Colágeno: Suplementos Orais e Tópicos Funcionam na Prática?

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No universo da estética e bem-estar, a eficácia dos suplementos de colágeno tem sido um tema de crescente debate, com a substância conquistando espaço até em momentos sociais. A proteína, essencial para o corpo humano, levanta questões sobre suas diversas formas de consumo – oral, tópica ou injetável – e os benefícios reais.

O colágeno representa a proteína mais abundante no organismo humano, desempenhando um papel crucial na sustentação da pele e do sistema musculoesquelético. Suas funções incluem a manutenção da firmeza da pele, o fortalecimento de ossos e articulações, além de contribuir para a saúde de cabelos e unhas. Em vista dessa importância, a estratégia de “estocar colágeno” por meio de suplementação precoce tem sido aventada por alguns especialistas. Para desvendar se essa tática e outras formas de uso de colágeno são válidas, aprofundamos a análise dos dados disponíveis sobre o tema:

Colágeno: Suplementos Orais e Tópicos Funcionam na Prática?

Contudo, a partir dos 20 ou 30 anos, o corpo inicia um processo natural de perda de colágeno, em média, de 1% ao ano. Essa diminuição pode ser acelerada por fatores como exposição solar, hábitos alimentares e níveis de estresse. A questão central, então, se torna: existem comprovações científicas fidedignas de que a suplementação é realmente capaz de repor esse estoque decrescente? E, caso afirmativo, qual a metodologia mais eficiente para absorvê-lo?

Evidências Científicas Confrontam Alegações de Marketing

Frequentemente, as promessas veiculadas na publicidade sobre produtos de colágeno oral carecem de suporte em pesquisas robustas. Conforme Leng Heng, cientista sênior de nutrição humana da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), a União Europeia ainda não concedeu aprovação para “qualquer alegação de propriedade de saúde para suplementos de colágeno”. A EFSA, órgão regulador europeu, avaliou o colágeno e concluiu que as alegações de benefícios à saúde da proteína ainda não foram corroboradas por evidências suficientes e de alta qualidade. Heng detalha que essas alegações “não foram suficientemente definidas, não houve estudos humanos de apoio ou foram baseadas em evidências de pesquisas com animais e de laboratório, que não podem prever os efeitos em seres humanos”.

Dessa forma, afirmações de que o colágeno mantém a elasticidade da pele ou melhora a função das articulações permanecem sem validação científica completa. O professor Faisal Ali, dermatologista consultor do Mid Cheshire Hospital, ressalta a complexidade de diferenciar as informações conflitantes devido aos interesses competitivos em torno das pesquisas de suplementos. Um estudo recente, de pequena escala, ilustra essa divergência: pesquisas financiadas pela indústria do bem-estar tendem a apontar melhorias significativas na hidratação, elasticidade e redução de rugas, enquanto estudos independentes não demonstram efeito algum. O pesquisador clínico David Hunter, da Universidade de Sydney, destaca a raridade de estudos “totalmente independentes da indústria”, e Ali, embora reconheça que financiamento industrial não é inerentemente prejudicial, enfatiza que ainda faltam provas consistentes para a eficácia do colágeno oral ou tópico. À pergunta sobre um hipotético “estocamento” de colágeno aos 20 anos, Ali responde que provavelmente não resultaria em pele mais jovem e lisa, pois a substância não se mantém no corpo por tempo prolongado para formar uma “reserva utilizável”.

Alternativas e Cuidados: Além da Suplementação

Apesar da incerteza sobre os suplementos, técnicas como estimulação a laser e microagulhamento demonstram capacidade de impulsionar a produção de colágeno e manter a elasticidade cutânea. Estes procedimentos envolvem a criação de microincisões na pele, que ativam o processo de reparo e estimulam a formação de novo colágeno, com custos que podem chegar a R$ 4.300 por sessão. Uma alternativa acessível e mais eficaz, segundo Ali, é a aplicação diária de um bom protetor solar, essencial devido ao impacto significativo da exposição solar no envelhecimento da pele. Ele adiciona que uma dieta equilibrada e o abandono do tabagismo terão um impacto muito maior do que os suplementos de colágeno. Para aprofundar seu conhecimento sobre os impactos e benefícios da proteção solar na saúde, confira as recomendações de especialistas.

