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**Aron Ralston: O Montanhista Que Amputou a Própria Mão Para Sobreviver a Um Acidente em Utah**
Em um incidente notável ocorrido em 2003, o montanhista americano Aron Ralston foi forçado a tomar uma decisão extrema para garantir sua sobrevivência. Preso em um cânion remoto no estado de Utah, Ralston optou por amputar a própria mão, que estava esmagada sob uma rocha de aproximadamente 350 quilos. O episódio de sua provação e resgate capturou a atenção mundial e é detalhado em uma narrativa de intensa superação.
A história de Aron Ralston é um testemunho da resiliência humana diante de adversidades impensáveis. Ele se encontrava sozinho durante uma de suas explorações de cânions, atividade pela qual era conhecido por sua experiência. A rocha desabou inesperadamente, prendendo seu braço direito de forma intransponível contra a parede rochosa. Este evento dramático marcou o início de uma batalha por sua vida que se estenderia por cinco longos dias, antes da decisão radical que o libertou.
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## Os Primeiros Momentos do Encarceramento
Em maio de 2003, Aron Ralston tinha 27 anos e era um montanhista já habituado a desafios extremos e condições severas. Para ele, uma caminhada solitária pelo Bluejohn Canyon, em Utah, não parecia representar um grande risco, sendo comparável a um simples “passeio no fim da tarde”, em contraste com suas rotineiras aventuras mais perigosas. Seu objetivo era desfrutar do sol, do calor e da paisagem arenosa de Utah, após um rigoroso inverno em Boulder, Colorado, onde residia.
Ralston descreveu o cânion em entrevista ao programa Outlook da BBC. Ele explicou que se tratava de um “slot canyon”, caracterizado por fendas estreitas e profundas, tipicamente esculpidas pela força das inundações pluviais que carregam detritos, incluindo rochas e pedregulhos, os quais se alojam entre as paredes. O trecho onde ficou preso tinha cerca de um metro de largura e uma profundidade entre 15 e 20 metros, assemelhando-se a um “corredor afundado no deserto”.
Ao descer por uma dessas fendas, Ralston pisou sobre uma grande rocha que estava entalada entre as paredes. Inesperadamente, a rocha se deslocou e imprensou sua mão direita firmemente entre ela e o flanco do cânion. “Eu fiquei em pânico, apavorado”, relatou Ralston, comparando sua reação à de um “bicho”. Ele tentou freneticamente, impulsionado pela adrenalina, levantar ou mover a pedra. Sua lógica dizia que, se ele havia a feito mover, deveria conseguir movê-la novamente, mas a rocha permaneceu imóvel.
## A Realidade Crua do Isolamento e Dor
Inicialmente, Aron passou quase uma hora confinado no espaço apertado, seus ombros a poucos centímetros das paredes opostas do cânion, sua mão aprisionada, a cerca de 15 metros de profundidade. A dor era excruciante no pulso, esmagado pela rocha. Embora a mão direita estivesse insensível devido à interrupção da circulação, o pulso irradiava dor. Ralston considerou uma “vantagem” o fato de não ter sofrido outras lesões graves, como fraturas nas pernas ou concussões.
Em sua mochila, Aron levava equipamentos essenciais para escalada: cintos, arreios, cordas, mosquetões e algumas correias, além de um canivete do tipo suíço, equipado com múltiplas pequenas ferramentas. Sua primeira tentativa de salvação envolveu o uso do canivete para lascar a rocha que o prendia.
> “Foi muito patético”, descreveu Aron. “O canivete definitivamente não foi feito para isso. Na verdade, eu estava causando mais danos à faca e à minha mão do que à rocha. Levei cerca de 15 horas para remover um volume de arenito equivalente a talvez metade de uma bola de golfe.”
Essa estratégia, logo se mostrou inviável. Ele também considerou a possibilidade de amputar o braço com a pequena lâmina do canivete, mas rapidamente descartou a ideia, percebendo a impossibilidade. A lâmina, sem fio, nunca conseguiria atravessar os ossos.
### Uma Luta Contra o Tempo e o Desespero
Aron não havia informado ninguém sobre sua excursão. Preso no fundo de um cânion remoto, a ideia de ser encontrado parecia cada vez mais distante. Seus suprimentos eram escassos: apenas 350 ml de água e dois burritos. À medida que os dias passavam, ele consumia os itens parca e lentamente, perdendo a esperança de um resgate. Convencido de que sua morte era iminente, começou a gravar mensagens de despedida para seus familiares.
> “Comecei a gravar minhas despedidas dos meus pais, minha irmã…”, narrou ele. “Eu deixei claro que não ia me matar, que não ia acabar com isso prematuramente ou agir contra mim mesmo. Comecei a dizer adeus, que eu amava eles e pedia desculpas por ter me metido nisso.”
No quarto dia de aprisionamento, Ralston estava desidratado, sem comida e consideravelmente debilitado. O sono era um luxo inatingível, tanto pela dor incessante e pela posição incômoda de pé quanto pelo frio intenso que caía drasticamente durante as noites no cânion. A quinta noite chegou com a terrível certeza de que seria a última. Em um ato de resignação, ele chegou a gravar seu nome, data de nascimento e uma presumível data de morte na parede rochosa.
## A Visão Que Transformou a Realidade
Quando a quinta noite parecia selar seu destino, uma visão ou “premonição”, como Aron descreveu, surgiu em sua mente. Ele se via interagindo com um garotinho, elevando-o no colo com um braço direito sem a mão. A natureza da interação indicava que a criança era seu futuro filho.
> “Isso me deu coragem nesse momento, nas piores horas de toda essa experiência, nessa última noite. Me vi no futuro com um filho que ainda não tinha. Isso me deu a sensação de que poderia superar isso de alguma forma.”
