Fisker: A Trajetória de Queda da Startup de Veículos Elétricos Detalhada em Linha do Tempo

Artigos Relacionados

📚 Continue Lendo

Mais artigos do nosso blog

A Fisker, uma startup californiana de veículos elétricos (VEs) idealizada por Henrik Fisker com o ambicioso objetivo de construir um império automotivo, solicitou proteção contra falência no Capítulo 11 da lei dos Estados Unidos. Esse pedido marca o ponto culminante de uma série de desafios e obstáculos enfrentados pela companhia desde a introdução de seu SUV Ocean no mercado em 2023, consolidando o fim de uma era para a marca.

A visão de um próspero negócio de veículos elétricos, que teria o SUV Ocean como principal destaque, começou a exibir falhas notáveis praticamente assim que o veículo elétrico chegou às ruas em 2023. Ao longo de sua breve trajetória, a Fisker ajustou repetidamente suas projeções de produção, não conseguiu atingir as metas de vendas estipuladas e implementou rodadas de demissões. Paralelamente, o modelo Ocean foi assombrado por diversos problemas de software e mecânicos que, em alguns casos, deixaram o veículo inoperável. Falhas como problemas nos freios, perdas abruptas de potência e portas que se recusavam a abrir foram identificadas, desencadeando múltiplas investigações de segurança e culminando na interrupção da produção, em um esforço para angariar novo capital.

👉 Leia também: Guia completo de Noticia

A saga da Fisker, com suas dificuldades e reviravoltas, desenrolou-se em uma linha do tempo específica, pontuada por marcos críticos que pavimentaram o caminho até o pedido de falência:

2023

  • 7 de julho: A montadora reportou a produção de 1.022 unidades do SUV Ocean no segundo trimestre de 2023. Esse volume ficou aquém das expectativas da empresa, que visava produzir entre 1.400 e 1.700 veículos elétricos no período. A diferença evidenciava os primeiros desafios da startup em escalar a fabricação.
  • 10 de julho: A Fisker anunciou planos de vender US$ 340 milhões em dívida conversível, com uma estimativa de receita líquida de US$ 296,7 milhões. A intenção era utilizar os fundos para as operações corporativas gerais, instalar uma linha adicional de pacotes de baterias para apoiar o crescimento a partir de 2024, cobrir despesas de capital e investir no desenvolvimento de futuros produtos.
  • 1º de dezembro: A empresa cortou suas projeções anuais de produção na tentativa de liberar US$ 300 milhões em capital de giro. A nova meta indicava uma expectativa de produzir aproximadamente 10.000 veículos em 2023. Esta redução drástica representava apenas um quarto da previsão otimista que a Fisker havia feito no ano anterior, demonstrando a crescente dificuldade em atingir metas ambiciosas.

