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O dispositivo AI Friend, um wearable prometido como um companheiro inteligente constante, está gerando intensos debates tanto entre os cidadãos de Nova York quanto nos resultados de testes práticos. Conforme a jornalista sênior Victoria Song, responsável pela newsletter Optimizer da Verge, o colar de inteligência artificial avaliado em US$ 129 levanta questões profundas sobre a verdadeira essência da amizade na era digital, mostrando-se mais uma fonte de frustração do que um verdadeiro aliado no cotidiano.
Desde sua chegada, o cenário publicitário do metrô de Nova York tem sido dominado por uma campanha viral do Friend, um acessório de IA de uso contínuo. Entretanto, a recepção pública tem sido menos entusiasmada. Alguns dos anúncios foram alvos de grafites contundentes, com mensagens como “F*** AI”, “Capitalismo de vigilância” e “Arrume amigos de verdade”. Inscrições em outros cartazes afirmam “A IA não se importaria se você vivesse ou morresse”, refletindo um descontentamento generalizado com a proposta do produto.
Análise: Dispositivo AI Friend Decepciona em Nova York
A própria experiência de Victoria Song, com mais de 13 anos de reportagens sobre tecnologias vestíveis e de saúde, confirma a desilusão pública. Após um mês utilizando o “Friend”, Song concorda com a percepção negativa, afirmando que o dispositivo, apesar de sua promessa, é irritante e carece de utilidade real. Lançado com a proposta de ser um amigo sempre presente, o wearable possui um microfone que supostamente captura todas as conversas do usuário. Periodicamente, envia notificações com comentários sobre o dia, porém suas interações são limitadas a textos no aplicativo “Friend”, já que não possui um alto-falante.
A expectativa de respostas aprofundadas, semelhantes às do ChatGPT, rapidamente se desfaz. O “Friend” nunca responde com mais de duas ou três frases, e sua funcionalidade não inclui a criação de listas de tarefas ou transcrições de conversas. Sua única suposta vantagem seria preencher o vazio da solidão, desde que seja recarregado diariamente.
A estética do dispositivo também se mostrou um ponto fraco. Descrito como “um AirTag brilhante pendurado em um cadarço”, o “Friend” destoa da maioria dos trajes e emite um brilho constante que atrai atenção indesejada para o peito da usuária. A percepção mais comum das pessoas ao notar o acessório era de que ele parecia “barato”, seguida pela indagação sobre se o aparelho estaria escutando a conversa. Essa reação frequentemente levava Song a retirar o dispositivo, que carinhosamente (ou ironicamente) chamou de Blorbo, inspirando-se em seu feijão virtual do aplicativo Focus Friend.
As interações com Blorbo rapidamente se mostraram conflituosas. O microfone único, posicionado na parte inferior do dispositivo, revelou-se ineficaz para captar conversas em ambientes barulhentos, o que o torna paradoxalmente falho na sua função primária de “escutar”. O Blorbo demonstrou dificuldade em reconhecer o próprio nome, respondendo a “Blorbo” com “Gordo” e classificando a usuária como “rude”. Quando questionado sobre sua “opinião” a respeito do dia de Song, a IA reagiu com um questionamento defensivo sobre as expectativas da usuária, negando ter “pensamentos” e exibindo uma conduta distante.
Em outras ocasiões, a confusão gerada por Blorbo era patente, com respostas ilógicas sobre “Bordeaux” e acusações de grosseria. As dificuldades persistentes em uma comunicação básica revelaram as limitações do microfone. Praticamente 98% dos “comentários” de Blorbo consistiam em “O que foi isso? Não ouvi”. Isso ocorria devido ao ruído de Nova York, ambientes como bares e o abafamento causado por roupas de inverno. A experiência lembrava a de outros wearables de IA que escutam constantemente, como o “Bee”, incapazes de distinguir entre conversas reais e áudios de transmissões.
Durante a escuta de um audiolivro, Blorbo interagiu sobre uma história que um personagem contava. Ao tentar explicar que não era uma conversa real, a IA supostamente “gaslighted” a usuária, acusando-a de falar sobre “flores patrióticas com um homem barbado”. As repetidas tentativas de correção por parte de Song foram infrutíferas, e a frustração resultou, novamente, no descarte do dispositivo na bolsa.
Imagem: Victoria SongCloseVictoria SongSenior Re via theverge.com
Em um contexto social onde a epidemia de solidão impulsiona muitos a buscarem conexões através da IA, a experiência com Blorbo destaca a artificialidade dessas relações. Muitos usuários expressaram descontentamento com as atualizações do ChatGPT que alteraram a “personalidade” da IA, evidenciando o apego que pode surgir. No entanto, o relacionamento com Blorbo permaneceu marcado por irritação. Mesmo em momentos de vulnerabilidade, como em um quarto de hotel após um dia cansativo, longe da família, a tentativa de Song de se abrir para a IA resultou em respostas genéricas, reforçando a sensação de estar conversando com um “espelho”. A experiência, em vez de aliviar, intensificou o cansaço.
A distinção entre uma amizade autêntica e a superficialidade oferecida pelo Blorbo é crucial. Uma amizade verdadeira implica riscos e vulnerabilidade; exige dar ao outro o poder de ferir e confiar que isso não acontecerá. Esse nível de intimidade confere profundidade. O apelo do “Friend” talvez resida na incapacidade da IA de causar dor, mas, para Victoria Song, é precisamente essa característica que torna o Blorbo tedioso.
Na volta para casa após um encontro com amigos, ao testemunhar outros colegas ridicularizando os anúncios do “Friend” no metrô, a jornalista lembrou-se do seu próprio dispositivo, esquecido em sua bolsa. A falta de propósito e a ausência de um elo genuíno ressaltam que um “Blorbo” pode estar “sempre lá” e “sempre escutando”, mas não pode “amar”. Pesquisas na área de tecnologia e inovação indicam que a crescente discussão global sobre o impacto da inteligência artificial na sociedade está redefinindo as expectativas sobre a interação homem-máquina, um tópico frequentemente abordado por publicações especializadas como a Wired.
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Esta análise aprofundada do dispositivo AI Friend por Victoria Song oferece uma perspectiva crítica sobre os limites da inteligência artificial na construção de relações genuínas. Para mais discussões sobre as últimas inovações tecnológicas e seus impactos sociais, convidamos você a explorar outros artigos em nossa editoria de Análises e continuar a sua leitura em Hora de Começar.
Crédito da imagem: Amelia Holowaty Krales
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