenas para garantir a distribuição, caso produtos superiores surjam.

Entretanto, a realidade da intrincada relação financeira entre a Google e a Apple transcende a visão apresentada. Historicamente, a Google remunerou a Apple com uma porcentagem da receita publicitária gerada por meio do Safari. Este mecanismo harmoniza os incentivos entre duas das empresas mais poderosas do globo, as quais têm compartilhado dos benefícios desse arranjo por quase duas décadas, fortalecendo a chamada Aliança Apple e Google.

Não por acaso, logo após a divulgação da decisão de Mehta, surgiram notícias sobre uma possível colaboração entre Apple e Google para integrar o Gemini, inteligência artificial da Google, no motor de busca que a Apple está desenvolvendo para a Siri. Executivos da Apple discutem a inclusão do Gemini no iOS há mais de um ano, mas a hesitação se dava por razões de imagem. A decisão judicial recente do governo americano agora lhes concede uma espécie de “permissão” para avançar com essa parceria sem receios.

Aliança Apple e Google se fortalece após decisão judicial - Imagem do artigo original

Imagem: Getty via theverge.com

Conforme apontou a MoffettNathanson, uma respeitada firma de pesquisa de ações de tecnologia e mídia, em uma nota aos seus clientes esta semana, o desfecho deste caso é um “golpe de sorte” para o status quo, um arranjo que sempre foi altamente vantajoso tanto para a Google quanto para a Apple. A empresa analítica salienta que, embora o futuro da busca e dos dispositivos não esteja livre de ameaças competitivas, esta decisão permite que a transição se desenrole nos termos das próprias companhias, e não por meio de uma imposição judicial disruptiva.

Críticos da Aliança Apple e Google argumentam que o acordo de busca entre as empresas deveria ter sido desfeito, e talvez ainda o seja, caso a Apple enfrente futuramente seu próprio escrutínio antitruste. Muitos potenciais rivais da Google no mercado de buscas sempre apontaram para esse acordo como um fator crucial na supressão da concorrência. Não seria um exagero afirmar que nenhum outro pacto teve um impacto tão significativo no Vale do Silício ao longo do tempo. O aspecto mais prejudicial, segundo essa visão, é que ele possibilitou que as duas empresas, que já detêm o controle de como a maioria das pessoas acessa a internet, se tornassem ainda mais ricas e poderosas, operando em uma espécie de monopólio mútuo. A influência dessas dinâmicas no cenário de mercado e as futuras regulamentações podem ser acompanhadas de perto, conforme divulgado por veículos de notícia internacionais sobre decisões antitruste no setor de tecnologia.

A continuidade desta relação pavimenta o caminho para que Apple e Google expandam sua dominância compartilhada para a era da Inteligência Artificial. A Apple, embora esteja atrás no desenvolvimento de IA, representa uma poderosa fonte de distribuição para o Gemini por meio de iPhones, iPads e Macs. Com os pagamentos da Google pelo serviço de busca em pleno vigor, a Apple se vê menos compelida a adquirir startups de IA, como Mistral ou Perplexity, para acelerar sua entrada nesse campo. A empresa já recebe um montante substancial para colaborar com uma das principais companhias de IA do mundo, e agora possui um aval para fortalecer ainda mais esses laços.

A decisão da semana também coloca o acordo de distribuição da OpenAI com a Apple para o ChatGPT em uma posição delicada. Embora a Apple valorize a diversidade de opções, não está disposta a comprometer sua relação com a Google, dado o fluxo constante de pagamentos pelo mecanismo de busca. Além disso, a OpenAI ainda não possui um negócio de publicidade que lhe permita oferecer à Apple uma fatia competitiva. Apesar da percepção do Juiz Mehta, é difícil imaginar que qualquer outra empresa possa superar os pagamentos da Google pela distribuição padrão com um produto superior. Isso deixa a Google e a Apple na posição em que sempre estiveram: duas companhias que operam como monopólios de fato, mutuamente beneficiando-se à custa de toda a concorrência e inovação externa, reforçando os elos de uma poderosa Aliança Apple e Google.

Esta análise detalhada sobre o impacto da recente decisão judicial reitera a complexidade e a profundidade da Aliança Apple e Google no cenário tecnológico mundial. Para continuar a acompanhar as transformações no mercado e o desdobramento dessas parcerias estratégicas, visite nossa seção de Economia.

Getty Images / The Verge


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