2024

  • 1º de janeiro: A Fisker estava significativamente distante de sua meta publicamente declarada de entregar 300 SUVs elétricos por dia globalmente. A startup dedicou grande parte de dezembro a uma meta interna de vendas de 100 a 200 veículos diários na América do Norte, onde se concentrava a maior parte de seu estoque e esforços comerciais. Contudo, a Fisker ficou muito aquém desse objetivo, muitas vezes vendendo apenas uma ou duas dezenas de seus SUVs Ocean por dia na região.
  • 15 de janeiro: Reguladores federais de segurança dos Estados Unidos abriram uma investigação sobre o primeiro veículo elétrico da Fisker devido a problemas de frenagem. Dezenove proprietários haviam apresentado reclamações à National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA) relatando questões variadas, como perda de freio, problemas com o seletor de marcha, uma porta do motorista que não abria pelo interior e dois incidentes em que o capô do veículo abriu subitamente em rodovias.
  • 9 de fevereiro: Após as primeiras entregas do Fisker Ocean, clientes relataram mais de 100 incidentes distintos de perda de potência. A empresa afirmou que acreditava que esses problemas eram incomuns e que a maioria havia sido resolvida com atualizações de software. Outros problemas relatados incluíam perda súbita de potência de frenagem, falhas em controles de chave remotos que deixavam motoristas presos dentro ou fora do veículo, sensores de assento que não detectavam a presença do condutor e o capô frontal do SUV abrindo inesperadamente em altas velocidades.
  • 16 de fevereiro: A NHTSA iniciou uma segunda investigação sobre o SUV Ocean da Fisker após receber quatro queixas de veículos rolando inesperadamente, o que resultou em uma lesão. A companhia informou à TechCrunch que estava colaborando integralmente com a agência de segurança, buscando esclarecer as causas desses incidentes.
  • 29 de fevereiro: A Fisker anunciou um plano de demissão de 15% de sua força de trabalho e comunicou que provavelmente não possuía capital suficiente para se manter ativa pelos próximos 12 meses. A empresa declarou que estava buscando formas de arrecadar os fundos necessários, enquanto passava por uma transição do modelo de vendas diretas para um modelo baseado em concessionárias.
  • 18 de março: A Fisker revelou que interromperia a produção de seu SUV Ocean por um período de seis semanas, enquanto tentava conseguir uma infusão de caixa urgente. Em um registro regulatório, a empresa informou que, em 15 de março, possuía apenas US$ 121 milhões em caixa e equivalentes, sendo US$ 32 milhões desse montante restritos ou não imediatamente acessíveis. Além disso, o balanço de contas a pagar da Fisker havia atingido US$ 182 milhões, levando a uma “dúvida substancial” sobre sua capacidade de continuar as operações sem levantar novo capital.
  • 25 de março (primeira ocorrência): As negociações entre a Fisker e uma grande montadora — especula-se que fosse a Nissan — sobre um potencial investimento e colaboração foram encerradas. Esse desenvolvimento colocou em risco um esforço de financiamento de resgate de curto prazo, já que a continuidade das negociações era uma condição crucial para a obtenção de uma nota conversível de US$ 150 milhões. A Fisker comunicou o encerramento em um registro regulatório em 22 de março, sem detalhar os motivos.
  • 25 de março (segunda ocorrência): A Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) suspendeu a negociação das ações da Fisker e iniciou um processo para retirar a empresa de sua listagem. A decisão foi justificada pelo fato de a empresa não ser mais considerada adequada para listagem devido a níveis de preço anormalmente baixos de suas ações.
  • 27 de março: A Fisker, em meio à escalada de suas entregas, perdeu temporariamente o rastro de milhões de dólares em pagamentos de clientes. Uma auditoria interna, iniciada em dezembro e que durou meses, foi necessária para solucionar o problema. De acordo com fontes familiarizadas com a crise interna de pagamentos, a Fisker teve dificuldade em rastrear essas transações – que incluíam depósitos iniciais e, em alguns casos, o valor total dos veículos – devido a procedimentos internos deficientes. Em certos episódios, veículos foram entregues sem que qualquer forma de pagamento fosse recolhida.
  • 29 de abril: A Fisker realizou novas demissões de funcionários como parte de um esforço contínuo para preservar o caixa, seguindo um plano anunciado na semana anterior, conforme e-mail interno consultado. A empresa declarou, em um registro regulatório junto à U.S. Securities and Exchange Commission (SEC), que esperava buscar proteção contra falência nos 30 dias seguintes, caso não conseguisse arrecadar o capital necessário.
