Bolha da IA: Analistas Alertam para Expeculação no Setor

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A discussão sobre uma possível bolha da inteligência artificial tem ganhado força entre analistas e executivos do setor tecnológico. Recentemente, Sam Altman, cofundador e CEO da OpenAI, admitiu publicamente que certas áreas do segmento de IA podem estar “meio infladas neste momento”, ecoando crescentes preocupações no Vale do Silício sobre a valorização das empresas de tecnologia.

Apesar da reticência comum entre grandes executivos em abordar tais temas, Altman surpreendeu ao responder diretamente a uma pergunta da BBC durante a conferência DevDay desta semana. Ele defende, contudo, que no caso específico da OpenAI, empresa por trás do ChatGPT, “algo de verdade está acontecendo”, distinguindo a organização de outras iniciativas potencialmente fadadas ao fracasso. O cenário indica que, embora reconheça o risco de investidores cometerem erros e startups sem um futuro claro alcançarem grandes somas, Altman expressa confiança na trajetória da OpenAI.

Bolha da IA: Analistas Alertam para Expeculação no Setor

O Vale do Silício, polo tecnológico mundial, é o epicentro deste debate fervoroso, onde céticos, outrora discretos, agora vêm a público questionar a vertiginosa disparada no valor de mercado das empresas de IA. Muitos sugerem que parte dessa valorização pode ser fruto de “engenharia financeira”, ou seja, que essas companhias estejam sendo precificadas acima de seu valor real. As preocupações não se limitam apenas aos ambientes privados ou ao círculo dos empreendedores californianos.

Diversas instituições globais de peso se manifestaram. Nos últimos dias, o Banco da Inglaterra, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e até mesmo Jamie Dimon, o chefe do renomado banco JP Morgan, levantaram alertas sobre uma possível bolha da IA. Dimon, em entrevista à BBC, enfatizou a importância de a “incerteza deveria estar mais presente na mente da maioria das pessoas” no contexto atual do mercado de inteligência artificial. Para entender mais sobre as análises e perspectivas do mercado global, é válido consultar as publicações oficiais do Fundo Monetário Internacional.

A gravidade da situação é sublinhada por especialistas como Jerry Kaplan, pioneiro em IA, que participou de um debate no Museu da História do Computador no Vale do Silício esta semana. Kaplan, fundador da Go Corporation (responsável pelos primeiros computadores portáteis em formato de tablet), relatou já ter testemunhado quatro bolhas financeiras. Ele manifesta especial apreensão com a magnitude dos valores envolvidos atualmente, que superam os montantes da “bolha das empresas ponto com” do final dos anos 1990. “Quando [a bolha] estourar, vai ser muito ruim, e não apenas para quem trabalha com IA”, alertou Kaplan. “Vai arrastar o restante da economia junto.”

Os números refletem o aquecimento do mercado: empresas associadas à inteligência artificial foram responsáveis por 80% dos ganhos inesperados da Bolsa americana neste ano. A Gartner, empresa de pesquisa e consultoria, projeta que os gastos globais com IA alcancem a cifra impressionante de US$ 1,5 trilhão (aproximadamente R$ 8,4 trilhões) antes do término de 2025. Para contextualizar, este valor se aproxima da totalidade do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024, que foi de R$ 11,7 trilhões.

A OpenAI, com o sucesso do ChatGPT desde 2022, encontra-se no cerne de um complexo emaranhado de acordos financeiros. Um exemplo é o contrato de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 560 bilhões) assinado com a fabricante de chips Nvidia em setembro de 2025 – vale destacar que a Nvidia é a empresa de capital aberto mais valiosa do mundo. No segundo trimestre de 2023 (o artigo refere-se a 2024 na Nvidia revenue), a Nvidia registrou receita de US$ 46,7 bilhões (R$ 247,5 bilhões), um incremento de 56% em relação ao ano anterior. Essa colaboração expande um investimento prévio da Nvidia na OpenAI, com a expectativa de que esta última utilize os avançados chips da Nvidia para construir seus data centers.

Em uma guinada estratégica, na segunda-feira, 13 de outubro, a OpenAI também revelou planos para adquirir bilhões de dólares em equipamentos de desenvolvimento de IA da AMD, concorrente da Nvidia. Tal transação pode posicionar a OpenAI como uma das maiores acionistas da AMD. É relevante notar que, embora seja uma companhia privada, a OpenAI foi recentemente avaliada em meio trilhão de dólares (cerca de R$ 2,8 trilhões). Grandes players como a Microsoft e a Oracle também são investidores significativos, com a Oracle mantendo um contrato de US$ 300 bilhões (aproximadamente R$ 1,7 trilhão) com a OpenAI.

