Eleição na Bolívia: Paz e Quiroga disputam presidência

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Após um primeiro turno que redefiniu o cenário político boliviano em 17 de agosto, os cidadãos vão novamente às urnas neste domingo para decidir quem assumirá a presidência pelos próximos cinco anos. O processo eleitoral marca um ponto de virada histórico, distanciando-se de duas décadas de predominância do Movimento ao Socialismo (MAS) liderado por Evo Morales. Neste segundo turno inédito na história do país, Rodrigo Paz e Jorge Tuto Quiroga são os protagonistas desta disputa decisiva que promete moldar o futuro da Bolívia.

A eleição ocorre em um momento de profunda instabilidade econômica, com uma taxa de inflação anual superando os 23%, a escassez de reservas internacionais em níveis preocupantes e a depreciação do valor da moeda nacional. Tal conjuntura tem levado uma ampla maioria do eleitorado a buscar alternativas na oposição, indicando um desejo palpável de mudança na administração pública. Essa guinada reflete o anseio por novas estratégias para enfrentar os desafios impostos ao país.

Eleição na Bolívia: Paz e Quiroga disputam presidência

O vitorioso desta contenda histórica estará à frente do primeiro governo de centro-direita a ser eleito por voto direto em cerca de vinte anos. A nação aguarda ansiosamente o desfecho para compreender a direção que será traçada no que concerne à gestão econômica, social e política. Tanto Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), quanto Jorge Tuto Quiroga, da aliança Liberdade e Democracia (Libre), apresentam propostas que contrastam com o modelo anterior e buscam atender às demandas da população por estabilidade e progresso.

De um lado, o centrista Rodrigo Paz se posiciona como um reformista moderado, defensor de um “capitalismo para todos”. Sua plataforma está ancorada em um plano de ajuste fiscal robusto, com foco primordial na redução de gastos públicos. Aos 58 anos, Paz possui uma trajetória política considerável: atuou como deputado, foi prefeito de Tarija e atualmente exerce o cargo de senador pelo mesmo departamento. Sua origem familiar tem um peso histórico; é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), uma figura proeminente do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), partido que o próprio Rodrigo Paz trilhou no início de sua carreira.

Nascido na Galícia, Espanha, em 1967, durante o período de exílio de seu pai, Rodrigo Paz viveu em diversas nações antes de fixar residência na Bolívia aos 15 anos. Com formação em Relações Internacionais e mestrado em Gestão Pública pela American University em Washington, D.C., ele decidiu ingressar na política aos 32 anos. Paz fez uma transição notável de partidos, partindo do MIR de seu pai, passando pela Comunidade Cidadã de Carlos Mesa até chegar ao PDC, legenda que agora o leva à corrida presidencial. O jornalista boliviano Fernando Molina, autor de “As 4 crises: História econômica contemporânea da Bolívia”, aponta que o PDC foi “recuperado para dar aos antigos eleitores do MAS, insatisfeitos com o partido, a oportunidade de manter certa identidade política”.

Contudo, sua performance no primeiro turno gerou questionamentos: apesar de ser um senador por Tarija há mais de duas décadas, ele ficou em terceiro lugar no seu próprio reduto político, com apenas 19% dos votos, e alcançou apenas 15% na capital onde já foi prefeito. Paz enfrentou acusações de suposta corrupção envolvendo superfaturamento e contratos irregulares em obras públicas durante sua gestão como prefeito de Tarija. Em sua atual campanha, promete cortar impostos, expandir o acesso ao crédito, eliminar restrições às importações e reduzir subsídios aos combustíveis, buscando ainda a descentralização do orçamento, tudo em nome de um “Estado que não atrapalhe a vida de ninguém”. A escolha de Edman Lara, um policial popular no TikTok por denunciar a corrupção, como seu companheiro de chapa, foi estratégica para apresentar uma imagem renovada, mas gera apreensão entre analistas quanto a seu impacto no segundo turno.

Do outro lado, Jorge Tuto Quiroga, da aliança Libre, aos 65 anos, busca um retorno à presidência, 23 anos após ter assumido o cargo em 2001, substituindo o ex-presidente Hugo Banzer Suárez por questões de saúde. Tuto Quiroga se apresenta como um estadista com vasta experiência técnica e política, essencial para superar a difícil conjuntura econômica. Nascido em Cochabamba, ele estudou Engenharia Industrial na Texas A&M University e obteve mestrado em Administração de Empresas na St. Edward’s University, nos EUA, onde também iniciou sua carreira na IBM. Retornou à Bolívia em 1988.

