Assassinato Rei Faisal: Rei saudita morre após ataque de sobrinho

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O assassinato do Rei Faisal da Arábia Saudita, ocorrido em 25 de março de 1975, marcou um dos capítulos mais sombrios da história moderna do reino. O monarca, figura central na modernização e na consolidação da Arábia Saudita como potência petrolífera, foi baleado por seu próprio sobrinho durante um cumprimento protocolar, em um incidente que chocou o mundo e remodelou a linha de sucessão real.

A tragédia teve como uma de suas testemunhas oculares o influente ministro do Petróleo, xeque Ahmed Zaki Yamani (1930-2021). Sua filha, a doutora Mai Yamani, que à época tinha 18 anos, relatou à BBC a profunda dor e incredulidade vivenciadas por seu pai. Segundo ela, o xeque, conhecido por sua notável tranquilidade, reagiu ao ocorrido com um grito e uma única palavra: “Calamidade!”, em um raro momento de desespero para o homem que esteve lealmente ao lado do rei por 15 anos.

Assassinato Rei Faisal: Rei saudita morre após ataque de sobrinho

Mai Yamani recorda que seu pai detalhou os fatos sombrios daquela manhã de março de 1975. Por volta das 10 horas, uma delegação petrolífera do Kuwait estava no palácio para se reunir com o rei Faisal (1906-1975), e o ministro do Petróleo, Ahmed Zaki Yamani, acompanhava o monarca para fornecer informações estratégicas. Neste cenário, o príncipe Faisal Ibu Musaed (1944-1975), ironicamente homônimo do rei, entrou no salão. Conforme a etiqueta real, o rei abriu os braços para cumprimentar e abraçar seu sobrinho, momento em que o príncipe sacou uma pequena pistola do bolso e disparou três vezes contra a cabeça do monarca, em rápida sucessão.

A agilidade do ataque surpreendeu a todos os presentes. Relatos indicam que um dos guarda-costas do rei reagiu, golpeando o príncipe com sua espada, ainda embainhada. Embora algumas informações da época sugerissem que o agressor acreditava ter atingido também o xeque Yamani, dada sua proximidade com o rei, a versão mais difundida aponta que o próprio Yamani ordenou aos guardas que não matassem o príncipe. O Rei Faisal foi rapidamente levado ao hospital, com o xeque Yamani ao seu lado, mas os esforços médicos foram em vão. O monarca veio a falecer pouco depois. Após a confirmação da morte, um silêncio total e perturbador tomou conta das ruas de Riad, evidenciando o choque e o luto que se abateram sobre a capital saudita e a nação.

O Legado de um Monarca Visionário e suas Reformas

Faisal Abdulaziz Al Saud, que se tornou rei da Arábia Saudita em 1964, era o terceiro governante e o terceiro filho de Abdulaziz al-Saud (c.1877-1953), conhecido como Ibn Saud, fundador do reino. Seu reinado foi marcado por uma ambiciosa visão de modernização para o vasto país, que àquela época era considerado um dos mais atrasados no Oriente Médio. Antes de ascender ao trono, Faisal já havia demonstrado sua capacidade estratégica, participando ativamente das campanhas de seu pai para unificar a Península Arábica. Ele também serviu como primeiro-ministro sob o reinado de seu irmão mais velho, Saud (1902-1969), que se tornou rei após a morte do pai.

Sua reputação era de um político astuto, piedoso, trabalhador e um verdadeiro reformador. Com a crescente riqueza proveniente da exploração petrolífera, o rei Faisal se empenhou em introduzir avanços fundamentais, como educação estatal moderna, sistemas de saúde pública e uma reforma judiciária, visando elevar o padrão de vida de seus súditos. No entanto, nem todas as suas reformas foram recebidas sem resistência, especialmente por elementos mais conservadores aliados à austera escola do Islã à qual sua família era vinculada. Essas tensões revelavam o desafio de modernizar o reino mantendo suas tradições religiosas.

Exemplo disso foi a inauguração da primeira emissora de televisão saudita em meados dos anos 1960, que resultou em um ataque armado contra o edifício. Ironicamente, este ataque foi dirigido pelo irmão do homem que, mais tarde, viria a assassiná-lo. Apesar da oposição, o rei Faisal promoveu contribuições significativas, inclusive em campos até então intocados, como a educação das mulheres. Em 1956, quando ainda era o príncipe herdeiro, e com o patrocínio de sua esposa, a rainha Iffat (1916-2000), ele inaugurou a primeira escola pública regular para meninas, chamada Dar Al Hanan, a Escola da Ternura. A doutora Mai Yamani, por sinal, teve a honra de ser uma das nove primeiras alunas. O rei persuadiu o setor religioso argumentando que, ao educar as mulheres, elas se tornariam melhores mães, superando objeções culturais e religiosas profundamente enraizadas.

A Estratégia do Petróleo e o Impacto de Yamani

A parceria entre o rei Faisal e o xeque Ahmed Zaki Yamani foi instrumental para a projeção global da Arábia Saudita. Yamani, um plebeu com alto nível educacional e formação jurídica, chamou a atenção do então príncipe herdeiro por seus artigos “muito provocadores” em favor da democracia e boa governança. Em 1960, ele começou a trabalhar para o rei Faisal e foi subsequentemente nomeado seu ministro do Petróleo, uma nomeação incomum para alguém de fora da família real.

Juntos, o rei e seu ministro elaboraram uma política que, pela primeira vez, garantiu ao reino o controle total sobre suas imensas reservas de petróleo, um patrimônio natural até então amplamente dominado por corporações estrangeiras. Esta estratégia transformou a Arábia Saudita em uma força incontestável no mundo árabe e uma voz respeitada no cenário internacional, redefinindo o papel do país de mero exportador para um ator político-econômico fundamental. A dupla foi decisiva para colocar a Arábia Saudita no centro das decisões globais de energia e geopolítica.

Assassinato Rei Faisal: Rei saudita morre após ataque de sobrinho - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

O ponto alto dessa política ocorreu em 1973, quando, após a guerra entre Israel e seus vizinhos árabes, a Arábia Saudita – na época, o maior produtor de petróleo do mundo – liderou uma audaciosa campanha para utilizar o petróleo como arma política. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC) implementou um embargo petrolífero contra países que apoiavam Israel, resultando na drástica redução do fornecimento e na consequente disparada dos preços globais do petróleo. O xeque Yamani foi a voz por trás dessa decisão, explicando que a exigência para o retorno dos volumes de petróleo ao nível anterior era a “retirada completa das forças israelenses dos territórios árabes ocupados”. Para mais informações sobre esse período de transformação econômica e geopolítica, você pode consultar fontes como este histórico da crise do petróleo.

A enorme elevação dos preços do petróleo reconfigurou o equilíbrio de poder global, deslocando-o em favor das nações produtoras. Em reconhecimento à sua liderança e à crescente influência do reino no cenário internacional, o rei Faisal foi nomeado “Homem do Ano” pela prestigiada revista Time em 1974, apenas um ano antes de sua trágica e prematura morte.

Desdobramentos e Enigmas Pós-Assassinato

Imediatamente após o ataque, o príncipe Faisal Ibu Musaed foi detido e submetido a um rigoroso interrogatório. Médicos psiquiatras que o avaliaram concluíram que ele sofria de “desequilíbrio mental”, e relatos indicavam que o príncipe permaneceu calmo e tranquilo tanto antes quanto depois do crime. A capital Riad entrou em luto profundo, com as ruas completamente fechadas por três dias em respeito à morte do rei. Após um acordo unânime da família real saudita, o irmão do monarca assassinado, Khalid (1913-1982), ascendeu ao trono, assumindo a liderança do país em um momento de incerteza.

O príncipe Faisal Ibu Musaed foi formalmente declarado culpado pelo assassinato do rei Faisal e, em junho de 1975, foi decapitado publicamente em Riad. Esta execução seguiu o método tradicional da Arábia Saudita, alinhado com a lei islâmica. Embora as autoridades tenham emitido um “acordo pelo gabinete real” declarando o príncipe como “oficialmente louco”, seus verdadeiros motivos para o ato hediondo nunca foram totalmente esclarecidos, permanecendo um mistério levado para o túmulo do assassino. Entre os chefes de Estado que compareceram ao funeral do rei Faisal, estavam seu sucessor, o rei Khalid, o líder da OLP, Yasser Arafat (1929-2004), e o presidente do Egito, Anwar al-Sadat (1918-1981).

Houve especulações generalizadas de que o assassino poderia estar buscando vingança pela morte de seu irmão mais velho, Khalid, que pereceu em um confronto com forças de segurança em 1966, nove anos antes. Adicionalmente, diversas teorias da conspiração circularam na época, envolvendo interesses externos ou lutas internas pelo poder. No entanto, uma investigação posterior e abrangente concluiu que o príncipe Faisal Ibu Musaed agiu por conta própria, sem a participação de terceiros, rejeitando as alegações de tramas maiores.

Apesar da perda do rei Faisal, o xeque Ahmed Zaki Yamani manteve sua posição como ministro do Petróleo da Arábia Saudita por mais 11 anos, permanecendo no cargo até 1986, evidenciando sua resiliência política e a importância contínua de sua experiência. A doutora Mai Yamani, por sua vez, continuou sua trajetória de sucesso, cursando a universidade nos Estados Unidos e se tornando a primeira mulher saudita a conquistar um doutorado pela renomada Universidade de Oxford, no Reino Unido. Sua carreira se expandiu para a autoria de vários livros sobre identidade árabe e atuação como consultora para grandes instituições financeiras e petrolíferas, como Goldman Sachs e Shell, marcando seu próprio legado de inovação e intelecto.

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A história do rei Faisal e seu impacto duradouro na Arábia Saudita e na geopolítica global permanece um tópico de intenso estudo e debate. Compreender os eventos que levaram ao seu assassinato e as ramificações de sua visão modernizadora e política energética oferece uma perspectiva valiosa sobre a dinâmica de poder e desenvolvimento no Oriente Médio. Continue acompanhando a nossa editoria de Política para mais análises e reportagens aprofundadas sobre eventos históricos e atuais que moldam o cenário global.

Crédito, Getty Images


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