📚 Continue Lendo
Mais artigos do nosso blog
O cenário político de Bolsonaro na cadeia é considerado a melhor conjuntura para o grupo de partidos conhecido como Centrão. Essa é a análise do professor e pesquisador Christian Lynch, especialista em Direito, Ciência Política e História do Instituto de Estudos Políticos e Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). A percepção surge em meio a condenações do ex-presidente e a intensas movimentações eleitorais, onde o papel de Bolsonaro e sua possível inelegibilidade redefinem alianças e estratégias.
Na quinta-feira, 11 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) sentenciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete indivíduos por golpe de Estado. Bolsonaro já estava em prisão domiciliar, uma medida determinada pelo ministro Alexandre de Moraes dentro do inquérito que apura a conduta do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por delitos como coação processual, obstrução de investigações da chamada trama golpista e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O ex-presidente também permanece inelegível até o ano de 2030, em decorrência de condenação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder e utilização indevida de meios de comunicação. Apesar de tal veredito, Bolsonaro e seus apoiadores continuam a sinalizar que o ex-presidente disputará a Presidência da República no próximo ano. Simultaneamente, Bolsonaro condiciona seu endosso a outras candidaturas à concessão de anistia ou indulto para si mesmo, o que tem complicado as definições do campo da direita a menos de um ano do pleito presidencial.
Melhor Cenário Centrão Bolsonaro: Análise de Christian Lynch
Para Christian Lynch, não há verdadeiro interesse por parte dos políticos do Centrão em oferecer suporte a Jair Bolsonaro. Ele aponta a falta de confiança mútua como o principal motivo. “Os políticos não querem Bolsonaro porque os políticos, no fundo, não confiam em Bolsonaro, porque Bolsonaro nunca confiou neles”, declarou o cientista político em entrevista. Desse modo, conforme a análise de Lynch, apenas os membros da família de Bolsonaro realmente desejam que ele reverta sua condição de inelegível. Contudo, mesmo ciente dessa dinâmica, o ex-presidente protelará sua decisão de renunciar a uma candidatura até o último momento, com o objetivo de “elevar o preço da transferência ao valor mais astronômico possível”.
O Dilema de Tarcísio e a Batalha Pela Anistia
Durante a manifestação de 7 de setembro na Avenida Paulista, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), endureceu seu discurso, criticando a “tirania” do ministro Alexandre de Moraes. Lynch avalia que esse movimento é parte do dilema de Tarcísio em decidir entre uma candidatura à Presidência — desejo do Centrão — ou buscar a reeleição em São Paulo, que ele julga relativamente garantida. Para ter reais chances presidenciais, Tarcísio necessitaria não apenas do apoio da extrema direita do PL, mas também da base do Centrão que, em determinado momento, apoiou Bolsonaro, incluindo União Brasil, Progressistas e Republicanos, distinguindo-se do MDB e PSD, considerados uma centro-direita.
Tarcísio recebeu um sinal verde do Centrão. No entanto, prevalece a percepção de que, para ser vitorioso, ele precisaria da “unção” de Bolsonaro e de líderes religiosos como Silas Malafaia. Este cenário esbarra em concorrentes como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Junior (PSD-PR), além dos herdeiros políticos de Bolsonaro: Carlos, Eduardo e Michelle. A principal preocupação da família Bolsonaro, segundo Lynch, é perder o controle da direita, uma vez que, com o apoio do ex-presidente a Tarcísio e a eventual vitória deste, a influência da família poderia ser minimizada. Por um lado, o ex-presidente reluta em transferir sua base de votos e, por outro, tenta valorizar essa transferência ao máximo.
Para o ex-presidente, a prioridade pessoal é evitar a prisão o mais rápido possível. Sua elegibilidade torna-se secundária neste contexto. Portanto, ele estaria disposto a negociar seu apoio em troca de quem oferecer as maiores garantias de uma anistia ou um indulto. A confiança no processo é complexa, pois ele teme a traição de Tarcísio, a manutenção da prisão caso Lula seja reeleito, ou a derrota de um filho sem o respaldo do Centrão. Essa incerteza o leva a adiar a decisão e a inflacionar o preço de seu apoio.
