📚 Continue Lendo
Mais artigos do nosso blog
Em um embate que reacende o debate sobre ética e direitos autorais na era digital, o CEO de uma das maiores editoras de conteúdo digital e impresso dos Estados Unidos, a People, Inc., lançou sérias acusações contra o Google. Segundo o executivo, o Google estaria agindo de forma desonesta ao varrer os sites da editora para alimentar e dar suporte aos seus produtos de inteligência artificial. A controvérsia central gira em torno do uso dos “crawlers” do gigante da busca, programas automatizados que varrem a internet para indexar conteúdo, e como eles são empregados tanto para a função de pesquisa quanto para os recursos de IA da empresa.
Neil Vogel, que lidera a People, Inc. (anteriormente conhecida como Dotdash Meredith) e é responsável por um portfólio vasto de mais de 40 marcas renomadas, incluindo People, Food & Wine, Travel & Leisure, Better Homes & Gardens, Real Simple, Southern Living e AllRecipes, expressou seu descontentamento em um evento recente. De acordo com Vogel, a utilização de um único rastreador pelo Google para fins de busca (que ainda direciona tráfego significativo) e para produtos de IA (onde ele alegou haver “roubo” de conteúdo) demonstra uma falha na reciprocidade justa.
CEO de Gigante Editora Acusa Google de ‘Má Conduta’ em Conteúdo AI
Durante sua participação na conferência Fortune Brainstorm Tech, ocorrida nesta semana em San Francisco, o executivo detalhou as preocupações de sua empresa. Vogel apontou que o uso da mesma tecnologia de rastreamento pela empresa de Mountain View para propósitos tão distintos levanta questões importantes sobre a competição leal e a remuneração pelo conteúdo original. Embora o Google continue sendo uma fonte de visitantes para seus portais, o uso unilateral desses dados para o desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial sem compensação justa é o ponto central da queixa. Ele reiterou: “não é certo você pegar nosso conteúdo para competir conosco”.
Impacto no Tráfego e Estratégias de Publishers
As palavras de Vogel ganham ainda mais peso ao considerarmos a evolução do tráfego proveniente do Google. Ele revelou que, há três anos, o Google Search era responsável por aproximadamente 65% do tráfego de sua empresa. Esse percentual, no entanto, caiu para a casa dos 20% atualmente. Em uma estatística ainda mais impactante, compartilhada anteriormente com a AdExchanger, Vogel indicou que, há alguns anos, o tráfego do Google chegou a representar impressionantes 90% da audiência da People, Inc. proveniente da web aberta. Apesar dessa diminuição drástica, o CEO afirmou que a empresa conseguiu expandir sua audiência e receita por outros meios, enfatizando que sua insatisfação não decorre de uma queda nos negócios, mas da utilização indevida de sua propriedade intelectual.
Para o CEO, a era da inteligência artificial exige que as editoras tenham maior poder de barganha. Por essa razão, ele defende a necessidade de bloquear rastreadores de IA que não ofereçam compensação. Essa medida estratégica, segundo Vogel, poderia compelir as grandes empresas de tecnologia a negociar acordos de conteúdo. Como exemplo positivo, ele citou a parceria existente entre a People, Inc. e a OpenAI, empresa que descreveu como um “bom ator” no cenário atual.
Cloudflare e a Busca por Acordos de Conteúdo
A People, Inc. tem implementado uma solução avançada da Cloudflare, uma empresa de infraestrutura web, para identificar e bloquear crawlers de inteligência artificial que não estão pagando pelo acesso aos dados. Essa tática proativa já resultou em grandes provedores de Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs) se aproximando da editora para discutir potenciais acordos. Embora Neil Vogel tenha mantido em sigilo os nomes dessas empresas, ele destacou que são players significativos no mercado de IA. Embora nenhum contrato formal tenha sido assinado até o momento, o CEO indicou que a empresa está em um estágio de negociação muito mais avançado desde a adoção da ferramenta de bloqueio de rastreadores.
Contudo, a mesma solução não pode ser aplicada ao Google. Vogel explicou que bloquear o crawler do Google resultaria também no impedimento da indexação dos sites da People, Inc. nos resultados de pesquisa da gigante, cortando assim os aproximadamente 20% de tráfego que a plataforma ainda entrega. Essa impossibilidade, ele argumentou, demonstra uma ação deliberadamente “ruim” por parte do Google, que estaria ciente da situação e se recusa a separar seus rastreadores para diferentes finalidades.

Imagem: techcrunch.com
Perspectivas da Indústria e Previsões para o Futuro
A visão de Neil Vogel foi ecoada por Janice Min, editora-chefe e CEO da provedora de newsletters Ankler Media, que se juntou ao coro ao caracterizar grandes empresas de tecnologia, como Google e Meta, como “cleptomaníacos de conteúdo de longa data”. Min reforçou a posição de sua empresa de bloquear os rastreadores de IA, declarando que não vê benefícios em firmar parcerias com nenhuma companhia de IA neste momento. O tema foi amplamente discutido durante a conferência Fortune Brainstorm Tech, que acontecerá também entre 27 e 29 de outubro de 2025, em São Francisco, palco para o encontro de líderes do setor de tecnologia e mídia.
Matthew Prince, CEO da Cloudflare, que esteve presente no mesmo painel e cuja empresa oferece a solução de bloqueio de IA, compartilhou a expectativa de que o comportamento das empresas de inteligência artificial eventualmente mudará, possivelmente impulsionado por novas regulamentações. Prince levantou dúvidas sobre a eficácia de combater as empresas de IA por meio de soluções legais baseadas em leis de direitos autorais desenvolvidas para a era pré-IA. Segundo ele, isso seria “um esforço inútil”, uma vez que as leis de direitos autorais frequentemente protegem o que é mais “derivativo” sob o conceito de uso justo.
Ele acrescentou que o que as empresas de IA estão produzindo são, de fato, conteúdos derivativos. Como exemplo, citou o acordo de US$ 1,5 bilhão que a Anthropic fechou recentemente com editoras de livros, visando preservar uma decisão favorável de direitos autorais que haviam obtido. Prince foi ainda mais enfático ao declarar que “tudo de errado com o mundo hoje é, em algum nível, culpa do Google”, acusando a gigante da busca de ter ensinado os editores a priorizar o tráfego em detrimento da criação de conteúdo original, resultando em empresas como a BuzzFeed focando em “clicks”. Ainda assim, ele reconheceu que o Google se encontra em uma situação difícil sob o ponto de vista competitivo, prevendo que, dentro de um ano, o Google estará pagando aos criadores de conteúdo pelo rastreamento e utilização de seus materiais em modelos de inteligência artificial. Para mais informações sobre o uso de dados e suas implicações, pesquisas mostram que o tema tem ganhado cada vez mais espaço no debate público.
O embate entre grandes empresas de tecnologia e editoras de conteúdo, especialmente no contexto do avanço da inteligência artificial, sublinha a urgência de estabelecer novas regras para a propriedade intelectual na internet. Este debate continuará a moldar a paisagem do jornalismo digital e da inovação em IA, impactando diretamente como as informações são produzidas e monetizadas. Continue acompanhando nossas notícias sobre economia digital e o futuro da mídia em nossa editoria de Economia.
Crédito da imagem: Sarah Perez
Recomendo
🔗 Links Úteis
Recursos externos recomendados