  • 3 de maio: A empresa deixou de efetuar pagamentos à firma de engenharia que auxiliou no desenvolvimento do Pear, um veículo elétrico de baixo custo voltado para o mercado de massa, e do Alaska, a aposta da Fisker no crescente mercado de picapes. A firma acusou a Fisker de reter indevidamente a propriedade intelectual (IP) associada a esses veículos.
  • 10 de maio: A NHTSA iniciou sua quarta investigação sobre o SUV Ocean da Fisker, desta vez para apurar diversas alegações de acionamento inadvertido do Sistema de Frenagem de Emergência Automática (AEB). Oito reclamações descreveram ativações súbitas do AEB em momentos nos quais não havia outros veículos ou obstáculos na trajetória dos carros.
  • 29 de maio: Centenas de outros funcionários foram demitidos durante a última semana de maio, em um esforço para manter a empresa operacional, enquanto a montadora continuava sua busca por financiamento, uma aquisição ou se preparava para o processo de falência. As estimativas de um funcionário atual e um ex-funcionário apontavam que apenas cerca de 150 pessoas permaneciam na companhia.
  • 31 de maio: A ruína da Fisker, embora iniciada com os defeituosos SUVs Ocean, marcados por problemas mecânicos e de software, foi pavimentada por um caminho de orgulho, disputas de poder e a falha repetida em estabelecer processos básicos fundamentais para qualquer montadora, indicando desafios internos além das questões dos veículos.
  • 12 de junho: A Fisker emitiu o primeiro recall para o SUV Ocean devido a problemas com as luzes de advertência, conforme novas informações publicadas pela NHTSA. O painel de instrumentos exibia as luzes de advertência do freio, estacionamento e sistema de freios antibloqueio em tamanho de fonte inadequado e, por vezes, na cor errada, violando as Normas Federais de Segurança de Veículos Motorizados. A agência também observou que múltiplas luzes de advertência não se acendiam durante o ciclo de ignição.
  • 18 de junho (primeira ocorrência): Após um ano de intensa luta para se manter, a Fisker pediu proteção contra falência no Capítulo 11. A empresa, sediada na Califórnia, havia buscado um acordo com outra montadora como última tentativa de resgate. Segundo o processo, a companhia estimou seus ativos entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão e passivos entre US$ 100 milhões e US$ 500 milhões.
  • 18 de junho (segunda ocorrência): Após o pedido de falência, a Fisker anunciou que manteria operações reduzidas. A medida incluía a preservação de programas para clientes e a compensação a fornecedores essenciais. O objetivo era gerenciar uma estrutura mínima de funcionamento, na expectativa de encontrar um comprador para os ativos colocados à venda no processo de Capítulo 11.
  • 21 de junho (primeira ocorrência): Conforme um novo processo judicial de falência no Capítulo 11, a Fisker enfrentava potencial dificuldade financeira já em agosto de 2023. Essa iminente situação financeira levou a empresa a buscar uma parceria ou investimento de outra montadora, conforme detalhado nos autos.
  • 21 de junho (segunda ocorrência): A disputa pelos ativos da Fisker já se mostrava intensa poucos dias após o pedido de falência, com um advogado alegando que a startup estava liquidando ativos fora da supervisão judicial. Em questão estava a relação entre a Fisker e seu maior credor garantido, que emprestou mais de US$ 500 milhões à empresa em 2023, período em que as dificuldades financeiras da companhia já se mostravam iminentes nos bastidores.
  • 3 de julho: Caso um juiz da Corte de Falências de Delaware aprovasse o pedido da Fisker para vender seu estoque remanescente a uma empresa de leasing de veículos de Nova York, a montadora conseguiria negociar 3.231 VEs finalizados por US$ 46,25 milhões, o que equivale a aproximadamente US$ 14.000 por veículo.
  • 9 de julho: Henrik Fisker e sua esposa, Geeta Gupta-Fisker, cofundadora da empresa, reduziram seus salários para US$ 1,00 para garantir o financiamento dos procedimentos de falência da startup de VEs. Além dos cortes salariais, o diretor de reestruturação da Fisker, John DiDonato, declarou em um processo que a empresa adiaria certos pagamentos de rescisão, benefícios de saúde para funcionários e bônus de incentivo de vendas de veículos ainda não quitados.
  • 15 de julho: O escritório do U.S. Trustee, um braço do Departamento de Justiça responsável pela supervisão da administração de falências, opôs-se a um acordo que visava manter o processo de falência da Fisker ativo e abrir caminho para o pagamento parcial dos credores. A objeção destacava preocupações sobre os termos e implicações do acordo proposto.