Estratégias Políticas e a Ação do Judiciário
Lynch aponta que Tarcísio e o Centrão buscam capitalizar a fragilidade momentânea de Bolsonaro, apresentando Tarcísio como o único capaz de retirá-lo da cadeia. Essa disputa, paradoxalmente, não envolve diretamente Lula ou a esquerda, mas sim uma “briga da direita”. Tarcísio, na visão do analista, acredita que com o respaldo de Bolsonaro, seria quase imbatível no primeiro turno, o que explica sua postura radical. Lynch, porém, duvida da candidatura de Tarcísio sem o apoio explícito do ex-presidente.

Imagem: bbc.com
Embora candidatos como Tarcísio, Caiado, Ratinho Júnior e Zema já manifestem apoio à anistia ou indulto em troca do respaldo de Bolsonaro, o especialista argumenta que, com exceção da família Bolsonaro, ninguém de fato quer tirá-lo da inelegibilidade. O máximo que se desejaria é a sua saída da prisão. “Ninguém quer botar ele no jogo”, afirma Lynch, pois Bolsonaro não seria confiável para o Centrão, sendo desejado apenas por uma parcela ultrarreacionária de sua base.
Desse modo, o analista conclui que o cenário ideal para o Centrão é Bolsonaro na cadeia e inelegível. “Claro. E de preferência na cadeia, desesperado, pedindo benção. E ele sabe disso”, destaca. O ex-presidente, consciente de sua situação, postergará a decisão para a última hora, visando o máximo valor pelo seu apoio, o que, por sua vez, pode amarrar o candidato no extremismo. O impasse também é ditado pelo tempo: Tarcísio precisa renunciar ao cargo de governador seis meses antes da eleição, enquanto Bolsonaro planeja estender sua decisão. Lynch indica que Tarcísio buscou mostrar-se mais confiável para Bolsonaro, Malafaia e Eduardo Bolsonaro ao defender a anistia. É relevante notar que um presidente pode conceder indulto, que pode ser barrado pelo STF, mas a anistia depende do Congresso. Na visão de Lynch, muitos atores da direita desejam que Bolsonaro apoie Tarcísio, que, após eventual vitória, concederia o indulto que o Supremo vetaria, “acabando com Bolsonaro”.
Ataques ao STF e Influência Externa
Essa dinâmica eleitoral, especialmente os ataques ao Supremo Tribunal Federal, reflete uma estratégia da extrema direita, alinhada com discursos de líderes como Donald Trump, Viktor Orbán e Benjamin Netanyahu. Eles buscam descreditar a democracia liberal, apresentando-a como um “regime esquerdista” fraco e o STF como defensor de uma “ditadura esquerdista”. Christian Lynch adverte que a elevação do tom contra ministros e a intervenção de figuras como Trump – com a aplicação de tarifas e sanções – visam a intimidar o Judiciário. “O Brasil vai tomar porrada enquanto o governo Trump estiver com o ânimo beligerante, nesse ímpeto de destruição da democracia liberal que ele tem nos Estados Unidos”, afirma o pesquisador, caracterizando o governo Trump como “reacionário” e “contrarrevolucionário”, que trata adversários como inimigos e justificaria o uso da força como legítima defesa. Para Trump, os Estados Unidos estariam decadentes devido a governos democratas, o que o levaria a “punir” o restante do mundo por ter supostamente abusado da fraqueza americana. O Brasil se torna um alvo, pois é visto como desalinhado e uma “ditadura comunista” por essa ótica, além de querer eliminar o grupo alinhado a Trump na América do Sul.
Diante do cenário político turbulento, com o “tarifaço” e as pré-candidaturas em formação, Lynch reafirma que o presidente Lula segue como favorito para a reeleição em 2026. Ele o considera um nome constante desde 2002, com três vitórias e a eleição de Dilma Rousseff por duas vezes, além de possuir um recall histórico e a “máquina” na mão, o que, combinado com um pacote de benefícios e a perspectiva de queda de juros, fortalecerá sua posição. Contudo, o especialista alerta que uma eventual reeleição de Lula, mantendo um Congresso conservador, poderia perpetuar um “estado de paralisia, mas de equilíbrio instável”. Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de fato declarou Bolsonaro inelegível, em uma decisão de impacto notável para o cenário político nacional, como noticiado amplamente.
Este aprofundado panorama político revela as complexas engrenagens que movem a corrida eleitoral no Brasil, destacando a estratégia de Christian Lynch sobre o papel do Centrão frente a um ex-presidente que luta contra condenações e inelegibilidade. Continue acompanhando as nuances da política nacional e outras análises detalhadas em nossa editoria de Política.
Crédito: Arquivo pessoal
Recomendo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados