Censura na Mídia e Memorial de Charlie Kirk em Foco

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A censura na mídia e o memorial de Charlie Kirk, proeminente ativista de direita, se tornaram o epicentro de uma complexa teia de eventos políticos nos Estados Unidos, revelando as estratégias do governo e as tensões crescentes entre liberdade de expressão e poder governamental. Realizado em 21 de setembro de 2025, o serviço fúnebre para o cofundador de 31 anos da Turning Point USA não apenas reuniu milhares de pessoas em um estádio, mas também acendeu debates acalorados sobre manipulação política e o papel da imprensa.

Relatos de um memorial de quatro horas no State Farm Stadium em Glendale, Arizona, destacam que a palavra “mártir” foi pronunciada em poucas ocasiões. Contudo, para as mais de 90.000 pessoas presentes e os alegados 100 milhões que acompanharam a transmissão online, a conotação de sacrifício não necessitava de explicitação. Diversos oradores enalteceram o falecido como um “servo fiel de Cristo”, dedicando sua vida a evangelizar estudantes universitários para “salvá-los da escuridão espiritual da esquerda”.

Censura na Mídia e Memorial de Charlie Kirk em Foco

Emissários do círculo de Donald Trump, incluindo Donald Trump Jr., o vice-presidente JD Vance e o presidente Donald Trump, foram os únicos a empregar explicitamente o termo “mártir” em seus discursos. Era perceptível, na retórica deles e de outros participantes do cenário político, a intenção de capitalizar a morte de Kirk para obter vantagens políticas máximas, visando angariar o apoio dos evangélicos presentes. A reportagem de Tina Nguyen para o The Verge sobre o evento observou que o público presente no memorial superou a audiência de qualquer comício de Trump presenciado pela jornalista, e que a motivação parecia mais religiosa do que político-partidária.

Após a comovente fala de Erika Kirk, viúva de Charlie Kirk, sobre o perdão ao assassino de seu marido, muitos espectadores começaram a deixar o estádio. Em poucos minutos, durante o discurso de 40 minutos do Presidente Trump, o local estava pela metade. Curiosamente, Trump declarou que, ao contrário da crença de Erika e Charlie Kirk em relação ao perdão, ele “odiava seu oponente” e não desejava o melhor para ele. Esse episódio ressignificou as intenções dos oradores anteriores e de influenciadores do movimento MAGA, incluindo Erika Kirk, que assumiu como nova CEO da Turning Point USA. Eles estavam ali não apenas para honrar um amigo, mas para solidificar uma base eleitoral e legitimar suas próprias ações políticas.

Aproveitamento Político e Ações Controversas

As manobras políticas subsequentes à morte de Kirk começaram de imediato. Poucos dias antes, a NBC divulgou que oficiais do Departamento de Defesa haviam sugerido uma campanha de recrutamento militar baseada no legado de Kirk, utilizando os capítulos da TPUSA em campi universitários para identificar potenciais recrutas. Pete Hegseth, Secretário de Defesa, participou do memorial, afirmando que a morte de Kirk estava “acendendo nosso país para Cristo”. Além disso, a Procuradora-Geral Pam Bondi sugeriu que qualquer celebração da morte de Kirk constituía discurso de ódio, prometendo que as autoridades perseguiriam os envolvidos – uma interpretação controversa, visto que a Primeira Emenda protege o discurso de ódio. Em uma ação que repercutiu amplamente, o Presidente Trump assinou um decreto classificando o movimento Antifa como organização terrorista.

Contudo, a medida mais audaciosa impactou milhões de lares americanos. Na quinta-feira anterior à reportagem, Brendan Carr, comissário da Comissão Federal de Comunicações (FCC) nomeado por Trump, exerceu pressão bem-sucedida sobre a Disney para suspender por tempo indeterminado Jimmy Kimmel, apresentador de talk show noturno. A causa foi uma piada de Kimmel sobre o suposto assassino de Kirk: “Tivemos alguns novos baixos no fim de semana, com o grupo MAGA tentando desesperadamente classificar este garoto que assassinou Charlie Kirk como qualquer coisa, menos um deles.”

As Pressões da FCC sobre a Mídia

Carr argumentou que Kimmel havia caracterizado o atirador como parte do movimento MAGA, o que, em sua interpretação, configurava “distorção de notícias”. Ele ameaçou retirar as licenças de transmissão de qualquer emissora de televisão que veiculasse o programa “Jimmy Kimmel Live!”. Nexstar, a maior proprietária de emissoras no país (e que incidentalmente necessitava da aprovação da FCC para uma fusão), rapidamente cedeu à pressão. O mesmo aconteceu com a Sinclair, a segunda maior proprietária. Em poucas horas, a Disney também se rendeu. Benny Johnson, um influenciador do movimento MAGA, foi quem apresentou o programa onde Carr proferiu as ameaças e, após a notícia sobre Kimmel, postou: “Conseguimos para você, Charlie. E estamos apenas começando.” Embora a Disney tenha revertido a decisão e anunciado na segunda-feira seguinte o retorno do “Jimmy Kimmel Live!”, a Sinclair, conhecida por sua orientação conservadora, declarou que manteria o veto à exibição do programa, evidenciando a persistência da ameaça.

A Comissão Federal de Comunicações (FCC) tem sido uma área de cobertura de interesse para o The Verge. Adi Robertson, editora sênior de tecnologia e política do veículo, em entrevista, descreveu como a administração Trump manipulou políticas de telecomunicações frágeis, monopólios corporativos e uma interpretação muito flexível do “interesse público” para silenciar críticos. Robertson afirmou que “tudo está pegando fogo porque a administração Trump está demonstrando total desconsideração pela Primeira Emenda e se aproveitando da falha das instituições em contê-la”. Ela atribuiu essa falha principalmente ao Congresso, que “criou brechas e repetidamente se recusou a agir” contra os abusos de autoridade presidenciais, chegando a endossar a ideia de que reguladores deveriam ter poder para cercear a liberdade de expressão.

O Cenário de Mídia e a Fragilidade das Liberdades

A entrevista com Robertson aprofundou as preocupações, revelando que a recusa do Congresso em lidar com estas questões não é recente, remontando a leis da era McCarthy que nunca foram revogadas e que permitem ao governo retirar direitos de fala de portadores de visto ou cidadãos naturalizados, sob pretexto de “segurança nacional”. Essas brechas estão sendo usadas para alvejar, por exemplo, ativistas pró-Palestina ou, em um cenário especulativo, críticos de Charlie Kirk, podendo resultar na expulsão do país. Este é um eco de táticas passadas, como as usadas em tarifas sob a justificativa de poder de emergência.

Censura na Mídia e Memorial de Charlie Kirk em Foco - Imagem do artigo original

Imagem: Tina NguyenCloseTina NguyenSenior Report via theverge.com

O mecanismo utilizado por Carr contra Kimmel foi definido por Robertson como “má-fé”. Segundo ela, o poder de Carr para ameaçar as licenças e dificultar fusões – como a da Tegna com a Nexstar – deriva do conceito de que as emissoras, por utilizarem um “recurso escasso” como o espectro de rádio, têm a responsabilidade de agir no “interesse público”. Contudo, Carr redefiniu unilateralmente esse termo. A questão, portanto, não é tanto uma “brecha” legal complexa, mas sim a eleição de autoridades que “não têm lealdade ao significado das palavras”, inviabilizando a governança e o funcionamento democrático. Carr havia esboçado essas estratégias no “Projeto 2025”, uma iniciativa de longa data de várias instituições para reconfigurar o governo, mas o Congresso falhou em antecipar e legislar salvaguardas contra tais ações, movido, em parte, por uma “falta de visão” e a tendência de atribuir boas intenções a colegas.

Robertson salientou que a FCC detém ampla autonomia sobre fusões, e Carr possui forte influência neste contexto, especialmente em uma “era de desregulamentação” propiciada pela administração Trump, que visa facilitar níveis sem precedentes de consolidação no mercado de mídia. Essa fusão de poder resultou na formação de poucos “gatekeepers” ou guardiões da informação, como Disney e Nexstar, gigantes que almejam um crescimento infinito e, portanto, dependem constantemente da aprovação da FCC. A consolidação torna essas empresas mais vulneráveis à pressão, já que ceder a ela significa perder grande parte do ecossistema de mídia. Em um mercado mais robusto e diversificado, seria muito mais difícil para as autoridades coagirem um número maior de atores independentes do que ir atrás de umas poucas grandes empresas.

A convergência entre “ambientes de mídia” e “ambientes de tecnologia” também foi abordada, com muitos players tornando-se indistinguíveis – NBC Universal sendo parte da Comcast, Amazon detentora da MGM. Isso levanta temores de que, se o presidente desaprovar um filme da MGM, a Amazon, sua proprietária, possa ser diretamente ameaçada. Nesse cenário, entidades como a CBS, que fazem parte de conglomerados maiores (como a Paramount, que também possui o Paramount+), perdem a autonomia jornalística e podem ser sacrificadas em nome de “decisões de negócios”. O New York Times, por exemplo, ainda teria maior segurança e flexibilidade devido à sua identidade primordial como empresa de mídia. No entanto, criadores de conteúdo independentes, mesmo aqueles à direita, como Candace Owens ou Tucker Carlson, enfrentam outras vulnerabilidades ao dependerem de grandes plataformas como o X (antigo Twitter), cujos proprietários podem facilmente desmonetizar ou suspender vozes discordantes.

Como frear o desrespeito às liberdades civis?

Quanto à possibilidade de frear essa erosão das liberdades civis, Robertson aponta para o sentimento público e a expectativa de eleições de meio de mandato, onde administradores impopulares podem enfrentar consequências. Protestos dos cidadãos, direcionados a empresas como a Disney, podem ser eficazes, especialmente se organizados e comunicados adequadamente, dado o valor da opinião pública para essas corporações. Há evidências de que boicotes a produtos e serviços, como cancelar assinaturas da ESPN, Hulu ou Disney+, podem funcionar. Além disso, criativos se recusando a trabalhar com empresas sob pressão representam outra forma de boicote, embora sua alavancagem individual seja menor do que a das próprias empresas. Ela ainda levantou, em tom de alerta, o impacto futuro da inteligência artificial (IA) neste cenário, com a possibilidade de substituição de criadores humanos por algoritmos.

No final, a especialista enfatizou que a população americana precisa valorizar e considerar “preciosas e frágeis” as liberdades civis. A complacência geral, alimentada pela mentalidade de “não pode acontecer aqui”, precisaria ser confrontada com o choque da realidade. A ausência de um programa popular como o de Jimmy Kimmel diretamente nas casas das pessoas pode, portanto, ter um impacto mais concreto do que a cobertura de “meios de comunicação abstratos em Washington”.

Esta análise profunda sobre as consequências do memorial de Charlie Kirk para a política e a liberdade de imprensa nos EUA ressalta a importância de entender como as dinâmicas de poder moldam o acesso à informação e a capacidade da mídia de atuar sem intimidação. Para aprofundar-se em questões de direitos civis e políticas governamentais, continue explorando nossa editoria de Política e mantenha-se informado sobre os desdobramentos que afetam o panorama global. Seu envolvimento é essencial para fomentar o debate e proteger os pilares da democracia.

Crédito da imagem: Image via @Plus3Happiness on X.


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