Sua trajetória política começou no governo de Jaime Paz Zamora, pai de Rodrigo Paz, onde ocupou cargos como subsecretário do Ministério do Planejamento e ministro das Finanças. Quiroga filiou-se à Ação Democrática Nacionalista (ADN), partido fundado pelo ex-ditador e posterior presidente eleito democraticamente, Hugo Banzer Suárez. A aliança culminou com sua eleição como vice-presidente de Banzer, tornando-o o mais jovem vice-presidente boliviano aos 37 anos. Em 2001, Quiroga assumiu a presidência por sucessão constitucional. Apesar de ser visto como uma ala renovadora dentro da ADN, sua história política, ligada a figuras como Banzer, dificulta a construção de uma imagem de novidade. Para isso, sua campanha adotou uma abordagem menos confrontativa e focou na imagem de um “bom sujeito”, um pai de família, e apostou em um jovem empreendedor tecnológico, Juan Pablo Velasco, como vice. Em 2005, Quiroga disputou a presidência, mas foi derrotado por Evo Morales. Afastado da política até 2019, foi nomeado por Jeanine Áñez como delegado presidencial para dialogar com a comunidade internacional por algumas semanas. Morales, inclusive, o rotulou de “especialista defensor das ditaduras”.

Eleição na Bolívia: Paz e Quiroga disputam presidência - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Jorge Tuto Quiroga, que alcançou 27% dos votos no primeiro turno, lançou sua quarta candidatura à presidência da Bolívia em dezembro de 2024 (a notícia, embora desatualizada em seu contexto temporal do artigo original, refere-se ao ano em que a candidatura foi lançada, que no original é dezembro de 2019, com eleição em 2020, mas o texto fonte da BBC indica “dezembro de 2024”, que será mantido por ser informação do artigo original), e propõe uma “terapia de choque” econômica, com a eliminação de impostos sobre o investimento estrangeiro, abertura irrestrita à importação de combustíveis e a solicitação de um empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

A recente votação do primeiro turno demonstrou um inquestionável declínio da esquerda e, mais surpreendente ainda, o fato de que os departamentos historicamente leais ao MAS nas eleições de 2020 agora foram conquistados por Rodrigo Paz. Departamentos como La Paz, Cochabamba, Oruro, Potosí e Chuquisaca, que em 2020 votaram massivamente no azul do MAS, agora adotaram o verde do PDC. Na Paz, o segundo maior colégio eleitoral, Paz obteve 47% dos votos, um contraste notável com os 68% do MAS em 2020. Em El Alto, a segunda maior cidade com uma forte população indígena urbana, Paz garantiu 59%, enquanto o MAS havia vencido com 76% anteriormente. Segundo o professor boliviano Eduardo Gamarra, da Universidade Internacional da Flórida, “Paz captura o voto, tanto rural quanto urbano, que o MAS perdeu”. Apesar de não ser considerado esquerdista, ele é visto por esses setores como alguém cujas propostas beneficiam seus interesses.

Evo Morales, que no primeiro turno havia recomendado o voto nulo, manifestou algum reconhecimento por Edman Lara, vice de Paz. Analistas, como Molina, interpretam que Morales aposta em uma vitória de Paz, vislumbrando um governo mais fraco e menos incisivo que não o persiga e tenha vida curta. Apesar do considerável apoio angariado por Paz, pesquisas privadas sugerem que esse pode não ser o bastante para superar Quiroga no segundo turno, especialmente porque este tem ajustado sua estratégia para atrair eleitores de centro. Os votos de Samuel Doria Medina, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno com 20% e declarou apoio a Paz, são cruciais, mas há dúvidas sobre se todos se consolidarão para Paz ou migrarão para Quiroga.

O primeiro turno representou um divisor de águas na política boliviana, após quase duas décadas de governos do MAS, conforme destacado em análises internacionais como as publicadas pela BBC News Brasil. A nação agora se encontra em um momento crucial para definir se optará por uma vertente mais conservadora ou uma alternativa mais moderada para conduzir os rumos do país nos próximos anos. O pleito entre Rodrigo Paz e Jorge Tuto Quiroga é a expressão máxima desse novo capítulo.

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Esta eleição boliviana transcende a escolha de dois nomes; representa a direção que o país tomará após um longo período sob a hegemonia de um mesmo projeto político. Mantenha-se informado sobre os desdobramentos e análises de cunho político acessando nossa editoria para mais conteúdo aprofundado e relevante.

Crédito: Getty Images


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