Filme Australiano Alterado na China Gera Repercussão

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A recente polêmica envolvendo a modificação digital de um filme australiano alterado na China tem provocado uma onda significativa de desaprovação, tanto por parte dos espectadores chineses quanto da distribuidora global da obra. O longa-metragem “Together”, conhecido em terras brasileiras como “Juntos”, se tornou o foco de um debate acalorado sobre a censura de conteúdo, especificamente no que diz respeito à manipulação digital para alterar a orientação sexual de personagens e a nudez.

A produção, um thriller sobrenatural roteirizado e dirigido pelo talento australiano Michael Shanks, traz Dave Franco e Alison Brie nos papéis principais. A trama envolve um casal que decide se mudar para uma área rural isolada, onde logo se vê confrontado por uma força misteriosa com o poder de afetar profundamente seus corpos, suas vidas e a própria essência de seu relacionamento. A recepção inicial ao filme foi amplamente positiva, com sua estreia no prestigioso Festival de Cinema de Sundance em janeiro, e seu posterior lançamento nos Estados Unidos e Austrália em julho. Criticamente aclamado, o filme obteve uma expressiva pontuação de 90% de aprovação no renomado agregador de críticas Rotten Tomatoes.

Filme Australiano Alterado na China Gera Repercussão

No entanto, as modificações significativas foram reveladas quando o filme australiano alterado na China começou a ser exibido em sessões antecipadas, que tiveram início em 12 de setembro. As alterações vieram à tona após capturas de tela das cenas originais circularem amplamente online, alertando os espectadores mais atentos sobre as diferenças entre as versões. Entre as modificações identificadas, destaca-se a adição digital de vapor para encobrir a nudez do protagonista masculino durante uma cena de chuveiro na versão chinesa, prática que alterou a intenção original da obra.

Contudo, a principal fonte de descontentamento e o centro da indignação popular foi a alteração digital de um casal gay presente no filme. A edição envolveu a substituição do rosto de um dos homens pelo de uma mulher, transformando a dinâmica homoafetiva em uma heterossexual. Complementarmente, todas as outras referências a um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo na narrativa original foram cuidadosamente removidas da versão destinada ao público chinês. Essas mudanças não apenas adulteraram o enredo, mas também geraram uma enxurrada de críticas em plataformas como Douban, uma popular ferramenta de crítica cinematográfica chinesa, onde o filme mantinha uma classificação de 6,9 de 10.

As reações no Douban não demoraram a aparecer, expressando uma profunda insatisfação com a maneira como a distribuidora local lidou com o filme. Uma publicação proeminente destacou a seriedade da situação, afirmando: “Não se trata mais apenas de cortes – é uma questão de distorção e deturpação.” Outro comentário popular ressoou o sentimento de desapontamento: “Eles não apenas alteraram o enredo, como também desrespeitaram a orientação sexual do ator. É repugnante.” Essas manifestações deixam clara a preocupação dos espectadores com a integridade artística e o respeito à representatividade e diversidade de temas.

A Neon, distribuidora global de “Together”, reagiu formalmente às adulterações. Em um comunicado divulgado na quarta-feira seguinte à eclosão da controvérsia, a empresa expressou publicamente seu repúdio e condenação veemente às edições não autorizadas. Criticando abertamente a Hishow, a distribuidora chinesa do filme que até então não havia se manifestado sobre o incidente, a Neon deixou claro que “não aprova a edição não autorizada do filme feita pela Hishow e exigiu que eles parem de distribuir esta versão alterada.” A BBC News, bem como veículos de notícias americanos como Deadline e TheWrap, acompanharam e relataram os desdobramentos e a exigência da Neon.

Este incidente ganha contexto à luz do histórico de censura da China em conteúdos que abordam temas LGBTQIA+. No país, o casamento entre pessoas do mesmo sexo não possui reconhecimento legal, e discussões ou representações sobre identidades LGBTQIA+ frequentemente se veem confrontadas com tabus culturais arraigados e políticas governamentais de restrição. A natureza das alterações digitais, que aparentemente foram criadas com o uso de Inteligência Artificial (IA), adiciona uma nova camada de complexidade à controvérsia, elevando-a de meros cortes para uma reconfiguração completa de personagens e elementos centrais do enredo através de meios tecnológicos.

Filme Australiano Alterado na China Gera Repercussão - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

O caso envolvendo “Together” não é um evento isolado na paisagem cinematográfica chinesa quando se trata de alterações por meio de tecnologias como a IA. Um exemplo notável recente é o filme “Oppenheimer”, um sucesso de bilheteria e vencedor do Oscar. Na versão exibida nos cinemas chineses, uma cena de nudez da atriz Florence Pugh foi digitalmente editada para que ela parecesse estar usando um vestido preto, também gerado por Inteligência Artificial. Essas intervenções ressaltam um padrão crescente de controle e repressão a conteúdos percebidos como inadequados ou sensíveis pelas autoridades chinesas, com foco especial na sexualidade e na representação LGBTQIA+ em diversas formas de mídia.

A abrangência da repressão não se restringe ao cinema. Observa-se um recrudescimento das ações das autoridades chinesas contra conteúdos homoafetivos em outras esferas culturais e literárias. Desde fevereiro, campanhas de repressão resultaram na detenção de pelo menos 30 escritores de ficção erótica gay em todo o país. A maioria desses escritores são mulheres jovens, na faixa dos 20 anos, o que destaca um esforço sistemático para ditar a narrativa cultural e as representações na sociedade chinesa, indicando uma postura cada vez mais rigorosa do governo em relação à liberdade de expressão artística e a determinados temas sociais sensíveis.

Até o momento, a distribuidora chinesa Hishow permaneceu em silêncio sobre a questão, o que contribui para a persistência da polêmica. Enquanto isso, o lançamento público de “Together”, que inicialmente estava previsto para 19 de setembro, não havia ocorrido até o dia 25 de setembro, data em que as notícias sobre a controvérsia começaram a circular mais amplamente. Para uma compreensão mais profunda das implicações das decisões governamentais e das políticas de censura sobre a indústria do entretenimento, bem como os desafios enfrentados pela produção cinematográfica global em mercados diversos, a mídia especializada como a revista TheWrap frequentemente oferece análises detalhadas e acompanhamento jornalístico, cobrindo, inclusive, os desdobramentos desse caso.

A situação envolvendo o filme “Together” e sua adaptação digital na China sublinha as complexas tensões entre a liberdade artística e as normativas de censura impostas em mercados internacionais. Mais do que um mero corte, esta prática de reescrever visualmente elementos centrais de uma obra levanta discussões essenciais sobre o uso ético da tecnologia para alterar narrativas culturais e a necessidade de salvaguardar a autenticidade das produções cinematográficas globalmente. Este episódio não só ilustra a persistência de desafios na representação da diversidade, mas também promove uma reflexão crítica sobre a ética e o respeito pelas criações originais. Para aprofundar a compreensão sobre os complexos desdobramentos no cenário cultural e global e suas ramificações em diferentes esferas da sociedade, convidamos você a explorar nossas **Análises** sobre diversos temas acessando https://horadecomecar.com.br/categoria/analises/.

Crédito: Reprodução / Divulgação


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