Esta visão trouxe uma inesperada onda de esperança e uma certeza de que ele sobreviveria. A manhã seguinte, que ele jamais pensou em presenciar, trouxe consigo uma epifania. A questão que o atormentava – como cortar um braço com uma faca sem fio incapaz de transpassar ossos – encontrou sua solução: ele não precisava cortar os ossos, poderia quebrá-los.
## A Amputação Autoproposta: Dor e Euforia
Com uma renovada euforia e a coragem da visão de seu futuro, Aron abraçou a rocha com seu braço esquerdo, usando toda a força de seu corpo para empurrar e fraturar os dois ossos do braço direito: primeiro o rádio, depois a ulna. A quebra ocorreu aproximadamente dois centímetros e meio acima do ponto onde a pedra o prendia.
> “Quem já quebrou um osso sabe como é essa dor”, disse ele. “Mas pra mim, foi uma dor linda. Eu estava sorrindo, porque sabia que não ia morrer, que ia finalmente sair dali.”
Após quebrar os ossos, Ralston passou cerca de uma hora realizando a “cirurgia”, cortando músculos e veias em um ponto na metade do antebraço, entre o pulso e o cotovelo. Utilizou um torniquete improvisado, o que o ajudou a mitigar a perda de sangue. Finalmente, após cinco dias, estava livre da rocha.
> “Eu sentia tanto dor quanto euforia”, relembrou. “Na verdade, a euforia é que foi o maior desafio, pois eu não queria desmaiar. Assim que me libertei, tive que fechar os olhos, me encostar na parede do cânion e respirar fundo por cerca de 30 segundos para voltar ao ponto em que eu pudesse abrir meus olhos e estar presente ali, sem o risco de desmaiar com a emoção de tudo isso.”
Realizar tal ato sem anestesia, com a imensa dor e a significativa perda de sangue, representou um risco considerável de desmaio. Aron estava ciente disso. “Foi um grande desafio não desmaiar”, afirmou. “É que eu sabia que, se eu desmaiasse, provavelmente morreria ou, pelo menos, se perdesse a consciência, estaria perdendo um tempo preciosíssimo porque ainda tinha que caminhar. Eu tinha quase 11 quilômetros para voltar para minha caminhonete e depois dirigir talvez duas horas até chegar a um telefone.”
## A Dura Jornada Pós-Libertação e o Resgate
Com o braço recém-amputado imobilizado em uma tipoia improvisada feita com uma pequena mochila, Aron Ralston iniciou a difícil jornada de volta. Ele atravessou o cânion estreito, emergiu dele e se viu diante de um penhasco de 20 metros, o qual desceu em rapel. Na base do penhasco, encontrou um riacho, onde pôde finalmente saciar sua sede intensa.
O caminho até sua caminhonete, distante cerca de 11 quilômetros, era uma corrida contra o tempo, a fraqueza e a dor, com Aron repetindo o mantra “mais um passo, mais um passo” para manter a consciência. Após quase quatro horas de caminhada incessante, ele avistou uma família de turistas holandeses – um casal e seu filho – que passeava pela região.
Os turistas lhe ofereceram água e biscoitos e o auxiliaram a prosseguir. Embora houvessem caminhado juntos por mais meia hora, Aron sentia-se à beira de um colapso total. Ele ainda precisaria encarar uma subida vertical de 200 metros, um desafio que parecia intransponível.
> “Eu sentia que meu coração estava prestes a se romper devido a todo o esforço e a perda de sangue. Estava muito difícil dar mais um passo”, contou Ralston.
Ao se virar para o pai da família para dizer que não sobreviveria, ele percebeu que o homem estava gesticulando para o céu. Um helicóptero surgia no horizonte. Para Aron, era um milagre, pois não tinha ideia de que havia buscas em andamento por ele. Sua família, de fato, havia alertado as autoridades sobre seu desaparecimento, e as buscas haviam sido concentradas naquela remota região de cânions. Ele foi resgatado aproximadamente quatro horas após ter amputado a mão. No hospital, Ralston estava gravemente desidratado, havia perdido 18 quilos e cerca de 25% de seu sangue, mas teve uma recuperação completa e surpreendente.
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## O Legado de Uma História de Bravura: Livro e Cinema
A mão de Aron Ralston foi recuperada por uma equipe de resgate que utilizou um guincho e um macaco hidráulico para remover a rocha. Após a recuperação, a mão foi cremada. Ralston retornou ao cânion para espalhar as cinzas, um ato que descreveu como uma “oração, para me lembrar das lições e da alegria que senti no momento em que me libertei”.
Em 2004, Aron Ralston lançou um livro detalhando sua experiência, o qual foi mais tarde adaptado para o cinema no aclamado filme “127 Horas”, com James Franco no papel principal e dirigido por Danny Boyle. O filme recebeu seis indicações ao Oscar em 2011, incluindo a categoria de Melhor Filme. Inicialmente cético quanto a uma adaptação cinematográfica, Aron foi convencido pela visão de Boyle.
> “Ele me disse que eu poderia contar minha experiência em um documentário, mas que isso não teria o impacto de um ator nos levando a essa experiência”, relatou Ralston. “E de fato, do jeito que eles contaram a história, com a música, a edição… Quando vi o filme, comecei a chorar 15 minutos depois do filme ter começado. Passei por tudo isso novamente.”
A extraordinária história de sobrevivência de Aron Ralston continua a ser uma inspiração, demonstrando os limites da resiliência humana e a força da vontade de viver. Ele relatou sua experiência detalhadamente na quarta temporada do podcast Que História!, da BBC News Brasil, que está disponível em diversas plataformas de streaming.
Com informações de BBC News Brasil

Imagem: bbc.com
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