O projeto Stargate da OpenAI, um colossal complexo de data centers em construção no Texas (EUA), ilustra a ambição da empresa. Financiado com suporte da Oracle e do conglomerado japonês SoftBank e anunciado no início do governo Donald Trump, este projeto se expande rapidamente. Além disso, a Nvidia detém participação na startup de IA CoreWeave, que por sua vez fornece parte da infraestrutura maciça da OpenAI. Esses arranjos financeiros cada vez mais elaborados e interconectados levam especialistas do Vale do Silício a alertar para uma possível distorção na percepção da real demanda por tecnologia de inteligência artificial.

Termos como “financiamento circular” ou “financiamento de fornecedor” surgiram para descrever práticas onde uma empresa investe ou empresta dinheiro a seus próprios clientes para assegurar a continuidade das compras. Sam Altman, apesar de reconhecer que os “empréstimos de investimento são sem precedentes”, defendeu tais práticas na mesma segunda-feira, 13 de outubro, ao argumentar que é “também sem precedentes empresas crescerem em receita tão rápido.” Contudo, a OpenAI, embora tenha um crescimento acelerado em receita, nunca registrou lucro. Esta situação evoca lembranças da Nortel, fabricante canadense de equipamentos de telecomunicações que, no passado, recorreu a empréstimos intensos para financiar as operações de seus clientes e inflar artificialmente a demanda por seus produtos.

Bolha da IA: Analistas Alertam para Expeculação no Setor - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Por sua vez, Jensen Huang, da Nvidia, defendeu o acordo com a OpenAI em uma entrevista à CNBC, reiterando que a empresa não impõe obrigações sobre como os recursos investidos devem ser utilizados. “Eles podem usar como quiserem”, afirmou Huang, enfatizando a ausência de exclusividades e o objetivo principal de “apoiá-los e ajudá-los a crescer, e fazer o ecossistema crescer também.”

Jerry Kaplan destaca “sinais claros” de euforia no setor. Empresas anunciam grandes projetos e planos para os quais ainda não possuem capital. Paralelamente, investidores de varejo correm para se beneficiar da valorização de startups. O recente aumento nas ações da fabricante de chips AMD, por exemplo, sugere que investidores buscam lucrar com a expansão impulsionada pelo ChatGPT. A crescente demanda por mais desenvolvimento de IA está gerando uma construção massiva de infraestrutura física.

A preocupação com o meio ambiente também é real. Kaplan alerta para a criação de um “novo desastre ecológico feito pelo homem: enormes centros de dados em locais remotos, como desertos, que vão enferrujar e liberar substâncias nocivas ao meio ambiente, sem ninguém para ser responsabilizado, porque construtores e investidores já terão ido embora”. Atualmente, o Brasil conta com 162 data centers, com capacidade entre 750MW e 800MW – o equivalente ao consumo de energia de uma cidade com cerca de 2 milhões de habitantes, conforme estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

A popularização da IA projeta uma expansão da capacidade dos data centers brasileiros em mais de 20 vezes na próxima década. A demanda energética para 2038 poderia atingir o equivalente ao consumo de uma cidade com 43 milhões de habitantes, quase quatro vezes a população da cidade de São Paulo em 2022. Estes data centers, equipados com chips de alto desempenho como o H100 da Nvidia, que são essenciais para treinar e disponibilizar aplicações de IA, consomem significativamente mais energia do que os tradicionais.

Ainda que o cenário indique uma bolha iminente, muitos no Vale do Silício nutrem a esperança de que os investimentos atuais não sejam em vão. Jeff Boudier, que desenvolve produtos na plataforma de IA Hugging Face, aponta um paralelo histórico: “O que me conforta é que a internet foi construída sobre as cinzas do excesso de investimento na infraestrutura de telecomunicações de ontem.” Ele argumenta que, embora existam riscos financeiros associados a um possível superinvestimento em infraestrutura para IA, isso também poderá viabilizar uma profusão de novos produtos e experiências ainda inimagináveis.

Apesar da convicção de muitos sobre o potencial transformador da IA, persiste a incerteza quanto à sustentabilidade do financiamento necessário para as vastas ambições das principais empresas do setor. “A Nvidia parece ser o credor ou investidor final”, comenta Rihard Jarc, fundador da newsletter UncoverAlpha, questionando quem mais teria a capacidade de investir a impressionante quantia de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 560 bilhões) em outra empresa atualmente. O futuro do investimento em inteligência artificial permanece, assim, como um ponto central de especulação e análise no cenário global.

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Em suma, a possibilidade de uma bolha da IA mobiliza debates importantes entre executivos, economistas e especialistas. Acompanhe a editoria de Economia do Hora de Começar para ficar por dentro dos desdobramentos deste tema e de outras análises cruciais que impactam o cenário tecnológico e financeiro global.

Crédito, Getty Images


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