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A França oficializou o reconhecimento do Estado Palestino nesta segunda-feira, 22 de setembro, marcando uma adesão notável a um crescente movimento internacional de países que adotam tal medida. O presidente francês, Emmanuel Macron, fez o anúncio durante seu pronunciamento na sede das Nações Unidas (ONU) em Nova York, enfatizando que o “momento da paz chegou” e que a “guerra em curso em Gaza não possui justificativa.”
Este reconhecimento por parte de uma das maiores economias europeias e membro permanente do Conselho de Segurança da ONU representa um endosso significativo à aspiração palestina de um Estado soberano, apesar das complexidades do conflito em curso. A decisão francesa ocorre em meio a uma intensificação da pressão internacional sobre Israel devido à crise humanitária na Faixa de Gaza e à expansão de assentamentos na Cisjordânia.
França Oficializa Reconhecimento do Estado Palestino na ONU
A iniciativa diplomática da França ganhou forma em uma cúpula de um dia conduzida em parceria com a Arábia Saudita, durante a Assembleia Geral da ONU. O foco principal da reunião foi a articulação de planos para uma “solução de dois Estados”, um conceito amplamente defendido que prevê a coexistência pacífica de um Estado palestino independente, estabelecido na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém Oriental servindo como sua capital, ao lado do Estado de Israel.
Contrariando as expectativas de uma frente unificada das grandes potências, notou-se a ausência de nações como Alemanha, Itália e Estados Unidos — todos membros do G7 — no encontro. O presidente Macron indicou que outras nações europeias, incluindo Bélgica, Luxemburgo, Malta, Andorra e San Marino, também se preparavam para reconhecer o Estado Palestino. Essa declaração seguiu-se a anúncios semelhantes feitos no domingo, 21 de setembro, por Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal, sinalizando uma convergência diplomática relevante.
Pressão e Crise Humanitária no Conflito Israel-Palestina
O reconhecimento do Estado Palestino pela França e por outros países se desenvolve em um cenário de crescentes apelos por um cessar-fogo e pelo alívio do sofrimento civil em Gaza. A comunidade internacional tem expressado preocupação crescente com a situação humanitária na Faixa, onde mais de 65.000 palestinos já foram mortos pelas forças israelenses desde 7 de outubro de 2023, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, gerido pelo Hamas. Israel, por sua vez, está conduzindo uma ofensiva terrestre intensiva com o objetivo declarado de assumir o controle da Cidade de Gaza, onde anteriormente residia uma população de um milhão de pessoas e onde a fome foi confirmada no mês anterior.
Israel tem contestado o reconhecimento do Estado Palestino, argumentando que tal movimento recompensaria o Hamas pelo ataque ocorrido em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel. Naquela ocasião, cerca de 1.200 pessoas foram assassinadas e 251 levadas como reféns pelo grupo armado palestino, eventos que deflagraram a atual escalada do conflito. As autoridades israelenses afirmam que a prioridade é a segurança do país e o desmantelamento do Hamas.
Posicionamentos Internacionais e Caminho para a Paz
Durante a conferência, o presidente Macron reiterou a necessidade urgente de encerrar a guerra e garantir a libertação dos reféns israelenses sob poder do Hamas. Ele emitiu um alerta contra o “perigo de guerras sem fim” e ressaltou que “o direito deve sempre prevalecer sobre a força”. O líder francês lamentou o fracasso da comunidade internacional em estabelecer uma paz duradoura e justa no Oriente Médio, reforçando: “Devemos fazer tudo ao nosso alcance para preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados.”
O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan Al Saud, representando o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman na ONU, endossou a visão de que a solução de dois Estados é a única via para uma paz sustentável na região. Essa posição foi corroborada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que classificou a situação em Gaza como “moral, legal e politicamente intolerável” e afirmou que a solução de dois Estados é o “único caminho crível” para uma convivência pacífica entre israelenses e palestinos. Para a ONU, conforme documentos e posicionamentos oficiais, esta continua sendo a premissa fundamental para a resolução do conflito.

Imagem: bbc.com
Divergências e Cenário Político-Diplomático
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, impedido de participar pessoalmente da Assembleia Geral da ONU devido à revogação de seu visto e o de outras autoridades palestinas pelos EUA, dirigiu-se à cúpula por videoconferência. Ele fez um apelo por um cessar-fogo permanente e declarou que o Hamas não teria qualquer papel no governo de Gaza, instando o grupo a “entregar suas armas” à Autoridade Palestina (AP). “O que queremos é um Estado unificado sem armas”, enfatizou Abbas, que também condenou o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 e dirigiu-se aos israelenses, declarando: “Nosso futuro e o de vocês dependem da paz. Chega de violência e guerra.”
Ainda em seu discurso, Macron anunciou que a França está preparada para contribuir com uma “missão de estabilização” em Gaza e propôs uma gestão de transição que supervisionaria o desmantelamento do Hamas e a inclusão da Autoridade Palestina. Ele especificou que a França somente abrirá uma embaixada em um Estado palestino após a libertação de todos os reféns detidos pelo Hamas e a confirmação de um cessar-fogo.
A perspectiva de Israel diverge radicalmente. Pouco antes do anúncio de Macron, o embaixador israelense na ONU, Danny Dannon, declarou que a solução de dois Estados foi “descartada” após o ataque de 7 de outubro e qualificou as negociações desta semana na ONU como uma “farsa”. Dannon não descartou a possibilidade de Israel anexar a Cisjordânia ocupada, refletindo uma postura intransigente. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem reiterado que não haverá um Estado palestino a oeste do Rio Jordão, e o presidente Isaac Herzog advertiu que o reconhecimento do Estado Palestino apenas “encorajaria as forças das trevas.”
Sinalizações e Manifestações Europeias
Em um gesto simbólico significativo, as bandeiras palestina e israelense foram hasteadas na Torre Eiffel, um ícone da capital francesa, na noite de domingo, antecedendo o pronunciamento de Macron. Durante a segunda-feira, várias prefeituras na França também hastearam bandeiras palestinas, apesar de uma orientação do governo central para que os prefeitos mantivessem a neutralidade em relação à questão. Essa demonstração pública sublinhou o apoio popular e institucional divergente dentro do próprio país.
Em outras partes da Europa, os protestos pró-Palestina ganharam força, com manifestações em cerca de 80 cidades da Itália. O governo italiano de Giorgia Meloni, no entanto, declarou recentemente que o reconhecimento de um Estado que “não existe” poderia ser “contraproducente”. A Alemanha também adotou uma postura cautelosa. O governo afirmou que a criação de um Estado palestino não está em discussão neste momento. O ministro das Relações Exteriores, Johann Wadephul, ao partir para Nova York, esclareceu: “Para a Alemanha, o reconhecimento de um Estado palestino acontece principalmente no final do processo. Mas esse processo deve começar agora”, indicando um compromisso com o processo, mas sem pressa no reconhecimento imediato.
Esses desenvolvimentos demonstram a complexidade e a diversidade de posições globais em relação ao conflito, evidenciando a busca contínua por um caminho que harmonize a segurança regional com a aspiração palestina à autodeterminação. Para entender mais a fundo os desdobramentos diplomáticos e políticos desta região, explore nossa seção de Política.
Crédito, EPALegenda da foto, ‘Devemos fazer tudo ao nosso alcance para preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados’, defendeu o presidente francês em Nova York
Crédito, ReutersLegenda da foto, Israel tem bombardeado a Cidade de Gaza enquanto suas forças avançam cada vez mais para dentro da cidade
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