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A cegueira por metanol emergiu como uma preocupante consequência em São Paulo, com o registro de casos de possível intoxicação pela substância no estado. Pelo menos três indivíduos afetados por essa contaminação reportaram perda de visão, que se manifestou de forma parcial ou temporária, segundo relatos. Atualmente, 22 ocorrências de suposta contaminação estão sendo investigadas, das quais cinco já foram confirmadas, sinalizando a gravidade do problema.
Entre os relatos mais notáveis, familiares de Radharani Domingos, que segue hospitalizada, confirmaram a imprensa a condição de saúde da paciente. Diogo Marques, também internado anteriormente, relatou ter sofrido perda visual, embora afirme que sua visão foi posteriormente recuperada. No entanto, Rafael Martins, amigo de Diogo, está em coma desde 1º de setembro e, conforme detalhado por sua mãe no programa Fantástico da TV Globo, sofreu danos não apenas na visão, mas também em seu cérebro.
Os impactos do metanol no sistema visual são alarmantes e suscitam questionamentos sobre como uma substância industrial pode causar danos tão severos.
Cegueira por Metanol: Entenda os Impactos na Visão em SP
Conforme a médica oftalmologista Ana Luísa Quintella Aleixo, uma das principais especialistas na área e atuante no Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz, o nervo óptico é frequentemente a primeira estrutura biológica a ser gravemente comprometida pela intoxicação com metanol. Esse nervo, vital para o processo visual, é o canal de comunicação entre o olho e o cérebro, caracterizado por sua extrema sensibilidade e dependência para transmitir sinais luminosos processados pela retina ao cérebro. Aleixo enfatiza que “a visão não é um processo somente do globo ocular, é um processo da interação do olho com o cérebro”, sendo o nervo óptico a ponte crucial.
Mecanismo de Ação do Metanol no Organismo
A intoxicação ocorre quando o metanol, uma substância jamais destinada ao consumo humano, é ingerido. Ao entrar no corpo, ele passa por um processo metabólico no fígado. Segundo Aleixo, o metanol é primeiramente convertido em formaldeído – mais conhecido como formol, usado em colas industriais e para embalsamar cadáveres. Subsequentemente, o formaldeído é transformado em ácido fórmico. Este ácido é descrito como o “verdadeiro veneno” para o organismo pelo médico oftalmologista Hallim Féres Neto, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e diretor da clínica Prisma Visão.
Hallim Féres Neto explica que o ácido fórmico tem a capacidade de se acumular no corpo, interferindo diretamente no funcionamento das mitocôndrias. Estas estruturas celulares são essenciais para a produção de energia, e as células do sistema nervoso, incluindo as do nervo óptico e da retina, demandam grande quantidade de energia para suas funções. Ao comprometer essas células e, consequentemente, a capacidade de transmitir informações visuais do olho para o cérebro, o ácido fórmico culmina na **perda de visão** e potencial **cegueira por metanol**.
Corrida Contra o Tempo: Atendimento Rápido Salva Visão
Os especialistas entrevistados são categóricos quanto à importância vital do atendimento médico célere para os casos de **intoxicação por metanol**. Uma resposta rápida é decisiva não apenas para minimizar os danos à visão e outros problemas de saúde, mas também para reduzir o risco de óbito. Ana Luísa Quintella Aleixo sublinha que “rápido” significa que a intervenção médica deve ocorrer em um período de até 12 horas após a ingestão do metanol, alertando contra o uso de antídotos caseiros.
Hallim Féres Neto reitera essa urgência, chegando a afirmar que o tempo de atendimento pode ser até mais crítico do que a dose ingerida da substância tóxica. “Doses menores sem atendimento rápido podem ser piores que doses maiores, mas com suporte rápido e adequado”, ele destaca. O tratamento inicial deve ser encarado como uma emergência, envolvendo a administração de antídotos, sessões de hemodiálise e outras estratégias para eliminar o veneno do corpo do paciente. Não obstante a primazia da rapidez, Aleixo lembra que a quantidade de metanol consumido ainda tem peso: “Quanto maior a dose, maior a quantidade de ácido fórmico produzida e maior a gravidade das lesões”, conclui a oftalmologista.
Fatores de Risco e Desafios da Recuperação
Além da dose, alguns fatores podem agravar a situação de um indivíduo intoxicado. Médicos apontam que condições preexistentes como doenças hepáticas, deficiências de folato e de certas vitaminas do complexo B, desnutrição e alcoolismo crônico podem intensificar os efeitos negativos do metanol. Um estudo polonês de 2022, mencionado por Aleixo, revela que entre 30% e 40% dos sobreviventes de intoxicações severas por metanol desenvolverão algum grau de **perda permanente de visão**. O conhecimento dessas sérias consequências da intoxicação por metanol é crucial para a prevenção e tratamento adequado.

Imagem: bbc.com
Embora um atendimento veloz possa preservar parte da visão, os médicos admitem que a recuperação do que já foi perdido é extremamente desafiadora. “Depois que o nervo óptico é lesado, a recuperação é muito limitada, porque não há uma terapia capaz de regenerar o nervo”, explica a médica Ana Luísa Quintella Aleixo. Assim, a assistência às vítimas envolve tratamentos focados em recursos ópticos de auxílio, suporte psicológico e terapias de reabilitação. A oftalmologista sintetiza a situação: “É uma situação muito grave, muito triste. É uma tragédia essa intoxicação.”
Investigação dos Casos e Perigo da Adulteração
As autoridades em São Paulo estão empenhadas na elucidação dos casos. A Polícia Federal e a Polícia Civil do estado conduzem as investigações que se concentram na ingestão de destilados adquiridos em bares e adegas. Dos 22 casos de contaminação sob apuração, cinco infelizmente resultaram em óbito. Contudo, até o momento, apenas uma dessas mortes teve a ingestão de bebida adulterada confirmada como causa. Ainda não se sabe ao certo se o metanol foi adicionado intencionalmente em bebidas falsificadas ou se a contaminação ocorreu acidentalmente durante o processo de produção de um destilado legítimo, embora as declarações oficiais até agora tendam a indicar a primeira hipótese.
O metanol possui uma aparência e sabor similares aos do etanol (álcool potável), o que o torna perigoso, pois os primeiros sintomas são enganosamente parecidos com os da embriaguez comum. Estes incluem náuseas, vômitos, sensação de embriaguez e confusão mental, tornando difícil para a vítima identificar prontamente a verdadeira causa de seu mal-estar até que as complicações se agravem.
A preocupante onda de intoxicações e o risco iminente de cegueira permanente reforçam a importância de conscientização sobre os perigos da ingestão de metanol. Para mais notícias e análises sobre questões relevantes para as cidades e saúde pública, continue acompanhando nossa editoria de Cidades aqui em Valor Trabalhista. Mantenha-se informado para sua segurança e bem-estar.
Crédito da imagem: Getty Images
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