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Forças Americanas Atacam Barco Venezuelano no Caribe, Afirma Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em 2 de setembro de 2025 que forças americanas executaram um ataque a uma embarcação no Caribe, alegando que o navio provinha da Venezuela e estava carregado de narcóticos. A declaração foi feita inicialmente na Casa Branca, onde Trump conversou com repórteres, e posteriormente detalhada em sua plataforma Truth Social. O mandatário norte-americano ressaltou o fluxo significativo de drogas entrando nos EUA, afirmando que “Há muito tempo temos muitas drogas entrando em nosso país. E elas vêm da Venezuela e em grandes quantidades.”
No Truth Social, o presidente dos EUA acrescentou que o ataque letal havia sido realizado sob suas ordens no mesmo dia, mirando supostos “narcoterroristas do Trem de Aragua” que, segundo ele, transportavam entorpecentes em águas internacionais com destino aos Estados Unidos. Trump revelou que 11 indivíduos a bordo da embarcação teriam sido mortos na ação. Acompanhando sua mensagem, foi divulgado um vídeo em preto e branco que mostrava uma lancha no mar, com pessoas a bordo, explodindo de repente. A autenticidade ou o contexto completo do vídeo não foram especificados, mas ele foi apresentado como prova da operação. O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, reforçou a informação por meio de sua conta no X (antigo Twitter), confirmando que se tratou de um “ataque letal” a uma embarcação que transportava drogas, vinda da Venezuela.
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Este incidente acontece em um momento de crescente tensão nas relações entre EUA e Venezuela, com o governo Trump acusando o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar um cartel de drogas. Simultaneamente, os EUA intensificaram a presença naval no sul do Caribe, um movimento considerado incomum por analistas internacionais. Alan McPherson, especialista em relações EUA-América Latina e diretor do Centro de Estudos de Força e Diplomacia da Temple University, classificou o ataque como “definitivamente uma escalada”, conforme sua declaração à BBC Mundo. A demonstração de poderio militar por Washington levanta questões sobre os objetivos de Trump, enquanto Maduro classifica as ações como uma ameaça direta contra seu governo.
Diplomacia de Forças e Alegações Contra a Venezuela
A intensificação da retórica e das ações americanas faz parte de uma política externa que tem na luta contra o narcotráfico uma das suas prioridades. Em julho do mesmo ano, Donald Trump havia assinado uma diretriz secreta que autorizava as forças armadas dos EUA a combater cartéis de drogas latino-americanos, definindo-os como “grupos terroristas”. No mesmo mês, o governo dos Estados Unidos designou o “Cartel dos Sóis”, supostamente liderado por Nicolás Maduro e outras altas autoridades venezuelanas, como uma organização “terrorista”, alegando conexões com outros grupos do mesmo tipo, incluindo o Trem de Aragua e o Cartel de Sinaloa.
No início de agosto, o governo Trump aumentou a recompensa por informações que pudessem levar à captura de Maduro para US$ 50 milhões, elevando ainda mais a pressão sobre Caracas. Semanas antes, relatos sobre o deslocamento de navios de guerra norte-americanos para o Caribe começaram a surgir. Esse agrupamento de forças incluía destróieres de mísseis guiados, o grupo anfíbio Iwo Jima – conhecido por sua capacidade de desdobramento rápido – um submarino de propulsão nuclear, além de aeronaves de reconhecimento P-8 e aproximadamente 4.500 fuzileiros navais.
“Essa grande concentração de forças navais não ocorre, pelo que me lembro, desde 1965 e remete aos dias da ‘diplomacia das canhoneiras’, há mais de um século,” afirmou Alan McPherson, destacando o caráter extraordinário da mobilização. McPherson, que também é autor de um livro sobre as intervenções dos EUA na América Latina e no Caribe, expressou que os objetivos da ação permanecem ambíguos. “Poderia ser, como foi dito, a preparação de um ataque cirúrgico contra traficantes de drogas”, ponderou ele, “Mas nada disso exigiria uma frota tão grande. Talvez a marinha queira atacar Maduro mais diretamente ou fomentar uma revolta interna, por exemplo, no exército venezuelano. Seja qual for o caso, está claro que o governo Trump quer intimidar o regime.”
Rejeição Venezuelana e Cenários Especulados
Em resposta às acusações americanas, o presidente Nicolás Maduro rejeitou veementemente as alegações, as quais ele considera fabricadas para orquestrar uma tentativa de derrubá-lo. Em resposta à movimentação militar dos EUA, Maduro anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos em território venezuelano. Na ocasião, o líder venezuelano declarou: “Se a Venezuela fosse atacada, entraria imediatamente em um período de luta armada” e “declararíamos constitucionalmente a república em armas.” Maduro assumiu um novo mandato este ano, após eleições contestadas por uma parte considerável da comunidade internacional.
Stephen Donehoo, um ex-oficial de inteligência militar dos EUA com experiência na América Latina, observou a dimensão inédita do destacamento. “Nunca viu um destacamento tão grande de forças navais no Comando Sul dos EUA”, disse ele à BBC News Mundo. Donehoo salientou que a força não parece dimensionada para invadir um país, sugerindo que missões mais “precisas” podem estar em vista, como “missões de drones armados sobrevoando o espaço aéreo venezuelano”. No entanto, ele concluiu que “no momento, o que eles disseram é o que eles fizeram”, referindo-se às operações de combate ao narcotráfico.
Até o momento, os EUA não ofereceram detalhes sobre como foi determinada a ligação da tripulação do barco atacado com o grupo “Tren de Aragua” ou qual tipo específico de drogas era transportado. Há muito tempo, a Venezuela é vista como uma rota de passagem internacional para a cocaína proveniente dos países andinos. Contudo, relatórios da Organização das Nações Unidas de 2023 indicam que a maior parte da cocaína traficada para o norte por via marítima, partindo da América do Sul, geralmente percorre o Oceano Pacífico, e não o Caribe. Não há também indícios substanciais de que o fentanil, droga altamente perigosa que tem preocupado os EUA, seja produzido em larga escala na Venezuela.
Implicações e Dúvidas sobre a Estratégia dos EUA
Rebecca Bill Chavez, presidente do Inter-American Dialogue, um influente *think tank* regional com sede em Washington, manifestou preocupação com a situação. “Se for uma operação antidrogas, é diferente de qualquer outra operação antidrogas que já vi,” observou Chavez, ex-subsecretária de defesa dos EUA para assuntos do Hemisfério Ocidental, em entrevista à BBC Mundo. Para ela, o risco de uma “escalada no mar é real” em virtude do extenso destacamento militar americano no Caribe.
Historicamente, operações de combate ao narcotráfico em alto-mar buscam interceptar embarcações suspeitas, sendo frequentemente lideradas por oficiais da Guarda Costeira dos EUA, com base em informações de inteligência, e conduzidas em colaboração com outros países, mediante acordos bilaterais. Até o momento, não foi esclarecido se Washington consultou as nações da região sobre sua missão no Caribe. Marco Rubio, o Secretário de Estado, iniciou uma viagem para o México e Equador no dia da ação, com discussões sobre narcóticos e segurança nas pautas com autoridades desses países.
Chavez expressou a crença de que o governo Trump tem consciência de que uma intervenção militar unilateral na Venezuela poderia ser “um grave erro”, já que provavelmente enfrentaria a resistência de grupos armados rivais e não teria o apoio popular nos Estados Unidos. Além disso, a busca por uma mudança de governo na Venezuela, articulada pelos EUA, entraria em contradição com alguns sinais enviados pela administração Trump desde sua posse em janeiro.
O vice-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, declarou em agosto que “haveria ações que enviariam mensagens, mas, em última análise, o povo venezuelano tem que se levantar e reivindicar sua própria liberdade.” Landau acrescentou em entrevista a Donald Trump Jr., filho do presidente, que os EUA “não podem sair pelo mundo mudando governos por capricho.”
Ao longo deste ano, o governo Trump celebrou acordos com a administração de Maduro, incluindo o envio de migrantes venezuelanos deportados dos EUA e a concretização de uma troca de prisioneiros entre os dois países em julho. Após essa troca, Washington concedeu à petroleira americana Chevron a autorização para reiniciar suas operações na Venezuela, atendendo a um desejo de Maduro. Essa série de ações gerou insatisfação entre muitos venezuelanos e cubanos radicados nos EUA, que apoiaram Trump com a expectativa de que ele intensificasse as sanções contra Caracas. Isso sugere que a política interna também pode exercer influência nas decisões relativas ao deslocamento de navios de guerra americanos para o Caribe.
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Nesse cenário de ações complexas e sinais divergentes, Rebecca Bill Chavez destacou: “Ao mesmo tempo em que três destróieres Aegis se deslocam para o sul, há carregamentos da Chevron se deslocando para o norte.” A especialista concluiu que essa imagem é bastante reveladora sobre o motivo pelo qual “as pessoas estão muito confusas sobre qual é o verdadeiro objetivo por trás disso,” evidenciando a perplexidade diante da multifacetada abordagem americana em relação à Venezuela e o tráfico de drogas no Caribe.
Com informações de BBC News Brasil

Imagem: bbc.com
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