Os riscos à saúde individual decorrentes da suplementação de colágeno são considerados baixos, porém, a crescente demanda pela substância acarreta implicações maiores. Suplementos de colágeno bovino, por exemplo, já foram associados ao desmatamento no Brasil. A Comissão Europeia também investigou o potencial risco de encefalopatia espongiforme transmissível (EET), ou doença de príon, com base no consumo de colágeno ou gelatina. A EFSA concluiu que o risco para humanos seria ínfimo ou inexistente, mesmo nos piores cenários hipotéticos. O professor de fisiologia neuromuscular Robert Erskine, da Universidade John Moores em Liverpool, Reino Unido, alerta que o aumento da ingestão de uma proteína como o colágeno pode preocupar indivíduos com condições renais ou hepáticas que afetam o metabolismo proteico. Além disso, existe o risco de interações com outros medicamentos, um motivo pelo qual Hunter aconselha consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer suplementação.

Colágeno: Suplementos Orais e Tópicos Funcionam na Prática? - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Jornada Pessoal e o Mecanismo de Ação Questionável

A história de Kimberlie Smith ilustra o apelo pessoal do colágeno. Aos 33 anos, após um período estressante em 2024, Smith decidiu usar colágeno marinho, um derivado de peixes, percebendo uma pele “mais brilhante e clara” e cabelos mais fortes. Ali Watson, neuroanestesista e ávida levantadora de peso de 46 anos, começou a usar colágeno bovino em pó há alguns anos para proteger suas articulações, embora a mudança percebida tenha sido mais na pele, cabelos e unhas, além de estender o suplemento ao seu cão Tommy. Ambos expressam uma relutância em parar, mesmo diante da incerteza científica e dos custos.

Apesar dessas experiências, a dermatologista consultora Emma Wedgeworth mantém ceticismo sobre a eficácia do consumo oral. Ela questiona a ideia de que a substância, por si só, alcance exatamente onde é necessária. Primeiramente, o colágeno, sendo uma molécula grande, precisa ser decomposto em peptídeos de colágeno ou colágeno hidrolisado para ter alguma chance de atravessar a parede intestinal e chegar à corrente sanguínea. Mesmo assim, seu caminho até a pele é longo, podendo ser redirecionado para outros órgãos, por ser considerado um nutriente valioso. Existe a teoria de que a pele, por ser o órgão com “renovação celular mais rápida”, poderia ter maior propensão a utilizar esses peptídeos, levando a um aumento da produção de colágeno nas células cutâneas.

Quanto aos cremes de colágeno, a eficácia é ainda mais limitada. Wedgworth explica que o colágeno tópico permanece na camada externa da pele, sem conseguir penetrar na derme, que é a camada intermediária onde os efeitos desejados seriam obtidos. Existem três tipos principais de suplementos de colágeno: marinho (de peixes), bovino e vegano. Para ingestão oral, a recomendação é o tipo marinho, devido à sua maior concentração de colágeno tipo 1, o mais comum no corpo, crucial para a estrutura celular da pele e para a saúde de ossos, tendões e tecidos conjuntivos. O colágeno vegano é o menos eficiente, uma vez que, por ser uma proteína de origem animal, esses produtos não contêm a proteína em si, mas sim uma combinação de aminoácidos e vitaminas que a “imitam”.

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Em suma, a utilidade dos suplementos de colágeno é um tema complexo, sem uma resposta única e definitiva. A efetividade pode variar dependendo do objetivo do consumo, duração do uso, custo, combinação com outros ingredientes e possíveis interações com a saúde individual. O professor Erskine reitera que nem todas as pessoas reagirão aos suplementos de colágeno da mesma forma. Diante disso, é fundamental buscar informações qualificadas e discutir quaisquer decisões sobre suplementação com profissionais de saúde. Continue acompanhando nossas notícias e análises para se manter informado sobre as últimas descobertas em diversas editorias.

Crédito, Getty Images


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