  • 16 de julho: Um juiz de falências concedeu à Fisker a permissão para vender mais de 3.000 unidades de seus SUVs Ocean a uma empresa de leasing de veículos, garantindo à startup falida um valor máximo de US$ 46,25 milhões. A aprovação da venda pavimentou o caminho para a continuidade do processo de falência da Fisker, enquanto a empresa seguia liquidando os bens remanescentes de seu negócio.
  • 29 de julho: Uma questão central surgia: o credor garantido da montadora, Heights Capital Management, mereceria estar na frente da fila para colher os lucros da liquidação? As entidades envolvidas chegaram a um acordo para buscar uma resolução nas próximas semanas sobre como liquidar os ativos da empresa. Se bem-sucedido, o caso poderia permanecer no Capítulo 11. Caso contrário, seria convertido para o Capítulo 7, dissolvendo efetivamente a Fisker permanentemente.
  • 18 de setembro: Uma das muitas perguntas dos proprietários da Fisker durante o processo de falência era como os recalls pendentes seriam tratados. Em meados de setembro, a empresa inicialmente sugeriu que cobriria o custo das peças, mas que os proprietários teriam que arcar com os custos da mão de obra. Repentinamente, a Fisker reverteu sua posição, anunciando que cobriria os custos de mão de obra.
  • 4 de outubro: A U.S. Securities and Exchange Commission (SEC) revelou, em um registro, que havia iniciado uma investigação sobre a Fisker e que poderia apresentar ações alegando violações das leis federais de valores mobiliários. O regulador financeiro informou ao tribunal de falências que já havia enviado múltiplas intimações, mas manifestou preocupação de que a Fisker não possuía um plano para preservar seus registros. No entanto, a startup de veículos elétricos eventualmente apaziguou as preocupações da SEC, e o status da investigação permanece desconhecido.
  • 5 de outubro: O proprietário do imóvel que servia como sede final da Fisker em La Palma, Califórnia, afirmou que o prédio foi abandonado em completo estado de desordem. O local continha resíduos perigosos e até modelos de argila de veículos em tamanho real foram deixados para trás. O registro do proprietário descreve dias tumultuados, durante os quais, aparentemente, funcionários da Fisker e representantes de uma casa de leilões esvaziaram a instalação.
  • 7 de outubro: O Departamento de Justiça dos EUA, representando a National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), comunicou ao tribunal de falências que considerava ilegal a tentativa da Fisker de repassar os custos de mão de obra de recalls aos proprietários. Essa objeção contribuiu decisivamente para que a Fisker mudasse de ideia uma última vez.
  • 8 de outubro: A Fisker apresentou um revés significativo à corte de falências ao informar à American Lease que não conseguiria transferir os dados necessários para um novo servidor que não fosse da Fisker. A American Lease revelou o entrave em um documento e comunicou ao juiz que a venda poderia não ser concretizada, o que comprometeria o plano de liquidação da Fisker com seus credores.
  • 16 de outubro: A Fisker conseguiu resolver os múltiplos problemas de última hora, obtendo a confirmação de seu plano de liquidação pela corte de falências. A empresa reverteu sua decisão inicial e concordou em cobrir os custos de mão de obra dos recalls. Foi alcançada uma solução com a American Lease em relação à transferência de dados dos veículos, e um administrador foi nomeado para supervisionar a venda dos demais ativos não-veiculares da Fisker, incluindo cerca de US$ 1 bilhão em equipamentos deixados na Áustria, local onde os modelos Ocean eram produzidos.

Em um movimento à parte das operações comerciais, Henrik Fisker e sua esposa Geeta — que também atuava como CFO e COO da empresa — estabeleceram uma fundação beneficente no final de 2021. A iniciativa tinha como objetivo fomentar a inovação nas áreas de saúde, educação, sustentabilidade, mobilidade e causas diversas que visavam apoiar o planeta e aprimorar a vida de pessoas e animais. No entanto, uma revisão das declarações fiscais junto ao IRS revelou que a fundação nunca desembolsou mais de aproximadamente US$ 100.000 e, desde então, foi desativada. O casal encerrou a organização sem fins lucrativos, conforme demonstraram os registros fiscais divulgados em 2025.

📌 Confira também: artigo especial sobre redatorprofissiona

A conclusão do processo de falência com a aprovação do plano de liquidação em 16 de outubro trouxe resoluções cruciais. A Fisker formalizou seu compromisso em arcar com os custos de mão de obra dos recalls, estabeleceu um acordo sobre a transferência de dados dos veículos e viu a nomeação de um trustee para gerenciar a venda dos ativos restantes, marcando o capítulo final da operação da startup.

Com informações de TechCrunch


Links Externos

🔗 Links Úteis

Recursos externos recomendados

Deixe um comentário

Share via
Share via